You're an asshole but I love you escrita por dude


Capítulo 6
Estar quebrada não pode nos impedir de voar, Regina.


Notas iniciais do capítulo

Teria que agradecer mil vezes e ainda não seriam suficientes, mas muito obrigada pelos comentários e por acompanhar, vocês me deixam MUITO feliz. Quis postar na terça, mas não tive internet :(
E a coisa mais importante no mundo. Sou só eu que, quero da um beijo na Dark Emma? Juro, calar-me-ei.

VIVA LA SWAN QUEEN!

Boa leitura amorecos (credo u-u)



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Uma memória por outra”

“Então, acho melhor você começar a contar a sua” Disse Emma, sorrindo.

Regina inspirou profundamente algumas vezes, tentando organizar os pensamentos. Quando aceitou a vinda de Emma a sua casa não havia passado na sua mente, pelo menos não quando se decidiu favorável a isso, que a garota seria, bem, como Emma Swan. Aqueles olhos esmeraldas que pareciam desejar ler-lhe o menor pensamento, e que, por vezes, pareceu ter sucesso, Emma era habilidosa em lidar com as pessoas, fazia exatos seis dias que ela estava na cidade, e já havia conquistado mais pessoas que Regina em dezoito anos. Não que ninguém tivesse contando, pensou a morena.

Ela inspirava confiança, Regina não entendia como ela não tinha vivido rodeada de pessoas durante toda a vida, como não tinha pais... E, porque seus pais biológicos haviam abandonado ela? Ela tinha milhares de perguntas, muitas Emma, provavelmente, se mantinha alheia, como ela...

“Bem, me parece que tem razão...” Regina odiava que tivessem razão “Tiremos a mesa, depois lhe conto essa tal memória.” Ela passou a mão direita nos cabelos, um gesto sensual e comum nela.

Elas retiraram os pratos e depois de ter guardando-os, Regina conduziu Emma até a biblioteca, ambas com uma xícara de chá quentinho em mãos. Tudo parecia ensaiado, Emma sentou-se no sofá, Regina na poltrona... Emma pensou que aquilo sempre acontecia, Regina sempre se sentava onde tivesse certeza que ninguém lhe invadiria seu espaço pessoal. Emma tinha um sorrisinho nos lábios, estava tão tranquila como não se lembrava de ter se sentido em meses, tinha os ombros relaxados e o coração tranquilo. Nesse momento a garota havia esquecido se, pelo menos por hora, de tudo; inclusive que estava gravida há quase 25 semanas. Ela avaliava Regina, que tinha uma postura perfeita ao sentar-se, franzia a testa, às vezes, certamente pensava em algo. Queria ser capaz de ler seus bonitos olhos castanhos. Por alguns minutos, que Emma não se importou, o único barulho era de suas respirações.

Emma sabia que os motivos para que Regina houvesse ajudado a sair de Phoenix não tinha sido por ela, não tinha sido ela a razão, mas... Mas, ainda assim a atingiu e ela era grata, liberdade era tudo. Regina por sua vez sentiu-se diferente, ela não sabia como, mas o fato de alguém lhe ser grata era novo, afinal não dava muitos motivos para ninguém ser grata a ela.

Regina observa que o mais apropriado teria sido não deixar-se levar pela conversa de Emma... Mas, já estava ali, e não recuaria, nunca fazia isso. Então, o que mais poderia fazer? Teria que ser discreta, contar algumas histórias, nada que revelasse demais seu passado, não deixaria, e Emma também, não precisava saber de muito.

Contradizendo tudo que pensava - ou não-, começou a contar sobre a pessoa que lhe foi mais cara em toda vida:

“Meu melhor amigo foi a pessoa mais alegre que eu me lembre, tinha os olhos atentos... como os teus... e me era sincero em cada palavra proferida” Regina falava com carinho do seu passado e sua mente revivia cada palavra, antes de ser dita. Emma não pode deixar de se apegar a comparação e adorou o jeito gentil em que Regina falava agora. Mais uma faceta, mais uma Regina Mills.

­­“Bem...” Ela procurava as palavras certas “Nos conhecemos há muito tempo atrás, eu tinha, talvez, seis, ele oito, éramos as únicas crianças nas redondezas, então, logo, fizemos amizade. Apesar da distancia de nossas posições sócias, quando criança nos reconhecíamos como iguais...” Emma continuava atenta, Regina pousava por vezes os olhos em Emma, para certificar que ela estava mesmo ali.

