Cassis escrita por Metamorphosis


Capítulo 1
Capítulo 1




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“Eu estava sempre repetindo isso

Eu estava sempre te fazendo sofrer

Provavelmente te machuquei e eu nem fiz nada...”

 

 Estava deitado em minha cama dormindo tranquilamente quando escuto aquele barulho irritante do despertador do meu celular tocar. Queria voltar a dormir, mas aquele barulho ensurdecedor estava começando a me irritar profundamente. Começo a procurar pelo aparelho em minha cama, jogando tudo que estivesse na cama direto ao chão. Quando finalmente o achei, o desliguei e fiquei sentado na cama apenas fitando o meu travesseiro caído no chão.

 

_ Mais que vida mais patética a minha. – Indaguei logo me levantando para mais um dia de aula. Sim, eu ainda sou um estudante de colegial. Por mais que eu tenha a aparência de um homem adulto, eu ainda sou um adolescente.

 

Deixei meu quarto do jeito que estava e fui direto para o banheiro me arrumar, sabia que iria levar uma bronca gigante da minha mãe, mas não me importava, gostava dele daquele jeito. Sem tirar nem por.

 

Tirei meu pijama e fui para debaixo da água quente que saída do chuveiro. Mantive-me parado ali, perdido em pensamentos confusos que só conseguiam habitar a minha mente, deixando com que o calor da água caísse em meus tensos ombros na tentativa de relaxar, o que obviamente era difícil de acontecer. Após o banho, me posicionei a frente ao espelho embaçado do banheiro e fiquei a fitar a minha imagem refletida. Enrolei-me em uma toalha e voltei para meu quarto, colocando o uniforme da escola, um all star preto que estava surrado em baixo de minha cama, arranco a mochila de cima da cadeira de minha escrivaninha e desço para tomar café.

 

Sou recepcionado por minha mãe com um sorriso largo estampado no rosto e o patético e costumeiro mau-humor matutino do meu pai que apenas permanecia sentado à mesa tomando seu café puro e sem açúcar, lendo o jornal.

 

_ Sente-se filho! Já vou te dar o seu café! – falou mamãe como se tudo o que acontecesse fosse perfeito, até mesmo o café derramando em seu avental.

 

_ Deixe de ser tão atrapalhada, senhora Shiroyama. O Café está derramando. – apontei para o avental sujo da mamãe. Não pude conter o riso. A cena foi cômica, o que, milagrosamente, desviou a atenção do papai de seu jornal.

 

_ Sua palhaça. – comentou papai rindo enquanto tentava ajudar mamãe a tirar o avental.

 

_ Eu não percebi o que estava fazendo. – já livre do avental sujo, colocou a garrafa quase vazia de café sobre a mesa. – Yuu-kun, não está atrasado para a escola?

 

_ Ahn? – Olhei para o relógio de parede que ficava em cima da porta de entrada da cozinha e vi que já eram seis e meia da manhã. Eu estava atrasado. Não que a escola fosse muito longe de casa, mas como eu teria que ir a pé, levaria algum tempo e provavelmente o professor iria querer me punir depois da aula por chegar atrasado. – Droga! Tenho que ir!

 

_ Mas não tomou seu café!

 

_ Eu como qualquer coisa na escola, mãe! Tchau! – sai correndo em alta velocidade em direção a escola.

 

Como já era de se esperar, cheguei atrasado à aula de matemática, justo a aula de matemática que era a que eu mais detestava. Isso não é novidade, não é? São poucas as pessoas que gostam de matemática, e eu realmente não estava me importando de ter perdido vinte minutos da aula, como o professor mesmo fez questão de deixar evidente.

 

_ Vinte minutos atrasado senhor Shiroyama! – parado a frente de sua mesa me encarando.

 

_ É isso ai professor! Próxima aula eu prometo que demoro mais dez minutos. – meu tom irônico e o sarcasmo estampado e meu rosto despertou o riso nos outros adolescentes.

 

_ Muito engraçado! Pelo menos assim você encara de bom-humor o que lhe espera depois não é?

