Como tem que ser escrita por Lore WP


Capítulo 6
Despedidas


Notas iniciais do capítulo

N/A: Gente, aconselho que voces leiam ouvindo uma musica calma que voces gostem...

Ah, e os mais emotivos, tenham um lencinho do lado, ok? rs.

Deleitem-se:



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– Rony! Vamos Ronald, acorda!

Rony sentia alguém o sacudindo e ouvia uma voz conhecida o chamando. Abriu os olhos lentamente e tornou a fechá-los devido a forte claridade. Quando arriscou abri-los novamente, deparou-se com a figura de seu irmão mais velho sentado em sua cama.

– Gui? O que houve? Aconteceu alguma coisa? – perguntou com a voz rouca se sentando na cama.

– Fora o fato de você ter o sono de um trasgo montanhês? – brincou enquanto puxava sem cerimônias os lençóis de cima do irmão – Vamos, levanta logo que está atrasado. Mamãe te mandou roupas, - apontou para uma sacola em cima da cama – e pediu pra você se apressar, senão vai acabar saindo sem comer nada.

– Quanto tempo eu tenho? – indagou olhando para os lados.

– Acho que uns vinte minutos. – disse verificando o relógio – Vou pedir algo pra você comer no salão comunal.

– Valeu! E onde estão o Harry e o Percy? – perguntou levantando da cama e caminhando em direção ao banheiro com uma toalha nos ombros. Percy havia dormido com eles essa noite.

– O Percy levantou bem cedo e foi fazer companhia ao Jorge. E o Harry desceu agora ha pouco, assim que eu o entreguei as roupas que a mamãe mandou pra ele.

– E por que esse traíra não me acordou? – Rony perguntou cruzando os braços parado na porta do banheiro.

– Ele disse que tentou maninho. Mas assim que eu cheguei, ele prontamente me encarregou da árdua missão! – disse balançando a cabeça com ironia – Ele falou que sabia uma maneira bem eficiente de te acordar, mas saiu daqui rindo e dizendo algo como Hermione me mataria se descobrisse. – terminou com a testa franzida.

Rony riu sabendo exatamente a que o amigo se referia e se lembrando do episódio ocorrido no sexto ano deles em que Harry experimentou um feitiço do livro de poções do príncipe mestiço, e o resultado foi ele sendo acordado sem cerimônias com um puxão violento no tornozelo que o fez flutuar de cabeça para baixo completamente assustado. É, Hermione provavelmente o mataria se soubesse, riu-se entrando no banheiro.

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Perfeita! Essa era a palavra que resumia com exatidão a bela manhã que se fazia presente: céu azul, poucas nuvens, sol brilhando e uma brisa suave despenteando ainda mais seus cabelos.

Harry andava pelos corredores do castelo com as mãos nos bolsos de sua calça branca curtindo a bela manhã e pensando no que ocorreria aquele dia. Estava ciente que esse seria um dia cheio. Teria de encarar uma multidão de pessoas, despedir-se de vez de pessoas queridas, rever outras, e algumas outras coisas que sua falta de habilidade em adivinhação não o permitiu prever. Lembrava que também teria de contar a algumas pessoas as descobertas sobre Snape e era isso que realmente o preocupava. Estava decidido a não falar nada sobre as horcruxes ou sobre as relíquias da morte nem nada disso, não era necessário que ninguém mais soubesse. Já que não existia mais Voldemort nem guerra, isso era totalmente relevante, além de ser um assunto perigoso e delicado. Só tinha que encontrar uma forma de revelar os fatos sem precisar explicar esses pormenores.

Vez ou outra deparava-se com algumas pessoas pelos corredores, que lhe olhavam com um interesse incomum, e outras só faltavam quebrar o pescoço ao vê-lo passar. Harry estava, de certa forma, acostumado a despertar atenção nas pessoas, só que ainda teria de se habituar a grotesca mudança na forma com que elas lhe dispensavam essa atenção: o cumprimentando com formais e quase reverentes acenos de cabeça, outras apenas sorriam simpáticas e algumas inclusive lhe mandavam tchauzinhos empolgados. Os olhares deixaram de ser hostis e passaram a ser de admiração e respeito.