“Ele tinha um espirito livre e era tão amável” Ela suspirou, mesmo não querendo. Emma, que mantinha se calada, queria dizer algo, mas tudo parecia indiferente, então continuou calada ouvindo Regina falar dessa forma dele.

“Ele me apoiava em tudo, quando tudo era pesado demais ele me ajudava, quando eu não tinha forças para seguir, ele me segurava nos braços...” Regina sorriu, lembrando-se de um dia em especial “Quando eu fiz quinze... meu sonho era ser a maior amazona de todas, queria competir... Minha mãe era contra, ela odiava o jeito que me portava ao cavalgar ‘não parece uma dama’ posso ouvi-la dizer” Regina revirou os olhos com a lembrança. Emma não conseguia imaginar uma versão de Regina que não fosse uma dama, ela era a pessoa mais fina que já pôs os olhos, diferente das muitas que tentavam aparentar isso, Regina tinha aquilo enraizado nela, no jeito de andar, falar, sentar, comer, sorrir, tudo nela era... Majestoso.

“Meu pai...” Ela tinha um sorriso triste ao falar-lhe do pai, parecia tão culpada, vulnerável, Emma desejou ter coragem em diminuir a distancia física entre elas. “Ele armou tudo, enquanto Cora distraia-se com as mulheres da alta sociedade, ele me levou a um campeonato, não foi nada grande, tinha mais doze pessoas, todos meninos... Mas foi incrível, lembro-me de sentir medo de competir, eram todos garotos, bem mais velhos, eu não queria perder. Se eu ganhasse, talvez mamãe permitisse que eu continuasse, ela nunca aceitaria sua primogênita sendo menos que a primeira. Eu disse ao meu pai que não ia, de jeito algum.” Ela tinha um sorriso jovial nos lábios, ficava bem nela, pensou Emma. “Foi quando Daniel chegou, ele disse ‘Não tema, você já é a número um’, ele me entregou uma flor, dessas flores que nascem até em asfalto, flores vira latas. ‘Trás o troféu pra casa. ’ Ele sussurrou antes que eu partir.” Emma pensou que, talvez, ela não fosse apenas a número um do campeonato, mas do coração de Daniel.

“Você ganhou?” Perguntou Emma, curiosa. Regina mantinha-se em silêncio.

“Sim” Tinha algo mais a ser dito, Emma sabia, mas Regina não continuou.

“O que aconteceu depois? Sua mãe? Cora, certo?! O que ela fez?” Indagou.

“Minha mãe?” Os belos olhos castanhos estavam brilhando, na baixa luz em que se encontravam, Emma temeu que ela chorasse, mordeu os lábios em um ato nervoso. “Não chore.” Pensou. “Lembro-me dela rir. Rir e dizer que eu nunca casaria se aquilo continuasse. Eu deveria ser uma moça prendada. Outrora eu não me importei, lembro-me de dizer que eu nunca ia querer casar mesmo” Ela parecia triste de novo, diferente de quando falava de Daniel, falar dos pais não há deixava tão sublime.

“Qual o problema com ela? Vivia na Idade Média? Ela esteve completamente errada... O que a sua paixão interferiria em encontrar o amor?” Regina se surpreendeu com a explosão de Emma... O que ela disse, seria algo em que Daniel falaria, e bem, lhe falou horas mais tarde, embaixo da sua preciosa macieira, quando roubou-lhe o primeiro beijo, onde disse-lhe as primeiras juras de amor, em um fim de tarde de que nunca se esqueceu.

“Mais ou menos isso, ela tinha um visão muito diferente da minha a aquela altura da vida, via tudo com outros olhos... Foi Daniel que me fez acreditar que tudo era possível”.

“Amou por demais esse rapaz, não?”

“Sim” Ela respondeu, sua voz mais alta que um sussurro.

Emma ficou em silêncio por um tempo, absorvendo o que ouvira, repetindo tudo em sua mente, para não deixar passar nada. Era boa nisso, desvendar.

“Regina?” Chamou Emma, Regina olhou-a nos olhos. “Onde esta o Daniel? O que lhe aconteceu?” Emma temia que ele tivesse a abandonado, ela já havia entendido que ele havia sido o primeiro amor de Regina, teria ela, tido seu mesmo destino?

“Morreu” Sua voz saiu um tanto rouca, Emma pensou ter visto os lábios de Regina tremelicar, como acontece quando vamos chorar... Olhou por meio minuto e pegou-se pesando que, eram bonitos lábios. E, aparentemente, tinha uma pequena cicatriz no canto superior do lábio que ainda não tinha notado.