 

_ Sim, senhor! A melhor aula do mundo, a aula de Filosofia! – indo para meu lugar ao fundo da sala rindo junto com todos os outros. Adorava fazer aquilo, deixar o professor ainda mais nervoso era engraçado e, de certa forma, me fazia sentir-me uma pessoa diferente.

 

_ Vai levar um belo de um castigo depois da aula. Não só pelo atraso, mas também pelas gracinhas. – falou uma figura loira e misteriosa sentado na carteira ao meu lado segurando o livro de matemática.

 

_ Ora essa! Você sabe que eu já até me acostumei com isso! Não sei por que ainda continua falando essas coisas! – sorridente retruquei a meu amigo que olhava para mim rindo. – Mais não se preocupe comigo! Por mais que ele faça isso eu sempre me saio bem em matemática.

 

_ Isso é o incrível de tudo! Você chega atrasado, quase não presta atenção nas aulas e ainda consegue ter boas notas em matemática. – indignado com a realidade do que acontecia quanto à matéria. – Como consegue?

 

_ Quando se tem um pai professor de matemática à gente tem de fazer milagres! – comecei a rir vendo a expressão de “Não me diga!” estampado no rosto dele. Mais minhas gargalhadas foram interrompidas quando um pequeno objeto branco pousa em meu cabelo quase me causando um galo. Está certo, é exagero meu não que um pequeno pedaço de giz de lousa fosse causar um galo na minha testa, mas aquilo também dá. – Itai! – gemi levando minha mão até onde ainda restava uma marca de giz em minha testa.

 

_ Senhor Shiroyama e Senhor Suzuki! Gostaria de dividir com a sala o motivo de tanta risada?

 

_ Não! – retruquei o encarando.

 

_ Se não que prestar atenção, então ao menos deixe que os outros interessados consigam prestar atenção.

 

- Tá! Tá! Como quiser professor. – virei o rosto e logo debrucei sobre a mesa a minha frente esquecendo-me de tudo e de todos, pegando no sono.

 

Por mais que o jeito com o qual deitei na mesa não fosse o mais confortável do mundo, eu estava me sentindo a vontade para dormir. Dormi durante toda a aula de matemática, mas só acordo quando Akira começa a me sacudir pelo ombro chamando por mim.

 

_ Yuu! Acorda seu preguiçoso!

 

_ Hã? O que? O que aconteceu?

 

_ Acabou a aula de matemática! Vamos logo antes que nos atrasemos para a de filosofia! – indagou pegando seus livros em cima da mesa e a mochila pendurada na cadeira. Consenti logo levantando de meu lugar e indo para fora da sala sendo acompanhado pelo Akira.

 

Caminhamos corredor adentro. Chegando à sala onde teríamos a aula de Filosofia, somos abordados aos berros por uma figura escandalosa e toda tatuada que se acostumara a fazer isso.

 

_ YUU! AKIRA-KUN! – chegou correndo Miyavi quase caindo em cima de mim e do Akira.

 

_ Já disse para me chamar de Reita seu destrambelhado! – furioso Akira quase dá uma livrada na cabeça do moreno.

 

_ Eu sei disso! E por que acha que continuo te chamando pelo seu nome?

 

_ Por que você é um abestalhado?

 

_ Não! – indignado. – Faço para te provocar! Já que você não gosta do seu nome.

 

_ Não devia fazer isso Miyavi! Do mesmo jeito que ele não gosta de ser chamado de Akira, você também não gosta de ser chamado de Taka... – sou bruscamente interrompido pela mão gélida do garoto.

 

_ Não fale esse maldito nome! Sempre que você fala uma pessoinha aparece... – ainda tampando minha boca, olhando para todos os lados para ver se não vem ninguém, mordi-lhe a mão para me deixar em paz. – Itai!

 

_ Eca! – cuspindo. - Não acredito que fiz isso... Vai lá se saber onde ele colocou essa mão!

 

_ Muito engraçado! – me encarava, limpando a mão em sua blusa e com aquela com expressão de raiva e de zombeteira como mais ninguém somente ele sabia fazer.

 

_ Eu já saquei o esquema de vocês dois há muito tempo! Mais desta vez vocês não vão cabular a aula de filosófica! – argumentou Reita empurrando-nos para a sala já cheia apenas a espera da professora.

