A história de Arthur escrita por Dé Santana


Capítulo 1
O lenço no meu pescoço




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Encarando-me através do espelho passo a mão direita sobre o lenço em meu pescoço, uma peça suave de cor verde piscina, em contraste com a blusa preta simples e a jaqueta jeans que estou vestindo. Satisfeito com o vestuário, repasso mentalmente o que irei fazer em seguida: pegar a bolsa, as fichas de Kate, e seu carro também, depois o Sr. Grey... Solto um suspiro baixinho. Deveria estar estudando para as provas finais, estão próximas, mas estou me preparando para entrevistar alguém de quem nunca ouvi falar.
Ótimo! Perfeito! Classifico o meu estilo atual e saiu do quarto.
Kate é minha melhor amiga, nós moramos juntos. Hoje acontece a tal entrevista, extraordinariamente conseguida, visto que o entrevistado é um magnata com pouco tempo a perder, ainda mais com jornalistas universitários. Mas Kate não pode ir, foi vencida pela gripe, e me convocou. Não sou do tipo que faz favorzinhos, no entanto gosto dela e sei que amigo fieis são mais que irmãos.
– Arthur, foi mal – diz ela quando me ver – mas tu sabe como isso é importante para mim, e que seria impossível remarcar...
– Não precisa voltar o cd – Interrompo – já falei que ia, não? – olho-a intensamente.
– Ok! – diz erguendo as mãos – Eu coloquei as perguntas na tua bolsa, e só lê-las e gravar as respostas. Tu vai conseguir.
– Tá, ler e gravar. Entendi. – pego a bolsa e vou até a porta, paro e me viro – Tenta tomar um chá e descansar, tua voz ainda está bastante rouca.
– Claro, tomo sim – diz – E Arthur, tais arrasando no visual.
Dou uma volta trezentos e sessenta graus com uma mão na cintura e outra suspensa no ar e saiu.

