Infernum escrita por Luna Sem Lovegood


Capítulo 1
Infernum


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem *-*



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Charlie

Me falaram que iria ser bom para mim, sabe, ir para algum lugar onde as pessoas me entendessem. E eu fui. Realmente, as pessoas lá me entendiam. Eu conseguia desabafar e chorar sem sentir nenhum olhar me julgando. Eu ouvia os problemas do passado das pessoas, e elas ouviam os meus; se tivessem algum conselho, elas falavam. Se não, elas sabiam que era melhor ficarem quietas do que piorar tudo falando algo que não deviam. Até que me chamaram para a festa.

“Charlie, todo mundo vai. Você tem que ir! Não vai ser a mesma coisa sem você”.

Então eu fui. Que mal poderia fazer? Fomos todos juntos. Eu, Russel, Ginny, Lena, Henri e Garth. Todos tão traumatizados com os passados como eu. Éramos bons amigos, com a maior diferença de idade sendo de cinco anos. Lena se tornou uma grande amiga para mim em menos de duas semanas. Agora, estou aqui na festa a vendo beijar três desconhecidos em menos de cinco minutos.

– Lena, - Digo, segurando o braço dela e a afastando de um garoto de maquiagem. – Vamos maneirar um pouquinho, ok?

– MANEIRAR PRA QUE? – Grita a garota enquanto levanta um copo de cerveja, que logo depois derrubou tudo o que tinha dentro dele em seus cabelos ruivos.

Dou a volta e vou me sentar no canto menos sujo de um sofá. Ao meu lado, um casal – ou não – estava praticamente se engolindo. Fico pensando se eu devia mesmo ter ido para essa festa. Imagino que seja uma festa normal de adolescentes, com cheiro de álcool e maconha. Um casal se beijando em cada canto. Esse mundo está realmente indo de mal a pior. Não que eu possa falar sobre isso considerando tudo o que eu já fiz.

Percebo que estou encarando algum ponto na parede quando vejo os olhos extremamente azuis de Henri me encarando. Ele é a pessoa que mais me interessa em nosso “grupinho”. Ele não gosta de falar sobre o que aconteceu com ele, muito menos de se abrir com as pessoas. Tirando isso, ele é um amigo muito bom.

Se você olhasse para ele, com seus cabelos escuros como breu e olhos azuis como o céu você não acharia que algo horrível já teria acontecido com o garoto, mas, se você olhar bem no fundo de seus olhos, vai perceber o abismo sem fundo preenchido de tristeza que existe dentro dele.

Todos os outros de nosso grupo também são assim. Loucos anormais que qualquer um em sã consciência pensaria que são psicopatas. Temos um mundo em nossas mãos. Um mundo que nos odeia, e não podemos fazer nada.

– E aí Charlie. Essa festa está maravilhosa, né? – Diz, ironicamente.

– Eu não poderia estar mais animada.

– Eu acho, só acho que a Lena está um pouco muito alterada.

– Pode ter certeza. – faço uma pausa. – Bem que a gente podia achar alguma coisa para fazer para acalmar esse povo viu?

– Sabe, eu acho que vi um jogo no porão quando eu fui lá pegar mais cervejas com o Russel. Vamos lá ver.

Agradecida por finalmente poder sair daquele lugar, acompanho Henri até o porão. Passo por algumas substâncias desconhecidas no caminho, que prefiro que continuem desconhecidas.

A primeira coisa que vejo quando chego no porão, é uma cabeça de um veado num tipo de escudo pendurado na parede.

– Eu nunca entendi por que as pessoas compram essas coisas. – Disse Henri.

– Provavelmente para não se sentirem tão feias.

Andamos mais um pouco, passando por diversas poltronas rasgadas e uma, eu acho, com sangue. Vi três tipos de fungos diferentes, até chegar a uma mesa com cinco tipos de jogos diferentes. O único com alguma coisa dentro era algum tipo de macumba, então pegamos um chamado Infernum, que parece que não precisa de nada mais que uma vela.

Voltando à festa, reunimos todos do nosso grupo – achamos Russel dentro de um saco de lixo, chorando. – e começamos a jogar num quarto vazio que achamos.

