Perissológico Primeiro Encontro escrita por Livia Dias


Capítulo 1
Capítulo Único




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E foram felizes para sempre

Argh! Como isso soa repetitivo. Depois de uma troca de olhares, um passeio no parque, no cinema, em uma lanchonete legal e quem sabe em uma biblioteca, o casalsinho passa por uma crise de relacionamento e se separam. Depois de exatos três ou quatro capítulos, eles retornam com um pouco de sexo e uma animação alcançando as estrelas, com a certeza de que serão eternos até o final feliz.

Mas aprendi duas coisas em 17 anos: nunca deixe que o Carpe Diem suba à sua cabeça e jamais crie expectativas demais em cima do amor.

Ah não, não sou uma decepcionada com relacionamentos. Nunca nem namorei. Mas sabe, gostar de um amigo que está apenas interessado em uma patricinha inútil, não ajuda muito (lê carinha de cachorro que caiu do caminhão de mudança).

Um tilintar suave na janela me desperta dos meus devaneios (nossa como isso soou poético). O som se repete, e tiro os fones de ouvido, deixando de ouvir Stay With Me do Sam Smith, e correndo até a janela.

Abro-a abruptamente, meu coração batendo a mil e...

— AI! ALVO! — Grito, furiosa, levando a mão à testa.

Uma maldita pedra pesando uma tonelada atingiu minha cabeça com tudo.

— Ah, foi mal, Alice — O moreno de lindos olhos verdes diz com uma careta. E bingo! Esse é o amigo por quem estou apaixonada. Deu para notar? Não? Okay.

— Tá, tanto faz. O que você quer, Al? — Pergunto, imaginando que seja mais um conselho amoroso para ele se acertar com a perfeita Dominique Weasley.

— Vamos ao parque agora?

Cri, cri, cri, cri, cri.

Passar as férias de verão no mundo dos trouxas, com meu pai, já foi demais para minha cabeça. Estudar em uma escola de trouxas nesse meio tempo, com meu querido amigo Potter e o restante da cambada bruxa, também foi uma surpresa.

MAS ELE ME CONVIDAR PARA O PARQUE, À NOITE? Isso é o tipo de coisa que supera a fantasia do Papai Noel deixar uma casinha da Barbie para mim.

— Você andou bebendo coisas dos trouxas, Al? — questiono, franzindo o cenho para ele.

Alvo nega com um sorriso alegre em sua face.

— Eu descobri que te amo, Alice!

Cri, cri, cri, cri, cri...

— Espera um pouquinho, Al.

— Okay.

Fecho as janelas.

— AHHHHHHHHH! PUTA QUE PARIU! FINALMENTE! AMÉM! ELE ME AMA, ELE ME AMA, ELE ME AMA!

Ajeito os cabelos em frente ao espelho. Dou uma ajustada no pijama do Mickey Mouse e corro para a janela novamente, abrindo-a.

— Alvo, somos um casal impossível — Fecho os olhos dramaticamente.

Ele franze a testa.

— Somos?

— Sim. Meu pai é um Longbottom. Jamais aceitará que eu me case com um Potter... Principalmente que eu saia para o parque a essa hora da noite.

— Ah, sem problema, Ali. Eu já falei com seu pai. Ele acha tudo bem...

— Alvo.

— O que foi?

— NÃO ACABA COM MINHA HISTÓRIA DE AMOR! VOCÊ É PROIBIDO E FIM! — Alice suspirou, enquanto Alvo dava de ombros.

— Tá bom, tá bom. Seu pai não quer me ver nem pintado de ouro...

— Vamos ao parque amanhã. Eu gosto de sorvete de flocos.

— Tá.

— Porque eu gosto de chocolate com flocos, e você, como um verdadeiro cavalheiro, deve saber disso se me ama — Dou uma piscadela, fechando as janelas.

E por incrível que pareça, todo meu sono se foi depois disso.

(...)

