Hunter - A caçada começou escrita por Julia Prado


Capítulo 17
Evans, Gaele Evans


Notas iniciais do capítulo

Nos falamos lá embaixo ;*



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O Natal chegou com tanta rapidez que eu me assustei quando acordei com os puxões de Austin – ela tinha desculpado o episódio de semanas atrás, passado uma borracha por cima, assim como eu. Austin também estava tentando seguir em frente. Às vezes eu a pegava sorrindo à toa, ou até mesmo conversando sem chorar sobre o Collin.

Esfreguei meus olhos naquela manhã e bocejei, com preguiça demais para sair da cama. Eu gostava do Natal, da época e da beleza das decorações. Uma semana atrás Jane havia feito todo mundo levantar a bunda do sofá e ajudar a decorar a casa. Foi muito divertido. Penduramos guirlanda na porta de entrada, colocamos os piscas-piscas coloridos ao redor da casa, nas janelas, enrolados nas madeira, no banco de balanço. Também montamos juntos a pequena árvore de Natal, que era realmente um jovem pinheiro que John cortou na floresta – quase rolei os olhos com isso.

Foi um momento em família que eu raramente tinha com Vahiné. Falando nela, minha mãe parecia estar sentindo minha falta tanto quanto eu estava sentindo a dela. Nos falávamos com mais frequencia agora também, todos os dias. Passávamos horas comentando o que acontecia – é claro que John foi bocudo o suficiente para ela saber que eu estava namorando Jacob Black. Não posso dizer que ela foi uma das pessoas mais felizes com a notícia, mas sabendo o motivo real de sua aversão a qualquer homem de La Push, eu entendia o lado dela.

O seguro havia reembolsado John por causa do estrago feito na loja. A reforma já tinha começado – com o apoio e ajuda dos bons moradores de La Push – e logo mais ele estaria abrindo novamente. Enquanto isso usava nosso porão como escritório provisório, passando horas lá embaixo enquanto o barulho da serra e ferramenta era ouvido o dia inteiro.

Sobre Jacob... Bom, as coisas estavam indo bem. Menos opressivas do que eu poderia ter imaginado em como era um relacionamento. Não nos víamos com tanta frequencia, e mesmo querendo mudar isso, eu sentia que era importante ter esses momentos separados. Geralmente, quando estávamos juntos, eu sempre voltava com muita coisa para pensar das longas conversas que tínhamos.

Ele explicou o que os Cullen eram – eu sempre evitava dizer em voz alta e até mesmo pensar na palavra em si, assim como não conseguia fazer o mesmo com o que Jacob era. Falou sobre a função deles no momento. Alice Cullen, se não me engano, teve uma... Ah, qual é, enfim... Ela teve uma visão sobre uma onda de pânico em La Push, por mais que não soubesse quem a causara. Acho que ela não conseguia ver o bando, algo assim. Isso tudo era surreal demais para mim, então eu sempre buscava não me ater aos detalhes e sim nas informações essenciais: ela soube que ia feder e veio avisar. Simples e fácil. Desde então eles voltaram para Forks, ajudando o bando a manter um olho na situação.

Não que eles realmente precisassem, para ser bem sincera. Vinte e poucos lobos poderiam dar conta da situação. A questão era que Forks e La Push sempre tiveram uma relação estremecida com os moradores. Mais pelo fato de não se conhecerem do que qualquer outro. Com os Cullen já tendo morado lá, ficava mais fácil para o Conselho Tribal saber o que estava acontecendo.

Jacob também comentou sobre um antigo tratado feito pelo seu bisavô, Ephraim Black. Isso foi redefinido. Eles podiam ir até La Push, não a reserva. No entanto, Renesmee Cullen parecia sempre disposta a quebrar essa linha – Jacob não se importava por que a via como uma sobrinha ou coisa assim, eu já estava mais ligada nela do que ele.

Ainda havia os “amigos” dos Cullen, vindos de Denali. Não possuíam residência fixa na região, mas estavam buscando ajudar sempre que podiam, principalmente quando as mortes de moradores de ambas as cidades começaram a aumentar. Tudo isso era de uma proporção muito grande e o mais engraçado era que poucas pessoas sabiam, pouquíssimas. Eu ficava horas acordada até mais tarde, imaginando como essas coisas aconteciam e não ganhavam ibope, como as famílias se contentavam com a simples explicação do animal descontrolado. Será que elas não viam, sentiam, que tinha alguma coisa de errado?

Os ataques de pânico tinham parado. Acho que entender e aceitar a situação foi a melhor decisão que havia tomado. Não havia mais como tentar ignorar isso, já estava fazendo parte da minha vida no momento em que conheci Jacob, Brady, Collin. Então eu só tinha que vencer minha própria razão e estava tudo certo... Na teoria. Ainda era muito difícil tentar parar de encontrar razão no que estava me sendo revelado aos poucos.

Porém, eu ainda tinha mais coisas para pensar. Logo após o Natal, Naomi estaria vindo, isso significava que meu nível de tensão ia triplicar, sem falar no ataque que ela daria quando soubesse que eu estava namorando.

Não obstante com o meu atual estresse com a vinda de Naomi, o destino ainda colocou no meu caminho uma difícil missão: esclarecer o motivo das mortes. Essa decisão parecia me corroer todos os dias, como ácido que penetra minhas veias e toma cada célula do meu corpo. Era impossível pensar em toda essa situação e não imaginar o motivo por ter essas pessoas em específicos sendo mortas. O que elas tinham em comum? E, o mais importante, oferecer uma resposta justa a sua família.

Isso era outra coisa que me assombrava. As famílias. Era um peso que eu carregava constantemente em meus ombros, parecia que a cada revelação que me era feita, mais um tijolo era colocado sobre mim. Era como se as famílias sentissem que eu sabia demais e que estava ocultando isso delas.

E, no entanto, eu também não poderia sair contando tudo o que sabia. Não só me internariam em um hospício, como só traria mais dor para as famílias. Então como eu podia resolver essa situação? Como eu poderia ajudar elas a saber a verdade, ou pelo menos parte da verdade?

Era algo em progresso ainda. Eu não sabia o que faria com todas as futuras informações que viria a descobrir, mas isso não ia me deter. Eu ia até o fim.

Esperei até Austin sair do banheiro, acompanhada de um denso vapor do banho quente. Eu tinha algumas coisas para fazer antes de ficar reunida com a família no dia de Natal, por isso era bom já começar a me mexer. Tomei um rápido banho sem lavar o cabelo. Coloquei minha calça jeans de cintura alta, uma blusa de magas cinza, um pulôver amarelo mostarda, jaqueta de couro preta e meus tênis cinza da Nike. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo alto, deixando-o fora de meu rosto.

Sai sorrateiramente do quarto, não querendo atrair nenhuma atenção de John, Jane ou Austin. Não queria que meu pai corresse para Jacob e contasse suas suspeitas... Se bem que ele provavelmente estaria me observando, provavelmente saberia o que eu estava prestes a fazer.

Fui até o departamento de turismo de La Push. Ele era pequeno, ficava perto do píer de La Push e tinha uma aparência suja e abandonada. Poucas pessoas deviam ir até lá. Entrei no local, havia duas mesas, mas ambas estavam vazias. A recepcionista ficava mais ao fundo da loja. Ela tinha cabelos curtos e crespos, os olhos de um castanho claro – quase mel -, mascava um chiclete com preguiça, virando uma revista semanal de fofocas.

– Posso ajudar com alguma coisa? – perguntou, sua voz anasalada.

– Sim, eu queria saber qual a área que vocês cobrem de turismo. – falei.

A menina me olhou com cara de tédio e um pouco nervosa, era como se eu estivesse atrapalhando sua importante leitura. Honestamente, posso ser uma potencial cliente, me mostre um pouco mais de serviço! Procurei não rolar os olhos para ela, nem ser mal educada – isso estava custando cada célula do meu ser. Eu tinha que ser gentil e simpática... Por que isso era tão difícil?

– Nossos guias são divididos por áreas. – ela respondeu monotonamente e com um tom irritado – Cobrimos desde as piscinas até a Ilha de James.