Regina parou uns instantes, recuperando as rédeas das emoções. “Quando eu tinha dezoito, nós juramos amor eterno... trocamos alianças, queríamos casar e iriamos. Ele morreu uma semana depois disto” Emma sentiu que faltava algo, ela não parecia tão segura nas palavras agora; sobre o que ela deixou nas entrelinhas ou mentiu, talvez omitisse, Emma não ousou perguntar.

“Sinto muito.”

“Eu também” Sussurrou em resposta

Regina respirou, profundamente, algumas vezes, saiu da sala e voltou com o bule de água quente, pacotes de chá, água e biscoitos também; pousou os sob uma bandeja de prata, na mesinha ao centro. No rosto, nenhum traço das emoções anteriores.

Emma sentiu-se, momentaneamente, desconfortável por ter dado ouvidos a outras pessoas sobre a morena; a noite mal havia começado, mas Regina não era, agora ela sentia-se mais segura nisso, aquilo que diziam. Kathryn e Gold não conheciam Regina, ela tinha certeza. Regina sentia-se como tivessem tirado um peso dos ombros, suspirou mais aliviada e flagrou-se gostando da sensação de ter alguém para compartilhar sobre si, e ter alguém novo para aprender sobre. Principalmente, alguém que não era um fantoche. Todos pensavam sobre ela o que a mesma havia estipulado. E atuavam como ela queria. Tudo era preto e branco. Morno. Agora era livre para ser ela mesma. E ela flagrou-se, novamente assustada, uma segunda vez essa semana. Quem ela era de fato? Passou tanto tempo tentando ser como a viam... Só sentia-se livre no lombo do cavalo ou nos braços de Daniel, ele queria que ela fosse, apenas, Regina. Cora desejava uma rainha; Leopold desejava uma mulher obediente, uma mãe para sua, insuportável, cria; Branca criou a Rainha Má, e ela foi exatamente, ou pior do que ela a pintou; seu pai, bem, ela não sabia o que ele desejava dela, ele parecia feliz com todas que ela foi, sua pequena Regina, a rainha, a Rainha Má, tudo parecia bom pra ele. Ou talvez, ele só a amasse demais para rejeita-la... Ela sentiu um gosto amargo na boca, um embrulho no estômago.

“Você sabe... quem é você?” Perguntou Regina.

Emma inspirou fundo e sorriu “Emma?” Ela disse, como se fosse óbvio.

Regina sorriu também. “E o que mais, Emma?” Ela falou o nome da garota como se provasse um vinho raro, saboreando como a palavra tinha um som e uma forma gostosa de desenrolar na boca.

Emma sentiu se afetada pela forma que seu nome soava sensual na voz de Regina e pegou se gostando de como ela dizia essa palavra como uma prece. E, como ela fez isso exata duas vezes em que esteve ali. Emma franziu as sobrancelhas. “Estava mesmo contando?” 

“Bem, Senhorita Mills. Eu sou uma cientista, não daquele jeito, amo desvendar mistérios, acho que os desafios me movem e desvenda-los é meu ápice. O resto vai lhe parecer repetido, não durma enquanto continuo... Não conheci meus pais, eles me jogaram em um lugar qualquer, sem se preocupar em me levar a um hospital, orfanato ou qualquer lugar mais viável para um recém-nascido, apesar dos meus esforços para encontra-los, eles são como fantasmas, parecem que nunca existiram. Juntei um dinheiro, e paguei um detetive especializado em encontrar quem não quer se encontrado, ele consegue 99,7% das vezes, lembro-me dele dizer, com pesar, que ele não tinha achado nada, nem uma pista... Não consigo pensar em mais nada. Sou alguém comum, Regina... E, bem, me parece que todos a minha volta parecem a fim de me trair, enganar ou coisas piores...” Emma disse tudo com um sorriso, o que ela estranhou, pois era uma historia que lhe causava uma dor imensa, mas ela sentia-se tão diferente, não entendia uma vírgula do porque daquele sorriso bobo.

“Isso a deixa contente, Senhorita Swan?” Perguntou, intrigada.

“De forma alguma, Senhorita Mills. Há maneira de ficar feliz, pisando em brasas em chamas...descalça? Creio que não.” Afirmou a jovem.

“Senhora” Regina disse, ela não era senhorita.

Emma sentiu um frio esquisito subir-lhe pela costa. “É casada, Senhora Mills?”

