Backfire escrita por Sookie Rivers


Capítulo 6
V - Friend Or Foe?




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Pela manhã, fui acordada por batidas insistentes na porta. Chequei o relógio, resmungando um palavrão enquanto esfregava o rosto de sono. 6:15 da manhã de um maldito sábado. Eu havia dormido apenas 1:30h em 3 dias.

Grunhi, me levantando e vestindo meu robe bege de seda, mandando Mozart calar a boca por causa dos latidos altos e agudos de filhote contra a porta.

Quando a abri, quase fui derrubada.

Sherlock Holmes entrou no flat tagarelando sobre David e Matthew, das formas que eles foram encontrados. O ouvi por alguns segundos, e quando ele se calou, me encarando em busca de uma resposta, finalmente reencontrei minha voz.

— Meu Deus... Você não dorme? São seis e quinze da manhã – Reclamei.

— Achei que queria fazer parte da investigação – Ele falou, confusão estampando seu rosto – Talvez estivesse enganado.

Ah, sim. Você está torcendo para estar enganado, aposto. Diante daquela resposta, eu apenas suspirei, indo até a cozinha.

— Sente-se. Chá? Café? Qualquer coisa? – Ofereci, minha boa educação ordenando.

— Café. Preto, dois cubos de açúcar – Ele respondeu, fazendo-me concordar e colocar o suficiente de água para duas pessoas na chaleira – Como eu dizia, Arnet foi encontrado nu com uma frase talhada em seu peito, feita com um objeto pontudo... Ah, perdoe-me. Sei que era seu amigo. Se quiser que eu pare, eu paro.

Encarei-o de trás da mesa da cozinha, semicerrando os olhos. Era um teste. Pude ver a falsa solidariedade estampada em seus olhos, seu rosto. Minha mente trabalhou rápido.

Se eu me mostrasse arrogante demais, dizendo que não via problemas naquilo, ele perceberia minha frieza quanto ao homem. Aquilo iria levantar mais suspeitas desnecessárias.

Por outro lado, se eu me mostrasse frágil demais, meus olhos enchendo-se de lágrimas e minha voz soando trêmula quando eu dissesse que estava tudo bem, ele veria na hora meu fingimento. Também traria ainda mais desconfiança e suspeitas.

Então apenas respirei fundo, meu rosto adquirindo uma expressão de pesar.

— Não podemos negar os acontecimentos do fato, e são necessários para que eu entenda o que se passou. Pobre David... – Sacudi a cabeça lentamente com o olhar perdido – Por favor, prossiga.

Ele avaliou minha expressão por alguns segundos, e a tensão corroeu meu peito. Porém, logo em seguida, ele continuou.

— A posição que ele se encontrava remetia ao Homem Vitruviano, de Da Vinci. Ele é considerado como um...

— Símbolo da simetria. Eu apreciaria muito se você não pensasse que está falando com uma leiga, Mr. Holmes. E sim, o Homem Vitruviano é fantástico – Eu servi o café, avaliando sua expressão intrigada. O meu puro, e o de Holmes com dois cubos de açúcar.

— Bem, sim. E no peito dele, a frase sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância. Ele estava com os membros e a espinha quebrados, mas a verdadeira causa da morte foi envenenamento. Conium maculatum. Cicuta.

— Sócrates nas duas características. O assassino gosta mesmo de mostrar sua inteligência, mostrar que é culto e que preza isso em outros. O que fazia Roberts da vida?

— Ele era um empresário. Como vê, até agora não foi encontrado nada que possa conectar os dois homens. Por isso preciso dos seus papeis – Ele disse, bebendo um gole do café despreocupadamente.

Semicerrei os olhos.

— Eu não confio em você. Como sei que não irá me passar a perna? – Coloquei a xícara de lado, avaliando-o.

— Pode ter certeza de que o sentimento é mútuo. E eu realmente teria lhe dado material suficiente para seguir uma investigação solo? Só me atrapalharia. Temos que falar com Lestrade sobre isso.

— E quem seria Lestrade?

— Garrett Lestrade. Detetive inspetor da enfadonha Scotland Yard – Sherlock disse, revirando os olhos.

— Wow. Seu amigo? – Perguntei, debochando da forma que ele se referira ao homem.