– A floresta? – perguntei.

Ela bufou para mim, um forte cheiro de hortelã chegando ao meu nariz. O chiclete parecia mais alto agora, como se ela o mascasse mais forte de propósito para me irritar.

– Paramos de andar pela floresta depois... Nossos perímetros não abrangem a floresta. – ela disse, mudando de ideia no meio da frase.

Estreitei meus olhos para ela.

– Abigail Bass cobria o perímetro da floresta?

A recepcionista me encarou um pouco irritada e desconfiada. Vi seus olhos medindo todo o meu corpo, em busca de algo que eu ainda não sabia, mas sentia que estava prestes a descobrir. Ela parou de mascar o chiclete e ergueu uma sobrancelha para mim.

– É jornalista? – perguntou.

Ergui minhas sobrancelhas para ela. Era engraçado conhecer alguem em La Push que não sabia sobre todo mundo, que não sabia que meu pai era John Evans, que eu estava namorando Jacob Black e muito menos que meu nome esteve envolvido em alguns episódios nada alegres na cidade. Era mais fácil trabalhar assim, no entanto.

O quão desligada ela era daqui?

– E se fosse? – perguntei testando.

– Bom, seria muito bem-vinda. Umas coisas estranhas têm acontecido e acho que tá na hora das pessoas terem noção disso. – ela falou mais enérgica. Olhei a revista de fofocas que ela estava lendo, parecia fazer sentido ela querer ser a minha fonte.

Não dei para trás.

– Como o caso de Abigail?

– É, ele é um deles. – ela voltou a mascar o chiclete e agora enrolada uma mecha no dedo, parecendo tentar soar descontraída, mas eu via seus dedos tremendo de leve.

– Fale um pouco sobre ela. Como ela era no serviço?

A mulher estreitou os olhos para mim. Eles estavam mais perspicazes, pareciam decidir se valia a pena ou não contar para mim. Ela voltou a me medir, buscando por algo que lhe confirmasse que eu era uma jornalista. Bom, ela deveria levantar os olhos e olhar ao redor mais, era engraçado que ela não me reconhecia, ou pelo menos não sabia quem era meu pai.

– Nada nessa vida é de graça, sabia?

Ergui uma sobrancelha para ela.

– Não vou te pagar para me dar uma informação que qualquer outra pessoa daqui poderia fazer. Até mesmo a família dela. – joguei.

Ela mudou o peso do seu corpo para a perna direita, por mais irritada e desgostosa que parecesse estar, notei que havia tomado a sua decisão.

– Abigail era boa, acho. – deu de ombros. – Não prestava muita atenção nela, eu mesma já tenho muito o que fazer. Só ficava aqui em época de turismo, mais nas férias de verão e inverno. Menina quieta, não falava demais, mas conhecia tudo sobre a cidade. Parecia gostar daqui.

– Ela cuidava das atrações comuns da floresta?

– Sim, levava os viajantes até as piscinas, mostrava para os montanhistas caminhos mais faceis pelas trilhas. Era bem aventureira, gostava disso, acho. Sei que ela trabalhava em Forks também, tinha algo a ver com turismo, não sei o que era.

– Mas quando ela foi morta não estava trabalhando aqui ainda, não é?

A mulher se mexeu desconfortável na cadeira.

– Não, ela não estava. Quero dizer, às vezes passava por aqui quando algum montanhista fora de época aparecia. Foi o que aconteceu. Esse cara veio e disse que queria conhecer mais a floresta, acampar ou algo assim. Não prestei muita atenção, dei o telefone dela e ele saiu.

Senti meu coração bater mais rápido.

– Lembra como ele era?

– Não. Eu te disse, não prestei atenção. – ela suspirou. – Mas lembro que ele era bem alto, e tinha uma pele morena. Só.

Como podia?!

– Ele falou qualquer lugar que queria? A Abigail disse para onde ia levar ele? Vocês têm esse tipo de controle aqui, certo?

– Mas é claro que sim, o que acha que somos? Amadores? – ela bufou e rolou os olhos. Então puxou um caderno grosso com folhas amassadas. A capa era preta e dura.

Ela o abriu e começou a folhear. Eram os registros deles. E pareciam ser de muito tempo. Fiquei impressionada por alguém não se importar nem um pouco com as informações que estava revelando para alguém que claramente não conhecia. Controlei minha face para não demonstrar o quanto eu queria repreendê-la por isso.

– Deixa eu ver... Deixa eu ver... – ela disse passando o dedo de unha longa e vermelha pelas linhas. – Aqui... Estranho, não tem o nome dele. Bom, tanto faz, aqui disse que ela ia mostrar as cavernas de La Push.

– La Push tem cavernas? – eu disse franzindo o cenho, não me lembrava de nenhuma.

– Dã, claro que tem. – ela rolou os olhos novamente e fechou o livro. – Há cavernas perto do penhasco, próximo as montanhas também, mas ali o perímetro de La Push começa a acabar. No registro ela deixou um pedido para Calvin.

– Quem é Calvin?

– Nosso guia turístico. – ela voltou a rolar os olhos. Eu queria muito bater nela. – É ele quem cuida dos turistas que querem visitar a Ilha de James e o penhasco. Tem o próprio barquinho dele e tudo o mais – abanou a mão como quem dispensa a informação.

Umedeci meus lábios, pensando.

– Esse foi o último registro dela?

– Sim. Foi no dia em que ela morreu. – ela não parecia se importar. – E aí, quando a matéria vai sair?

Eu a olhei feio. Agradeci de qualquer forma e sai do departamento, antes que enfiasse a mão na cara dela. Como podia?! É claro que ela não se importava nem um pouco com o próprio trabalho, nem com a cidade em que vivia.

Minha mente começou a trabalhar nas possibilidades. Havia uma enorme chance de ser Farad o tal cara, mas por que ele estaria procurando por cavernas em La Push? Estaria ele tentando se esconder delas? Qual a probabilidade dele manter residência clandestina aqui e nenhum dos lobos ter notado isso? Era quase impossível.

Cocei meu queixo enquanto a neve caía forte ao meu redor. Meus tênis estavam começando a ficar sujos, já que o chão estava úmido e a lama começava a ficar mais fofa e funda. Eu teria que passar em casa, ficar muito tempo fora não era nada bom. No entanto, ir para casa não parecia fazer sentindo.

Só notei para onde meus pés estavam me levando quando levantei o rosto. Eu estava na orla da floresta, bem na entrada em que havia pego com Austin no dia em que descobrimos o corpo mutilado de Abigail. Eu hesitei.

Não era nada sábio entrar na floresta em um momento como esses. E não havia nada lá no momento que pudesse me ajudar de alguma forma. Não haveria mais sangue, nem mais roupas espalhadas. Fora o grande perigo que eu estaria me metendo. Não, era melhor não testar a pouca sorte que eu ainda tinha.

Continuei a caminhar para além da praia, passando a pé pela placa da reserva quileute que desejava boas vindas. Havia um local que talvez pudesse me ajudar e era, definitivamente, mais seguro do que entrar na floresta com uma mão na frente e outra atrás.

A delegacia era um quadrado pequeno no meio do mato depois do US Post Office, no qual a parte detrás descia cheia de areia e caia direto na praia. Devia ser difícil passar o dia inteiro dentro do escritório com o mar há alguns passos. Ou talvez não, o tempo de La Push não era lá muito favorável e atrativo.

Havia apenas uma viatura estacionada na frente do prédio, a única em La Push. Normalmente não deveria ser dificil controlar a segurança da cidade, mas com os últimos acontecimentos eu notava pequenas diferenças que La Push estava enfrentando.

Por exemplo, todos os (três) policiais andavam sempre armados e faziam rondas dentro e fora da floresta todos os dias. Antes já era difícil ter movimento após as 20h, agora era impossivel. Todo mundo já estava em casa. Por mais que nada sério tivesse sido revelado, parecia ter uma energia pairando sobre La Push, na qual alertava a todos para não se demorarem. As pessoas também não eram tão idiotas assim. Elas sabiam que alguma coisa estava acontecendo.

