Hunter - A caçada começou escrita por Julia Prado


Capítulo 26
O atropelamento


Notas iniciais do capítulo

Gente, mil desculpas! Peço que nesse período vocês tenham um pouquinho mais de paciência comigo. Estou em fase de TCC e por isso estou me desdobrando em mil para escrever para vocês e fazer a minha monografia também rsrs!
Se eu nao postar em um final de semana, não se preocupem que no próximo ou durante a semana terá outro!
Gostaria de agradecer os comentários de: Amando, Lilian Blackwell, Pinky, Sandrinha e Terumy M W Lahote. Meninas, mega obrigada por continuarem a comentar e acompanhar.
Espero que gostem desse capitulo, a história vai dar outra reviravolta.
Amo vocês!!
Bjos



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Ela nos encarou enquanto eu encarava ela. Estava muito claro que ela não esperava me encontrar ali. Eu sentia uma raiva diferente flutuando por meus músculos, era uma forma fluida que navegava pela minha corrente sanguínea. Normalmente não era uma pessoa violenta, mas eu realmente queria bater em alguma coisa hoje. Na verdade, em alguém.

— Posso ajudar? – perguntei. Minha voz saiu estranhamente calma, uma falsa calma.

— Minha mãe pediu para que eu entregasse um recado. – Renesmee disse automaticamente refazendo suas expressões e ficando natural como antes.

Franzi o cenho e pendi a cabeça de lado.

— Sabe, hoje em dia existe telefone, celular... Não precisa vir pessoalmente. – falei para ela de um jeito doce.

Ah, tá bom! Eu não caia nessa de recado. Isso era a desculpa mais esfarrapada do mundo. Eu já dei essa desculpa para ver Jacob... Embora na hora realmente tenha sido um recado importante.

Renesmee abriu um sorriso delicado.

— Eu não acho que um SMS seria muito seguro para questões sobrenaturais. – respondeu.

Eu não ia admitir que ela tinha razão.

— O que aconteceu? – Jacob perguntou sério, parecia totalmente alheio a pequena guerra de olhares que acontecia entre eu e Renesmee.

Rolei os olhos e sentei no capo do carro. Jacob estava em seu modo ‘alfa’ como eu dizia pelas costas dele. Era aquele jeito sério, concentrado e que nada tiraria sua concentração sobre o problema. Era o lado dele que eu menos gostava. Geralmente era ativo quando algo ruim acontecia.

Renesmee me olhou em dúvida, deixando um silencio constrangedor no ar.

Ah meu amor! Eu dificilmente deixaria essa oficina. Só por que ela tinha me olhado assim. Não era muito maduro da minha parte, mas eu podia culpar minha idade jovem, certo?

— Então? – perguntei pressionando.

— Minha mãe pediu para avisar que Benjamin está vindo para cá. Carlisle conseguiu convence-lo a nos ajudar. Seus poderes tem se amplificado e eles acham que ele pode ser capaz de rastrear Farad e Dakota por manipulação da terra. – ela deu de ombros – Os amigos do norte também estão vindo, um deles é rastreador. Não muito potente ainda, mas pode nos ajudar também.

Meu peito parecia gelado, por mais que eu mantivesse minha expressão neutra de como-o-dia-está-lindo-para-manipular-a-terra, seja lá o que isso significava. Minha mente, no entanto, viajou para outros lugares. Um ponto mais incomodo.

— Pera. – falei descendo do capo. – Estamos falando de quantos vampiros?

Renesmee deu de ombros.

— Considerando que Benjamin vira com sua parceira, mais os amigos do norte... Acho que uns cinco.

Mais cinco. Encarei Jacob com preocupação. Ele captou na hora, minha preocupação refletindo nos olhos dele. Cinco vampiros a mais rondado pela Península de Olympic. Isso significava que novos lobos iriam surgir, cada vez mais jovens.

Mais vampiros também significava mais mortes. Mesmo que fosse longe daqui. Eles teriam que caçar em algum lugar. Tentei engolir a bile que se formou em minha garganta.

Jacob pressionou os lábios, não gostando tanto quanto eu, mas não contradisse Renesmee e nem a decisão dos Cullen de trazer mais frios para cá. E essa falta de contradição me fez pensar o quão sério tudo isso estava sendo.

— Tudo bem. Vamos ter que voltar com as antigas linhas de limites territoriais. – Jacob disse. – Benjamin já sabe sobre elas, mas eu acho que não os novos amigos de seu avô. É bom avisá-los.