— Ah, não. Ele é okay. Só a Scotland Yard que me tira a paciência – Ele logo em seguida franziu a testa – E não tenho amigos.

Imitei sua expressão.

— Bem que sempre suspeitei que John era seu fiel escudeiro. Ou seu namorado – Debochei novamente, bebendo o resto do café enquanto fazia uma cara desinteressada.

— Você é debochada.

No shit, Sherlock.

Me levantei para pegar a xícara dele, colocando as duas na pia. Quando voltei, Mozart tentava a todo custo ganhar um cafuné do detetive, que apenas parecia desconfortável demais até na própria pele.

Ri brevemente com a cena.

— Não gosta de cães? – Perguntei, pegando Mozart e fazendo carinho em sua barriga.

— Você já deu um nome para ele? Dá ultima vez que o vi, seu nome era... "Ei" – Foi a vez dele debochar.

— Ah... Você é debochado! – Brinquei, e consegui arrancar um pequeno sorriso do detetive. Ponto para mim – O nome dele é Mozart.

— Hm... Seu compositor favorito?

— Não, o meu é o bom e velho Ludwig Van*. Mas quando estava procurando nomes para ele, o nome Mozart surgiu numa situação... Inusitada – Me lembrei de Mycroft, segurando o riso.

Percebi que ele havia ignorado minha pergunta sobre cães, mas resolvi deixar quieto. Seria estranho insistir e, além disso, ele me contaria. Em breve.

— Bem, Garrett Lestrade, você disse. Vou tomar um banho e poderemos ir – Eu avisei, me virando para ir para o quarto.

— Você poderia deixar os papéis comigo. Para eu ler enquanto isso.

* (Ludwig Van Beethoven é o nome completo do compositor austríaco.)

Começo a pensar que aquilo seria um baita teste de confiança. Se ele não voasse do flat com os papeis, eu teria a sorte de ainda estar na investigação. Se ele fosse embora... Bem, eu infernizaria a vida dele por ter me enganado para conseguir informações.

Vasculhei a mente para saber se algo comprometedor ou perigoso se escondia no flat caso ele fizesse o tipo bisbilhoteiro. Não. Nada. O arquivo que importava estava com Jim, outras coisas no meu cofre. Eu me sentia segura.

— Eu... Certo – Respondi, indo até o quarto e pegando a pasta com a foto e os endereços.

— Por favor, me diga que não estou sendo uma completa idiota por confiar em você – Pedi ao voltar, entregando-lhe o material.

— Ah, você está sendo altamente idiota – Ele respondeu, abrindo a pasta. Refleti por um momento sobre ir para o banho ou fazê-lo engolir os papeis, mas por fim suspirei e decidi fazer logo o caminho até meu quarto.

A última coisa que vi antes de fechar a porta foi o brilho nos olhos do detetive ao descobrir o que tanto queria.

Meu banho foi rápido como um foguete. Vesti uma calça jeans escura, botas de couro que iam até o meio da parte de baixo da perna, uma blusa social azul clara de mangas compridas e joguei meu sobretudo negro por cima.

Porém, quando voltei para a sala, Sherlock Holmes havia desaparecido.

Sacudi a cabeça com um sorriso cínico. Claro. O que mais eu poderia esperar de um psicopata? Eu realmente havia confiado nele?

A raiva tomou meu peito e, antes que eu pudesse controlá-la, uma das xícaras que estavam no balcão foi ao chão. Mozart se assustou, correndo para o quarto, e quando me abaixei para apanhar os cacos de porcelana, uma voz grave fez os pelos da minha nuca se arrepiarem.

— Eu fui apenas avisar John – Sherlock Holmes estava na porta com um meio sorriso, como um policial que pega um bandido no flagra – Achou que eu fugiria com suas informações?

Antes que eu pudesse responder, John entrou no flat com um pedido de licença. Quando seus olhos pairaram sobre a porcelana no chão, ele franziu a testa.

— Está tudo bem?

— Sim, sim. Fui apenas um pouco desajeitada – Respondi, terminando de apanhar os cacos – Podemos?

— Claro... – O detetive me encarava como se lesse minha alma, e assim segui os dois homens para a Scotland Yard.

Quando chegamos lá, fomos recepcionados por uma sargento nada simpática.