Então assim que entrei na delegacia sem movimento algum, fui até a recepcionista. Ela estava sentada em um banquinho que parecia ser muito desconfortável, tinha a pele clara, cabelos loiros enrolados e olhos castanhos. Havia bastante sardinhas em seu rosto, deixando-o muito mais atrativo. Assim que encostei no balcão ela levantou os olhos.

Complemente diferente da recepcionista do Departamento de Turismo, eu soube na hora que ela me conhecia. A final de contas, um cadáver foi encontrado na margem do rio de casa. Não era algo que ela poderia deixar passar em branco, principalmente trabalhando onde trabalhava.

Por isso eu tinha que ter muito cuidado com o que ia falar ou pedir. Não queria que as pessoas soubessem que eu estava buscando, metendo meu nariz onde não era chamada – tecnicamente. Também não queria que a história vazasse e chegasse aos ouvidos de Farad.

– Bom dia. – eu disse com o meu melhor sorriso. Em seu crachá estava escrito Padmore, Susan.

– Em que posso ajudá-la? – ela perguntou.

– Ah... Então. – tentei começar sem demonstrar muito nervosismo. Acho que não funcionou muito. – Uma amiga minha de Los Angeles está vindo para cá passar alguns dias, eu queria saber quais são as áreas em que posso levá-la para conhecer a cidade sem problemas. Você teria algum mapa ou algo parecido com demarcações?

– Deveria ir no Departamento de Turismo, eles têm isso por lá. – era claro só para mim que ela estava me tratando mal? Quero dizer, ela literalmente estava me fuzilando com os olhos. O que eu tinha feito?

– A recepcionista me mandou vir aqui. – dei de ombros. – Disse que só vocês poderiam me ajudar.

– Mais que saco! Amanda nunca quer trabalhar, joga tudo para nós. – ela esbravejou se levantando do banquinho e indo até os fundos do balcão resmungando (“Não sei nem o motivo de ter um Departamento de Turismo se ninguém lá quer trabalhar”).

Ela voltou com um grande mapa nas mãos, que era amarelado por causa do tempo e dobrado diversas vezes. Soltando ele no balcão com força, ela começou a abrir. Havia momentos em que realmente me encarava com raiva, e eu não entendia o que estava acontecendo. Procurei ignorar isso para não arranjar confusão, eu precisava das informações, então depois eu poderia mandar ela ir se foder.

O mapa era enorme e mostrava todo o perímetro de La Push. Havia pequenos círculos em azul e outros em vermelho. Eu era esperta o suficiente para entender que os vermelhos são os lugares demarcados como proibidos e os azuis não.

Mesmo assim, Susan sentiu a necessidade de me explicar.

– Os azuis é onde o turismo é permitido. Os vermelhos são proibidos. – falou apontando para dar alguns exemplos.

– Ah... Achei que o penhasco era permitido. – joguei verde, apontando para onde os dois penhascos de La Push se encontravam. – Desde quando ele passou a ser proibido?

– Toda a área de floresta passou a ser proibida depois dos ataques, o que eu sei que você sabe. – ela estreitou os olhos para mim. –Antes já não era seguro, agora muito menos. O único trecho permitido é o que leva às piscinas de corais. Fora isso tudo é proibido.

Eu escutava tudo um pouco à parte. Meus olhos estavam perto do penhasco e em lugares que mostravam os rochedos mais próximos. Não ia conseguir memorizar todos esses lugares, mas sair daqui com as mãos abanando estava fora de cogitação. Analisei minha situação com cuidado. Ela não gostava de mim, isso era claro – menos o motivo -, então dificilmente me deixaria ficar com o mapa.

No entanto, eu abençoava a tecnologia que nos permitia fazer coisas erradas.

– Nossa. – falei imediatamente colocando a mão sobre os olhos. – Acho que minha pressão caiu. – comecei a respirar superficialmente mais rápido.

– Quer que eu chame um médico? – ela perguntou.

– Hm, não. Só preciso de um pouco de água e sal. Você teria por aqui? – deixei minha fala mole propositalmente.

– Claro, é atrás do balcão. – ela indicou. Realmente não esperava que eu fosse até lá, não é? A encarei com uma óbvia frustração. Susan rolou os olhos e se levantou. – Eu pego para você.

Assim que ela saiu do balcão e foi para os fundos eu puxei meu celular. Subi a tela e liguei a câmera. Tirei foto de todos os ângulos possíveis do mapa. Tomando cuidado para não esquecer nenhuma parte. No entanto, quando fui fotografar a área das montanhas, Susan voltou e tive que guardar meu celular e fingir estar mal.

– Aqui, sua água e um sache de sal. – ela retirou o mapa do balcão. Levei o copo de água aos lábios, mas prestava muita atenção no local em que ela iria guardar o mapa. Uma frustração óbvia em meu rosto. Eu só precisava de mais alguns cliques, por que ela tinha que tirar o mapa de lá?

Assim que ela voltou, seu rosto se iluminou de felicidade, como se um sol acabasse de clarear a sala. Eu nem precisei olhar para trás, sentia o comixão em minha nuca anunciando quem eu já sabia que era.

– Jacob! – ela disse deliciada.

Eu não estava tão deliciada assim. Joguei discretamente o sache de sal no chão e coloquei o meu pé em cima dele. A última coisa que eu queria era que Jacob desconfiasse que eu estava buscando por respostas, que estava me metendo em mais confusão.

– Oi, Susan. Tudo bem? – ele perguntou, mas eu sentia seus olhos em mim. Era quase físico.

Fazia algum tempo que não nos víamos por causa das rondas adicionais que ele estava fazendo – assim como obrigando todos do bando a fazer. Mantive minha feição o mais simples possível, como se estar em uma delegacia não fosse nada estranho.

– Gaele. – ele disse como forma de cumprimento.

Virei meu rosto para o seu e abri o sorriso mais charmoso, como se isso fosse qualquer desculpa para me encontrar ali. Jacob sorriu de volta, mas eu podia ver a dúvida rondando seus olhos.

– Ela estava passando mal. – Susan se apressou a dizer. Ah... Então era por isso que ela estava me tratando tão mal. Seus olhos brilharam para Jacob e depois se transformaram em uma carranca para mim. – Pressão baixa.

– Não sabia que você tinha pressão baixa. – ele disse com um toque de divertimento na voz, estava controlando o sorriso também.

– Ah... É. Não te contei? – falei colocando minha expressão mais inocente. – Pois é, abaixou de repente. – e me apoiei melhor no balcão para simular.

– Curioso. – ele disse, dessa vez o divertimento mais óbvio em sua voz. Seus olhos brilhavam de animação. – E o xerife te trouxe até aqui?

– Ah não. Ela estava dando uma olhada no mapa de La Push, para ver onde é permitido andar. – Susan... Cala essa boca!

Levantei minhas sobrancelhas para ela, obviamente incomodada com a falta de noção, o que aconteceu com “as mulheres se protegem”? Parecia que nada disso fazia sentindo com Jacob por perto. Quantas mulheres ele já transou nessa cidade?! Isso só dificultava a minha investigação!

– Hm... Interessante. – Jacob apoiou seus cotovelos no balcão, ficando parcialmente virado para mim, parcialmente para Susan, que tentou se aproximar o quanto podia. – Não sabia que estava interessada no turismo da cidade.

Ergui uma sobrancelha para ele. Então ele estava mesmo prestes a jogar charme para conseguir arrancar alguma coisa de Susan? Isso é sério? Ele que se danasse, nada do que ela pudesse dizer me colocaria em problemas.

– Principalmente no penhasco, né Gaele? Ela estava perguntando sobre ele.

Nada com exceção disso.

Jacob ergueu suas sobrancelhas, um sorriso brincando na ponta de seus lábios.

– E o que mais ela queria saber, Susan? – ele perguntou, a voz mansa, macia e rouca. Eu podia sentir esse tipo de atitude dele me afetando, imagina a pobre Susan! Ela estava quase desfalecendo. O rosto corado.

