Idiotas vinculados escrita por jess


Capítulo 14
Esqueletos podem ser legais




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A chuva cessou logo depois do inicio da noite. Não sabíamos se era melhor continuar a caminhada à noite ou de manhã, minhas costelas ainda doíam, mas sabia (não me pergunte como) que elas estavam praticamente curadas. Coloquei a mão no meu ferimento do lado direito, onde o espinho da mantícora tinha me acertado e percebi que estava a apenas umas horas de fechar totalmente, mas ainda sangrava um pouco.

            Henry coçava desesperadamente o braço ao redor do corte, pelos sintomas acho que estava finalmente cicatrizando, imaginava que de manhã estaríamos novos em folha, portanto resolvemos passar a noite onde estava quentinho e de certa maneira confortável. Combinamos de fazer turnos de vigia durante á noite para que não ficássemos totalmente desprotegidos e todos pudessem dormir.

            Não conseguia dormir então fiquei com o primeiro turno, invoquei uma pequena faca de caça e comecei a brincar com ela de maneira que muitos considerariam perigosa, mas eu não me machucaria tão fácil, tinha percebido no treino intensivo que tenho facilidade em aprender a lutar com qualquer tipo de arma devido a minha habilidade especial de invoca-las.

            Senti um arrepio na nuca, sabe quando você sente que tem alguma coisa de muito errado por perto? Meu radar de semideus é tipo umas cinco vezes mais forte que isso e eu sei que tem algo errado porque começo a calcular mil e uma maneiras de fugir ou lutar ou fugir lutando sem nem ao menos me dar conta. Eu tinha certeza que tinha algum monstro rondando.

            O problema maior em ser semideus é que você tem um cheiro especial para monstros. Eu não sabia que cheiro era esse, mas devia ser alguma coisa do tipo que diz para os monstros "Almoço grátis por aqui". Então eles te encontram em qualquer lugar. O acampamento é o único lugar considerado seguro de monstros para semideuses graças a suas barreiras mágicas e agora nós estávamos muito longe dele nesse momento.

            Senti um desejo incontrolável de sair correndo pela floresta brandindo uma espada e usando as árvores como alvo. Alguma coisa estava errada lá fora.

            Henry parecia estar dormindo profundamente enquanto tentava acorda-lo, depois de algumas sacudidas ele levantou resmungando. Mari foi um pouco mais fácil de acordar, mas provavelmente estava cansada demais para perceber o perigo que corríamos. Depois de me xingarem eles finalmente acordaram.

            - O que foi? - Henry perguntou sonolento.

            - Tem alguma coisa aqui perto, precisamos ir. - falei já arrumando as coisas.

            - Monstro? - Henry despertou de vez num pulo.

            - Monstros. - concordei.

            - Mas como você pode ter certeza? - ele perguntou enquanto me ajudava.

            - Eu posso sentir.

            - Perigo? - ele me olhou.

            - Vontade de dar um soco em alguém. Muita vontade. Nós precisamos ir. - falei.

            Henry fez uma careta, mas continuamos a guardar nossas coisas.

            Mari ficou imóvel por um tempo, possivelmente analisando o perigo no perímetro. Ela não discutiu. Arrumamos as nossas coisas comemos um pedaço de ambrosia cada um, apagamos a fogueira e saímos para a molhada e fria noite na floresta.

            Só deixamos a caverna depois de conferir se estava seguro. Caminhávamos o mais rápido possível tropeçando nas raízes e escorregando na lama e nas folhas molhadas que cobriam o chão e consequentemente grudavam nos nossos sapatos junto com a lama. O tempo tinha melhorado em comparação com o dia, mas a chuva tinha deixado o ar com um cheiro estranho e a visibilidade era complicada por que havia neblina ao longe então andávamos sem ter muita noção do tinha mais a frente.

            Mari ia à frente já que ela era de longe a que mais enxergava no escuro, ela desviava de arvores pulava barrancos quase escalava raízes e seguia pelo caminho como se enxergasse cada minúscula pedra no caminho, Henry escorregou algumas vezes e fiquei tentada a rir da linha de lama que tinha no pescoço e no rosto dele, mas meu frio na espinha me deixava em alerta máximo. Eu podia sentir cada movimento em um amplo raio ao nosso redor, conforme avançávamos me sentia como em um jogo de batalha naval.