 

_ Cara! Como você é chato!

 

_ Eu sei! É por isso que você são meus amigos desde a quinta série! – continuava a nos empurrar.

 

_ Convencido! – Miyavi ficara emburrado. – Tá certo! Vamos assistir à aula de Fi... Filo... A aula é de que mesmo? – coçando a cabeça com a única mão livre que tinha e com a cara mais lavada que pudessem imaginar.

 

_ Incrível! Não sabe nem que aula é essa! – Reita levou a mão à testa e em seguida fechou os olhos deixando em evidencia a indignação que sentia quanto ao que o Myv acabara de falar.

 

_ Myv, é de Filosofia! – Sussurrei para o tatuado que sorrindo meio sem jeito agradeceu pela minha ajuda.

 

Ficamos ali parados, jogando conversa fora, como sempre, e esperando a professora chegar, mas... Não chegou. Ao invés dela, o inspetor, que acabara se tornando meu amigo e de Miyavi por tantas as vezes que já cabulamos a aula de filosofia, entra na sala nos liberando.

 

_ O que? Como assim ela não veio hoje? – nem conseguia fingir a felicidade que sentia.

 

_ Não vem com essa de bom aluno! Você é o que mais queria que não tivesse aula. – recebi o comentário junto com uma livrada na cabeça.

 

_ Viu, Reita! É nosso destino não ter aula de Filosofia! Ou fugimos dela ou ela foge de nós– ponderou o outro moreno rindo. – Agora vamos para o pátio. A sala do Kai e do Kouyou está em educação física agora! – fomos, praticamente, arrastados por ele até a quadra aberta da escola.

 

O motivo pelo qual Miyavi queria ir para o pátio foi evidenciado por ele mesmo. Parecia que ele tinha prazer em ver o coitado do Kai lavar várias boladas em sua face, pois era sempre colocado como goleiro. Já o Kouyou não era muito de esportes, nunca foi para falar a verdade. Mesmo quando éramos da mesma sala no ano passado, ele nunca foi de participar das aulas de educação física, eu era obrigado pelo Reita, mas quando chegava à vez do Kou-kun, nada nem ninguém nesse mundo conseguia fazê-lo sair da arquibancada a não ser o sinal que marcava o fim da aula.

 

_ O Kou-kun não perde a mania! – Reita se recostou na pilastra que tinha próximo a onde estávamos. – Continua o mesmo preguiçoso de sempre.

 

_ Ele é um VAGABUNDO que não faz porra nenhuma da vida! – o tatuado fez questão de enfatizar em alto e bom tom para quem estivesse ali querendo ou não ouvir a palavra “Vagabundo”. Naquele mesmo instante pude ver um tênis voar de dentro a quadra indo na direção do Miyavi e lhe acertando a cabeça fazendo a mim e ao Reita rir até nossos maxilares começarem a doer. Com a pancada na cabeça, Miyavi cai sentado no chão e esfregando a mão em sua cabeça onde, aparentemente, parecia crescer um galo. – QUEM FOI O VAGABUNDO QUE JOGOU ESSE TÊNIS EM MIM?

 

_ O mesmo que há meio minuto você chamou de vagabundo! – apontei para Kouyou dentro da quadra bufando e olhando para Miyavi.

 

_ Que doido! Por que ele fez isso? – pegou o tênis, levou até o nariz e em seguida o afasta rapidamente. – E AINDA NÃO LAVA O TÊNIS! DESSE JEITO VAI FICAR COM CHOLÉ! – Incrível! Em frações de segundos o outro tênis do Kouyou estava já pousando na cabeça do Miyavi. Eu e Reita já estávamos rolando de rir no chão enquanto Kouyou vinha furioso em disparado para a nossa direção. Kai tentava mantê-lo na quadra com toda a pouca força que tinha o que, obviamente, não obteve sucesso.

 

_ Miyavi! Quer um conselho de amigo?

 

_ Não! Mais como eu sei que você vai falar assim mesmo, pode falar! – olhava para mim com um sorriso maroto estampado na cara e com o par de Tênis do Uruha nas mãos.