– Ah, coisas sobre turismo. Estava olhando as montanhas também. Ao norte daqui. Acho que ela comentou que tinha passado no Departamento de Turismo, mas sabe como a Amanda é né, nunca quer trabalhar. Pediu para ela vir até aqui.

Eu estava logo aqui, sua vaca! Não me dedura assim, na cara dura!

Troquei meu peso de perna, completamente furiosa com Susan Padmore. Eu ia acabar com a raça dela. Além de estar, claramente, dando em cima de Jacob (tudo bem, não que ela tivesse culpa nisso), ela ainda estava me ferrando! Jacob ia me encher de perguntas, eu já podia até ver!

– Ah, gosta de montanhismo também? – Jacob estava, definitivamente, se divertindo com a situação. Olhou-me com um sorriso travesso nos lábios. – Ora, ora, você é uma caixinha de surpresas, anjo.

Trinquei meus dentes e estreitei meus olhos para ele.

– Não é para mim. – falei o mais mansa possível. – É para Naomi. Ela vai vir me visitar depois do Natal e queria saber onde posso levar ela.

– E a Naomi gosta de montanhas?

– Claro que sim! É o esporte favorito dela! – menti na cara dura. Naomi era a típica menina de cidade grande, qualquer coisa que tivesse a ver com natureza ela era do contra.

Por ela, La Push toda seria acimentada.

– Imagino que seja. – ele sorriu mais uma vez. – O xerife se encontra, Susan?

– Não, Jake. Ele saiu há alguns minutos. Foi até Forks com Charlie. Assistir futebol, alguma coisa assim. – ela deu de ombros.

– Claro, quando ele voltar peça para me procurar, por favor. Preciso falar com ele. – Jacob voltou a se erguer.

– Claro. – ela sorriu toda derretida.

Eu nem me despedi dela. Minha vontade era socar a fuça cheia de sardas. Mantive minhas mãos nos bolsos enquanto andava, segurando firmemente o meu celular. Eu só precisava das fotos das montanhas, só isso. Com elas eu conseguiria ver até onde eles tinham demarcado. Farad poderia estar escondido em qualquer área não marcada, e isso era essencial.

Por que não tirei foto das montanhas antes?!

Senti a presença de Jacob atrás de mim quase como se ele tivesse tocado meu braço para me acompanhar. Ele facilmente acompanhou meus passos apressados para fora da delegacia. Sua moto estava estacionada na frente, ao lado do carro do xerife. Parecia reluzir e pedir para ser sujada com mais lama.

A risada dele flutuou ao meu redor e tirou o nervosismo de meu sistema. Era como se ele soubesse o rumo das minhas intenções ao olhar para sua moto. De repente, sua boca estava bem perto da minha orelha, o hálito quente fazendo meu coração acelerar.

– Eu limparia sem problemas depois. – sussurrou.

Permiti que um curto sorriso desabrochasse em meus lábios. Jacob passou o braço na minha cintura e me virou para ele. Apoiei minhas mãos em seu peito largo, sentindo a alta temperatura de sua pele esquentar minhas mãos geladas.

Havia todo um cuidado na forma como Jacob me segurava, meu ombro ainda não estava cem por cento, assim como outros membros machucados. Mas eu estava incrivelmente melhor.

Ergui meu rosto para o seu no momento exato em que ele abaixou sua cabeça, tocando meus lábios com uma suavidade de parar o coração. Como eu poderia ficar carrancuda perto dele? Não era possível. Ao mais leve toque eu já me desfalecia em seus braços como a pobre Susan.

Ele movimentou seus lábios nos meus após um tempo apenas os sentindo, provocando. Havia uma fome mal disfarçada ali, por debaixo de toda a calma e o cuidado. Uma fome que alimentava a minha. Então me vi na ponta dos pés, tentando retirar mais do que um simples beijo dele.

E não existia mais frio, nem umidade gelada. Não tinha neve marcando as minhas roupas. Eu era puro calor. Puramente Jacob.

Tive que me afastar para recuperar o fôlego, para fazer com que meu coração parasse de se apertar. Eu estava ofegante e um pouco tonta. Apoiei minha testa em seu peito e observei sua blusa branca se ajustar perfeitamente em seu tórax, para depois cair lisa onde é sua barriga. Levei minhas mãos suavemente para o cós de sua calça, roçando a ponta de meus dedos acima de sua cueca, na pele quente e firme do abdômen.

Senti seu suspiro em meus cabelos quando ele beijou minha cabeça.

– É uma boa distração. – ele disse, a voz rouca em meu ouvindo provocando calafrios.

Abri um sorriso escondido em seu peito, meus dedos ainda tocando a fina pele. Sentindo a textura macia e firme.

– Não sei do que está falando. – falei por fim.

Jacob se movimentou dando um passo para trás, ergui meu rosto com uma cara fechada. Não queria que ele se afastasse, queria continuar a tocá-lo. Eu o havia feito poucas vezes, principalmente depois que voltamos.

Ele tocou meu bico com a ponta dos dedos, um sorriso discreto nos lábios. Os olhos negros estavam em chamas, cravados nos meus e consumindo qualquer pensamento carrancudo da minha mente.

Mesmo depois de ter descoberto sobre ele, eu sabia que não era tudo. Pois todas as vezes em que o olhava nos olhos, os segredos ainda estava ali. Havia muita coisa da sua vida que eu não sabia. No entanto, havia uma brecha só para mim, uma brecha que permitia que eu perguntasse, questionasse e tentasse descobrir.

– O que você estava fazendo na delegacia? – ele perguntou sério.

Coloquei a melhor poker face que eu tinha.

– A tal de Susan já te disse. Eu estava buscando pelas áreas seguras para levar Naomi. Não quero que nada aconteça à ela quando estiver aqui. – minha voz estava inocente demais, até eu sabia disso.

Será que o extra sentido de Jacob notava quando eu estava mentindo? Por que se sim, então eu mentia em vão. Se ele captava ou não, eu não soube. Ele apenas estreitou seus olhos para mim, desconfiado de minhas palavras.

– E por que as montanhas e o penhasco?

E era aí que ele me pegava.

Jacob fechou os olhos com força, como se estivesse controlando o seu mau gênio. Eu apenas esperei. A essa altura, estava claro que eu escutaria qualquer coisa contra as minhas ações que ele me recomendasse. A última coisa que eu queria sentir era ter de prestar contas para o meu namorado. E eu sabia que ele se esforçava ao máximo para não exigir isso de mim.

– Estou tentando te proteger. Gostaria de ter alguma ajuda nisso também. – disse depois de um tempo.

Mordi a parte interna da minha bochecha.

– O que você quer nas montanhas e no penhasco?

Olhei firme para ele. Tudo bem, ele ia descobrir uma hora ou outra mesmo. Ainda mais se continuasse a me seguir por toda La Push.

– Acho que as mortes têm alguma ligação. – falei séria. – Se você perceber, todas elas estavam, de alguma forma, ligada ao turismo da região. Podem ter sido pessoas que cruzaram com o caminho de Farad no momento em que ele não queria ser descoberto ainda. Eu estou analisando essa teoria, não está completamente correta. Há algo de estranho também. Farad conhecia Abigail, ele pediu para que ela o levasse nas cavernas próximas da região. Acho que está escondido nelas.

– Acha que eu não sei disso? – ele perguntou, sua raiva borbulhando cada vez mais. – Acha que não fui atrás para tentar descobrir o motivo das mortes? Não há relação nelas, Gaele! Ele é um maníaco psicopata que mata por diversão.

– Mas nem todos os corpos foram atacados por um animal. – eu contra-ataquei. – Mike Newton teve todo o sangue retirado do corpo.

– Mike Newton não foi uma das vítimas de Farad. – Jacob foi taxativo. – A fria que matou Colin o matou, ela vem rondando a cidade por um tempo. Sentimos o seu cheiro quando o encontramos.

Procurei não tremer de medo com isso. Trinquei meus dentes e evitei que a memória do laudo de Mike Newton entrasse na minha cabeça.