             Tive a impressão de ver alguns lobos prateados caçando longe na mata e alguns outros animais, uma coruja parecia olhar com pena para meu pequeno grupo. Eu resolvi ignorar esses fatos. Paramos somente após algumas horas de caminhada quando achamos um riacho para repor o fôlego e beber água, a lua estava alta no céu, devia ser quase meia noite.

            - Devíamos procurar uma cidade. Pelo menos pra terminar de passar a noite. - Henry parecia bem mais forte depois de entrar em contato com a água. O ferimento em seu braço tinha fechado quase por completo apesar de eu achar que ele ainda não estava cem por cento.

            - Sim. É uma boa ideia. - falei mais prestando atenção na mata que em qualquer outra coisa. – Se conseguíssemos ver alguma coisa mais a frente pelo menos...

            - É melhor irmos andando. Vamos seguir o riacho, talvez ele nos leve a alguma cidade ou fazenda. - Mari concluiu.

            Seguimos lado a lado com o riacho por pouco tempo. Logo um denso nevoeiro nos atingiu e a floresta de coníferas começou a mudar, as árvores agora era de uma espécie diferente, com o tronco mais fino e as folhas e galhos se encontravam mais no alto, me senti presa naquele filme de terror em que um maníaco mata um monte de gente na floresta. O ar começou a ficar mais frio e a lua a ficar encoberta por nuvens ocasionalmente. Achei ter visto uma caveira jogada no chão encoberta por um pouco de terra, mas tenho certeza que era a minha mente me pregando peças, eu tinha muita imaginação.

            Ouve um uivo e de repente nós congelamos no lugar, um vento terrível passou pela minha espinha arrepiando todos os pelos do meu corpo. Eu podia senti-lo muito antes de vê-lo, havia algo de realmente maligno em sua presença.

            Comecei a correr, acho que era a adrenalina misturada com medo tomando conta do meu corpo, ultrapassei Mari e Henry que me seguiram de perto, eu não sabia exatamente onde estava indo, apenas corri desviando por centímetros das arvores que apareciam a minha frente, escorregando e sentindo meus pulmões queimarem, corremos até darmos de cara com ele.

            O lobo era quase do tamanho de um leão de zoo. Seu pelo negro era espesso e espetado, manchado de alguma substancia vermelha escura que eu torcia para ser ketchup, seus dentes caninos eram tão grandes quanto uma faca de cozinha e parecia dezenas de vezes mais mortais, seu focinho tinha varias marcas de cicatrizes e uma orelha parecia ter sido rasgada a base da mordida, sua pata era tão enorme que com um tapa podia mandar uma criança voando metros com cada garra pronta para rasgar um membro com um só golpe.

            Henry e Mari ficaram imóveis com a presença do monstro. Sim, monstro. De jeito nenhum aquele lobo era um animal comum, sua presença fazia eu me sentir como se uma corrente de adrenalina máxima percorresse as minhas veias mandando ondas de choque pelo corpo.

            - T-talvez seja amigável. - Henry gaguejou não muito confiante.

            - Talvez ele queira nos adotar. - ironizei.

            Henry estava prestes a protestar, mas lobo deu um passo para frente. Congelamos no lugar. Normalmente eu amo lobos, eles estão na minha lista de animais fascinantes, mas ali a única coisa que podia imaginar era quando a fera iria atacar e como se mata um monstro lobo selvagem gigante se é que três pequenos semideuses podiam mata-lo.

            A criatura soltou um uivo longo profundo, na floresta outras vozes se juntaram a melodia formando um coro fúnebre assustador, contei pelo menos meia dúzia. Se cada lobo da alcateia fosse do mesmo tamanho do líder, estávamos muito ferrados. O lobo deu mais um passo e começou a se abaixar se preparando para o salto cautelosamente, parecia não ter pressa em nos fatiar.

            - As armas! - gritei por instinto.

