A caminho de casa escrita por Liah


Capítulo 2
Mudança de Planos




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Bella

A enorme clareira a minha frente está devastada. Não é nem sombra do que foi um dia. Está seca. O amarelo, antes luminoso e quente, agora é mais um amarelo palha, sem vida. Não posso deixar de pensar que o que estou vendo é uma metáfora de mim mesma. Afinal é exatamente assim que me sinto desde que ele foi embora.

Eu havia pensando na possibilidade de encontrar um cenário diferente daquele a que fui apresentada há tempos, e a ideia me encheu de tristeza. Mas não é assim agora. Olhando aqui percebo que fiz bem em vir. Tomei a decisão certa ao querer partir, porque não quero mais ser como a clareira seca que vejo a minha frente.

Com esperanças renovadas de um futuro mais tranquilo e promissor, me sento, respiro, e planejo o que fazer. Vou voltar para casa e ligar para Jacob. Deixar um recado pra que ele vá até minha casa quando tiver um tempo e puder levar Billy. Preciso contar a ele minha decisão e a quem mais eu pediria para cuidar da venda da casa de Charlie ou da minha velha caminhonete? Talvez devesse fazer a viagem com a caminhonete, mas não sei se ela aguenta. Terei que perguntar a Jacob também. Minha coisas estão quase todas embaladas e acho que vou ligar para Angela e combinar de vê-la antes de ir. Ela foi uma ótima amiga, ou ao menos tentou ser, na medida em que eu permiti, e acho que preciso agradecê-la. Decido não ir mais a frente em meus planos. Pequenas coisas, passos de bebê, é assim que preciso planejar minha vida por enquanto. Agora sei que partirei em dois dias. E isso basta.

Com um suspiro decido levantar e ir embora, mas estaco quando percebo que tenho companhia.

– Olá Bella.

– Laurent?

– É realmente uma surpresa que Edward a tenha deixado aqui sozinha...

De repente a visão de Edward está ali comigo, e sei que estou em perigo. "Minta" ele diz.

– Não estou sozinha. Os Cullens apenas viajaram para caçar.

– É mesmo? Passei na casa deles e as coisas pareciam estar abandonas há bastante tempo... - ele falava pausadamente, ritmicamente, e a imagem de uma cobra sibilando veio a minha mente.

"Minta melhor".

– Eles vão longe, por terem residência fixa. Não querem chamar atenção. Eu os avisarei que esteve aqui. Talvez eles o procurem - Droga! Sempre fui péssima mentirosa, mesmo humanos podem ver o quanto fico nervosa. Imagina só um vampiro. Ele não acreditou nem um pouquinho em mim e estava se aproximando. Engoli em seco.

– Acho que você não vai a lugar algum. Não é pessoal, sabe Bella, eu realmente preferia não ter de fazer isso. Mas eu não caço há dias, e você tem realmente um cheiro muito bom. - Ele havia chegado perto, muito perto de mim, e alisava minhas bochechas agora. - Pense pelo lado bom. Eu serei rápido. Victória não perdoou a morte de James, mas vampiros nunca esquecem não é mesmo? - Ele deu uma breve risada - É muito melhor pra você que tenha sido eu a te encontrar primeiro. E Victória, bem, ela vai me perdoar quando eu disser a ela que Edward te abandonou, o que significa que não é assim tão importante pra ele quanto pensamos. Tudo é uma questão de adequar os planos. - As palavras dele me machucam e sei que não posso mais mentir.

Ouço rosnados na minha cabeça e meu corpo parece voltar à vida, sinto a urgência de correr. Me viro e tento fugir, mas é claro que eu caio. Posso ouvir a risada atrás de mim. Onde eu estava com a cabeça? Ainda que eu tivesse a habilidade de um equilibrista e a rapidez de um maratonista, o que, definitivamente, não era o caso, como eu poderia correr de um vampiro. Então senti suas prezas no meu tornozelo. Foi como a picada de uma agulha, quase não houve dor. E eu esperei sentir meu sangue sendo drenado, mas de algum lugar bem longe eu ouvi passos. Não passos, algo mais como uma cavalaria. Baques surdos no chão. E o toque frio no meu tornozelo desapareceu e foi substituído por fogo.