– Como você tem tanta certeza? Até eu chegar em La Push você nem sabia que Farad existia! – rolei os olhos para ele. – E se ele se juntou com uma... Você sabe o quê. Vocês se juntaram com os Cullen, ele poderia ter feito o mesmo.

Jacob riu sem humor, seus olhos esfriando.

– Somos inimigos naturais, Gaele. Nós só aturamos os Cullen por que sabemos que eles também prezam a vida humana, mas não significa que dançamos embaixo do arco-íris de mãos dadas.

– Vocês são unidos por conveniência. E se Farad também fez o mesmo? Vocês provaram que isso é possível. – balancei a cabeça. – De qualquer forma, Farad está malocado em algum local perto de La Push. Ele sabia sobre mim, conseguia me acompanhar pela cidade. Como isso é possível?

– Já revistamos as cavernas. Não há sinal dele por lá.

– Todas elas? Vocês não deixaram nenhuma de fora? – perguntei estreitando os olhos.

Jacob me fuzilou com o olhar. Sua raiva vibrava por seu corpo e me atingia em ondas, mas ao contrário de me amedrontar, só alimentava a minha própria raiva.

– Não se meta nisso. – ele pediu, toda a raiva de repente evaporando. Ele parecia cansado. Realmente cansado. – Estou fazendo o meu melhor para mantê-la segura, mas se você procurar por confusão vai ser mais difícil e não quero perder você.

Minha garganta se travou, impossibilitando que a minha raiva continuasse. Ele não havia ganhado a discussão, assim como eu também não. Contudo, não havia mais o que dizer. Minhas teorias não tinham embasamento, eu não tinha provas. Ele tinha todo o direito de duvidar da minha palavra, não ofereci nada concreto, eram só especulações.

E enquanto Jacob não acreditasse nessa opção, enquanto ele não analisasse Farad de outros ângulos, as mortes iriam continuar. Cada vez piores.

Esse era o problema de Farad. Não havia como saber o que ele pensava, como agia e o porquê agia daquela forma. Eu tive mais encontros com ele do que gostaria, mas consegui absorver um único aspecto essencial de Farad: ele não tinha limites. Não havia uma consciência ativa em seus atos, não havia nenhum escrúpulo. Ele conseguiria seja lá o que fosse custe o que custasse, talvez se unir a outro ser mítico seja a coisa mais inteligente a se fazer – mesmo essa pessoa sendo sua inimiga mortal.

Farad nunca conseguiria passar pelo bando todo. Não sozinho. Ele deveria ter algum aliado.

Jacob interpretou meu silêncio como um fim na conversa. Acho que de certa forma eu também. Deixei que ele me abrassace, mas minha mente continuava muito desperta, correndo para diferentes teorias o tempo todo. Minha sede por conhecimento, minha vontade de saber o que acontecia ao meu redor parecia consumir todas as minhas energias.

Movendo-me automaticamente, fui até sua moto e montei na garupa. Jacob Colocou o capacete em mim, mas eu tinha minha mente longe, longe dali. O passeio não foi tão demorado, mas levou tempo o suficiente para eu saber que precisava de mais informações. Eu precisava provar que estava certa, talvez nem para Jacob, mas para mim mesma. Se eu não tentasse, se mais para frente eu descobrisse que essas revelações poderiam ter parado Farad muito antes... Não haveria modo de conviver comigo mesma.

Eu precisava ao menos tentar. Esgotar a minha mente com ideias e caminhos, para depois – se assim caminhar – desistir, ou chegar em uma conclusão. Mas não podia fazer isso sozinha.

***

A noite de Natal chegou. Eu nunca vi minha casa tão cheia de luz e calor. John ascendeu a fogueira, chamou alguns amigos e havia um constante entra e sai em nossa casa. Pessoas de La Push, pessoas da Reserva. Todo mundo usava nossa casa como ponto de parada.

Eu contorcia minhas mãos no colo, mal olhando os cumprimentos que recebia. Estava nervosa, com as mãos suando e o coração acelerado. Tinha convocado Lali e Graham para cá, mas não para lhes desejar um Feliz Natal. Havia algo que eu precisava e, por mais que me matasse incluir eles nisso, não havia mais ninguém em que eu confiava.

Lali era corajosa o suficiente para isso, eu sabia que ela não daria para trás, ficaria animada até. Graham era um mistério, mas acho que acabaria me ajudando. Austin... Era um pouco mais complicado, nunca pedi nada tão extremo para ela.

O pior de tudo não era a reação deles, era a minha paranoia. Eu sabia que Jacob mantinha um olho em mim, se ele mesmo fazia isso ou mandava outras pessoas do bando fazer eu não sabia, mas tinha a sensação de ser seguida por todos os lados. Talvez os próprios moradores o mantinha informado. Fosse como fosse, eu precisava tomar cuidado essa noite. Qual era a extensão do “manter um olho”? Esperava que não após a meia noite.

Lali e Graham chegaram depois do jantar, parecendo extremamente felizes, com os rostos corados do frio que fazia em La Push. Depois de todos os cumprimentarem, arrastei Lali, Graham e Austin para um canto vazio, onde pessoas comuns não poderiam nos ouvir.

– Qual é o problema? Você parece preocupada. – Graham disse assim que os maloquei nos degraus das escadas.

– Um pouco. – falei e olhei por cima do ombro. – Preciso de um favor.

– Pela sua cara não parece ser um favor muito legal. – Lali disse estreitando seus olhos para mim.

Franzi o cenho. Não era hora para ela ser observadora agora! De repente, duvidei de minhas teorias sobre meus amigos.

– Tudo bem, só fale de uma vez. – Lali disse.

– Preciso invadir a delegacia. – falei em um jato.

Os três ficaram me olhando por muitos minutos, assimilando o que eu tinha dito, ao mesmo tempo em que tentando decifrar se era uma piada ou não. Acho que me cenho franzido em preocupação demonstrava claramente que isso não era uma piada.

A boca de Austin foi se abrindo aos poucos em choque; Lali sorriu como se eu tivesse acabado de lhe dar o melhor presente de Natal de sua vida e Graham parecia... Temeroso, mas ansioso.

– Incrível! – Lali vibrou. – Eu estava mesmo querendo alguma ação nessa vida. E aí, quando seria isso?

– Hoje de madrugada.

O sorriso dela murchou.

– Olha, acho bacana e tal, mas não queria ser presa na noite de Natal. Seria mais legal... Talvez em uma semana, meus pais vão viajar e estava mesmo buscando por uma desculpa para não ir junto. – ela disse franzindo os lábios.

Rolei os olhos para ela.

– Sinto muito se o meu prazo não bate com o seu. – retorqui.

– Para quê tanta pressa? – Austin perguntou.

– Preciso... Ver uma coisa por lá... Um objeto, está perto de um mapa.

– Tipo um mapa do tesouro? – Graham perguntou.

Rolei meus olhos uma segunda vez.

– Ah sim, Graham. Vamos invadir a delegacia na noite de Natal por uma brincadeira como um mapa do tesouro. Claro que não! – bufei – Preciso... De algo que está ao lado do mapa.

– Quer que invadimos a delegacia só com essas informações? – Austin ergueu suas sobrancelhas. – Sabe, eu amo você, mas não sou tão louca assim.

Cocei minha cabeça, é obvio que eu não ia contar para eles a verdade. Nenhum deles acreditaria em mim, na verdade ficariam bem preocupados com a minha sanidade mental. Era melhor manter os hospícios longe do plano, por enquanto.

Então, o que eu ia falar?

– Jacob está me escondendo alguma coisa. Vi Susan Padmore recebendo algo de Jacob e escondendo nessa gaveta – soltei sem pensar duas vezes.

Droga, não acho que isso ia colar.

– Tipo... Joias para uma amante? – Austin franziu o cenho.

– Eu te disse que Jacob Black não era o cara certo! – Graham falou um pouco mais alto. – Já te contei sobre todas as histórias que ouvi dele pela cidade? Sabe, tem umas bem cabeludas, tipo... Menage e essas coisas.

Meu estômago revirou com isso.

– Mantenha isso para você, Graham. – Lali o acotovelou nas costelas.