            Meus amigos descongelaram do choque, Mari deu uns passos para trás em direção as sombras que as árvores faziam. Tive a impressão de que as sombras ficaram mais densas envolta dela como uma espécie da barreira de proteção. Questionaria ela depois.

            Henry puxou a corrente e em alguns segundos tinha em mãos uma espada grega do tamanho de seu braço. A lâmina reluzia fracamente uma luz azul na escuridão da floresta, Henry segurava o punho com a mão tremendo levemente. Ele era canhoto e com o braço esquerdo ainda cicatrizando não poderia levar muitos golpes nele.

            Outro lobo chegou correndo e freou bem ao lado do líder. Era menor, mas ainda assim enorme para um lobo comum, tinha o pelo marrom e preto e babava uma gosma branca e vermelha. Com certeza era mais agitado que o preto, pois assim que chegou se pôs em posição de ataque.

            Cada lobo tinha os olhos fixos em Henry e em mim. Mari arriscou um primeiro ataque o que eu achei muito inteligente da parte dela, pois se esperássemos o restante chegar... Poderíamos não ter chance de luta.

            Uma dúzia de facas tentaram acertar os lobos sem sucesso, eles eram rápidos ao desviar nas laminas e o ataque só resultou em alguns cortes inofensivos. O lobo marrom ficou mais agitado e atacou. Ele pulou quase em cima de Henry que desviou para o lado no segundo antes do lobo aterrissar onde ele esteve, e então imediatamente começou uma luta de garras contra espada.

            Não tive tempo de ver os detalhes porque o lobo negro mantinha os olhos fixos em mim. Ele andou rosnando na minha direção, investiu em um pulo e eu nem mesmo pensei em me esquivar. Ele bateu no meu peito e cai de costas no chão, o lobo em cima de mim, as patas cada uma do lado do meu corpo, estava como os dentes a centímetros do meu rosto.

            De perto pude ver o quão brilhante seus olhos negros eram e entrei numa espécie de transe. Era como ver a escuridão tão perto que eu poderia toca-la se quisesse. Uma faca o atingiu no topo da cabeça, o lobo olhou para a direção de onde a faca tinha vindo e rosnou então se virou para mim e o nosso momento de encanto foi quebrado. Ele abriu a boca e atacou para baixo, levei um das mãos ao pescoço do monstro e com a outra tentei fechar o focinho dele.

            O lobo se sacudiu e tentou outra mordida, dessa vez eu segurei sua garganta ele sacudia a cabeça tentando se soltar das minhas mãos, mas me mantive firme. Ele forçou para baixo, mas eu mantive todas as minhas forças concentradas em afastar sua boca de mim. Em meio a nossa briga de forças ele colocou uma das patas em cima do meu abdômen do lado direito. Perdi o fôlego. Suas garras arranharam minha pele e rasgaram minha camiseta, prendi a respiração para não soltar um gemido de dor, o lobo colocou o peso em cima dessa pata e forçou outra mordida.

            Achei que minhas costela estavam completamente curadas, mas tive a decepção de descobrir que não estavam. Minhas costelas estalaram em um "crack" sob a pata do lobo, senti vertigem instantaneamente e meus braços falharam em conte-lo, com um movimento para baixo ele abocanhou meu pescoço.

            Senti os dentes afiados rasgarem a pele da minha garganta e achei que fosse meu fim, a mordida só não foi fatal porque eu inconscientemente ainda segurava seu pescoço e tinha desviado meu rosto para o lado. Então Henry, que aparentemente tinha matado seu oponente, veio correndo em minha direção e chutou o lobo na barriga com tanta força que ele voou e bateu no chão longe de mim enquanto ele me arrastava para mais perto de Mari.

            A raiva rugiu em meus ouvidos. Meu sangue escorria quente pela garganta abaixo. Ouvi passos e rosnados vindo de todos os lados e logo estávamos cercados por treze lobos gigantes raivosos e preparados para nos fazer de lanchinho da meia noite. Mari tinha um arco (que eu não sabia de onde tinha vindo, mas desconfiava que eu tivesse alguma coisa a ver com isso) já preparada para ser lançada, Henry mantinha a espada levantada. Levantei e convoquei uma lança e um escudo e juntos nós três nos colocamos em posição de defesa com Henry e eu de cada lado e Mari no meio um pouco mais atrás.