“Já fui” Disse com tranquilidade, Emma foi pega de surpresa, ela mexeu-se desconfortavelmente no sofá levando a xícara aos lábios, tentando digerir o que ouviu. Achou que, talvez, usar o ‘senhora’ fosse uma maneira de afastar possíveis pretendentes, facilmente ou por respeito. Podia recordar que a Ruby havia cumprimentando usando o ‘senhora’. O chá estava gelado, ainda assim ela bebeu. Na sua mente fez-se um clique, ela não tinha fotos de ninguém na casa, não nos cômodos onde foi e o escritório também não possuía, lá certamente seria onde manteria os quadros dos entes queridos, já que passa a maior parte do dia, talvez no quarto... Sentiu um aperto no peito ao pensar no quarto de Regina, tão intimo, o quarto estava sempre com a porta fechada, haveria algo ali? 

“E, então... ele... morreu e, você ficou sozinha?” Questionou Emma.

“Não, eu tinha meu pai e a filha do falecido.” Emma sentia a mudança no tom de voz, quando falou da garota; será que sentia ciúmes do marido? Não, não era isso, Regina não sentiria ciúmes de uma criança... A pergunta de Emma não envolvia os pais dela, apena a ausência de filhos, mas percebeu que a mãe, Cora, provavelmente, já haveria falecido a essa altura.

“E onde estão?”

“Meu pai está morto, há muitos anos.” Mais uma vez, Emma pensou ver algo em seus olhos. Remorso?

“E a garota?” Continuou a questionar.

Regina refletiu uns instantes, não tinha a menor vontade em mentir para Emma, então disse apenas: “Bem... perdemo-nos.” O que não deixava de ser a mais pura verdade.

“Não tem vontade de encontra-la?” Emma sentia-se invasiva, mas era algo que não conseguia evitar. R

Regina apenas balançou a cabeça em negativa. E continuou “Tudo bem. Conte-me sobre você” Emma entendeu que aquele assunto morreu, pelo menos por enquanto, ela não insistiria mais. Mas a curiosidade foi um sentimento que não conseguiu conter.

Emma pensou um instante, estendeu a mão aberta em frente ao rosto e Regina observou, parecia que contava qualquer coisa nos dedos. Depois de um ou dois minutos, Emma falou: “Eu estive no total em 15 casas diferentes, 15 famílias diferentes, uns 23 irmãos diferentes, fiquei em três orfanatos, mas até os doze fiquei em apenas um, via todas as crianças saírem com uma família, você acredita? Nenhuma delas retornava, eu me via sempre indo e voltando das casas, sem ninguém nunca me permitir ficar... fiquei no máximo três meses” O tom doce de Emma ainda estava ali, camuflado no amargor das suas palavras, observou Regina.

“Um dia me disse que o máximo que esteve em uma casa foi um ano” afirmou Regina, Emma pegou se surpreendida, novamente aquela noite. Regina prestava atenção no que ela dizia... Ela estava interessada em conhecê-la, talvez, não fosse totalmente reciproco, mas era algo.

Então, Emma contou de Ingrid, contou que ela parecia incrível, propôs que se Emma não pudesse tê-la como mãe, que fosse uma irmã mais velha, e que tinha sido o mais perto que ela havia chegado. Contou sobre um valentão que tentou intimida-la e que Ingrid, como uma verdadeira irmã mais velha, havia contado que ele tinha medo de aranhas, até as de plástico; e depois de assustar o garoto, a partir dali, ela e Ingrid não se desgrudaram mais. Mas depois tudo havia desandado.

“Mas, ela não adotou você não é?” Disse Regina com pesar.

“Na verdade, ela fez. Eu fugi.”

Regina franziu as sobrancelhas e sua boca abriu-se em surpresa. Primeiro não entendeu porque Emma faria isso, e depois o porquê dela não saber daquilo, Sidney não descobrira tudo, realmente, a respeito de Emma.

Notando o espanto de Regina, completou Ela era louca. A única pessoa disposta a me adotar, era louca.” Contou que ela havia as jogado em frente a um carro. “Ela queria que eu, euzinha, fizesse um Wingardium Leviosa Disse, fazendo um movimento de pra-lá-pra-cá com a mão direita. Apesar do sorriso, Regina notou que seus olhos estavam tristes.