Isso faria muitos se sentirem importantes e orgulhosos, mas para Harry essa situação era demasiadamente incomoda e constrangedora. Nunca gostou de ser o centro das atenções, e agora não seria diferente. Só o que queria era, a partir de agora, viver em paz e começar uma nova vida, visto que foram dezesseis anos vivendo em torno de um objetivo e a partir de agora seu destino era livre para buscar novas metas.

Chegou ao saguão de entrada, onde teve a visão dos jardins da escola. Parou ali para observar o movimento. Assim como ele, todas as pessoas que passavam por ali trajavam branco. Havia sido comunicado no dia anterior que todos deveriam usar branco durante o funeral como uma forma de simbolizar o início de uma nova era e também de homenagear as vidas que se perderam na luta pela recém-conquistada paz.

Avistou Hagrid sem dificuldades (talvez devido ao nada discreto porte do meio-gigante). Ele estava próximo aos portões ajudando a organizar as fileiras de carruagens ladeadas por testrálios que iriam conduzi-los até Hogsmeade. Deixou seu olhar correr até o lago negro de onde, mesmo distante, reconheceu os cabelos muito loiros e compridos de Luna, que conversava abraçada a um homem que, pela exuberância do enorme chapéu branco cheio de plumas e brilho (que Harry achou muito parecido com o do Nick-quase-sem-cabeça) só poderia ser seu pai, Xenophilius Lovegood.

Desceu alguns degraus das escadas e sentou, brincando com a varinha, passando-a entre os dedos distraidamente, até que sentiu uma movimentação próxima e alguém sentou ao seu lado.

– Oi Harry! – foi com uma enorme surpresa que Harry fitou o rapaz ao seu lado. Não o via desde a batalha.

– Oi Jorge. – respondeu.

O ruivo olhava para um ponto fixo a frente e tinha o rosto inexpressivo; um enorme curativo cobria o buraco que provavelmente estaria exposto pela ausência da orelha.

– Eu sempre tive curiosidade de vê-los. Não são tão feios como eu imaginava. – disse Jorge muito sério, ainda com os olhos em um ponto fixo.

Harry precisou seguir o olhar dele para descobrir a que ele estava se referindo. E foi com um leve desconforto no estomago que entendeu. O ruivo estava vendo os testrálios.

– Acho que muitas pessoas poderão vê-los agora. – Harry respondeu com uma leve pontada de tristeza, vendo Hagrid acariciar o focinho de um dos animais.

Um silêncio se instaurou após as palavras de Harry. Ele não sabia o que dizer, não tinha idéia de como lidar com esse Jorge sério e aparentemente adulto, maduro. Sempre associou a figura dele e Fred à diversão, risada e bom-humor, e o jovem ao seu lado não transparecia nada disso.

– Ele ia odiar tudo isso! – exclamou Jorge secamente.

– O que? – quis saber Harry levemente curioso.

Os dois ainda observavam Hagrid atrelando alguns testrálios às carruagens.

– Tudo isso! Mamãe chorando a cada cinco minutos; papai parecendo culpado por continuar vivo enquanto um de seus filhos está morto; Rony, Gui e Carlinhos sérios e desanimados; Percy com cara de quem não passou em nenhum NIEM; Gina com os olhos vermelhos e sem brilho... ele também odiaria essas roupas brancas.

Harry olhou para ele. O ruivo continuava olhando para frente, mas seu olhar parecia desfocado e bem longe dali.

– E o que ele faria se te visse desse jeito, parecendo pior que todos os outros juntos? – perguntou o encarando.

Jorge não respondeu, apenas baixou a cabeça.

– Parece que todos os outros foram embora junto com ele. Eu só queria minha família de volta! – disse deprimido.

– Mas você tem a sua família, Jorge! Só que eles estão sofrendo tanto quanto você. Acredita em mim, com o tempo as coisas voltam a tomar seu rumo. Eu sei o que estou dizendo.

– Já me arrancaram uma orelha, mas nem isso me fez sentir tão mutilado como agora. Sem o Fred é como se tivessem arrancado metade de mim. – desabafou o ruivo.