Renesmee assentiu. Ela nem ousou tentar permanecer mais naquela oficina. Eu estava realmente a ponto de jogar uma chave de fenda nela. Antes eu até tinha defendido suas atitudes – todas as mulheres pareciam se impressionar com Jacob, eu tinha me acostumado com isso. Mas vir até aqui, provavelmente presumindo que eu não estivesse – dava para ver na cara dela que ela não sabia que eu estaria ali -, isso já era demais. Renesmee tinha, definitivamente, entrado para a minha lista negra.

***

Terminei de amarrar meus Vans old skool preto. Prendi meus cabelos em um rabo de cavalo no alto e me analisei no espelho de corpo no quarto de Jacob. Minhas melhores calças jeans azul escura, uma regata cinza de mangas extensas. Suéter de botão preto e um gorro preto. Simples e confortável. Não tinha jeito melhor de ir à uma festa assim.

Jacob entrou no quarto e encostou-se na soleira da porta. Eu o olhei pelo espelho, parando de passar o gloss na boca. Havia uma certa crítica em seus olhos. Mas ele tinha que entender que quando Naomi queria, dificilmente alguém iria contra.

— Brady vai estar lá. – eu disse argumentando.

— Meus problemas não têm nada a ver com segurança. – ele disse sério, mas havia uma diversão característica de Jacob no fundo de seus olhos.

Rolei os olhos.

— Esses deveriam ser seus últimos problemas. – eu ri – Um bando de meninos adolescentes não deveriam te preocupar.

— Ah, não é com eles que me preocupo. – ele disse se aproximando e ficando atrás de mim. Se inclinou e beijou minha nuca. – É com o nível de álcool que me preocupa.

Eu ri, mas o som saiu tremulo e fraco. Minhas mãos tremeram um pouco e minha respiração saiu mais rápida e superficial.

— Eu sei me cuidar. – falei.

— Está pronta? – Naomi disse entrando no quarto no exato momento em que Jacob se afastou, escutando antecipadamente seus passos.

Eu tentei acordar de meu torpor, sair dessa nuvem densa que Jacob me carregava com cada toquei. Eu sabia que meu rosto estava corado e meus lábios entreabertos em busca de oxigênio não ajudavam, mas sobre isso não poderia fazer nada.

— Sim, vamos. – falei ficando na ponta do pé e dando um rápido beijo em Jacob. – Vejo você mais tarde.

— Hm. – ele disse piscando maliciosamente para mim.

Meu rosto esquentou ainda mais.

Naomi saiu na frente. Eu tentei dizer para que ela não se empolgasse muito com a semana de festa, que La Push não era a mesma coisa que Los Angeles. No entanto, minhas palavras entraram por um ouvido e saíram pelo outro. Eu tinha sido totalmente ignorada por ela.

Ela estava feliz o suficiente para dirigir por La Push. Eu não sabia de quem era a casa que daria a festa, mas ela ficava na ponta de La Push, bem próxima de onde minha casa era. Entrei no carro pelo lado do passageiro e coloquei o cinto.

Meu último vislumbre de Jacob foi ficar encostado na soleira da porta com as mãos nos bolsos. Havia um brilho perigoso em seus olhos, que misturavam malícia e diversão. De repente, eu queria ficar em casa com ele, a sós. Mas sabia que Naomi me jogaria do carro em movimento se eu manifestasse esses pensamentos.

— Me diga como são os meninos da sua escola. – ela pediu.

Hm, isso ia ser ainda mais decepcionante.

— Ah, não vou estragar a surpresa – me diverti.

Já passava das sete horas, ou seja, todo mundo estava em casa. As ruas estavam vazias e o comércio já estava fechado. Naomi dirigiu acima da velocidade permitida, correndo até o outro lado da cidade pequena. As janelas abertas traziam um vento gelado para dentro do carro, mas o inverno estava cedendo então não estava tão insuportável.

O som alto preencheu nossos ouvidos e soubemos que já estávamos chegando. A casa era de dois andares, de madeira branca e uma varanda forrada de jovens – que sentavam nas cadeiras e bancos de balança com copos de bebida nas mãos. Estacionamos o carro em frente a janela da sala. Pela maioria das pessoas morarem perto, poucas vieram de carro.

Eu tentei não rir da cara de Naomi quando chegamos, notando toda a simplicidade do local. Geralmente, uma boa festa era medida pelo tanto de carros atolando o jardim e a rua. Se fossemos contar por esse lado, então essa festa era um fracasso. Naomi rapidamente controlou suas feições com um olhar otimista. Ela estava decidida a encontrar pontos positivos.