Emma contou-lhe mais algumas amenidades sobre as casas em que esteve, contou de Noah, ele foi o irmão mais novo que teve e o que mais se apegou, contou que sente sua falta até hoje; ela tinha sete quando foi para casa dessa família e a pior parte foi deixa-lo. Depois disso, ela contou que não se apegara a nenhum irmãozinho. “Mesmo que eu quisesse, não havia ninguém com o sorriso do Noah e ninguém sabia me abraçar do jeito dele que ele fazia, mesmo quando eu errava.” Ela tinha os olhos rasos de lágrimas, desviou o olhar, não queria que Regina notasse. Regina murmurou um ‘sinto muito’.

***

Passava das 00h40m quando Regina olhou para o relógio que ficava no lado esquerdo dela, quase atrás de si. Não costumava ficar acordada até tão tarde e o sono não se fazia presente, o que era estranho. Mas não pensou muito nisso, era sua vez de falar, então ela levantou-se para reaquecer a água, adora chá. Depois de se acomodar no seu lugar, tomou um longo gole, sentindo-o aquece-la. As noites eram sempre frias ali.

“Meu pai subornava as empregadas para fazer cookies para mim. E sempre que minha mãe fazia... Fazia algo maldoso comigo, ele me trazia uma florzinha...” Parecia alheia a tudo, como se sua alma viajasse para esse momento, estava apenas de corpo presente.

“Snowbell”¹

Regina a olha com os olhos levemente arregalados. “Vi em seu jardim. Acho que são minhas flores favoritas no mundo todo.” Emma esperou, mas Regina não continuou.

Emma abanou a cabeça lentamente e explicou. “Havia uma enfermeira no primeiro orfanato em que estive... Ela era muito bondosa... Costumava-nos da essas florezinhas quando estávamos doentes, só que das brancas... Ela entregava a flor e dizia ‘peça qualquer coisa, e se realizará’.” Emma tinha um sorriso triste “Eu fingia-me de doente, para ter a chance de pedir... De repetir o meu pedido... para ter uma família”. Disse com pesar.

Na frente da casa de Regina havia alguns pezinhos dessas flores, estrategicamente, colocadas ao lado da cerca, no lado esquerdo e direito da mansão, eram todas vermelhas sangue, um tipo raro dessa flor. Apesar de serem tão bonitas quantas as brancas, Emma preferia as brancas, porque a fazia ter esperanças, bem, pelo menos a lembrava de quando tinha esperança de que teria uma família.

“Isso foi muito inapropriado, ela não deveria alimentar falsas esperanças”

“Não discordo, mas... Mas, às vezes, esperança é a única coisa que nos faz prosseguir... Sabe? Quando tudo complica demais, se agarrar as esperanças, como se fosse um bote salva vidas, pode ser a única saída”

Emma defendia seus pontos de vista com amor, Regina não pode deixar de notar o modo como ela dizia seus ideais fazia a acreditar que, ela estava certa, porém ela não acreditava em fé cega, acrescentou em pensamento, logo em seguida.

“Você teve um bom pai...” afirmou Emma; pelo modo que Regina falava dele, ela pode ver amor em cada palavra, mas tinha algo mais... Culpa? Arrependimento? Ela não sabia definir e muito menos justificar os motivos para tal.

“Ele foi. Senhor Henry esteve ao meu lado até seu ultimo suspiro e me amou além dele, eu sei disso” Seu tom de voz era doce, mas a loura sentia que seu jeito era tão misterioso, era a primeira vez que conversava tão abertamente com ela, mas havia lacunas que ela não conseguia preencher.

As duas ficaram em silêncio por um momento. Regina não olhava para Emma, mas sentia o peso de seu olhar sobre si. Estudando-a, e talvez, desvendando-a.

“Você é tão misteriosa...”

“Sim” Respondeu Regina, sem adiantar mais nada.

Depois de mais alguns instantes pensando, Regina disse “Você é tão aberta que me assusta.”

Emma riu de mansinho, sentindo-se estranhamente agradada com isso.

“Sinto muito, mas” Deu de ombros “Você realmente pode me perguntar qualquer coisa...”

“Conte-me sobre o pai do bebê” Depois de dizer, ela mirou Emma, temendo ter magoado a com a pergunta. Mas, respirou aliviada quando a garota apenas acenou afirmativamente, dando um meio sorriso. A pergunta fez a loura deslizar para o passado.

“Roubei o caro dele. Aquele carro...” Disse Emma, apontando e indicando para fora da casa “Depois disso não nos desgrudamos mais.” Emma contou-lhe sobre ele ter enviado a chave para o presídio de segurança de Phoenix, sobre alguns momentos compartilhados e sobre o plano para Tallahassee. Regina pode sentir pelo tom de voz de Emma como aquela situação era difícil para ela.

