Todo gato mia escrita por Andy


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente! =^.^=Então... Quem escreve sabe muito bem o que é ficar prisioneiro de uma frase, não é? Ela surge na sua cabeça, e não para de te importunar até que você dê um significado para ela e a coloque no papel. Bom, foi assim que esta história surgiu. Ela acabou virando algo completamente inusitado para mim, na verdade. Para ser sincera, não sei nem se dá para entender a lógica da coisa, ou se só a minha mente perturbada mesmo... Hahah!Mas enfim... Fazia muito tempo que eu não escrevia (ou tentava escrever) uma fábula! Espero que gostem desta! Se puderem, por favor, comentem!Obrigada! E boa leitura!



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Era uma vez um gatinho que adorava miar. Ele miava o dia inteiro. Miava de um jeito quanto estava feliz, de outro quando estava triste e de outro quando estava cansado. Para cada coisa que ele sentia, ele tinha um miado diferente.

“Oi, princesa! Sei que você está estudando agora, mas espero que veja esta mensagem quando sair e que ela te faça sorrir. Ah! Como eu queria estar aí para ver esse sorriso... Eu só queria que você soubesse que eu te amo mais que tudo na minha vida. Se eu pudesse escolher qualquer garota do universo, ainda escolheria você, sem a menor dúvida. Só não entendo muito o que você viu em mim, haha! Mentira, eu sei. Eu tenho certeza de que você é a mulher da minha vida, minha alma gêmea... E dizem que almas gêmeas sempre ficam juntas, não é? Então... Você sabe que eu não acredito em destino, em cupido, em deus, em nada disso, ne? Mas olhar para você, ver o quanto você é perfeita e saber que você é minha até me faz ter vontade de acreditar. Seja lá quem ou o que colocou você na minha vida, eu só tenho a agradecer. Você é a coisa mais preciosa do mundo para mim. Nunca se esqueça disso. Eu te amo! Muito! Durma bem, meu anjo.”

Carlos sorriu consigo mesmo e pousou o celular sobre o criado-mudo, espreguiçando-se.

Um dia, o gatinho se machucou feio. Mas era um machucado do coração, então os outros gatos não conseguiam ver. Por isso, o gatinho começou a miar com seu miado de dor. “Estou machucado, está doendo!”, ele miava.

Quando Carlos acordou naquela manhã, a primeira coisa que fez foi abrir o WhatsApp para ver se a resposta que ele tinha adormecido esperando estava lá. Ele sentiu o coração saltar ao notar o número 1 sobre o ícone do aplicativo e tocou para ver a mensagem, sorrindo consigo mesmo como um bobo. Em questão de segundos, a resposta apareceu:



Mas ele percebeu que os outros gatos apenas sorriam ou coçavam os bigodes, ou continuavam miando uns com os outros. “Me ajudem!”, ele miava na maior altura que conseguia, mas os outros pareciam não entender.

— Quero dizer, já faz um tempo, sabe... Ela anda fria comigo. Eu acho qu...

— Filho da puta! Pisca, caralho! Usa a porra da seta!

Carlos engoliu a frase pela metade, e não disse mais nada. O pai nem percebeu. Durante o resto do trajeto até em casa, tudo o que se ouviu foi o barulho do motor do carro e as imprecações ocasionais do motorista.

Foi aí que ele percebeu que todos os gatos miavam num mesmo tom, e ele era o único que miava diferente. “Talvez seja por isso que eles não me entendem”, ele pensou. Então ele tentou miar como eles.

“Oi! Mal ae a demora. Td bm? :)”

Ele ficou olhando para o cursor que piscava, pensando em como responder. Marcos costumava ser seu melhor amigo quando eles eram crianças, mas desde que entraram na pré-adolescência, as coisas começaram a mudar. Para Carlos, Marcos sempre seria seu melhor amigo. Mas ele sabia que o outro não se sentia da mesma forma. Aliás, eles mal se falavam agora. E pensar nisso fazia o coração de Carlos doer, às vezes. Especialmente quando ele via o velho vídeo-game largado num canto.

“Na verdade não. Meu pai não...”

Delete.

“Mais ou menos. A Júlia anda um pouco fria comigo e eu estou com medo que...”

Backspace.

“É, vou levando. Quero dizer, ontem minha mãe me disse que eu er...”

Apaga. Apaga. Apaga.

“Td. E cm vc? :)”

“Tbm.”

“Q bom.”

Mas o problema era que com esse novo miado, ele não conseguia expressar sua dor, então os outros gatos não sabiam que ele estava sofrendo. Mas pelo menos eles pareciam ouvi-lo. Então o gatinho continuou miando no mesmo tom que os outros. Mas esse era um tom cansativo, sem graça, e com o tempo o gatinho, que antes gostava tanto de miar, foi ficando quieto. Às vezes, ele passava vários dias seguidos sem dar um miado sequer.

— Tipo o quê? — Júlia não olhava diretamente para ele, e sim para seu reflexo na vitrine da loja de calçados.

“Meu avô morreu e minha mãe está agindo como se a vida dela tivesse acabado”.

“Eu sinto tanta falta do meu melhor amigo que chega a doer, mas ele simplesmente não se importa mais”.

“Há mais de um mês que eu não consigo conversar com o meu pai. Nas últimas vezes em que eu tentei, ele não estava interessado”.

“E eu consigo ver você escapando por entre meus dedos, não importa o quanto eu tente te segurar”.

Ele olhava diretamente para ela, e mesmo assim ela não virou o rosto. Ele não disse nada e fingiu observar os últimos modelos de tênis de corrida. Ela não perguntou mais.

Até que, um dia, ele abriu a boca para miar e percebeu que não saía mais som. Apavorado, ele percebeu que não conseguia mais miar.

“Boa noite! Eu te amo!”

A luz da tela do celular refletia em seus óculos. O polegar ainda flutuava indeciso sobre o botão de enviar. Quando a luz diminuiu, ameaçando se apagar, ele mudou de ideia e apertou o botão de apagar algumas vezes.

“Boa noite!”

Ele encarou a tela por mais alguns segundos.

Acabou apertando a tecla de voltar, deixando a mensagem por enviar. E apagou a luz.

— E a partir desse dia, ele nunca mais miou. Essa é a história do gatinho que não miava.

— Como assim, vovô? Por que o gatinho não conseguiu mais miar? E o que aconteceu com ele? E o machucado? Sarou?

O avô olhou para o neto por sobre os óclinhos de meia-lua. Seus olhos castanhos, pequeninos e benevolentes, espelhavam uma sabedoria ancestral. Ele sorriu levemente e suspirou:

— Um dia você vai entender, Carlito. Um dia você vai entender.


Carlos pisou solenemente sobre o pequeno banco de madeira. Primeiro um pé, depois o outro. De alguma forma, era como escalar até o topo do mundo. Cansativo de início, mas estranhamente recompensador, uma vez que se estava lá em cima. Quando ele passou a corda pelo pescoço, sorria suavemente. Por alguma razão, lembrava-se do avô.

Ele fechou os olhos e respirou profundamente. Não deixou nada escrito. Não disse uma palavra. Apenas tomou impulso.

Moral da história: Todo gato mia.


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