Edward

*Dois anos antes*

Me preocupa a notícia que Carlisle acabou de me dar. Precisamos ir embora. Tenho tentado ignorar esse fato desde que chegamos mas eu sabia que não demoraria a chegar a hora. Droga, não sou eu mesmo que fico de olho nos pensamentos humanos para que a situação não fuja do controle? Era bem óbvio que isso aconteceria. Apenas pensei que teria mais tempo com Bella... tempo o suficiente para reconquistá-la e, ainda que não tivéssemos um romance, achei que a essa altura teria certeza de que ela escolheria a minha família... de que ela escolheria a mim.

Mas mesmo que minha relação com Bella tenha melhorado bastante, não posso negar que a culpa maior nessa melhora é minha. Meus esforços para parar o meu ciumes e de tentar agir como se soubesse o que ela quer ao invés de realmente conhecê-la é o que tem me colocado ativamente em sua vida. Acabei de conseguir me reaproximar dela, esse é o momento para começar a construir um relacionamento que vai além do fraternal, não para colocá-la contra a parede e exigir que ela venha comigo.

Talvez se eu ficasse... Mas como isso poderia ser 'dar espaço'?

Tem que partir dela! e, droga, não faço ideia se ela preferiria ir com os Cullens ou ficar com os Denalli. Aparentemente ela ama a todos... Especialmente Dylan. É bom saber que estou no topo de suas atenções. Sim, no último mês ela passou mais tempo comigo do que com quase todos os outros. Quase. O 1º lugar está sendo acirradamente disputado por Dylan.

Solto uma imprecação quando o vejo vindo pelo corredor em minha direção. Geralmente nos ignoramos completamente, mas dessa vez ele me olha e pisca. Cara esquisito.

Qual era o segmento dos meus pensamentos mesmo? Ah! Sim. Preciso contar a Bella que vamos para casa. Ela vai adorar.

Eleazar

*Uma semana antes*

Não consigo parar de pensar que estou perdendo alguma coisa. Meu talento nunca falhou antes então... Como é que não consigo 'sentir' Dylan? Eu sei que há algo. Mas quanto mais próximo ficava dele, menos conseguia captar. Já faz quase um ano e ainda não cheguei a uma resposta... Também não parei de procurar, é claro. A única vez em que fui confundido assim foi com Carmen mas... Ah meu Deus.

Bella

*Dias atuais*

Um ano. Dylan e eu estamos parados em frente a nossa casa olhando as luzes noturnas. Fizemos de um jeito que sempre parecesse natal, e é realmente encantador. Depois de quase um ano na estrada, conhecendo tantos lugares incríveis, mas quase como dois andarilhos, foi ótimo finalmente ter um lugar para chamar de nosso. Um que conta a nossa história através das fotografias nas paredes. Um onde podemos receber amigos, vampiros, lobos e humanos, e sermos somente nós mesmos, sem os bruxismos que envolvem nossa história. Um lugar com a nossa liberdade. Sou tão apaixonada por esse lugar quanto sou pela minha família.

Acabamos de nos despedir de Alice e Jasper e, mesmo me sentindo feliz aqui, não consigo deixar de pensar no que está me faltando. Meu relacionamento com Dylan é tão diferente dos demais vampiros. Não sinto como se ele fosse vital para minha existência. Não é como se não pudessemos ficar um tempo separados... Gosto de pensar que simplesmente não somos dependentes, mas quando vejo os outros casais vampiros não consigo deixar de notar a intensidade com que se olham, o jeito como parecem prever o que o outro vai dizer ou fazer e me pergunto se realmente estamos destinados a passar a eternidade juntos. Não que já tenha pensado em terminar nosso relacionamento, mas penso se o outro sofreria se um dos dois encontrasse sua alma gêmea.

Dylan e eu não somos almas gêmeas. E nós dois sabemos disso. Nos amamos é claro, mas não é nada parecido com a intensidade vampírica que testemunhamos nos outros casais.

As vezes penso se fiz mal excluindo todas as possibilidades com Edward, mas não consigo parar de pensar que é impossível que minha alma gêmea me conheça tão pouco.

Bem, olhando para tudo o que eu e Dylan vivemos e a forma como nos conhecemos, quem precisa de alma gêmea? O amor se constroi sim, e o nosso tem uma base bem sólida e muito bonita. Suspiro voltando para a realidade.

— Você se sente bem indo a esse novo casamento da Alice?

— Sim, ela é uma das minhas melhores amigas, não posso perder. Além do mais vai ser a primeira vez para mim.

— Para nós dois querida. Também nunca fui.

— Conhecendo Ali, acho que podemos nos preparar para o casamento do século.

Rimos cúmplices e eu nunca estive tão certa da minha decisão.

*Três meses depois*

Não posso negar que esperei por esse dia com certa ansiedade e medo. Apesar de manter contato constante com os Cullens e de ter sempre pelo menos um deles por perto, não sabia nada sobre Edward há dois anos. Não gostei muito do ciumes que senti quando descobri que ele esteve viajando com a Tania durante esse tempo. Esse ciumes é ridículo e completamente sem sentido. Não tenho e nem quero ter direitos sobre ele. Além do mais, não estou em outro relacionamento? Meu Deus Bella, pare de pensar nisso! O que você queria, que ele ficasse te esperando pra sempre?

— Vai sair fumaça pelas suas orelhas.

— Tem certeza que não é você minha alma gêmea Jake?

— Nós somos a prova de que almas gêmeas não romanticas existem Bella... É esquisito não é?