            Os lobos fecharam um semi circulo a nossa volta, um deles atacou pelo meio e foi atingido no ombro por uma flecha, outro atacou pelo lado e caiu no chão atingido pela espada de Henry, o que pulou na minha garganta foi jogado longe e bateu em uma árvore durante seu voo depois de eu tê-lo rebatido com meu escudo.

            Mais lobos começaram a atacar em sequencia, tentamos nos manter juntos, mas em meio à luta me vi no meio de três lobos estocando, rebatendo e perfurando com a lança, meu escudo tinha desaparecido em meio á confusão. Os lobos não paravam de atacar vi Henry perder a espada e se livrar a base de chutes um lobo que tentava agarrar seu braço, outro abocanhou minha perna, mas se dissolveu em pó quando uma flecha lhe atravessou a garganta.

            Joguei minha lança na direção de outro que tentava morder Mari e a lança o empalou atravessando-o na garganta e saindo nas costas e fincando sua ponta em uma raiz. Me livrei de mais uns dois a base de socos e chutes. Conjurei outra lança, essa dessa vez era muito mais legal que a primeira, ela mandou um choque pelo dorso do lobo que tinha quase arrancado minha garganta fora quando ele tentou me atacar e ele se afastou ganindo como um cachorro.

            Um lobo pulou em cima de Henry, ele caiu no chão com a lâmina da espada entre ele e os dentes da fera e então o jogou em minha direção, abati o lobo em pleno voo com a ponta da lança e ele virou pó. Os lobos uivaram e reagruparam nos dando tempo de fazer o mesmo.

            - Precisamos de ajuda. - arfei.

            - Como? Aqui não tem ninguém que possa nos ajudar. - Henry estava costas a costas comigo.

            - Aqui era um antigo cemitério. - disse. - Bati o cotovelo em um pedaço de lápide durante a briga e vi um esqueleto antes de sermos atacados.

            Não precisei concluir o que queria insinuar. Pois Henry foi mais rápido.

            - Mari faça alguma coisa. - Henry quase gritou. - Seu pai tem influencia aqui, peça ajuda, reze, não sei.

            - Talvez eu possa tentar invocar umas almas para ajudar. Eu me sinto mais forte aqui. - ela olhou ao redor. - Mas não tenho certeza se consigo.

            - Tente. - Falei. - Nem que você tenha que dançar Macarena por uma única alma.

            - Preciso de um lugar... - ela murmurou.

            Mari correu para trás, para a escuridão. Atrás de nós ficava o riacho e logo na sua margem uma pedra quase tão alta quanto uma pick up. Ela escalou a pedra e se sentou de pernas cruzadas como se estivesse meditando. As sombras á sua volta começaram a ficarem mais densas, mesmo as árvores não lançando tantas sombras na pedra.

            Os lobos voltaram a prestar atenção em nós. Henry e eu demos alguns passos e ficamos ombro a ombro em frente aos sete que tinham restado da alcateia. Percebi que ele tinha uma mordida sangrando na perna direita.

            - Lança legal. - ele disse.

            - Ei, eu quero morrer com estilo. - nós rimos e ele fez uma careta. – Melhor voce proteger ela.

            - De jeito...

            - Voce não me é útil machucado assim, não pode correr, só vai me atrapalhar. – fechei o cenho. Henry não gostou nem um pouco do que eu disse. – Se ela não conseguir ajuda nós todos estamos mortos.

            Tenho certeza que ele estava com muita raiva naquele momento, mas mesmo assim deu alguns passos para trás, alguns lobos se focaram nele, respirei fundo sentindo o ar frio da noite, girei a lança que soltou algumas faíscas e me joguei na briga novamente.

            Dessa vez a batalha foi mais lenta. Tanto os lobos quanto Henry e eu estávamos cansados e mais lentos. Minha lança foi quebrada na haste e eu tive que rolar no chão agarrada a um lobo, ele quase abocanhou minha orelha até eu finalmente abraça-lo por trás e quebrar o seu pescoço.