— Ora, ora. Quem é essa, aberração? Sua namorada? – Ela perguntou, rindo em seguida – Ah, não. Esse é o John. Esqueci.

Ergui as sobrancelhas enquanto John revirava os olhos. Sherlock apenas ficou indiferente, o que me fez perceber que aquilo era bem recorrente.

— Não sou gay – John disse com irritação na voz.

Encarei a mulher de cima a baixo com uma expressão séria. Sim, eu havia feito a mesma piada mais cedo, mas por incrível que pareça, eu a fiz apenas por brincadeira. Aquela mulher queria feri-lo. Os dois.

— O quê? Vai me dizer toda a minha história de vida como a aberração ali? – Ela provocou, cruzando os braços.

Dei de ombros.

— Tem um alface no seu dente – Falei – Não preciso ser uma especialista em deduções para deduzir que você deve ter passado vergonha com mais pessoas do que nós. O café da manhã já passou faz tempo.

John cobriu o riso com a mão, e a cara da mulher parecia que ia derreter enquanto ela cobria a boca.

— Donovan. Precisamos ver Lestrade – Sherlock disse sem nenhum sinal de emoção em seu rosto.

— Ele está em uma reunião – Ela respondeu com frustração na voz.

— Mentira – Falei, provocando-a.

— Sim, posso ver. Bem, é importante. Você não quer ser chamada a atenção por perder oportunidade de receber uma bela informação sobre o caso atual, quer? – Sherlock perguntou à mulher.

Ela ia responder algo, mas ao olhar para mim novamente, desistiu.

Donovan se dirigiu a uma sala, colocando a cabeça lá dentro. Tentei imaginar o que ela estaria falando ou pensando e me peguei rindo baixinho da mulher.

— Ele vai ver vocês agora – Ela disse, sua voz ainda com aquele tom frustrado. Afetar pessoas ordinárias era tão bom.

John se adiantou e, quando fui segui-lo, Sherlock Holmes segurou meu braço.

— Por que fez aquilo? – Ele perguntou num tom baixo.

Pensei em uma resposta.

— Não gosto de bullies – Disse – E achei aquela mulher intragável.

— Eu não preciso de alguém para lutar minhas batalhas.

Dei de ombros.

— Nem tudo é um campo de batalha, Mr. Holmes – Respondi, arriscando um meio sorriso.

Pude ver a surpresa em seu rosto pela minha resposta, mas durou menos que um segundo. Logo seu rosto assumiu a sua habitual máscara de gelo novamente.

— Acho que, diante dos recentes acontecimentos, já podemos nos tratar pelo primeiro nome.

Concordei com a cabeça.

— Sherlock.

— Aimee.

Me dirigi para a sala onde pude ler Detetive Inspetor G. Lestrade na porta. Ele já papeava com John, e enquanto não tinha sua atenção em mim, pude avaliá-lo.

Era um homem bonito em seus quarenta anos, que havia recentemente se separado da esposa. O caso claramente estava perturbando-o, pois não dormia direito há pelo menos uma semana ou mais. Também estava tentando parar de fumar, o que era evidente pelo adesivo de nicotina que aparecia por debaixo da manga de sua camisa quando ele se movia.

Quando me viu, adiantou-se, estendendo a mão.

— Greg Lestrade. Você deve ser Aimee.

Greg?

— Greg, uh? – Apertei sua mão e me virei para Sherlock – Achei que tinha dito que o nome dele era Graham.

— Na verdade, eu disse Garrett – Ele respondeu.

— Ele faz isso. É Greg – Lestrade disse com um olhar mal-humorado direcionado ao detetive consultor.

— Muito bem. Prazer em conhecê-lo, Greg – Respondi com um meio sorriso.

— Lestrade, o que nos traz aqui é importante. Aimee nos deu informações precisas sobre o caso, nos permitindo um avanço. John acha que... – Sherlock foi interrompido por um pigarro da parte do doutor – Nós achamos que ela deveria fazer parte da investigação.

— Sherlock, eu já luto para colocar você a par de tudo. Primeiro John, agora outra leiga?

— Se eu fosse leiga, não teria encontrado essa informação antes de todo mundo, não é? – Me virei para Sherlock – Enfadonha, você diz. Posso ver.