– Só não deixe que tenham arrancado a parte alegre, divertida e criativa. Isso eu acho que Fred não aceitaria. – como Harry não viu reação de Jorge, continuou: - Eu também sofro com a morte dele, cara. Me sinto um pouco responsável por cada vida perdida nessa guerra, e é uma sensação horrível ver tantas pessoas mortas enquanto você continua ali, vivo. Parece uma grande injustiça, sabe? Mas com o tempo acabei vendo que injustiça seria viver com esse peso, sem aproveitar o máximo o fato de permanecer vivo, de ser feliz (não teve como não pensar em sua mãe nesse momento). Todas as pessoas que morreram aqui, lutavam para trazer a paz de volta e oferecer as pessoas que amavam a chance de viver e buscar a felicidade. Os heróis não somos nós que estamos vivos, mas são eles, que deram suas vidas para isso. Graças a eles estamos aqui e como uma batalha vencida! Eu sei que o Fred morreu orgulhoso de si próprio, mas ele deve estar muito decepcionado de vê-los assim, principalmente você, que o conhecia mais que ninguém e que deveria saber que ele, assim como você, daria a própria vida quantas vezes fossem necessárias para protegê-los. Não torne o sacrifício dele vão. – completou colocando a mão no ombro do ruivo que enfim olhou pra ele; o ruivo estava com os olhos vermelhos, mas inacreditavelmente tinha um sorriso maroto nos lábios.

– Cara, você ta muito sentimental! Acho que essa guerra não fez muito bem pra sua masculinidade. – disparou, rindo em seguida e enxugando os olhos na manga da camisa.

Harry também riu e se sentiu bem mais aliviado por estar sentado ao lado do verdadeiro Jorge Weasley.

– Eu vou até o salão principal ver se mamãe e papai precisam de alguma coisa. – informou se pondo de pé parecendo bem melhor, pelo menos ele sorria.

– Se precisarem de algo é só me chamar. – se ofereceu Harry.

– Pode contar com isso! – falou, e em seguida começou a subir as escadas – Ah, Harry... – chamou, fazendo Harry olhar para ele – Valeu cara! – agradeceu sinceramente e completou com uma careta: - E também, eu já não agüentava mais o Percy tentando me animar. Era deprimente! – e tornou a subir as escadas balançando a cabeça, deixando o moreno às gargalhadas.

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A ida a Hogsmeade foi triste e melancólica. As carruagens deslizavam lentamente rumo ao cemitério, formando um cortejo nada habitual aos padrões e cotidiano do pequeno povoado, que parecia se recuperar aos poucos da devastadora invasão sofrida pelos Comensais da Morte.

Harry estava em uma carruagem junto com Rony, Hermione, Percy, Luna e Dino. Gina, Jorge, Gui e Fleur dividiam a carruagem da frente com o Sr. e (uma desolada) Sra. Weasley.

O silêncio era pontuado apenas por alguns raros comentários de Hermione sobre os NIEMs que teriam de prestar (fato que fez Percy prontamente fazer um longo discurso sobre a melhor maneira de dividir os horários de estudos) ou Luna descrevendo os perigosos efeitos que os moribundae lacrimosis poderiam causar.

– São mosquitos multicoloridos e muito pequenos que soltam um pó invisível que, quando inalado, faz arder os olhos e a pessoa acaba chorando desesperadamente. Eles adoram cemitérios! – disse a loira com seus enormes olhos azuis esbugalhados e acenando enfaticamente com a cabeça, encarando um por um e em seguida dirigindo seu olhar para a pequena janela, pondo-se a admirar distraidamente a paisagem como se nada tivesse acontecido.

Percy, que ainda não conhecia a natureza lunática da garota, encarou os outros quatro com a boca entreaberta, pedindo silenciosamente que pelo amor de Mérlin alguém explicasse alguma coisa. Mas como todos pareciam mais concentrados em segurar o riso, achou melhor encerrar o assunto e se convencer que tudo não passou de uma alucinação.

Alguns minutos mais tarde a carruagem começou a desacelerar e parou. Luna foi a primeira a descer, seguida de Percy.

– Seus pés são muito grandes! – falou a loira para Percy assim que ele desceu da carruagem.

Quando ele conseguiu entender o que Luna havia dito, a garota já ia andando com Dino mais a frente.

– Essa garota é realmente muito esquisita! – comentou ainda impressionado.

– Ela é legal! – ponderou Hermione rindo.

– Ela não pode ser normal. E que diabos é modaebundis lamo sei lá o que? – exasperou-se.

– Nem tente descobrir. Mas quem sabe a gente não encontre um por aqui? – brincou Harry caminhando ao lado de Percy para a entrada do cemitério.

– Só a Luna mesmo pra me fazer rir em um momento como esse. – comentou Rony lançando um olhar melancólico para o grande portão de ferro.