— Não sei o que esperava... Só não esperava me sentir assim.

— Desencana Bells, o primeiro amor é sempre difícil.

Nisso Jake tinha razão. Fiquei feliz quando Alice também o convidou. Afinal, Jake foi parte integral da construção e vivia lá comigo e Dylan. Acabou se tornando parte da família deles também. Acho que se deixassem essa coisa lobo/vampiro influenciar, ele ficaria magoado. Bem, eu ficaria chateada por ele, Jake não encana com nada.

Esperávamos que Dylan já tivesse chegado mas ele me mandou uma mensagem dizendo que só conseguiria chegar poucas horas antes do casamento e insistia para que fossemos embora logo depois. Não entendia essa relutância dele em estar ali, com a nossa família. Tudo bem que escolhemos uma vida diferente, mas considerávamos os Cullens e os Denalli como nossa família e Dylan por pouco não se recusou completamente a vir.

— Finalmente!

Era Eleazar que estava mais ansioso que o normal pela chegada de Dylan. Seja o que for que Alice viu Eleazar falando, deve ser sério. Do contrário ela jamais deixaria tão calmamente que uma reunião familiar acontecesse instantes antes de seu casamento.

Fui aguardar na sala onde sabia que todos esperavam impacientes. Fiquei surpresa quando vi todos os vampiros de olhos fechados. Dylan entrou pela porta e achei que veria tanta confusão quanto eu estava sentindo, mas ele simplesmente parecia... contrariado?

— O que está acontecendo?

— Bella, gostaríamos de pedir que usasse o seu escudo em nós. Em todos nós exceto Dylan. - Olhei para Dylan sem saber o que fazer.

— Por que isso?

— Bem, todos nós achamos que, de alguma maneira, Dylan nos influencia e não quero a interferência dele no que será dito. E acho que todos nós ficaríamos mais confortáveis de olhos abertos.

Eleazar falava ainda de olhos fechados. Eu estava começando a ficar frustrada.

— Como assim influencia?

— Dylan tem um dom, eu sempre soube. Mas foi só há algumas semanas que entendi o que era.

— E qual o problema disso? - Fiz a pergunta para Eleazar, mas olhando para Dylan que desviou os olhos do meu.

— Nenhum. Se não achássemos que ele escondeu o próprio talento porque o usava para nos prejudicar.

— Dylan? - Não importa quais acusações fizessem, eu confiaria em Dylan. Ele não precisava me temer e desviar o olhar e eu queria mostrar isso a ele. Mostrar que estava a seu lado. Nosso relacionamento é baseado na confiança, jamais duvidamos um do outro porque jamais mentimos um para o outro, nos conhecemos melhor que ninguém porque jamais deixamos de contar nada um para o outro. Não posso duvidar dele no primeiro teste.

— É mentira Bella. Eu sou bom influenciando pessoas, você mesma viu muitas vezes, mas não controlo ninguém como eles estão fazendo parecer.

— E quanto a todas as vezes em que te olhamos e de repente não nos lembramos o que estávamos pensando antes? E todas as coisas que fizemos sem nenhuma razão no tempo em que esteve conosco? Por que eu estava sempre desistindo de sentir seu poder quando estava perto de você, por que Alice sempre desiste de ver seu futuro? Por que Edward não consegue se lembrar de nenhum pensamento seu? Você precisa concordar que vampiros tendo lápsos de memória é uma tremenda novidade. Agora, Bella, por favor, seu escudo.

Dylan realmente tem um dom para fazer as coisas do jeito dele, mas nunca vi ninguém agir como um robô perto dele.

Exceto que, bem, eu vi sim. Quando o apresentei ao Jacob. Achei muito esquisito como Jake ficou. Como se de repente não soubesse onde estava. Mas foi tão rápido que um humano não teria percebido, e eu achei que tivesse inventando coisas.

— Bella, acredite em mim, eu não manipulei ninguém.

Minha decisão estava tomada antes de começarmos essa conversa, Dylan não mentiria para mim.

— Eu não vou usar meu escudo para protegê-los, pelo amor de Deus. Ainda que Dylan tenha algum talento, está bastante óbvio que ele não sabe.

— Invada a minha cabeça então. - Era Edward, e de olhos abertos.

— Eu não tenho culpa se você não consegue se responsabilizar pelos seus atos - Nunca vi Dylan tão furioso, mas Edward não desviou os olhos dos meus. Sua expressão me suplicava um voto de confiança. Mas quantas vezes mais eu me deixaria levar por aquele olhar apenas para descobrir que estava completamente enganada no final?

— Bella, por favor, você não vê o que é isso? Apenas mais uma vez Edward tentando te ganhar. Você me conhece e sabe que pode confiar em mim.

A expressão de Dylan era tão sincera, eu não poderia decepcioná-lo. Nós resolveríamos isso em casa.

— Parem com isso, Dylan jamais machucaria qualquer um de vocês. Vocês sempre foram nossa família.

— Se não quer esclarecer isso Dylan, sinto muito mas preciso pedir que parta.

Dylan apenas acenou, sem tirar os olhos de mim.

— Você, Bella, é claro será sempre bem vinda.

— Não, não sou. Sou a companheira de Dylan, e expulsá-lo é o mesmo que expulsar a mim.

Todos me olhavam agora e, de certa forma, eu esperava que mudassem de ideia. Mas eles apenas esperavam que partíssimos, mudos. Nossa família estava nos abandonando.

— Sinto muito por isso.