O detetive consultor sorriu de lado. Já o detetive inspetor não parecia tão feliz.

— Sherlock...

— Ora vamos, Lestrade. Voce sabe que esse é um caso importante. O quanto mais rápido você sulucioná-lo, mais louros irá receber. Apenas imagine – Sherlock o interrompeu.

Aquilo pareceu tentar Greg Lestrade, que apenas passou as mãos no rosto em sinal de rendimento.

— Só neste caso. Só neste caso, entenderam? – Ele insistiu, nos fazendo concordar.

Em poucos minutos, fui inteirada do pouco que não sabia. Quando se deu por satisfeito, Sherlock deixou a sala de Lestrade com uma empolgação latente. Cumprimentei o detetive inspetor, e eu e John logo seguimos Sherlock.

— E agora, qual o próximo passo? – Perguntei, me apressando para seguí-lo.

— Usaremos suas informações. Falaremos com as viúvas – Ele esfregou as mãos em expectativa – O jogo começou!

Graças a deus eu tinha um carro. Pegar táxi para todos os lugares era, na minha opinião, um gasto altamente desnecessário. Paramos na frente de um prédio de três andares bastante elegante. Parecia novo.

— 112A – Falei enquanto olhava as informações da viúva de Matthew Roberts, Elizabeth. 30 anos, jornalista. Faziam pouco mais de três semanas que Roberts havia morrido, quase um mês, e eu estava curiosa para ver como a mulher, sendo uma pessoa normal, estaria encarando o luto.

Eu nunca havia tido um contato próximo com o tal luto. Nunca alguém que eu considerava importante o suficiente para me atingir havia morrido. Porém, só haviam duas pessoas que eu considerava importante o suficiente para fazer alguma diferença. Jim e Agatha. Quando uma freira morria no orfanato, era rapidamente substituída por outra. E elas sempre foram tão frias com todas nós que isso nunca fez muita diferença.

Sherlock apertou o botão do interfone, sua voz soando simpática ao falar com a mulher.

— Bom dia, Sra. Roberts. Meu nome é Sherlock Holmes. Estou investigando o assassinato de seu marido junto com a minha... Equipe— Ele me lançou um olhar crítico, ao que eu retribuí com um levantar de sobrancelha – Poderíamos subir por alguns minutos?

A mulher hesitou, e pude ouvir o som de algo batendo contra uma superfície sólida. Talvez sua unha batendo contra a parede?

— Sim. Sim, podem subir – A porta abriu com um estalo, e entramos no prédio.

Quando chegamos e tocamos a campainha, a porta foi aberta rapidamente. Elizabeth Roberts ajeitou os cabelos extremamente bagunçados antes de dar espaço para que pudéssemos entrar.

Um gato persa veio nos cumprimentar, esfregando sua cabeça em nossas pernas. Afastei o animal discretamente.

— Por favor, sentem. Querem algo? Para beber, comer... – A mulher ofereceu, mas recusei educadamente. Ela parecia tão dopada que eu temia que ela colocasse fogo na casa se tentasse cozinhar algo.

Sentamos em um sofá de couro negro, com partes arranhadas de unhas de gato. Observei a mulher. Pupilas dilatadas. Pele altamente pálida, fazendo um imenso contraste com suas olheiras e seus olhos azuis claros. Ela abraçava o corpo inconscientemente, o que denunciava sua insegurança. Na foto do arquivo, seus cabelos eram loiros e longos, e ela sorria com dentinhos pequenos e brancos. Um belo sorriso. Porém, agora, aquela mulher parecia uma sombra de seu passado. Seus cabelos estavam curtíssimos, pouco abaixo das orelhas, e ela havia pintado-o de um castanho escuro, quase preto. Ela não havia sorriso uma única vez desde que havíamos chegado, nem para nos cumprimentar.

Credo. Então isso era o luto? Auto-destruição e depressão, a falta de zelo por si mesma e o fato do flat cheirar a merda e mijo de gato?

Fiz uma careta, me perguntando se um dia o luto viria para mim e como eu reagiria a ele.

A saudade de Jim me atingiu, e decidi que ligaria para ele mais tarde. Me forcei então a prestar atenção no que estava acontecendo.