Hermione apertou com força a mão de Rony, que retribuiu o gesto acenando positivamente com a cabeça como que tentando convencer a si próprio de que essa era a hora. Seguiu ao lado da namorada pelo mesmo caminho do amigo e do irmão, que já iam bem à frente.

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Muitos bruxos e bruxas entravam no cemitério, todos trajando branco, se acomodando em algumas das milhares de cadeiras que haviam sido conjuradas, se abrigando sob as sombras produzidas pelas enormes tendas brancas que foram montadas para abrigá-los do sol. Alguns conversavam com conhecidos e outros paravam para prestar solidariedade aos familiares das vítimas.

Um pouco mais à frente das tendas haviam fileiras de covas abertas encimadas por lápides que pareciam ser de vidro, e, mesmo de longe, Harry percebeu que nomes estavam gravados em cada uma delas. Bem ao lado de cada cova havia embrulhos compridos e volumosos cobertos por capas douradas e Harry desviou os olhos de lá. Não queria que sua mente começasse a divagar sobre o que estava por baixo daquelas capas, mesmo que soubesse exatamente do que se tratava.

Alguns flashes pipocavam pelo local e alguns bruxos andavam de um lado para outro com blocos de pergaminho e penas de repetição rápida nas mãos. Foi com um arrepio de repulsa que Harry reconheceu um deles como sendo a famigerada Rita Skeeter, que já tomava notas em seu bloquinho sentada em um cantinho. E pra seu alívio, mesmo que sua presença tenha atraído à atenção de muitos deles, ninguém ousou chegar perto... pelo menos por enquanto.

Na primeira fileira, as cadeiras estavam ocupadas em sua maioria por professores e funcionários de Hogwarts; só Hagrid ocupava três delas com seu volumoso traseiro. Mais atrás viu rostos conhecidos de alguns colegas de escola, dentre eles Neville, que conversava tranquilamente com uma garota loura que achou ser Anna Abbott. Não muito longe de Neville avistou a vasta massa ruiva que compunha a família Weasley.

Gina parecia serena enquanto abraçava e consolava o pai. Logo ao lado, uma moça muito loira que Harry não conhecia conversava com uma chorosa Molly Weasley. Jorge estava conversando calmamente com Lino Jordan e Olívio Wood, que estavam sentados um de cada lado do ruivo. Percy parecia estar explicando alguns detalhes da batalha para alguns familiares que Harry não recordava o nome, mas reconheceu do casamento de Gui e Fleur.

O moreno optou por sentar-se ao lado de Hermione, que tinha enormes ramos de flores do campo nos braços, e Rony, que estava ao lado dela com o olhar perdido em algum lugar, mas acariciava a mão da namorada com o polegar. Harry estava observando Carlinhos, que conversava com Gui e Fleur, quando sentiu um toque macio em seu braço. Virou o rosto e deparou-se com os olhos amendoados de Gina. Nunca a tinha visto tão frágil.

– Posso ficar com você? – perguntou num fio de voz.

Ele apenas segurou as mãos dela, fazendo-a sentar ao seu lado, e a puxou lentamente para junto de si, abraçando-a forte, como se isso pudesse protegê-la de toda a dor que provavelmente sentia. Não se importou nem um pouco com a presença do pai e dos cinco irmãos dela ali. Enfrentaria todos eles se isso fosse o necessário para ficar abraçado a ela, tentando tirar toda a tristeza daquele olhar, outrora tão cheio de vida e luz.

– As pessoas não param de olhar pra você. – percebeu Gina, ainda abraçada a Harry e não parecendo nem um pouco incomodada com os olhares e cochichos.

– É, eu sei. – informou o moreno; ele realmente já havia notado, mas fez aquilo na qual já se considerava um profissional: ignorou.

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A primeira parte da cerimônia começou alguns minutos depois, e se fez bastante breve, apenas com alguns discursos sobre bravura, coragem e amor. Foi feito também um apelo para que a comunidade bruxa enfim se conscientizasse sobre os extremos a que se chegavam por sustentarem preconceitos bobos como pureza de sangue, e que essa guerra tivesse servido de lição e exemplo para que todos entendessem que a união e o respeito entre os povos de todas as raças era a melhor chave para preservar a paz recém-conquistada.