Bom, a decepção seria toda dela.

Entramos na casa, esquivando dos garotos-polvos – que tinham tentáculos ao invés de mãos e tentavam nos agarrar já na entrada. É claro que para os padrões de La Push aquela festa era um arromba. Todos os trezentos e pouco alunos da escola estava ali, naquele ambiente pequeno e fechado. Isso poderia ser considerado um recorde.

Encontramos com Austin, Graham, Lali e Brady no corredor até a cozinha. Eles estavam conversando e apenas Lali e Graham tinham copos nas mãos. É claro que a decepção de Naomi para aquela simples festa, de música barata e não tão boa era palpável. Eu só estava vendo até onde ela iria aguentar naquele local.

Três horas depois e eu, Austin e Brady eram os únicos sóbrios da festa. O resto era uma mistura de risadas, gritos, bebidas e beijos. Eu cansei de tentar afastar Naomi dos cantos da casa, enquanto os garotos a puxavam para mais perto. Também cansei de tentar tirar os copos de bebida da mão dela. É claro que ela iria descontar no álcool, todo mundo da minha geração parecia fazer isso.

A música martelava em meus ouvidos e eu não estava mais com pique para continuar ali. Levar Naomi para fora era quase impossível, das vezes que tentei ela berrou que queria ficar. Fui ao banheiro para jogar uma água no rosto, como se isso fosse concertar alguma coisa.

Subi o rosto para o espelho acima da pia e soltei um berro. Atrás de mim, Dakota Coppens se misturava no breu da luz ruim do banheiro. Seus olhos vermelhos brilhando ferozes na minha direção. A pele pálida refletindo de forma fantasmagórica. Eu virei meu corpo na direção dela.

Não havia ninguém ali.

Com o coração batendo forte dentro do meu peito, o pânico correndo pelas minhas veias eu olhei ao redor. A janela era pequena demais para ela conseguir passar, mesmo miúda como era. O trinco estava trancado também, o balancei por precaução, checando se eu estava ficando louca ou se ela realmente tinha estado aqui dentro do minúsculo banheiro. O trinco nem se moveu, estava emperrado.

Agarrei na pia e continuei a olhar em volta, como se ela fosse pular de dentro da privada e me atacar. Eu a tinha visto! Tinha visto bem atrás de mim, não era possível que eu estivera imaginando. Ela estava ali, me olhando como se fosse me matar... Ela ia me matar!

 Batidas firmes soaram na porta e eu reconheci a voz alta de Brady por cima da música alta e da falação. Olhei-me no espelho de novo, notando o quão apavorada eu estava parecendo. Brady bateu mais insistente na porta. Tentei arrumar minhas feições. Fiz algum progresso com a boca, mas meus olhos continuavam arregalados e em tom de pânico. Isso eu não poderia mudar.

Abri a porta e dei de cara com a face séria de Brady. Ele olhou por cima da minha cabeça, checando os cantos do banheiro.

— O que aconteceu? – perguntou.

— Eu vi... – parei. Eu não sabia o motivo, mas não queria contar a minha alucinação. Talvez tenha sido só isso: uma visão, miragem... Não, miragem tinha uma conotação positiva. Era um pesadelo. – Uma barata. Perto da privada.

A feição de Brady se suavizou e ele riu. Eu tentei acompanha-lo, mas o som saiu errado e fraco. Sai do banheiro com minha nuca pinicando de medo. Eu a tinha visto, nada que qualquer um dissesse iria mudar isso: eu vi Dakota atrás de mim, prestes a me matar.

Voltei para a festa com o sentimento estranho de paranoia. Encostei no canto da escada onde todos estávamos agora. Naomi tentava, sem muito sucesso, jogar charme para cima de Brady. Ele tinha seus olhos preocupados em mim, mas parecia cada vez mais corado conforme Naomi se aproximava mais e mais dele.

Não consegui entrar na conversa de novo. Meus olhos passaram discretamente ao redor, como se eu esperasse vê-la ali entre a multidão de jovens. Quando três meninos passaram correndo e gritando por nós, eu já imaginei o pior: imaginei Dakota entrando e matando todos, imaginei todos nessa sala já mortos pelo genocídio desenfreado que ela causaria... Mas era só um bando de jovens bêbados correndo, gritando e rindo.

Sai da minha roda de amigos e fui para a cozinha, desviando de pessoas que se agarravam nos corredores, nas quinas e cantos obscuros da casa. A cozinha simples de madeira estava uma bagunça. A ilha estava totalmente tomada por copos, comida e líquido em uma mistura nojenta e de cheiro pungente. Abri os armários em busca de um copo limpo para beber um pouco de água. Encontrei e fui até o filtro ao lado da pia.