— Sra. Roberts. Estamos aqui porque queremos descobrir o que aconteceu com seu marido. E para isso, vamos precisar fazer algumas perguntas, tudo bem? – John tomou a dianteira por ser a pessoa com mais empatia de nós três.

Ela concordou, sentando-se na poltrona à nossa frente. Ao fazer isso, sua manga da blusa do braço direito subiu um pouco, e pude ver marcas de agulhas. Na mesma hora olhei para Sherlock, e pude ver que algo em seu rosto mudou. Seus olhos se arregalaram brevemente, algo que não durara mais de um segundo, mas que eu não havia falhado em captar.

Ora, ora, ora. O grande detetive consultor?

Mordi o lábio em expectativa, logo em seguida me forçando a não transparecer nada. Seria heroína? Precisava descobrir algo sobre isso. Era um possível ponto fraco, não é?

— Não, meu marido não tinha inimigos. Não que eu soubesse. Mas era um empresário bem-sucedido... – Prestei atenção em Elizabeth, avaliando o que ela dizia – Existe muita inveja nesse mundo. E muitas pessoas más.

— Sobre a morte dele, o modo que ele foi encontrado... Você achou algo incomum? Algo relevante? – Sherlock perguntou, a voz séria e concentrada.

— O senhor não acha suficientemente estranho um homem ser encontrado dentro de uma caixa cheia de cobras? Que tipo de pessoa faria isso com outra? Não acha o bastante? – Sua voz soou áspera, rude. Sherlock e John ergueram as sobrancelhas, e eu observei enquanto os olhos dela se enchiam de lágrimas. Ela estendeu a mão para a mesa de centro, pegando um cigarro e tentando acendê-lo. Suas mãos, porém, estavam trêmulas.

Fui até ela devagar, estendendo a mão. Ela me lançou um olhar de dúvida, ao que respondi com um levantar de sobrancelhas. Ela então suspirou, me passando o isqueiro. Acendi-o e me sentei na mesa de centro, ficando de frente para ela e sem quebrar o contato visual.

— Elizabeth... Posso te chamar de Elizabeth, não é? – Ela não respondeu, então apenas continuei – Eu sei que dói. Acredite, eu estranharia se não doesse. Mas a coisa é que queremos descobrir quem fez isso com o Matthew. Você tem razão. Quem faria isso com outra pessoa? Esse alguém tem que enfrentar a lei. Justiça, Lizzie. E para isso ser feito, precisamos entender direito o que houve. Então, infelizmente, essas perguntas são necessárias. Entende o que queremos dizer? Qualquer informação serve. Qualquer coisa que, apesar de seu luto, a fez franzir a testa e questionar.

Ela puxou a fumaça do cigarro, expulsando-a com uma expressão pensativa.

— Bem, tem uma coisa. É o que mais me perturba porque... Bom, é horrível. Matt morria de medo de cobras. Era mesmo uma fobia. Era doentio. Ele nem conseguia olhar para fotos dos bichos. Então... Pensar que ele morreu pelas coisas que mais temia é o que mais me perturba. Não consigo dormir. Fiquei agressiva. Meus dois filhos estão morando com a minha mãe agora, não me encontro em condições de cuidar deles. Nunca me senti tão impotente...

— Veja pelo lado bom. Ele provavelmente morreu após a primeira picada por falência do sistema nervoso. Eram cobras altamente venenosas – Sherlock a interrompeu, e arregalei os olhos enquanto olhava para ele. John passou as mãos no rosto enquanto suspirava.

Elizabeth franziu a testa, encarando-o. Seu olhar demonstrava incredulidade e até mesmo um pouco de descrença, como se não acreditasse que ele havia mesmo falado aquilo.

— Sr. Holmes. Agradeço a tentativa de consolo, mas gostaria que saísse da minha casa. Todos vocês. Preciso descansar – Ela foi até a porta, abrindo-a – Podem ir. As perguntas acabaram.

Tirei um papel da bolsa, rabiscando meu número.

— Acho que já temos o suficiente mesmo. Vamos – John disse – Obrigado pela atenção, Sra. Roberts. Tenha um bom dia.

Quando passamos pela porta, entreguei o papel.

— Se lembrar de mais alguma coisa, qualquer coisa... Pode me ligar. Não hesite, apenas ligue. Tudo bem?