 

_ Corre antes que o Kouyou chegue aqui! Se ele te alcançar você está perdido! – via Uruha se aproximar cada vez mais da saída da quadra na mesma proporção que o louco do Miyavi insistia em se esconder atrás de mim. – Eu falei para você correr, não se esconder atrás de mim.

 

_ Eu sei! Não é por que eu tenho esses alargadores na orelha que quer dizer que sou surdo.

 

_ Então sai de trás de mim! Não quero apanhar no seu lugar!

 

_ Apanhar? Quem disse que vai apanhar!

 

_ Eu, ora essa!

 

_ Yuu, você é besta ou o que? Você sabe muito bem que o Uruha nunca bate em você!

 

_ Alguma vez na vida vocês ouviram falar da expressão: “Sempre existe uma primeira vez para tudo!”? – me apavorei. Nunca gostei de ver o Kouyou bravo daquele jeito e ele com certeza não iria hesitar em me bater se isso fosse preciso para sair da frente do Miyavi. Para ele estar tão agressivo daquele jeito, ele só poderia estar nervoso desde que acordou. – Não to a fim de ser escudo humano.

 

_ Para de ser ruim e fique parado. – continuava a se esconder atrás de mim quando Uruha finalmente se aproxima de nós sendo seguido pelo Kai.

 

_ Sai da frente, Aoi! Vou acabar com a raça desse maloqueiro!

 

_ Ei, Uruha! Não tem como a gente conversar não? – levantava lentamente a cabeça por de trás de meu ombro. – Era só brincadeira! – forçava um sorriso.

 

_ Ah agora que ele está aqui prestes a te espancar é brincadeira não é? – continuava tentando, em vão, a sair da frente dele. – Arque com as conseqüências dos seus atos sozinho.

 

_ Que belo amigo! – de canto de olho pude ver a expressão zombeteira de Miyavi rapidamente ficar emburrada. – Ei, Uruha! Era só brincadeira! Não quis te ofender! – ele saia de trás de mim devagar.

 

_ Primeiro me xingou e depois fala que era só brincadeira!

 

_ Eu sempre faço isso! Por que hoje você resolveu me bater? – Aquela pergunta foi o suficiente para fazê-lo esquecer a nossa estada ali se perder em pensamentos. O loiro permaneceu parado com os punhos cerrados fitando o chão a sua frente.

 

O que deu nele? Ele nunca ficou assim antes. Na verdade eu o vi assim uma vez quando a irmã dele estava internada com problemas graves de respiração. Ele estava tão preocupado quanto seus pais, ele não se alimentava direito, sua atenção era presa em seus pensamentos que com aquela situação estavam sendo negativos. Mas ele não chegou a ser agressivo como está sendo agora. Não pude evitar em me aproximar dele enquanto colocava seu tênis novamente em seus pés.

 

_ O que aconteceu dessa vez? – me ajoelhei ao seu lado.

 

_ Como assim? Eu estou normal! – não me encarava, olhava nos meus olhos e logo os desviava para o tênis. – Por que eu não estaria normal?

 

_ Kou-kun! Da ultima vez que te vi assim fiquei sabendo pela sua mãe que a sua irmã estava internada. O que aconteceu? Alguém ficou doente? Seu pai brigou com você de novo?

 

_ Não aconteceu nada! A Nee-chan está impecável, ninguém está doente e o papai não me aporrinha mais. – levantou como em um salto na tentativa de encerrar o assunto. – Eu estou bem! – virou-se de costas para nos e foi indo para a quadra novamente sem falar absolutamente nada.

 

Takanori passava por ele sorridente. O cumprimentara saltitante, mas nada lhe foi dito. Nem mesmo um olhar carinhoso como Uruha estava acostumado a lhe dar, lhe foi entregue. Vendo esta cena fiquei ainda mais preocupado com o loiro. Vendo-nos de longe e também preocupado, Takanori corre em nossa direção.

 

_ Oi pessoa! Vocês sabem o que aconteceu com o Uruha? Ele me ignorou feio agora!

 

_ É o que queríamos saber! Ele está muito estranho.

 

_ Kai! Você fica mais tempo com ele agora! Você sabe o que aconteceu com ele?