Não tive tempo para mandar Graham calar a boca, minha cabeça automaticamente se virou para a entrada da minha casa. Jacob havia acabado de entrar. Parecia um pouco deslocado com suas roupas escuras dentro de uma casa pequena e cheia de cores – dourado, vermelho, verde, branco. Tinha as mãos nos bolsos de um modo relaxado, mas seus olhos examinaram toda a sala à minha procura.

Assim que me encontrou, senti um peso sair de meu peito enquanto ele caminhava com um sorriso maroto para mim. Será que ele conseguia ouvir o ritmo acelerado de meu coração? E por que diabos minhas mãos ainda tremiam quando esse magnetismo me puxava para ele?

– Boa noite. – ele disse para meus amigos, sua voz profunda e rouca.

Não importa o que Lali, Austin e Graham achavam dele. Graham não tinha coragem suficiente nem para fechar a cara para Jacob, já as duas tropeçavam nas palavras, parecendo tão embasbacadas quanto eu. Era um efeito engraçado que ele tinha nas pessoas.

Medo nos homens, atração nas mulheres.

Jacob nem precisou me dizer que gostaria que eu me afastasse por um tempo de meus amigos. Com um olhar significativo para eles, fui até um outro canto da sala com Jacob. Ele estava vindo da casa de seu pai, como me disse mais cedo. Não se demoraria muito, pois tinha mais uma ronda para fazer antes de encerrar a noite.

Que modo lega de passar o Natal!

– Sinto muito por não poder ficar – disse, e ele realmente parecia sentir.

Abri um sorriso calmo para ele.

– Não tem problemas, noite de Natal é superestimada.

Jacob passou a mão suavemente em meu rosto, seu rosto trazia mais cansaço do que quando o vi hoje cedo. Fiquei me perguntando se havia acontecido mais alguma coisa. Não era o local mais propício para conversar, havia muitas pessoas ao nosso redor, qualquer uma poderia escutar.

Eu também não sabia se gostaria de ouvir.

– Trouxe um presente para você. – ele disse de repente, o cansaço saindo de suas feições e sendo substituído por felicidade.

Fiquei ansiosa de repente. Eu não sabia que iríamos trocar presentes, ele não tinha comentado nada e eu também não. Meu rosto foi esquentando na medida em que percebi que, talvez, fosse normal para os namorados trocarem presentes.

Nossa relação era tão diferente que eu não me atentei a essas coisas simples.

– Não sabia que íamos trocar presentes. – falei metade culpada metade brava. Se ele ao menos tivesse me avisado!

Jacob riu.

– Não se preocupe com isso. Já tenho o meu presente. – ele falou e piscou maliciosamente para mim. Dessa vez corei de vergonha.

Estendendo a mão, havia um pequeno embrulho em um papel dourado, com um laço vermelho vinho o enfeitando. Cabia na palma da mão de Jacob, brilhando suavemente na luz amarelada de casa.

Peguei o pacotinho e olhei para Jacob. Seria muita falta de educação abrir o presente agora? Ele me deu sua permissão com um sorriso. Sentindo o rosto ainda mais vermelho, desamarrei o pequeno embrulho e o virei em minha mão. Um amontoado de bronze se alojou no centro da minha palma. Segurando o saquinho com uma das mãos, peguei a corrente de bronze com os dedos e a ergui.

Era um colar.

Simples, sem brilhos e nem ostentação. Mas parecia ser extremamente precioso.

O pingente era um lobo. Eu tentei esconder o sorriso. Um lobo marrom avermelhado entalhado em madeira. Havia um intrínseco detalhamento por todo ele, era como se o pelo do lobo estivesse sendo varrido para trás pelo vento, eu conseguia distinguir os olhos. O lobo uivava para a lua.

Era lindo.

– Gostou? – ele perguntou com um sorriso convincente no rosto, é claro que ele sabia que eu tinha gostado. E não acho que precisava de um sentindo extra para saber disso.

– É lindo, Jacob. – sussurrei, não conseguindo falar mais alto do que isso.

– Vire-se.

Coloquei o colar em sua mão e me virei de costas, puxando os cachos para cima enquanto ele colocava o colar em meu pescoço. Assim que prendeu o fecho, ele sussurrou em meu ouvido.

– Para você me ter até quando não estou por perto. – disse e beijou a parte exposta de minha nuca, fazendo com que um arrepio descesse por minha coluna.

Meus olhos buscaram rapidamente meu pai, rezando para que ele não tivesse visto. Não tinha, John estava preocupado demais em esvaziar a garrafa de vinho que havia ganhado para se preocupar com a filha e o namorado.

Toquei o pingente com a ponta de meus dedos.

– Há mais algum sinal por trás disso? – perguntei soltando os cabelos e me virando para ele.

– Garota esperta. – ele disse abrindo meu sorriso favorito. – Todos os imprintings carregam um colar como esse. Claro, cada um com uma cor diferente.

Fiquei muda, não sabendo como lidar a seguir. Não tínhamos mais mencionado o imprinting desde que voltamos. Eu buscava evitar a palavra sempre que possível, para não bugar a minha mente já bugada.

– Diz a lenda que Sahale Umi dava um pingente para cada espírito guerreiro. – ele disse baixinho. – Assim como para seus parceiros também. Isso simbolizava não só o que eles eram, mas a responsabilidade que carregavam. Os espíritos guerreiros deviam proteger o povo e seus parceiros deviam proteger os guerreiros, assim como a linhagem deles.

Abaixei o olhar para o meu pingente, que ficava na altura do vão de meus seios, podendo ser escondido entre as blusas. Acho que essa era a intenção, pois nunca vi Emily usar um pingente desse. Eu a vi com um cordão preto no pescoço, mas nunca seu enfeite. Talvez fosse Sam entalhado também.

– É lindo. Obrigada. – sorri e me ergui na ponta dos pés para beijá-lo. Não precisei fazer todo o trabalho sozinha, Jacob parecia ávido para me beijar também.

Parte da minha mente pesava com culpa. Eu estava prestes a fazer tudo o que Jacob havia pedido para que eu não fizesse nessa manhã. Ele estava tentando, eu via isso em cada olheira de seus olhos, cada expressão preocupada ao redor de seus lábios. E mesmo assim eu estava sendo estúpida o suficiente para sair de madrugada e tentar invadir uma delegacia.

Procurei não pensar muito nisso. Eu não sabia como havia bloqueado Jacob uma vez, não sabia como fazê-lo, mas não pensar muito sobre parecia funcionar. Não deixei que o sentimento me dominasse e me foquei apenas naquele momento, nos labios quentes e suaves de Jacob contra os meus.

Não havia nada melhor. O Natal nunca seria o mesmo sem ele.

Um pigarro de trovão soou atrás de mim. Com uma carranca eu parei de beijá-lo, Jacob subiu o rosto sorrindo para meu pai. Procurei manter a expressão o mais educada possível, eu queria mesmo era que ele saísse de perto. Gostaria que todos saíssem da minha casa para que eu pudesse passar alguns momentos a sós com Jacob.

– Feliz Natal, John. – Jacob disse.

Ele sempre foi cara de pau assim ou eu só notei isso agora?

– Feliz Natal, Jacob. – meu pai disse, sua voz forte ainda mais alta por causa do terceiro copo de vinho.

Ficamos os três nos encarando em silêncio durante um tempo. Acho que meu pai nunca teve um tempo apropriado com Jacob na condição de meu namorado. Uma conversa nunca aconteceu ao redor disso... E não era agora que ia acontecer, pelo menos não por minha parte.

– Er... Tá legal. – falei estreitando os olhos. – Vou mostrar a casa para Jacob.

– Ele já conhece a casa.

– Não conhece o andar de cima. – falei fuzilando meu pai com os olhos.

Eu não quis dizer o meu quarto. Essa não foi a minha intenção. Mas pela cara vermelha de John acho que ficou subentendido. Arrastei Jacob de lá antes que meu pai, envolvido demais pelo teor alcóolico de um vinho barato, começasse algum tipo de briga.