Fogo queimava minha pele até que eu pensei que não havia mais pele. Uma dor insuportável me atravessou e eu achei que ia desmaiar a qualquer minuto. Meu Deus! Eu queria desmaiar a qualquer minuto. Pode me matar, eu não quero passar por isso. E então, algo dentro de mim, algo além do fogo que me consumia estalou e eu percebi que, infelizmente, minha mente nunca esteve tão lúcida. Eu sabia o que estava acontecendo. Eu estava sendo transformada.

De alguma forma Laurent foi tirado de cima de mim e não terminou de se alimentar. Victória talvez? Não! Não! Ser transformada antes era tudo o que eu queria, porque significava ter Edward pela eternidade, mas agora, significa uma eternidade de solidão e dor. Não! Por favor! Que apareça o bando de Jacob e me destrua. Esse é o propósito deles não é? Mas, aparentemente, Victória conseguiria sua vingança, porque ninguém apareceu para me salvar. Um destino pior que a morte me esperava.

E eu deixei o fogo me consumir.

Jacob

Não! Eu não podia acreditar no que estava vendo. Bella, minha Bella. Minha melhor amiga. A escolhida pelo meu coração. A garota com quem sonhei a vida inteira. Não é possível que seja ela se contorcendo em minha frente. Eu vagamente registrei meu bando correr atrás do vampiro maldito que fez isso com ela, mas eu estava congelado no lugar. Não conseguia parar de olhar ao mesmo tempo em que não registrava que aquilo fosse real. Bella estava se transformando em uma sanguessuga nojenta.

– Por favor, não deixe, por favor, mate-me. - sua voz era apenas um sussurro, mal chegava a ser um gemido. Eu sempre ouvi que a dor da transformação era insuportável e que as pessoas passavam o tempo todo gritando sem conseguir se controlar até que terminasse. Mas não Bella. Sempre foi uma garota forte. Apesar de se contorcer e estar visivelmente sofrendo, sua mente ainda estava trabalhando.

Ainda era Bella! Ela não queria aquilo. Talvez a mente dela ainda fosse a mesma depois de tudo. O cérebro é quem comanda tudo não é? E Bella estava se rejeitando a transformação.

"Oh, cara, o que faremos com Jake."

"Meu Deus, acho que nunca ouvi um uivo tão dolorido."

Era de mim que o bando estava falando. Eu nem percebi que estava uivando. Então minha mente se concentrou.

"Levem Jake daqui, temos que matar Bella antes que o processo termine."

O que? Matar Bella. Matar Bella. Matar Bella. MATAR BELLA. As palavras eram gritadas na minha cabeça e eu não conseguia respirar. Não, não podia permitir. Não conseguia pensar. Tudo o que podia era implorar na minha cabeça para que Sam mudasse de ideia.

"Por favor, ela conheceu os Cullens. Ela sabe que é possível uma existência pacífica com os lobisomens sem sangue humano. Olhe para ela, mesmo agora, tem muito controle!".

Eu pude ouvir todo tipo de protesto e sabia que era causa perdida. Gostaria de poder dizer que meu coração estava se partindo, mas acho que arrancado chegava mais próximo da verdade. A dor era tão grande que me prostrou.

E então eu ouvi. Ou melhor, deixei de ouvir. Silêncio e assombro era tudo o que eu podia sentir vindo de meus irmãos e eu soube que Sam entendeu.

Ele já havia amado como um ser humano comum, e amou com todo o seu coração. Depois sofreu um imprinting, um amor que ia muito além do coração. Ele viu que o que eu sentia por Bella era muito próximo a um imprinting, a um amor que vem da alma e que toma todo o ser. Sam não podia tocá-la.