            Me levantei, Henry apareceu ao meu lado e voltamos a ficar costa a costa, espada de um lado e ponta de lança do outro, eu estava começando a pensar em tentar invocar uma granada ou uma metralhadora (não sei se era possível, mas seria bem útil). Me dispersei no meio dos lobos mais uma vez lutando como se não houvesse amanhã.

            Em meio à batalha ouvimos um "Crack" como ossos quebrando sob os pés só que bem mais alto e a terra tremeu. Bem na minha frente o chão rachou e perdi o equilíbrio, os lobos pararam por um instante para encarar a rachadura.

            Olhei encantada a enorme fenda no chão e depois para o riacho. Mari ainda estava sentada na pedra agora, seus olhos negros, fixos na rachadura e ela tinha uma das mãos levantada. Sombras pareciam dançar ao seu redor como miniaturas de redemoinhos de pó negro e ela brilhava como se estivessem pontos de diamantes refletindo a luz da lua ao seu redor. Pensei em fazer uma piada com o fato de ela estar parecendo um vampiro de filme adolescente, mas provavelmente ela não ia gostar.

            A terra dentro da fenda começou a borbulhar como se tivessem derramada muitos litros de café ou piche ali dentro, dei um pulo para trás quando uma mão ossuda saiu de dentro da terra e agarrou o rabo do lobo mais próximo. O lobo começou a fugir e arranhar para escapar, então mais duas mãos apareceram e o agarraram puxado ele para dentro da terra borbulhante.

            Os lobos ficaram agitados andando no lugar e uivando como loucos. Senti um leve choque correr pelo meu corpo. Henry correu mancando para o meu lado assim como os lobos ele parecia querer correr e se esconder.

            Nós dois recuamos quando as mãos voltaram a sair da terra, mas dessa vez não eram somente as mãos, esqueletos completos começaram a sair da terra a poucos metros de nós. Ficamos observando enquanto quatro esqueletos completos saiam da terra. Crânios com órbitas negras vazias, ossos amarelos e manchados, alguns dentes de metal, usando farrapos de roupas em alguns pontos e com floretes pendurados em cintos que eram as únicas coisas que estavam inteiras.

            Mari desceu da pedra e correu para perto de nós. Os esqueletos tinham a total atenção dos lobos.

            - Ataquem! - Mari gritou.

            Corremos para seu lado.

            - Ataquem seus imbecis! - ela gritou novamente, mas pude ver que não havia tanta força em sua voz. Ela tinha se cansado por tê-los invocado.

            Mesmo assim os esqueletos puxaram seus floretes.

            Os lobos começaram a despertar do choque inicial, o líder, o grande lobo negro, rosnou encorajando seus súditos e logo eles começaram a formar uma posição de ataque. Mari parecia não entender o que estava acontecendo.

            - Ataquem seus grandes sacos de ossos inúteis. - dessa vez quem gritava era eu.

            Os esqueletos viram as cabeças para nosso lado, suas grandes orbitas vazias me encararam por segundos depois se viraram em posição de ataque.

            Os lobos avançaram. Mari estendeu a mão e em diversos pontos pedaços de terra se ergueram atrapalhando a correria inicial da alcateia.

            Nos preparamos para o ataque, mas quando pensei que os lobos iriam passar direto pelos esqueletos, os grandes sacos de ossos os pararam.

            Pense em como é bizarro ver uma luta de esqueletos contra lobos em uma floresta á noite com direito a neblina. Pensou? Ok. Agora essa briga é dez vezes mais incrível de se ver pessoalmente.

            Os esqueletos estocavam, cortavam com seus floretes, se jogam em cima dos lobos rolando no chão tentando sufoca-los e os lobos distribuíam mordidas para todos os lados ocasionalmente acertando em algum. O chão que antes estava manchado de sangue de monstro aqui e ali começou a se tornar dourado. Era simplesmente cem vezes melhor que assistir 300 na TV de tela plana.

            Estávamos de boca aberta, cansados demais para esboçar outra reação que não fosse surpresa diante do que víamos. Os esqueletos tinhas acabado com três lobos em minutos, o líder dos lobos conseguiu desmontar dois, a luta continuou violenta até que no fim da batalha tínhamos três lobos restantes e um esqueleto tentando se remontar.