Jacob subiu as escadas rindo, sua voz rouca vibrando pelo corredor estreito.

Abri a porta do meu quarto, lembrando que Jacob tinha ido até lá na noite em que Collin morreu. Não havia muitas mudanças desde então, o quarto só parecia mais... Meu. Havia um toque mais íntimo do quarto. Meu quadro com fotos de amigos, Naomi estando quase unânime neles, mas também havia fotos dos meus amigos daqui. Collin estava em muitas.

– Não tinha isso aqui quando vim. – ele falou apontando para o quarto.

– Faz pouco tempo que coloquei. – admiti.

Era estranho ter Jacob em meu quarto, consciente pelo menos. Da última vez eu não poderia ser considerada sã. Senti-me estranhamente desconfortável, como se o ambiente não pertencesse a Jacob. Talvez fosse o fato de que Austin também dormia ali, e que aquele tinha sido o quarto dela antes de ser o meu.

Depois de analisar as fotos, ele se virou para mim.

– Essa é a Naomi? – perguntou apontando para a pessoa certa.

Naomi era o total oposto de mim. Alta, loira, corpo violão, olhos verdes e um carisma que contagiava todos ao seu redor. Se não fosse por sua constante arrogância ela poderia ser considerada a mulher perfeita.

– Sim. Foi no último Natal que passei com ela. – falei observando a foto. – Naomi ganhou um Porsche adiantado do padrasto, mas eles nunca se deram bem. Então nos acabamos vendendo o carro e gastando o dinheiro com uma viagem para Paris. – abri um sorriso com isso. – Vahiné quase teve um segundo filho quando avisei que passaria o Natal por lá. Fiquei com meu ouvido zunindo durante dias pelos gritos dela no telefone.

A foto era em frente a Torre Eiffel de noite, com suas luzes ofuscantes e maravilhosas. Paris não era tão legal assim quando se é americana, eles realmente odeiam inglês. Tivemos que nos virar em um francês lixo para conseguir aproveitar alguma coisa.

De repente a imagem estava ganhando movimento e eu via Naomi gargalhando para a foto enquanto um francês tinha acabado de cantá-la enquanto passava de carro. Eu mesma estava rindo, pois não tínhamos entendido muita coisa do que ele disse, mas uma garota sabe quando é cantada. Em seguida Naomi tropeçou em uma pobre pomba e caiu de cara no chão, instantes depois de termos batido a foto.

Tive que sentar no chão para não fazer xixi na calça. Na mesma noite perdemos as chaves de nosso quarto de hotel e quase dormimos no hall, se não fosse uma camareira francesa simpática que usou sua chave geral para nos colocar para dentro.

Foi um Natal feliz.

Olhei para Jacob e ele me encarava misteriosamente. Não tive nenhuma ideia do que se passava em sua cabeça, seus olhos estavam fechados para qualquer pessoa que tentasse lê-los. Fiquei ainda mais confusa quando ele me beijou, com uma ferocidade que transbordava por seu corpo e atingia o meu.

A restrição que ele tinha me beijado hoje cedo, a vontade que o tinha feito na frente do meu pai não era nada comparado a isso. Parecia que ele tinha se esquecido completamente de ser cuidadoso comigo, suas mãos me seguravam como se estivesse tentando me impedir de ir embora.

Não que eu fosse para lugar algum, de qualquer forma.

Eu estava caindo na minha cama, com ele por cima. Tinha suas mãos em minha cintura, a palma grande e quente queimando minha pele. Seus lábios eram exigentes nos meus, não permitindo que eu negasse ele – não que eu fosse negar. O calor que desprendia do corpo de Jacob era absorvido pelo meu e logo eu estava transpirando nas roupas quentes de inverno.

Não era um calor desconfortável, era o tipo de calor que só alimenta, mas não satisfaz.

A mesma culpa de antes me assolou. Principalmente quando ele me deu espaço para respirar, cravando seus olhos nos meus com uma fome legível e palpável.

* * *

– Cara, vamos nos encrencar muito. – Lali disse animada, sussurrando enquanto andávamos apressados.

Havíamos deixado o carro estacionado há alguns passos, assim não faríamos muito barulho. A lama parecia absorver os barulhos das botas, como se La Push permitisse o que estávamos prestes a fazer.

Tudo estava em um breu sinistro. Por mais que os outros estivessem levemente preocupados, suas preocupações não eram nada em comparação a minha. Eu tinha dois problemas: saber o que poderia me atacar no meio da noite e ser pega por Jacob. É claro que ser atacada era bem pior, mas a fúria de Jacob era capaz de fazer qualquer pessoa pensar duas vezes.

Apressamos nossos passos enquanto chegávamos mais perto. Eu não sabia se a delegacia ficava destrancada, pois todos da cidade não pareciam se importar muito com segurança. Mas com os recentes acontecimentos, eu tinha minhas dúvidas.

– Não podemos entrar pela frente. É muito óbvio, tem uma câmera apontada logo na entrada. – Lali disse com seus olhos ambares brilhando no escuro. – Vamos entrar pelos fundos, você sabe onde está o mapa?

– Sim, na sala atrás do balcão da recepcionista.

– Beleza, acho que lá não tem câmera.

– Como é que você sabe? – Austin sussurrou olhando para os lados para ver se tinha alguém vindo.

– Nas férias passadas dei mais festas do que o permitido, lembra? Ficava esperando meus pais aqui quase todas as noites. – ela sorriu travessa. – Conheço a delegacia como a palma da minha mão, a recepcionista de noite costumava tirar um cochilo na sala dos fundos, eu aproveitava para zanzar por aí.

Rolei os olhos. É claro que você era levada para passar um tempo de qualidade na delegacia quando dava muitas festas. La Push não era tão diferente, então, das cidades grandes em certos aspectos.

A porta dos fundos estava destrancada, mas rangia bastante, como se não fosse aberta com muita frequência. O barulho das ondas pareciam querer encobrir nosso ato, pois quebravam com força na praia. Ou talvez fosse o silêncio abrasador da cidade durante a noite.

A sala dos fundos era cheia de grandes arquivos e duas pequenas mesas bem arrumadas. Havia casacos e armas penduradas em ganchos. Devia ser a sala dos três policiais de La Push. Passamos de fininho por ela, buscando não mexer em nada.

Sim, tivemos que arrastar Lali para longe dos ganchos com as armas. Misturar arma de fogo com Lali Cameron não era uma ideia muito brilhante. Graham abriu a porta seguinte, que dava para uma um corredor. À direita estava a sala do delegado, em seguida a sala dos fundos do balcão e depois um corredor livre para a entrada da delegacia.

Nos abaixamos, quase nos arrastando pelo chão, quando vimos o piscar vermelho da única câmera de segurança. Ela não abrangia direito o corredor, mas com certeza pegaria qualquer movimento suspeito na sala atrás do balcão.

Foi Austin quem abriu a porta, suavemente. Não podíamos abrir muito para não dar na cara. Então todos tivemos que nos esgueirar com dificuldade pela fresta.

A sala cheirava fortemente a mofo e meias velhas. Como se fizesse tempo que alguém não a limpava. Todos fizemos uma careta, Austin fechou a porta suavemente.

Eu nem acreditava que tinha arrastado eles comigo! Era doideira, mas quem mais conseguiria fazer isso? Eu não conhecia La Push tão bem assim, por mais que já estivesse um semestre inteiro aqui. Eu não me lembrava com certeza de onde Susan havia guardado o mapa. Não podíamos nos levantar, pois as persianas estavam abertas.

Tivemos que ficar agachados durante todo o tempo, buscando pelas gavetas. Algumas estavam trancadas, mas eu sabia que não eram essas. Susan não usou nenhuma chave e não havia motivo de um mapa estar trancado.

Abri uma gaveta barulhenta de metal e rezei para que a câmera não reproduzisse sons. Fucei um pouco e encontrei. Bem lá no fundo, amassado em diversas partes para caber direito. O mapa.

– Achei! – sussurrei.