Após todos esses avisos de conscientização, o novo ministro da magia, Kingsley Shacklebolt, tomou a palavra e deu início a parte mais longa e mais difícil da cerimônia.

– Bom dia a todos. Gostaria de pedir que a cada nome chamado fosse ouvido uma salva de palmas.

Uma tensão se sustentou no ar e alguns soluços de mães em prantos já puderam ser ouvidos.

– Cólin Creevey. – anunciou o ministro, e uma salva de palmas foi ouvida.

Alguns homens fizeram o corpo de Colin, sob a manta dourada, flutuar até o buraco ao lado, que foi vedado em seguida por uma grande e brilhante placa de mármore branco. Em seguida foi liberada a aproximação dos familiares, que se encaminharam emocionadas até lá, depositando flores sobre o túmulo.

Harry acompanhou o momento em que Dênis Creevey, irmão de Colin, depositava a tão conhecida máquina fotográfica do irmão sobre o túmulo.

Gina tapava a boca com uma das mãos como se estivesse fazendo um grande esforço pra não gritar de dor. Os olhos castanho-claros estavam marejados. Harry sentiu o coração se comprimir com aquela cena, mas entendia o sofrimento da ruiva, afinal, Cólin era da turma dela e os dois eram amigos, sempre estudavam juntos. A abraçou mais forte e ela o segurava com tanta força que apertava o tecido de sua camisa entre os dedos.

A cerimônia seguiu dessa forma. O ministro anunciando os nomes das vítimas, salvas de palmas enquanto os corpos eram sepultados, seguida das homenagens dos familiares e amigos.

Após mais alguns nomes, kingsley anunciou dois nomes de uma vez só.

– Remo e Ninfadora Lupin.

Harry sentiu alguma coisa muito grande e gelada se entalar em sua garganta enquanto uma chuva de palmas lhe chegavam aos tímpanos. Os membros da Ordem que estavam presentes aplaudiam de pé, enquanto dois corpos eram sepultados lado a lado. Viu quando a professora MacGonagall, que até aquele momento também aplaudia de pé, tornou a se sentar em sua cadeira, aparentemente incapaz de se sustentar.

Uma cotovelada de Gina o fez olhar para ela, que fitava um ponto mais a frente, e estava com lágrimas nos olhos mordendo o lábio inferior; e logo ele soube o por que... uma senhora, que ele sabia exatamente quem era, caminhava em direção a sepultura com uma bela coroa de flores nas mãos; mas o que chamou realmente a atenção era a pequena criança em seu colo.

Harry acompanhou o bolo gelado em sua garganta descer lentamente por ela, rasgando-a e ferindo-a dolorosamente, caindo pesadamente em seu estômago, fazendo seus olhos arderem. Imaginou até ter sentido inclusive o gosto amargo do sangue se derramando dentro dele. Limpou rápido o rosto.

Nesse momento, os membros da Ordem, os professores de Hogwarts e alguns ex-alunos de Lupin se encaminharam até a sepultura para dar seu último adeus. Até mesmo Kingsley Shacklebolt deixou a tribuna e foi despedir-se dos amigos e ex-companheiros da Ordem, se colocando ao lado da mesma moça de cabelos louros que, ha um tempo atras consolava a Sra. Weasley.

O moreno olhou para os amigos e acenou com a cabeça, então os quatro caminharam até os outros. Rony e Hermione, que chorava compulsivamente, foram para o lado de Neville, Luna e Dino, que estava colocando um cartaz sobre a sepultura já abarrotada de flores, mas Harry ainda pode dar uma olhada rápida no cartaz, que tinha um desenho feito à mão (provavelmente pelo próprio Dino, que era um excelente desenhista) onde Lupin estava encostado na escrivaninha de professor, lecionando para uma classe que, com certeza era a deles, pois pode ver os cabelos vermelhos de Rony, os cachos indomados de Hermione, o rosto rechonchudo de Neville, os cabelos cor de palha de Simas, e seus proprios óculos redondos e, claro, sua cicatriz, preenchendo o papel. Logo abaixo do desenho uma frase: Para o nosso melhor professor de Defesa Contra as Artes das Trevas.