            Imaginamos que os lobos que restaram iriam voltar suas atenções em nós em breve, portanto corremos em direção ao rio. Logo que entramos na água gelada os lobos apareceram na margem.

            - Henry. - falei. - A água. Use a água.

            Eu nem precisava ter dito nada, pois Henry já estava concentrado no riacho. Ficamos esperando até que ele soltou um gemido e segurou o braço. Os lobos avançaram entrando no riacho. Mari olhava entre eles e Henry respirando pesado. Percebi que nada ia acontecer e corri novamente em direção aos lobos pulando em cima das costas do mais próximo, o lobo tombou para o lado e sai rolando pelo chão. O próximo me atacou enquanto ainda estava no chão, mas eu conjurei uma faca rápido o suficiente para cortar seu pescoço e ele recuou ganindo.

            O líder rosnou para um dos outros quando ele tentou se afastar para atacar Mari e Henry então os três se voltaram para mim me cercando, senti um aperto no estomago e uma onda passar pelo meu corpo e tudo depois disso foi um borrão dourado de garras, pêlos e uivos. Eu estoquei e cortei com fúria como se nada demais estivesse acontecendo, e quando tudo terminou tinha icor dourado nas minhas mãos, antebraços e respingos na camiseta. Do riacho Mari me olhava de cenho franzido e Henry tinha os olhos arregalados de puro horror.

            Voltei para dentro do riacho e ficamos por um momento olhando o rio e o cenário ao nosso redor. Sangue, tanto nosso quanto dos lobos, ossos dos guerreiros esqueletos, aqui e ali uma pilha de poeira de monstro, era uma zona total.

            - Isso foi... INCRÍVEL! - gritei super animada. - Foi tipo... UHULLLLL!

            Meus amigos me olharam com se eu fosse louca.

            - Nós quase morremos! – Henry balançou a cabeça descrente.

            - Mas não morremos. Por isso foi tão incrível. - quase pulei. Quantos nós matamos?

            Henry começou a contar. - Eu, Mari e os esqueletos uns seis voce dever ter matado uns sete sozinha. Você chegava a dar medo.

            - Serio? – eu por algum motivo fiquei feliz com aquilo.

            Ao meu lado Henry desmoronou sobre os ombros, ele tinha diversos arranhões nas roupas e algumas mordidas aqui e ali além da perna, sangue vermelho escorrendo em alguns pontos e dourado salpicado em meio à lama que agora cobria grande parte das suas roupas, do cabelo e do rosto. Mari cambaleou exausta seu rosto brilhava de suor, considerando nós três ela deveria ser a mais limpa ainda assim tinha manchas de sangue vermelhas e douradas e lama na roupa preta. Coloquei a mão no pescoço senti um liquido viscoso, minha mão ficou vermelha de sangue já querendo secar, mas aparentemente eu estava bem, minha blusa estava completamente marrom e rasgada e o cabelo cheio de folhas. A nossa batalha contra os lobos tinha sido realmente exaustiva, mas apesar disso eu tinha adorado a adrenalina.

            - Que diabos era aquilo? - Henry estava assustado.

            - Com certeza não eram lobos comuns. - Mari ofegava enquanto falava.

            - Eram tipo... Lobisomens? - perguntei voltando a mão para o pescoço.

            Nos olhamos assustados e cada um começou a verificar seus machucados, os diversos arranhões e mordidas estavam por todos os lados, nos olhamos de novo e balançamos as cabeças em negação.

            - Na mitologia... - comecei a falar, mas a cara de assustado de Henry me fez parar.

            - Seja como for... - Mari também me olhava assustada. - Já foram.

            - A gente devia fazer isso mais vezes. - falei ainda na euforia e tentando não olhar para eles.

            - Chicca eu devo concordar com voce. - Uma voz veio da margem do riacho. - Essa foi a coisa mais divertida que eu fiz nos últimos cem anos.

            Quando olhamos para o dono da voz tivemos o maior susto das nossas vidas.


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