Os outros ainda procuravam por qualquer coisa suspeita que pudesse envolver uma possível traição. Eles riam com as coisas estranhas que encontravam nas gavetas, como comidas e até mudas de roupas íntimas. Não tinha como abrir o mapa sem que eles achassem estranho, então tive que agir.

– Que barulho foi esse? – menti.

– Não ouvi nada. – Austin olhou para a porta, junto com Lali e Graham.

– Merda, acho que está vindo lá da frente. – falei apressada. – Vão dar uma olhada, vou fechar as coisas e então saímos.

Os três voltaram a engatinhas até a porta, abrindo com cuidado e tentando espiar os lados. Enquanto isso bati as fotos necessárias e voltei a dobrar com cuidado o mapa, colocando da mesma forma como estava antes.

Engatinhamos para fora da sala, até o corredor. Então novamente sob nossos joelhos fomos até a sala dos policiais. Ali, já podendo ficar de pé, nos apressamos para sair.

Estava tudo perfeito demais. Com a adrenalina correndo por nossas veias, ríamos em sussurro e procurávamos não correr muito, mas foi impossível. Graham deixou eu e Austin em casa.

Austin entrou sorrateira em casa, rindo consigo mesma. Fomos até a cozinha para nos controlar antes de subir as escadas resmungonas. Eu sentei na cadeira enquanto Austin pegava um pouco de água. A casa estava escura e eu podia escutar os roncos de John no andar de cima.

Depois de comentar aos sussurros como tinha sido legal, Austin bocejou e avisou que ia dormir. Eu não estava com sono, queria pegar meu celular e abrir logo as imagens.

– E aí, encontrou o que queria? – ela perguntou.

– Não, acho que fosse lá o que fosse Susan levou para a casa dela. – menti

– Ah, que pena. – ela parecia realmente triste. – Acha que... Ele está te traindo? Quero dizer, vocês nem começaram a namorar direito.

– Não sei. Acho difícil, mas Susan agiu realmente muito estranho. Com tudo o que falam de Jacob pela cidade, achei melhor comprovar antes de perguntar. – dei de ombros, odiando ter que mentir para Austin.

Ela bocejou uma segunda vez.

– Acho que é só sua imaginação trabalhando com o que todo mundo te diz. Jacob gosta muito de você, dá pra perceber. Não acho que ele faria algo assim – e desejando boa noite e um feliz natal, Austin foi para o seu quarto.

Eu havia perdido toda a vontade de pegar meu celular. A mentira pesando em minha consciência mais do que o normal. Coloquei meu copo na pia. Mas quase o quebrei.

Por um breve momento eu achei que era Farad na janela da minha cozinha, pronto para me matar. Contudo, era só Brady, com uma expressão não muito feliz, mas pelo menos não homicida.

Abri a porta da cozinha com cuidado para não acordar ninguém. Brady entrou com a cara fechada. Fazia muito tempo que eu não o via, ele não passou aqui em casa para desejar Feliz Natal. Eu tinha uma leve noção que Brady estava tentando pegar quantas rondas seu corpo aguentasse, o que eram muitas.

Era como se algo o assombrasse durante os dias. Jacob estava preocupado com ele.

– Feliz Natal? – soou mais como uma pergunta.

– Você quer ser morta?! – ele sussurrou baixo, mas sua voz extremamente irritada.

– Do que é que você está falando? E não grite comigo! – tentei sussurrar baixo, mas não saiu como o planejado.

Por um momento ficamos em silêncio, ouvindo os roncos de John cessar por um tempo, assim como buscando por sinais de que Austin estivesse descendo as escadas.

– Eu estava na sua ronda hoje. Vi você invadindo a delegacia! – ele falou.

Ah, merda. Jacob ia me comer viva.

– Estava me seguindo?! – tentei virar a situação.

– Você sabe que sim! Jacob te falou que teria olhos em você.

– Achei que ele estivesse de olho em mim.

Brady rolou os olhos.

– Ele não consegue ficar 24h na sua cola e ainda fazer os perímetros dele. – balançando a cabeça, ele pareceu tentar colocar a distração de lado. – Coloca pessoas de segurança para te seguir.

Mordi meu lábio, testando o território do quão encrencada eu estava.

– Ele está muito bravo?

– Não sabe ainda. – Brady cruzou seus braços, parecendo maior do que já era, embora ainda fosse baixo para os padrões dos quileutes. – Eu não estava transformado.

– Não conte a ele! – pedi.

– Não tenho como mentir para Jacob, ele é o alfa. Vai acabar sabendo de uma forma ou outra.

– Ué, é só não pensar sobre isso. Vamos lá, Brady, me ajuda nessa! Jacob vai ficar uma fera quando descobrir, vai querer me prender em casa. – não que eu fosse deixar isso acontecer, mas depois de fazer o que fiz hoje, eu bem que merecia.

Então uma ideia surgiu em minha cabeça. Havia um modo de testar minhas teorias e me manter segura ao mesmo tempo. E esse modo estava bem a minha frente. Eu só precisava convencê-lo.

Comecei a contar todas as partes de minhas teorias e o motivo por ter arrastados todos para uma missão na delegacia. Puxei meu celular e mostrei todas as fotos que tinha e todas as ideias que vinham na minha mente. Brady também foi a única pessoa para a qual eu contei minhas aflições sobre as famílias e sobre o que pode acontecer se minhas teorias estiverem certas e ninguém as levar a sério.

Ele ficou um tempo em silencio, parecendo analisar toda a situação. Eu não sabia se ele ia ficar do meu lado ou não, sua lealdade com Jacob era muito forte, eu sabia disso. Mas acho que algo sobre a morte de Collin o fez tomar sua decisão.

– Então... Você quer alguém para te acompanhar nessas explorações e que te mantenha segura? – ele perguntou.

– Jacob confia em você, ele não lhe daria a ronda da noite se não confiasse. – tentei persuadí-lo – Eu vou ir de qualquer forma, mas seria muito mais tranquilo se você fosse comigo. Jacob não precisa ficar sabendo para onde estou indo e nem iria se importar muito, por que acreditaria que você está me mantendo segura.

– Jacob vai desconfiar. Você está me pedindo para mentir para o meu líder, isso é errado! – apontou.

– Ele não vai desconfiar... Olha, deixa que eu meu viro com o Jacob. Só preciso que você vá comigo nesses lugares, nada mais. Vai, Brady, por favor. Você também não quer saber?

Eu estava jogando sujo, sabia disso.

Brady me encarou por um tempo que pareceu quase eterno. Seus olhos pareciam buscar alguma coisa em meu rosto, talvez uma fraqueza em minhas teorias ou determinação, mas ele não encontrou. Por fim, suspirou e abaixou a cabeça.

– É bom que eu não me ferre por causa disso.

– Não vai, te prometo! – falei e o abracei. – Agora vá dormir, você parece um zumbi, Brady.

– Nada comparado ao que vou parecer quando Jacob descobrir – ele disse balançando a cabeça e saindo pela porta. – Cara, ele vai acabar com a minha raça.

Então sumiu na noite.


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Notas finais do capítulo

Entãooo... O que vem a segui?? Hahahahaha.
Primeiro de tudo: Pink, amore, já te falei tudo o que precisava, certo? Mas não posso deixar de te agradecer mais uma vez pela linda recomendação e as palavras gentis. Hiper obrigada!
Também quero agradecer os comentários motivadores que venho recebendo na fic, Amando (sei da sua vontade por Gaele se tornar uma loba, mas aguarda, amore, que logo tem surpresas para ela ahaha); Mrs. Salvatore (as mortes vão se revelar, amore!!, não se preocupa); Galaxy (que bom que está gostando,amore!!) e Lee Girlrock (caara, quanto tempo, rsrs, a Gaele tá aprendendo aos poucos, flor, vamos manter a fé!!).

Gente, um bom Natal para todos. Que essa festa seja cheia de esperança, luz, amor, sucesso e saúde. Estou recebendo o melhor presente de aniversário de todos: os comentários e recomendações inspiradores de vocês. Espero conseguir retribuir com boas histórias sempre.
FELIZ NATAL!!!!

Nos vemos semana que vem
Beijoos ;*



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