“Sinto muito Emma”

“Não sinta, eu não sinto. Não mais.” Não era uma completa verdade, ela sabia. Mas talvez se ela repetisse isso muitas vezes, tornaria isso real.

“Você fala sem nenhum rancor? Vingar não te passa pela cabeça?”

“Hoje não. Sofri tudo que tinha pra sofrer enquanto presa. Me libertei das amarras do passado... Menos pelo... Pelo...” Ela gaguejou a última parte.

“Bebê... Entendo. É admirável, como consegue perdoar. Esse homem... e a Lily, eles mereciam seu desprezo” Ela havia perdoado sim, mas jamais esqueceria.

“Eu estou cansada de me sentir mal. É melhor não sentir nada”

“Não sentir nada é realmente mais fácil, mas não é isso que você faz” Emma pensou ter ouvido qualquer coisa no tom de voz dela e a pergunta seguinte saiu automaticamente.

“O que eu faço?” Regina não respondeu logo, ficou a ponderar sobre o assunto.

“Você, Senhorita Swan, é inegavelmente uma otimista. Habil para lidar com as pessoas, é paciente, age de uma forma intrigante...” Emma riu, ela se via como alguém comum, com pensamentos comuns, vivendo uma vida comum, mesmo que ela não se visse assim... Emma gostou da Emma que Regina descreveu.

“Não sou sempre a otimista, mas tento... Estar quebrada não pode nos impedir de voar, Regina...”

***

“Uma última pergunta antes de ir dormir, qual seu prato favorito?” Indagou a morena, Emma se encontrava no batente da porta, Regina havia levado a mão a porta para abri-la, quando questionou-a.

“Bife acebolado e batatas fritas” Disse sem pensar, salivando. Era o que mais gostava. Regina pensou com certo descontentamento sobre isso. Porque logo bife acebolado e batatas fritas? Fritas com bife frito e cebolas igualmente, fritas. Muito saudável Emma Swan. Tinha uma carranca na cara.

“O que foi?” Disse Emma, como se lesse os pensamentos.

“Porque não gosta de lasanha, como os normais fazem?” Seu tom saiu mais duro do que desejou. Lasanha não era o prato mais saudável, mas ainda assim era melhor do que a abundância de óleo que Emma apreciava.

“Provavelmente, porque não provei a lasanha de Regina Mills.” Disse brincalhona, estava aprendendo a lidar com o jeito de se expressar de Regina. O comentário fez a morena enrubescer. Ela agradeceu a luminosidade baixa do corredor.

“Não ouse me enganar” disse tranquilamente “Mas, minha lasanha é a melhor de todas”

“Imagino que sim” Responde com sinceridade.

Emma não conseguia ver o rosto de Regina completamente, a luz do quarto da morena estava apagada, enquanto o do seu estava acessa e o corredor estava mal iluminado.

“Boa noite, Regina” Disse.

“Boa madrugada, Swan” Disse com um sorriso. Emma não viu, mas sentiu, pelo tom de sua voz, que sorria.

Tem pessoas que, quando desejam um bom dia, boa noite ou uma boa madrugada... Acabamos por tê-la mesmo. Foi o que ocorreu com Emma e foi também, o que ela notou quando abriu os olhos algumas, muitas, horas depois.

*SQ*

Desde que chegou, Emma viu Regina todos os dias com uma maquiagem impecável, cabelos escovados e roupas que desenhavam o corpo bonito que ela possuía. Quando no domingo Emma acordou, sentindo um cheiro de torta assada incrível, se deparou com uma Regina diferente. Ela usava um vestido cinza confortável, não passava da metade das coxas, pois o dia estava um pouco abafado, os cabelos de Regina ainda úmidos do banho. A cozinha tinha um cheiro delicioso de maça, talvez, fosse a torta, talvez, Regina; ela não soube ao certo. E pegou-se querendo saber. Quando Regina mirou Emma, jurou ter visto o mesmo olhar do primeiro encontro, um misto de curiosidade e encantamento. Cumprimentaram-se com um ‘bom dia’ e ambas questionaram se a outra havia passado bem à noite. Logo, Regina voltou a picar as batatas.