Harry sorriu e seguiu com Gina até outro ponto, onde encontrou Andrômeda Tonks agachada próximo ao túmulo enquanto depositava a coroa de flores ali, ainda com o neto no colo. Ao se aproximar dela, pôs uma mão em seu ombro. A triste senhora, ao vê-lo, ficou de pé, olhou-o por alguns segundos e o abraçou lentamente, derramando algumas lágrimas nos ombros dele. Ao se afastarem, direcionou o olhar para o neto que tinha as mãozinhas enroladas em seus cabelos.

– Olhe meu querido, esse aqui é seu padrinho Harry que seu pai tanto lhe falou, lembra? Diz oi pra ele. – falava pegando uma das mãozinhas do pequeno e fazendo um aceno.

– Ele é lindo! – exclamou Gina com um sorriso lacrimoso.

– É, não é? – disse Andrômeda – Remo e a minha Ninfa foram, mas me deixaram o presente mais valioso e especial que alguém poderia receber. Segure-o Harry!

O moreno, que estava alheio à conversa das duas, apenas admirando Teddy e vendo que os cabelos dele estavam espetados e rosa-chiclete, exatamente como Tonks costumava usar, se assustou com a proposta.

– Mas ele...eu...

– Vamos, Harry, não é tão difícil! – encorajou-o.

Harry, meio desajeitado, segurou o menino no colo e sorriu emocionado, pois na mesma hora os cabelos de Teddy passaram do rosa para o preto, igual ao de Harry.

– Acho que ele gostou de você! – disse Gina brincando com as mãozinhas dele.

– É, gostou mesmo. Olha como ele ficou quietinho nos seus braços! – Andrômeda comentou sorrindo coruja.

Harry apenas sorriu abobado. E nesse momento, ao lado do túmulo de Lupin e Tonks, ele prometeu que iria amar aquele garotinho como se fosse seu filho.

Ele só não imaginava que não precisaria prometer nada, pois desde o momento que segurou o afilhado no colo, já o amou profundamente.

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Estavam de volta aos seu lugares e outras famílias estavam despedindo-se de seu entes que haviam partido.

Harry estava em seu lugar e Andrômeda, a convite dele, sentou-se ao seu lado. Os dois estavam sorrindo, observando Gina brincar com Teddy, que estava em seu colo. O menino pareceu muito interessado nos cabelos dela, pois a toda hora ela tinha de tirar as mãozinhas teimosas dele de lá. A ruiva parecia distraída, e sorria para o pequeno enquanto sacudia as pernas para diverti-lo. Hermione também pareceu se distrair com ele, pois sorria enquanto tirava mais uma vez as mãos dele dos longos cabelos vermelhos da amiga.

Até que um nome foi anunciado e a ruiva olhou com um misto de ansiedade e aflição para Harry. O moreno pegou delicadamente o afilhado do colo da ruiva, deu-lhe um beijo e entregou-o a avó. Segurou a mão esquerda dela com força e beijou a palma, tentando acalma-la. Ela já estava com a respiração acelerada e observava a mãe abraçar desesperada seu irmão Carlinhos que estava logo ao seu lado.

Assim que o nome de Fred Weasley foi dito, a multidão começou a aplaudir, enquanto seu corpo era sepultado e vedado por uma placa de mármore branco. Rony e Gina foram para junto da família, então todos começaram a se aproximar do túmulo.

A Sra. Weasley se ajoelhou sobre a bela pedra branca e passava a mão carinhosamente em sua superfície, como se estivesse acariciando o próprio filho. O Sr. Weasley se colocou ao lado da esposa e a abraçou, derramando, juntamente com ela, as dolorosas lágrimas da despedida sobre o túmulo do filho. Gui estava um pouco mais afastado com Fleur e alguns parentes, todos muito emocionados. Percy e Gina deram as mãos e caminharam para junto dos pais. Percy depositou sobre o túmulo do irmão seu antigo bastão de batedor e ficou segurando a mão de sua mãe. Gina deixou lá um par de orelhas extensíveis e se abraçou ao pai. Rony estava de pé olhando fixamente para o nome gravado na lápide de vidro enxugando o rosto com o dorso das mãos a cada dez segundos, enquanto Carlinhos, que estava ao seu lado, fitava os pais e os irmãos, mas sua mente parecia estar a quilômetros dali.

Harry estava um pouco mais atrás deles e abraçava Hermione, que nem fazia questão de enxugar as lágrimas. Os dois compartilhando a dor da família como se realmente fizessem parte dela.

Uma explosão repentina no ar assustou os presentes fazendo com que todos olhassem para o céu e ficassem maravilhados com o que viram.