De acordo com as regras, precisamos sentar todos em volta de uma vela e falar a pior coisa que já fizemos na nossa vida. O que não é muito difícil de pensar.

– Ai gente, - diz Ginny – certeza que vocês querem jogar isso?

– AAAAAAAAI GARTH ESSE É O MEU PÉ! – Gritou Lena.

– Por eu ninguém me entende? – choramingou Russel.

– Gente, vamos jogar logo! – Grito.

– NÃO É MINHA CULPA LENA! – Grita Garth.

– Olha pra essa capa, eu já estou indo pro Inferno, mas se eu jogar esse jogo eu vou direto. – Fala Ginny, para ninguém em específico.

– Ginny, você sabe que não foi sua culpa. – Fala Henri.

Nesse ponto, Lena começa a cantar uma versão extremamente bêbada de Rehab, da Amy Winehouse. Depois que a música acaba, todos ficam quietos e, finalmente, acendemos a vela.

– Então... Quem quer começar?

Nós todos olhamos para Henri, morrendo de curiosidade de saber o que ele fez, que não quer contar.

– Bem, - Começa. - Há cinco anos, eu estava com um amigo meu na casa dele. E, logo antes de eu ir embora, eu empurrei na piscina, porque ele não sabia nadar. A piscina era bem rasa. No outro dia, me ligaram falando que ele havia sido encontrado morto na piscina. Fui condenado a um ano na prisão por Homicídio por Negligência. Fiquei três meses até minha mãe conseguir pagar a pensão.

Ficamos quietos por um segundo. Seguro na mão de Henri quando vejo uma lágrima escorrer por seu rosto. Então começo a falar:

– Eu e uma amiga fomos à praia. Tínhamos combinado que não iriamos muito longe, apenas onde não era muito fundo. Eu fiz um furo minúsculo no colete dela, mas ela foi muito para frente e... E o colete furou de vez. Os legistas disseram que ela morreu depois de trinta minutos dentro d’água.

Todos já sabiam dessa história, mas mesmo assim, sempre dói pensar no que aconteceu. Sinto a mão de Henri pressionando a minha. Ele passa a mão livre no meu rosto, secando uma lágrima que eu não sabia que estava lá.

– Ham... – Começa Garth. – eu e meu amigo estávamos num prédio, no décimo andar e... Bem, eu fingi que iria o empurrar da sacada. Só que... É... Eu fiz muita força.

Ele não diz mais nada. Lena, antes mesmo de começar a falar, já está chorando.

– Eu botei fogo na minha casa. Com a minha irmã dentro. Eu deixei uma vela acesa no meu quarto, e-ela c-caiu... – ela começa a chorar demais, um cena horrível de se ver. Garth a abraça, e Ginny começa a falar:

– Eu fiquei parada, em choque, quando eu estava passando num beco e vi um homem esfaqueando um garoto. Depois que o garoto já estava no chão, o homem percebeu a minha presença e eu sai correndo. Eu nunca soube o que aconteceu com o menino. – Ela fica parada, sem chorar nem mostrar nenhuma reação visível.

– Eu bebi e sai com um amigo meu de carro. O carro bateu num poste, e eu consegui sair sem nenhum machucado antes de ele explodir com meu amigo dentro.

Antes de poder expressar qualquer sentimento, a cera da vela começa a cair no chão formando formas. Quando chegamos perto para ver o que estava acontecendo, a cera pega fogo, formando as palavras:

"Henri Peterson, você deixou seu amigo morrer por uma brincadeira.

Você merece o mesmo destino."

As palavras desaparecem, e Henri fica branco como papel, assim como todos. Eu sinto meu coração batendo cada vez mais rápido, o medo preenchendo cada canto do meu corpo, então novas palavras aparecem.

“Henri Peterson, você deverá sobreviver dez minutos dentro de uma caixa d’água extremamente fria, sendo sua única fonte de ar um buraco no topo, coberto por uma placa de ferro parafusada.

Para sobreviver você deverá tirar os parafusos da placa e respirar pelo buraco.

Boa sorte.”


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Só pra ser legal, deixa um comentário legal aqui em baixo.
Luna Sem Lovegood



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