Seus olhos e lábios não estavam maquilados como de costume, tinha o rosto fresco, o vestido não desenhavam o corpo, mas valorizava de forma diferente de dantes. A loura pensou se havia maneira dela ficar mais bonita. Logo, após pensar isto, ficou surpresa; Emma sentiu um estranho aperto no peito quando pensara em Regina. Engoliu em seco ao se dar conta de que a sensação de aperto poderia muito bem se tratar de desejo. Ela nunca fora boba e sabia bem o que sentiu quando mirou Regina, era realmente desejo. “Não acredito” Pensou, abanando a cabeça “Você é tão, tão burra, Emma. Não faça isso. Você não gosta de mulheres. Mas, Regina Mills não é qualquer mulher... Merda pare de pensar essas coisas. Idiota”

“Idiota?” Regina a perguntou, surpreendendo Emma. Ela não havia percebido que falara a ultima palavra; temeu ter falado todas em voz alta, mas Regina estava calma demais pra ter ouvido.

“Eu... Falava de mim” Sua voz saiu um pouco rouca.

“Claro. E de quem mais falaria?” Provocou Regina, com um sorriso de canto e olhando Emma por cima do ombro esquerdo. “Coma algo leve, seu prato preferido sairá em breve... reformulado. Sei que vai agradar.” Disse convencida. Já era quase 12hr30m, Emma havia dormindo bastante.

Emma murmurou qualquer resposta e fez o que lhe foi instruído, se flagrou olhando Regina mais vezes que seriam aceitáveis e amaldiçoou-se por tamanha fascinação. Os seus ombros estavam nus, o vestido descia lhe perfeitamente, seu corpo era, levemente, torneado, sensual; para Emma agora, mas que nunca, Regina transpirava, exalava por todos os poros, sensualidade.

***

Regina não aceitou a ajuda de Emma na preparação da refeição e ela não insistiu. Foi em direção ao quarto, sentindo todo o corpo tenso; sentiu-se culpada pelos seus sentimentos. Tinha certeza que Regina desaprovaria e se ela desconfiasse, acabaria por estragar o laço que estavam trabalhando. Pegou-se rindo, porque mesmo se desejasse – não sabia ao certo se desejava - achou impossível fugir de encantar-se pela beleza e sapiência de Regina Mills. E apesar de negar uma, duas ou mil vezes em sua mente, sabia que a presença dela era qualquer coisa como luz, em meio à escuridão que sua vida tinha se tornado.

Sentou-se e pegou um livro na escrivaninha de seu quarto, leu o nome e esqueceu-se um segundo depois, abriu-o em uma pagina qualquer, sem animo, leu o titulo “A volta da mulher morena”, abanou a cabeça lentamente, levantando as sobrancelhas e riu-se logo depois. Sentia a vista cansada, o preço por ter ido dormir tão tarde; abriu a gaveta do lado esquerdo da escrivaninha, enfiando a mão lá dentro e trazendo consigo um óculos preto de armação quadrada simples; colocou-o sobre a cara e fez a leitura.

Cegai os olhos da mulher morena

Que os olhos da mulher morena estão me envolvendo

E estão me despertando de noite.

 

Meus amigos, meus irmãos, cortai os lábios da mulher morena

Eles são maduros e úmidos e inquietos

E sabem tirar a volúpia de todos os frios.

Meus amigos, meus irmãos, e vós que amais a poesia da minha alma

Cortai os peitos da mulher morena

Que os peitos da mulher morena sufocam o meu sono

E trazem cores tristes para os meus olhos.

(...)

Branca avozinha dos caminhos, reza para ir embora a mulher morena

Reza para murcharem as pernas da mulher morena

Reza para a velhice roer dentro da mulher morena

Que a mulher morena está encurvando os meus ombros

E está trazendo tosse má para o meu peito.

Meus amigos, meus irmãos, e vós todos que guardais ainda meus últimos cantos

Dai morte cruel à mulher morena!

Leu-o mais quatro ou cinco vezes, pensando que aquele livro, naquela pagina em particular, definia tão bem a situação. “Os olhos da mulher morena estão me envolvendo.” Riu-se de novo, lembrando-se de como os olhos castanhos eram capazes de por fim até mesmo as guerras; eram intensos, expressivos e diziam tantas coisas, coisas que ela não entendia que não conhecia.

“Será que três meses são suficientes para destruir minha vida?’’ Foi seu último pensamento quando sentiu a presença de mais alguém ali, virou-se e lá estava ela. Igualmente linda como a minutos, horas – não sabia quando tempo havia passado – na cozinha. “Droga. Sim.”. E deu um sorriso para mulher a sua frente.