Dirigir o carro de Kate é bem mais confortável que o meu. Ter um carro esportivo de uma marca famosa não se encaixa nas minhas condições de vida. Saiu de Vancouver em direção à Rodovia Interestadual 5. Meu destino é Seattle, mais especificamente o prédio da Grey House, sede da empresa global do Sr. Grey, uma construção excêntrica toda de vidro e aço. Fico feliz por chegar cedo, alguns minutos antes da hora marcada. Entro no edifício, uma moça magra de cabelos pretos e blazer da mesma cor atrás de uma mesa sorri para mim com simpatia.
– Boa Tarde, estou aqui para falar com o Sr. Grey. Arthur Steele da parte de katherine kavanagh.
– Um momento. Sr. Steele.
Ela me olha estranho, ignoro e com muita confiança faço o que pede, espero. Isso se chama estilo, meu amor, pronuncio mentalmente.
– A Srta. Kavanash está sendo aguardada. Assine aqui, por favor, Sr. Arthur. É o primeiro elevador à direita, vigésimo andar. – Ela sorri quando lhe entrego a caneta e me passa um crachá com a palavra visitante. Isso é a mais pura verdade, sou apenas um visitante, olho ao redor enquanto a porta do elevador se fecha, tudo parece limpo demais, hipócrita demais... até os funcionários.
No vigésimo andar sou recebido por outra jovem vestida do mesmo jeito, mas seu cabelo é louro. Estando de pé posso ver que usa causas, um perfeito terno feminino. Me conduz para uma área de espera com cadeiras brancas, após dizer que o Sr. Grey logo me atenderá.
Logo ali fica a sala de reuniões que se podia ver bem através de suas paredes de vidros e onde havia uma janela que ia do piso ao teto, além se via uma Seattle incrível, nunca vista por mim desta forma. Fiquei impressionado.
Após um momento maravilhado com a vista, sento-me e leio as perguntas de Kate. Suspiro... não sou ruim com entrevistas, mas preferiria estar lendo um bom livro ou estar conversando com amigos, nada que um velho empresário dizer vai me interessar.
Uma mulher chega para me tirar dos meus pensamentos. É outra funcionária, estar vestida como a segunda, o que me faz perguntar se a outra do térreo também usava calças.
– Sr. Steele? – Pergunta.
– Sim – Respondo me erguendo.
– O Sr. Grey vai lhe receber, só mais alguns minutos. Posso guardar sua jaqueta?
– Não, Obrigado, faz parte do visual. – explico.
Ela sorri como quem diz ok e vai até a outra funcionária. Volto a me sentar. Cinco minutos depois uma porta se abre atrás de mim, não me viro, espero. Vejo uma mulher passar por na direção do elevador sorrindo, sem dá a mínima atenção para quem estava no local. Imagino que deva ter conseguido o que veio buscar aqui.
– Sr. Steele, o Sr. Grey vai lhe receber agora. Pode entrar, é essa porta atrás do senhor.
– Obrigado. – digo levantando e vou até a sala indicada.
Um homem está em pé, com os dois abraços apoiados na mesa olhando para o chão, o que me pareceu uma tentativa de parecer despojado, jovem.
– Sr. Grey? – digo entrando na sala, sou surpreendido pelo erguer de cabeça mais charmoso que já vi.
– Sim. – Diz se afastando da mesa. Caminha até um sofá em forma de meia lua com uma mesa menor no centro e com um gesto me indica a fazer o mesmo. – Mas esperava uma jovem. Eu sou Philipe Grey. – Ele ergue a mão para que eu a aperte quando me aproximo.
– Arthur Steele, Sr Grey – Digo cumprimentando-o – A Srta. Kavanagh está indisposta hoje, pediu para... – fico um pouco tonto, os olhos cinza dele me deixam desnorteados, parecem buscar algo dentro de mim. Respiro fundo – ela pediu para eu o entrevistar. Se o senhor não se importa.
– Não, claro que não me importo. Sente-se.
Sento e vejo que ele faz o mesmo. A sua sala é como todo o resto, nada parece indicar algo mais próximo de sua personalidade, todo muito limpo. Sinto os olhos dele em mim, enquanto preparo o gravador e olho as fichas com as perguntas de Kate. Passado o desconforto do momento volto a olhá-lo. Não é, nem em um traço se quer, o homem que imaginei.
– Bom, Sr. Grey, imagino que saiba a razão desta entrevista.
– Sim.
– Tudo bem em gravar?
– Fique a vontade.
Foi feita a primeira pergunta. Ele respondeu bem, sem parecer surpreso ou entediado, mostrava-se habituado com o tipo de pergunta. Seu olhar ia dos meus olhos para o lenço que eu trazia no pescoço e depois se perdia em algum ângulo da sala. Foi feita a segunda pergunta e depois a terceira. Philipe Grey me pareceu um homem satisfeito com seu trabalho, que se deu bem com suas escolhas e que, por isso, se sente superior aos demais, uma arrogância comum à maioria das pessoas que vencem na vida. Mas uma coisa me incomodava: tinha a impressão de que ele tentava me intimidar, procurava sempre notar alguma reação minha após seus ditos. Sem ver qual era a próxima pergunta me adianto.
– Sr. Grey, o senhor é gay? – ele me olhar sem mostrar reação alguma.
– Desculpe-me, mas estar escrito aqui. – minto, Kate não escreveu esta pergunta.
– Ah! A Srta. Kavanagh fez as perguntas. – ele pareceu se desapontar – E ela fez essa pergunta?
– Sim – minto novamente. Fico apreensivo com a possibilidade dele pedi as fichas, mas não faz isso.
– Bom, se ela pergunta eu respondo. Não, eu não sou gay.
Ele fixa o olhar em mim. Pergunta respondida, volto o olhar para as fichas e continuo com as perguntas de Kate, até que ele me interromper.
– Vocês são amigos?
– Como? – Pergunto sem entender.
– Você e a Srta. Kavanagh são amigos?
– Sim e dividimos o apartamento.
– E o que pensam em fazer depois da faculdade?
A porta se abre antes que eu possa responder. É a secretaria avisando que há um compromisso em minutos. Fico aliviado, ele não é gay, mas então o que significa o seu olhar intenso e esse interesse por o que vamos fazer depois da faculdade.
– Desmarque.
Não... grito no meu consciente. Ele mal virou o olhar para dá a resposta à secretaria.
– Nós ainda não acabamos – diz e depois que a porta se veja – então tua resposta.
– Não posso falar por Kate... bom, pela Srta. Kavanagh, mas eu tentarei algo na área editorial.
– Certeza? – questiona – Nós temos bons estágios aqui.
Encaro-o bem.
– Tenho. – depois de um curto silêncio recolho o gravador e guardo junto com as fichas na bolsa. – Então, Sr. Grey, acho que já tenho o suficiente – me ergo – Obrigado.
Ele se ergue, sorri, aperta a minha mão, responde ao meu agradecimento com um foi um prazer e me conduz para fora de sua sala.
Passo pela mesa onde apenas uma das secretárias está sentada, não há sinal da outra, ela sorri para mim. Aperto o botão do elevador e me viro enquanto espero. O Sr. Grey está na porta de sua sala me observando, disfarça virando o rosto e faz um gesto para a moça da mesa, ela se levanta. O elevador chega, eu entro e antes que as portas se fechem, vejo a secretária lhe entregar uma pasta, ele pega e depois olha para mim sobre o ombro dela. As portas se fecham, e eu sinto um arrepio percorrer o meu corpo. Amasso o lenço no meu pescoço.


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