Enchi o copo e o bebi em grandes goles. Minha cabeça rodava tentando entender o que tinha acontecido. Ela estava realmente aqui?

Meus olhos encararam a escuridão pela janela, vendo a rabeira do carro de Naomi. Olhando mais acima, atrás de mim, lá estava ela novamente.

Dessa vez contive o grito e me virei para o outro lado da cozinha. O coração batendo rápido, minhas mãos escorregadias.

Nada. Não havia ninguém.

Então eu realmente estava ficando maluca.

Senti um frio no lado direito do meu corpo. Como se alguém de repente tivesse aberto a porta e o inverno teria voltado, tomando todo o meu ser. A presença fria veio com uma sensação gelada em meu coração.

— Eu vou pegar você. – o sussurro de Dakota veio tão próximo, tão íntimo, que joguei meu corpo para a esquerda enquanto olhava ao meu redor.

Eu estava ficando louca. Estava vendo coisas, escutando coisas.

Sai da cozinha correndo, não aguentando mais ficar ali. Fui até Brady, que me encarou de forma curiosa.

— Eu preciso ir embora. – falei agitada. – Naomi, vamos embora.

— Ah, não! – ela fez biquinho. – Eu quero continuar!

Eu não tinha tempo para isso, não queria mais ficar ali. Parecia que a presença de Dakota dominava o local, me oprimia e assustava. Eu precisava sair de lá. Precisava ir para casa. Voltar para Jacob.

— Tudo bem, eu levo ela de volta. – Austin disse sorrindo tranquila.

Talvez fosse melhor mesmo, talvez Naomi não faria nenhum bem quando eu chegasse em casa e tivesse que fingir que estava tudo certo. Peguei as chaves do carro de Naomi. Brady puxou seu celular e eu tinha certeza que estava ligando para avisar Jacob, mas eu não ia lhe dar tempo para me acompanhar.

Eu só queria ir embora.

Sai da casa e entrei no carro. Dei a ré e manobrei para fora da casa. Pelo retrovisor eu vi Brady chegando até a porta, com o rosto contorcido em preocupação. Ele poderia me acompanhar correndo, eu não me importava.

Abri as janelas para deixar o vento frio de La Push clarear minha cabeça. As ruas escuras e vazias não ajudavam na minha paranoia, mas quanto mais rápido eu chegasse em casa, melhor eu ia ficar. O farol da rotatória fechou e eu diminui a velocidade. Sem nenhum carro em volta, não tinha motivos para ficar parada no farol. Olhei para os dois lados e segui com o carro.

Ele veio do nada.

As luzes do farol iluminaram o corpo magro e alto do homem tempo o suficiente para que ele rolasse pelo capo do carro e depois para o lado. Eu berrei, jogando o volante para a esquerda e freando o carro. O motor morreu.

Olhei pelo retrovisor esquerdo, para o corpo no chão. Minhas mãos estavam grudadas no volante e meu pé ainda estava pressionando o acelerador. Incapaz de me mexer, vi com surpresa o homem alto e magro se levantando. Meu coração perdeu uma batida ao notar que seu rosto estava coberto por uma máscara escura. Apenas os olhos eram visíveis. E eu via dois olhos negros brilhando maldosos para mim. Ele estava andando na minha direção, completamente normal como se não tivesse sido atropelado há segundos.

Tentei ligar o carro de novo, mas minha mente ficou vazia de como um carro automático funcionava. Ficou vazia de qualquer pensamento.

Ele estava chegando mais perto e do cós da calça tirou algo de metal brilhante. Eu não queria ficar ali para descobrir o que era.

Liguei o carro e mexi na marcha, colocando-a para frente. O homem me atingiu antes que eu conseguisse arrancar com o carro. Seu cotovelo bateu na janela entreaberta e estourou o vidro por completo. Suas mãos agarraram meu pescoço e eu berrei. Acelerei o carro e ele partiu cantando pneu, mas não rápido o suficiente. O carro precisava de velocidade para sair das marchas e ainda estava na segunda.

O homem me acompanhou até onde pode, então me soltou.

Eu tinha os olhos cheios de lágrimas, a respiração ofegante e as mãos tremulas. Acelerei pela cidade, não me importando com os outros sinais vermelhos. Entrei na Reserva e segui adentro, sentindo carro perder um pouco de aderência por causa da lama.