"Eu vou ficar com ela. Vou explicar as regras pra ela assim que ela acordar. Ela vai entender, eu sei que vai Sam. Apenas dê uma chance!"

"Jake... Bella será uma recém nascida. Eles são muito voláteis. São incontroláveis. A maioria sequer se lembra de sua existência humana a princípio. Se ela não conseguir..." Eu não podia deixar que ele concluísse o pensamento.

"Ela vai conseguir!"

Uma série de protestos e descrenças vieram dos pensamentos deles.

"Eu me afasto. Se ela não for a mesma quando acordar... Eu me afasto. Deixo que façam o que quiserem. Por favor. Só uma chance."

Sam finalmente cedeu. Encarregou Seth e Embry de se manterem em suas formas de lobo, para vigiar e darem o aviso. E com um olhar de pena, se afastou.

E eu esperei que Bella finalmente acordasse.

Bella

Quando eu achei que a dor não podia ficar pior, ela se multiplicou. Parecia impossível que eu continuasse viva. Aquilo não era só fogo. Era ácido puro correndo em minhas veias, e no momento em que meu corpo deveria se desintegrar e a morte finalmente me seria concedida, tudo se intensificou.

Meu coração batia e parecia tão, tão alto. Ele sairia do meu peito a qualquer momento e eu finalmente seria deixada em paz. Isso só podia ser o purgatório, e eu com certeza fui uma pessoa muito, muito ruim. E então tudo parou.

Eu podia sentir o ar, as partículas de poeira. Conseguia ouvir as folhas nas árvores próximas, carros que pareciam estar a milhas de distância. Foi aí que senti uma presença do meu lado e um cheiro forte e ardido invadiu minhas narinas. Abri os olhos e numa velocidade inacreditável estava a metros do meu lugar original.

Jacob. A presença que senti era Jacob.

– Jake? - Ele sorriu pra mim.

– Controlada, como eu pensei. - Sua voz era tão estranha.

– Deus do céu, como é que eu ainda estou viva? E Jake, que cheiro é esse?

– Acredite em mim Bella, seu cheiro não é nada agradável para mim também. - De repente sua expressão ficou séria - Do que você se lembra Bella?

E a gravidade da situação se fez presente. Eu fui transformada. Sou uma vampira agora. Deveria estar sendo atacada pelo bando de Jake?

– Laurent! Oh, meu Deus. Victória! - Eu ofeguei quando entendi que provavelmente tinha problemas piores que Jake agora.

– Não se preocupe com isso, nós os destruímos - E eu respirei aliviada. Mas meu alívio durou pouco. - Bella, você sabe o que é agora?

E eu pude ouvir o desgosto em sua voz. É claro que eu sabia. Convivi tempo o suficiente com os Cullens para isso. Cullens. Não podia mais me dar ao luxo de ficar pensando neles. Uma vez eles me disseram que traziam pra essa vida de forma intensificada tudo aquilo que era forte em suas personalidades humanas. Era uma questão de foco. Preciso me focar no que é bom, como Carlisle e Esme, ou ficarei amargurada como Rosalie. Nesse momento sei o que tenho que fazer. Os vampiros são imutáveis, mas os humanos não. Meu amor por Edward foi humano, e acabou.

– Sim, Jake. Eu sei o que sou. Não se preocupe. Não vou ficar aqui. Vou me esconder na floresta até que aprenda a me controlar. Vou aprender a caçar animais. Por favor, resolva tudo com a minha mãe.

– Bella... - Tudo o que pude ver em Jake foi dor. Dor por ter perdido sua melhor amiga. Sim. Eu sabia que não havia mais chances para nós. Não quando precisava de cada gota do meu frágil auto controle para não despedaçá-lo - Apenas vá para bem longe, e não volte. Eu... Eu espero que fique bem. - Sua voz se quebrou no final e ele sumiu na floresta.

– Adeus Jake.

Eu também corri.


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