Ela concordou com a cabeça, e esboçou um sorriso modesto, apenas com os lábios. Mas já era um grande avanço. Retribuí o sorriso e passei pelo portal, seguindo os dois até meu carro.

— Aquilo foi realmente necessário? – Perguntei enquanto abria o carro – A mulher está de luto.

— Bom, achei que o comentário faria ela se sentir melhor – Sherlock respondeu, dando de ombros enquanto entrava no banco de passageiro do carro. Revirei os olhos e sentei no de motorista.

— A última coisa que ela queria era se lembrar do fato do homem ter morrido tão horrivelmente. Você ajudou a tornar o fato bem vívido na mente dela. Parabéns.

— Por que diabos se importa tanto? Nem conhecia a mulher – Ele resmungou.

— Sherlock, empatia. Empatia, Sherlock. Como é bom apresentar duas coisas tão diferentes.

Ele abriu a boca para retrucar, mas John interviu do banco de trás.

— Querem parar? Por que não falamos do que descobrimos? Parecem duas crianças.

— Boa ideia. Fobia de cobras. Será que foi coincidência? – Perguntei, mesmo sabendo a óbvia resposta.

— O universo raramente é tão preguiçoso. Foi uma informação importante – Sherlock respondeu.

— Algo íntimo. Ninguém sai falando de suas fobias por aí porque ninguém quer parecer fraco na frente de outras pessoas. Será que foi alguém próximo? Um crime passional, talvez? – Arrisquei.

— Talvez, por que não? É uma boa teoria. O que acha, Sherlock? – John perguntou.

Sherlock não respondeu, parecia imerso em seus pensamentos, uma expressão contrariada tomando seu rosto. Depois de algum tempo, ele finalmente respondeu.

— Acho que devemos falar com a esposa de Arnet antes de tomar conclusões precipitadas.

— Eu sabia! – Bati uma das mãos no volante num sinal de empolgação – Sabia que não sairia um elogio para mim dessa sua boca, Sherlock. Admita, minha teoria foi ótima! Acho até que pensou na mesma coisa.

— Por que eu deveria elogiar você? E não, Aimee, não pensei. Não perderia meu tempo com uma teoria tão pateticamente óbvia. Meu cérebro é melhor que isso.

— Vocês estão se tratando pelos primeiros nomes agora? – John perguntou.

— Óbvia? ÓBVIA? Tudo se encaixa! – Eu o ignorei, frustrada.

— Não sei de onde você tirou isso – Sherlock retrucou com cinismo na voz.

— Achei que fosse inteligente o suficiente. Pelo visto eu estava enganada – Alfinetei enquanto estacionava o carro na frente do 221B.

— Ah, graças a deus – John resmungou enquanto abria a porta depressa e saía do carro mais depressa ainda, como o diabo fugindo da cruz.

Eu e Sherlock o olhamos espantados e, depois de alguns segundos, não consegui segurar uma risada.

Sherlock se virou para meu ataque infantil, franzindo a testa enquanto sacudia a cabeça lentamente.

— Você é louca – Ele criticou. Aquilo apenas me fez rir mais, e um leve sorriso brincou nos lábios dele. Logo, o sorriso se transformou numa risada baixa.

— Trégua? – Perguntei, estendendo a mão – Duas mentes brilhantes trabalham melhor que uma. Além disso, temo que iremos enlouquecê-lo até o fim do caso.

Ele avaliou minha mão estendida e suspirou.

— Falamos mais sobre isso depois. Iremos ver a viúva de Arnet pela manhã. Esteja pronta – Ele saiu do carro, batendo a porta e me deixando com a mão estendida. Revirei os olhos. Babaca. Típico.

Saí do carro, entrando no prédio e indo para meu flat. Abri a porta e sorri ao ver o animalzinho da casa pulando nas minhas pernas.

— Mozart! E aí, garoto? É estranhamente bom te ver – Me ajoelhei na sua frente, deixando que lambesse meu rosto enquanto ria. Não ia negar. Era bom ter um serzinho tão carinhoso em casa. Era bom se sentir amada. Era... Reconfortante.

A noite chegou e, com ela, veio a Mrs. Hudson. Ela chegou com um belíssimo jantar que quase me fez venerá-la, pois não estava com a menor vontade de cozinhar.