A floresta ao redor da casa de Jacob não me parecia mais uma fortaleza segura. Ela estava me oprimindo com sua escuridão e mistério. Entrei na trilha quase invisível e parei o carro derrapando na entrada. Sai dele e corri para dentro, abrindo a porta com dificuldade.

A casa estava vazia, silenciosa. Jacob deveria ter saído.

Tremendo, encostei meu corpo na porta e escorreguei até o chão. Escondi minha cabeça entre minhas pernas e respirei fundo algumas vezes, tentando recobrar o controle e parar a tremedeira. Eu precisava me manter calma, precisava me sentir segura.

Levantei em um ímpeto e comecei a trancar todas as portas, janelas e qualquer local que alguém pudesse pensar em invadir. Não me fez sentir melhor, mas me ajudou a acalmar. Peguei meu celular e disquei o número de Jacob, rezando para que ele tivesse com ele.

— E aí. – atendeu no terceiro toque.

— Jake... – eu solucei, sentindo meu controle vazar pelo meu corpo do nada. – Ele veio do nada... Quebrou o vidro do carro... Eu não o vi...

— Gaele? – o som de cadeira se arrastando foi audível, assim como a preocupação em sua voz. – Onde você está?

— E-Em casa. – falei – Ele me agarrou... Não sei quem era... Estava mascarado... Ela... Ela estava na festa...

— Estou indo, fique em casa e tranque tudo – e desligou.

Eu me encolhi no canto da cozinha, sentindo-me mais protegida em um ambiente menor. A casa ainda estava no escuro e eu não fiz nenhum movimento para acender as luzes. Estava com medo da minha própria sombra. Toquei meu pescoço, que ainda estava sensível pelo apertão do homem magro.

Jacob chegou cinco minutos depois, destrancando a porta com a sua chave. Mesmo sabendo que era ele, meu corpo se encolheu ao som alto da tranca. Ele me achou no canto da cozinha e me pegou no colo. Notei que atrás dele estavam Leah e Seth. Eles deviam estar juntos na hora que liguei.

O meu acesso de choro foi desesperado conforme eu tentava contar o que tinha acontecido. Acho que no meio dos soluços eles me entenderam. Jacob tinha o cenho franzindo e me encarava de forma severa. Leah e Seth saíram da casa por breves minutos e então voltaram, as faces também severas.

— Você disse que ele quebrou o vidro do carro? – Seth perguntou gentilmente. – E o para brisa?

— Sim. – respirei – Quando o carro bateu nele, trincou o para brisa e depois ele estourou o vidro com o cotovelo e agarrou meu pescoço.

Seth e Jacob trocaram um olhar tenso, vi Seth maneando a cabeça suavemente. Eu não entendi o movimento direito, mas me levantei. Jacob tentou me segurar, mas soltei seus braços e corri até a porta.

O carro de Naomi estava bem onde eu tinha parado, meio torto pela minha pressa e a luz de dentro ainda estava acesa. Mas não havia para brisa quebrado e a janela estava intacta. Na verdade, o carro estava tão perfeito quanto antes.

Eu estava enlouquecendo. Primeiro Dakota e depois o homem.

— Você disse ‘ela estava na festa’. O que quis dizer? – Jacob perguntou suavemente atrás de mim.

Abri minha boca para responder, mas nada além de um ofego saiu. Eu não podia contar para ele. Não podia.

O vidro não estava quebrado. Nenhum arranhão. Nenhuma Dakota.

Senti meu corpo esquentando e depois esfriando. Senti meus músculos relaxando conforme minha mente trabalhava para entender o que tinha acontecido e se preparando para autodefesa. Eu não conseguia admitir para mim mesma. Não admitiria isso em voz alta.

— Nada. – respondi, minha voz completamente sem emoção. – Sinto muito. Acho que me enganei.

Eu poderia culpar a bebida, poderia falar que bebi demais e depois imaginei tudo. Mas não tinha como o álcool fazer com que minha mente trabalhasse em um ataque sem motivos no meio das ruas de La Push. Nada, a não ser drogas, poderia explicar que eu vi o vidro sendo quebrado, que ele agarrou meu pescoço e que estava armado.

De repente, eu me senti sozinha. Eles não acreditavam em mim, podia ver isso em suas feições. Eu não acreditava mais em mim.

Virei-me e entrei de volta na casa, com passos calmo e controlados. Minha mente estava tonta, distorcida como se uma bomba tivesse estourado ao meu lado e sua intensidade me deixado desnorteada.

Eu precisava ficar sozinha.


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