 

_ Perdão, Reita-kun! Mais ele também não quis me dizer nada!

 

_ Para o Kai não conseguir tirar as informações do Uruha é por que a situação ta feia mesmo!  - falou Miyavi se apoiando no ombro do garoto. Ele não devia ter feito isso. Ele despertou a atenção do Takanori que até então não tinha percebido a sua presença e cai no chão após ter o corpo do baixinho jogado em cima de si. – Ei! Ruki! Sai de cima de mim!

 

_ Myv-kun! – os olhos do pequeno brilhavam como os de uma criança que acabara de receber o presente de natal. – Saudades.

 

_ Saudades? Você me viu ontem como pode estar com saudades? – o desespero do Miyavi era cômico. Ele empurrava o Ruki o máximo que podia, mas não adiantava de nada. O baixinho continuava agarrado a ele.

 

_ Estando oras!

 

_ Me solta diabos!

 

_ Olha só Yuu! Olha que amor! – Reita sussurrou para mim logo em seguida começamos a rir.

 

_ Estão rindo de que? Isso não é engraçado! – finalmente o maior conseguiu se livrar do grude do Ruki.

 

O sinal informando que a aula havia acabado tocou. Tínhamos mais aulas aquele dia, mas para mim o dia já tinha acabado. A imagem do loiro quase chorando a minha frente foi atordoante de mais para mim. Gostava de ver o sorriso doce e terno que transmitia calma a todos, estampado no rosto angelical do Kouyou, diferente daquela expressão frustrante e que transmitia raiva. A preocupação e a curiosidade de saber o que havia acontecido com o meu amigo estavam me fazendo ficar como ele, pensativo e frustrado.

 

Na hora do intervalo, todos se encontraram no refeitório. Todos em termos, pois o Uruha nem deu as caras por lá.

 

_ Ué? Cadê o Uruha?

 

_ Ele está lá na sala do clube de música. Ele disse que estava sem fome e que ia adiantar algumas cifras para o festival da descola.

 

_ Mais o festival é só daqui a dois meses.

 

_ Eu sei, Myv-kun! Mais ele não quis nem me dar ouvidos e foi para a sala de música com a guitarra dele.

 

_ Yuu, vai falar com ele! – Reita foi estúpido como sempre, arrancou minha latinha de coca-cola de minha mão. – Quando ele fica assim só você consegue descobrir por que!

 

_ Certo! – Pego minha coca-cola de volta. – Isso é meu! – Me levantei da cadeira e ia em direção a saída do refeitório quando Kai segura minha blusa. – O que foi?

 

_ Leva isso para ele! Provavelmente ele está sem comer desde ontem. – Me entregou uma maletinha preta que carregava.

 

_ Tá! – peguei a maletinha e fui direto sem desvios para a sala do clube de música. Ao chegar lá podia escutar os acordes tristonhos que Uruha compunha. Tentei abrir a porta, em vão, pois estava trancada. – Uruha! Abre! Sou eu! O Aoi!

 

Esperei algum tipo de resposta, mas a única coisa que havia acontecido foi à música desaparecer. O chamei novamente e a porta se abre mostrando a imagem acanhada do loiro que continha os olhos inchados. Inchados, provavelmente, de tanto chorar. O olhei espantado, seus olhos inchados e marejados me fitavam como se pedisse ajuda. Não consegui falar nada, não que eu não quisesse falar, mais por não conseguir falar mesmo. Um nó enorme se fez em minha garganta, me impedindo de tecer qualquer comentário. Apenas o abracei forte enterrando seu rosto em meu peitoral e afanava seus lisos e finos fios loiros.

 

Uruha começa a chorar descontroladamente em meus braços. A cena era atordoante de mais para os meus olhos. O guiei até uma cadeira dentro da sala de música e o fiz sentar-se nela. Coloquei a maletinha que Kai havia me dado em cima da mesa, puxei uma cadeira, sentei ao seu lado e fiquei a acariciar o seu rosto com leveza, fitando seus olhos castanhos ainda mais inchados do que já estavam quando o encontrei. O abracei novamente e ainda mais forte.