Fogos de artifício de cores berrantes explodiam e enfeitavam o céu do vilarejo, parecendo trazer vida para o local. Algumas pessoas exclamaram sonoros Ohs quando uma pequena fagulha dourada começou a se movimentar nos céus, em frente aos fogos, escrevendo uma frase com enormes letras garrafais no ar:

A VIDA SÓ VALE A PENA ENQUANTO AS PESSOAS SÃO CAPAZES DE SORRIR COM O CORAÇÃO

Aplausos ensurdecedores foram ouvidos após a frase ter sido completada. Aquelas palavras pareceram despertar as pessoas, que começaram a olhar umas para as outras, todas com sorrisos cheios de esperança, acreditando que talvez a felicidade só estivesse esperando uma brecha no coração de cada um.

Jorge, que até o momento estava afastado, e provavelmente era o responsável pelos fogos, se aproximou dos pais e dos irmãos, se agachou ao lado deles, olhou para o nome de seu irmão gravado na pedra transparente logo acima das datas de nascimento e óbito, dizendo:

– Nós nunca vamos deixar de te amar, carinha! – parou, fechou os olhos respirando fundo e tornou a abri-los – Mas sei que você virá puxar nosso pé à noite se não lutarmos pela nossa felicidade. Você sempre foi o maior defensor do lema rir é a melhor solução em qualquer situação!, não é? Então deve estar furioso com essa nossa cara de enterro, mesmo que nós estejamos em um. – ninguém conseguiu segurar a risada, nem mesmo a Sra. Weasley – Eu prometo pra você que nós vamos conseguir. Nossa família vai ser feliz, por nós e por você! Você deixou um espaço vazio que jamais vai ser preenchido e nunca, nunca mesmo vamos te esquecer, mas... – ele deu um sorrisinho maroto, enfiou a mão no bolso da calça e puxou uma moeda de ouro – tempo é galeão, lembra? É hora de seguir em frente irmãozão! – e pôs a moeda ao lado do bastão e das orelhas extensíveis.

Com um impulso ficou de pé e estendeu a mão para a mãe, que a segurou, levantando também, sorrindo orgulhosa para seu filho e caminhando em direção a seu lugar abraçada a ele. Mas no meio do caminho, Jorge parou e tornou a virar-se para o tumulo do irmão, dizendo um pouco alto:

– Ah, e se algum engraçadinho roubar esse galeão daí, eu deixo você assombra-lo à noite! – e voltou a caminhar ao lado da mãe com sua família logo atrás, todos rindo.

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Quando o penúltimo nome foi chamado, Harry, Rony e Hermione se olharam, e em silêncio compreenderam o que viria a seguir. Até mesmo Gina, que estava quieta ao lado de Harry, pareceu entender e entregou a ele um arranjo de flores brancas junto de um sorriso que aqueceu seu peito.

Alguns minutos depois, o momento chegou.

– Severo Snape. – anunciou o ministro.

Um silêncio de pressionar os ouvidos se abateu ali, misturado apenas com os olhares de surpresa, incompreensão, confusão e alguns de profunda indignação. As pessoas olhavam uma para as outras buscando uma explicação.

Assim que o corpo do antigo professor de poções foi sepultado, os três se levantaram, atraindo todos os olhares.

Rony abraçou a namorada pela cintura e esta segurou firme a mão de Harry. Caminharam lentamente até seu destino, e no mesmo instante o silencio foi substituído por burburinhos irritantes, mas o trio continuou caminhando impassível e nem pareceram se importar quando uma chuva de flashes disparou em sua direção.

Os três se ajoelharam sobre a pedra fria que escondia o corpo de Snape, e Rony e Hermione deixaram as flores que tinham nas mãos ali.

Uma imensidão de sentimentos se misturavam à uma quantidade ainda maior de pensamentos dentro de Harry, mas apesar disso, ele simplificou tudo em apenas uma palavra:

– Obrigado!

E depositou o arranjo de flores brancas que Gina havia lhe dado sobre o túmulo, encerrando, enfim, os rituais de despedida das vidas que aquela maldita guerra levou.


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Notas finais do capítulo

E então? *snif*

Faz tanto tempo que escrevi esse capítulo e ainda assim me emociono...

Foi difícil escrevê-lo, e agora só me resta torcer para que vocês gostem.

Até o próximo.