***

Regina observava Emma há meio minuto quando ela lhe devolveu o olhar, tinha prendido o cabelo em um coque rebelde e usava óculos, o que lhe dava um ar mais jovem; foi como se desse conta pela primeira vez, que ela tinha apenas 18 anos, pelo jeito que falava e se portava aparentava mais, tinha um caráter e maturidade que ela achou, para além dos outros da mesma idade. Notou que ela lia qualquer coisa e quando a loura se virou observou a capa “Antologia de Vinícius de Moraes”.

“Encontrou algo que te agradou?” O interesse de Emma era visível e tinha um sorriso quando ela chegou à porta. Emma acenou positivamente, mantendo o sorriso, mantinha o dedo indicador marcando o poema. “Se importaria em lê-lo pra mim?” Disse ela enquanto adentrava no quarto e sentava-se na ponta da cama, em frente à garota.

Ela limpou a garganta e iniciou a leitura, rezando para que a mulher não encontrasse ligações entre si mesma e o poema.

“Nossa” Foi o que disse quando Emma terminou. Ela havia deixando de lado a última frase “Dai morte cruel à mulher morena!”. Regina queria dizer alguma coisa, mas não conseguiu encontrar nenhum assunto. E, depois de um curto silêncio foi Emma quem falou.

“Alguém já escreveu um poema pra você?”

“Sim e foi assim que acabou uma possível afeição pelo rapaz.” Respondeu Regina, com um sorriso de canto presunçoso.

“Acredito que tenha existido muitos na mesma situação.” 

“Eu gostaria de saber quem descobriu a eficácia que tem a poesia de afugentar o amor.” Responde Regina, alargando o sorriso.

“Sempre achei que a poesia era o alimento do amor.” Diz, confusa. 

Regina teve que admitir para si mesma que Emma a impressionava ela era uma caixa de surpresas. Quem que ela conhecera, começaria uma conversa sobre isso? Possivelmente, ninguém. Riu por dento. Emma era atrevida, divertida. E Regina queria conhecê-la mais afundo, mesmo que não tivesse admitido isso nem para si mesma.

“Do amor verdadeiro, sincero... pode ser. Tudo serve de alimento ao que já tem força... Mas, quando se trata de uma ligeira e fraca inclinação, definitivamente, não. Até mesmo um bom soneto, nesse caso, seriam suficientes para me fazer morrer de inanição.”

Emma contentou-se em sorrir ao ouvir o ponto - sem dúvidas, inteligente - da outra. Regina era rápida, tinha uma forma critica ao agir; ia contra a correnteza, nunca imaginaria isso, por si só, sobre poesia versos amor. Lembrou-se de repente, de algo que notara na mansão.

“Vi um piano na casa... Você toca?” Regina notou um brilho nos olhos de Emma.

“Na verdade era uma das minhas obrigações. Estava na casa quando cheguei. Acabou se tornando um prazer, mas há anos não toco... E você toca?”

“Muito mal.” Diz Emma.

“Adoraria ouvir um dia.” Disse, seus olhos intensos encontrando o de Emma.

“Eu também?” Bem, quando Regina olhava de forma tão lasciva... Quando olhava dessa forma, era o tipo de pessoa que fazia qualquer um colocar interrogações nos fins das frases.

Emma observou o que havia dito e continuou “Eu quis dizer: eu também adoraria ouvir você.”

“Um dia... Talvez, um dia Swan.”

“Essa casa é algum tipo de herança de família? Casa de férias?” Emma notou que ela havia dito ‘quando chegou a casa’.

“Meus pais nunca estiveram aqui. Na verdade, você é a única pessoa nova a residir aqui.”

“Na casa?”

“Na cidade.”

Silencio

Emma sabia que quando alguém deseja dizer algo mais o silêncio fazia-os abrir a boca. Regina não continuou.

“São de Boston? Nova Iorque?”

“Acredito que um pouco mais distante.” Algo naquela frase fez Emma refletir. E Regina foi mais rápida em continuar “Vamos, nosso almoço já esta pronto”


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Notas finais do capítulo

¹ Não sei se existe a vermelha... Licença poética, por favor. rs Em português: Soldanela. Bem feio.
Sim gente, temos citação de O&P *---*
Espero mesmo que tenham gostado, deixem todo contentamento ou descontentamento nos comentários. Podem, por favor, me dizer se YAABILY esta agradando? O que vocês gostariam de ver aqui? Deliberar é viver meu povo, vamos lá.
Beijo.