 

_ Agora você não pode mais esconder de mim! O que aconteceu? – levantei delicadamente seu rosto em minha direção o forçando a me encarar.

 

_ Nada! – ainda teimava em esconder.

 

_ Por que insiste nisso! Está estampado na sua cara que aconteceu alguma coisa! – não pude deixar de ficar nervoso, a preocupação e o medo de ele ter algum problema que eu não possa ajudar me tomava por inteiro, e a falta de comunicação que ele impunha estava me torturando.

 

_ Pois bem! Se quiser tanto saber eu vou contar senhor Shiroyama Yuu! – Pronto. Ele e só me chama por meu nome completo quando está bravo comigo. Assustei-me com a reação dele, ele se soltou bruscamente de meus braços e se afastou de mim, levantando da cadeira, cruzando os braços e ficando de costas para mim. – Vou ter que me mudar depois do festival da escola. Meu pai conseguiu uma vaga de vice-presidente na filial de uma multinacional em Hokkaido. E até ele conseguir achar uma escola para me matricular, vender a casa que moramos e acertar a papelada para a transferência vai demorar três meses! Eu não queria falar para não te preocupar, mas a sua persistência chata me forçou a falar.

 

_ Você... Você vai... Embora de... Tóquio? – fiquei perplexo com o que ouvi. Como assim ele ia embora e deixa a turma? Como assim ele ia me deixar? Não ele não podia fazer aquilo comigo. – Mas, você não pode... Não pode ficar na casa de alguém aqui em Tóquio nem que fosse até terminar a escola? Estamos no ultimo ano, mudar de escola agora é burrice!

 

_ Então o burro é meu pai, por que eu não quero deixar você... Er... Quer dizer... Não quero deixar a turma! – Pude ver seu rosto corado pelo seu reflexo no vidro.

 

_ Também não quero que me deixe! Conhecemos-nos há muito tempo e nos separar agora é a mesma coisa que querer nos matar. Não tem nada que poça fazer seu pai mudar de idéia quanto à vaga na multinacional?

 

_ Já tentei de tudo! Birra, pretexto, chantagem! Nada funcionou! Na verdade só piorou as coisas! Ele está decidido! – ponderou sentando novamente na cadeira. – Eu não quero ir embora! Eu quero ficar aqui!

 

_ Não fique assim! Vamos encontrar um jeito de fazer seu pai mudar de idéia! Ou pelo menos te deixar ficar aqui!

 

_ Esse seu jeito otimista é a única coisa que me alegra, sabia? – ele me abraçou com força e ternura. Ele parecia mais calmo e já podia ver aquele seu lindo e costumeiro sorriso brotar em seu rosto.

 

De certa forma eu fiquei abismado com o que o Uruha falou, mas também não deixei de me sentir feliz em saber que em mim ele encontrava o seu porto seguro. Com certeza ele era o meu também e não queria perder, talvez, para sempre, a única pessoa que me entendia e me fazia sorrir nos momentos mais difíceis da minha vida.

 

Uruha comeu o lanche que tinha dentro daquela maletinha preta que o Kai tinha me pedido para lhe entregar. Com muito custo, mais ele comeu e, aparentemente ele estava um tanto que mais alegre. O mesmo brilho de sempre estava voltando a habitar os olhos de Kouyou e isso me deixava ainda mais feliz e esperançoso de telo pra sempre comigo.

 

_ Aoi! Não ficou magoado não é?

 

_ Magoado com o que?

 

_ Por eu não ter te falado nada! Mais é que... Olhar para você e saber que talvez nunca mais eu vá te ver me machucava e... E eu tava querendo resolver as coisas sozinhas para não ter que te preocupar com nada.

 

_ Mas a minha persistência acabou com os seus planos.

 

_ Exatamente! – Seu sorriso me trouxe uma alegria e uma paz que eu estava procurando desde que acordei naquele dia. Depois de que tudo ficou esclarecido, o dia ficou parecido com dias normais na escola. Esclarecemos para o resto da turma todo o acontecido e eles também se propuseram a ajudar.

 

CONTINUA...


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Notas finais do capítulo

Gente! Minha Primeira Fic!    Espero que gostem!   Por favor mandem reviews *-----*