— Iuhuu! Trouxe uma comidinha para você, Aimee. E um agradinho para o pequeno – Ela colocou a bandeja que trazia na mesa e deu um osso cheirando a carne para Mozart, que fugiu para o quarto com o rabo balançando.

— A senhora é uma santa! Não precisava, já ia cozinhar alguma besteirinha para mim – Sorri amarelo, cruzando mentalmente os dedos – E a senhora vai deixá-lo mimado desse jeito.

Ela fez um gesto de despreocupação com a mão, me fazendo sorrir.

— Não foi trabalho nenhum. E ele merece. É um anjinho – Ela me avaliou com os olhos por alguns segundos, hesitando para dizer algo – John subiu com um cara... Mas Sherlock parecia estranhamente satisfeito. Me pergunto o que houve. Sherlock é um bom rapaz, mas as vezes pode ser... Difícil. Mas os dois fazem um casal tão bonito...

Me engasguei com uma mistura de saliva e ar, tentando parar o ridículo acesso de tosse. Ela achava de verdade que os dois eram um casal? Ai meu Deus! Impagável!

— Eles realmente são lindos juntos, Mrs. Hudson. Ainda bem que alguém concorda comigo – Respondi, tentando segurar uma risada.

Ela concordou com um brilho no olhar, e decidi que não iria acabar com o OTP daquela adorável senhora.

— Eu vou deixar você jantar agora, querida. Depois volto para pegar o prato. Tchauzinho! – Ela se despediu um leve aceno, fechando a porta atrás de si.

Jantei rapidamente e fui para o quarto, pegando o celular e discando o número de Jim. Por uns instantes temi que ele não atendesse, mas após o quarto toque, sua voz preencheu meus ouvidos.

— Espero que esteja me ligando para dizer que teve um avanço na missão – Ele soou frio e distante, me fazendo franzir a testa.

Wow, big brother. "Aimee, que saudade. Como vai a minha garota favorita?" – Tentei imitar sua voz sem sucesso, mas fazendo um bom sotaque, rindo sem graça em seguida.

Ele hesitou por alguns segundos.

— Desculpe, Aimee. Estou estressado. Como você está?

— Com saudades. Mas, depois dessa ligação, repensando meus sentimentos – Soei seca.

A risada suave dele não melhorou meu humor.

— Com quem está aprendendo a ser petulante desse jeito? Sherlock? Não, não me diga. Com John Watson. Não gosto dessa sua atitude.

Suspirei, passando a mão livre no rosto.

— Desculpe.

— Também estou com saudades, Aimee. Não pense nunca o contrário – Ele disse com a voz mais carinhosa, me fazendo sorrir – Mas alguém tem que cuidar da bagunça enquanto você está fora. Agora, me conte as novidades.

— John me adora. Não diria que confia em mim, mas sua simpatia comigo é notável. Já Sherlock... Ele é complicado. Mas vai dar tudo certo. Você vai ver – Soei confiante, coisa que saberia que ele aprovaria – Temos pistas sobre o caso. Eu acho que foi um crime passional...

— Não duvido da sua capacidade, Aimee. Agora devo ir. Preciso ver um cliente. Mantenha-me informado. Beijinho. Tchau.

Antes que eu pudesse responder, a ligação foi cortada.

— Tchau... – Falei para o nada, a tristeza tomando meu peito. Mozart pareceu perceber, subindo em cima da cama e lambendo minha mão.

— Está tudo bem – Repeti como um mantra – Tudo bem.

Jim Moriarty

Jim desligou o telefone impacientemente. O sentimentalismo da garota o irritava. Apesar disso, gostava do rumo que as coisas estavam tomando. Estava tudo indo bem. Ele gostava disso.

A porta de seu escritório se abriu e ele sorriu maliciosamente, apontando a poltrona à sua frente.

— Adorei o que fez com Arnet. Estou louco para ouvir sobre a próxima vítima. Chá?


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Notas finais do capítulo

N/A: Olha sóó, Jim maquinando as coisas. Criminoso consultor. Adoro. Enfim, gente, só queria deixar aqui o link do meu grupo no face para eu ter mais contato com quem ler a fic, se você quiser entrar. https://www.facebook.com/groups/681186048666621/ Espero que gostem! Beijooos!



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