— Então... — Começo, logo que estou caminhando lado a lado pelo parque com Alvo ao meu lado, nós dois saboreando um maravilhoso sorvete de chocolate com flocos. — Por que repentinamente resolveu me amar?

— Porque notei que estava sendo idiota — Alvo deu de ombros, sorrindo em seguida. — Você sempre foi minha melhor amiga. Nos conhecemos a nove anos e...

Alvo continua a falar, continuamente, seguindo exatamente o roteiro da minha vida. Vamos ao parque, tomamos sorvete de flocos e ele relata todos seus sentimentos em um longo monólogo sobre sua vida. É como se repentinamente meu sonho de consumo mais importante que a casinha da Barbie estivesse realizado...

— Alvo!

E puff, meu sonho se desfaz. Presto atenção no rapaz que se aproximou de nós, e meu queixo cai e eu começo a dar pulinhos, tapando a boca.

— Fala, cara! Quanto tempo! — O Potter troca um toque de mãos com ele. Ah meu santo Merlim! — Essa é a Alice, não sei se você conhece...

— Ah prazer — O rapaz estende a mão para mim, e eu fico com cara de boba.

— GUS! AUGUSTUS WATERS! O GUS DA HAZEL! — Começo a pular, contente. — Meu Deus! Você não andou morrendo por ai?

— Ahn...

— ALICE! — Alvo segura minha mão com força, sorrindo forçadamente para Gus. — Cara, ela costuma falar que todo mundo morre. É uma mania quando ela conhece as pessoas, sabe como é. Mas e então, como vai seu namoro com a Hazel?

— Ah, ótimo! Estou pensando em convidá-la para ir conhecer o autor favorito dela.

— Nossa, que legal — Alvo e eu dissemos nos entreolhando. Bem que ele poderia me levar para conhecer o John Green né?

— E vocês, são um casal? Amigos? Não é por nada, mas vocês parecem um casal.

— Ah somos... Amigos progredindo... — Alvo hesita, e suspiro.

— Para uma relação conjugal — Sorrio repuxando os lábios.

— E esse é o primeiro encontro né?

— É... É sim... — Respondo, respirando o ar puro da manhã. — Maravilhoso, não é?

— Sim, sim... E depois vocês vão ao cinema, não é?

— É... É sim. — Respondo novamente, começando a desconfiar que esse Gus sabe demais. Será que o processo de morte dele está lhe concedendo poderes de vidente?

— E depois vocês vão ao cinema, e por último trocam um beijo e começam a namorar no dia seguinte?

— É... É sim. Olha, você está consultando tarô? Tem algum poder de ler mentes? — Semicerro os olhos para ele, enquanto Alvo fica completamente mudo ao meu lado.

Gus dá de ombros.

— Ah não. É que vocês sabem... São um casal comum então.

Cri, cri, cri, cri, cri...

— C-Casal comum?

— É, sabe — Gus rouba o meu potinho de sorvete de chocolate com flocos (meu potinho! Nããão!). — Aquele tipo de casal que vai a passeios comuns e depois começa a namorar de maneira comum. É chato.

— Um minutinho por favor. — Puxo Alvo, e logo viramos as costas para o Waters. — É bom você controlar ele! Porque eu estou quase contando que ele morre! — Sussurro freneticamente.

— Mas o que ele disse?

— Não somos um casal comum! Ele insultou meus sonhos! — Puxo o querido Potter novamente, e com um largo sorriso na face volto a encarar o maravilhoso Gus. Ah que dia lindo. — Então Gus. Como vai seu câncer?

— Vai bem — Ele já acabou com meu potinho de sorvete, e agora coloca um cigarro na boca, sem acendê-lo. Ah, a metáfora dele. Que coisa bela. — Vejo você por ai, Alvo. Manda abraço para seu pai! Ele é um herói!

— Falou Gus! Manda abraço para a Hazel! — Alvo acena enquanto o amigo se distancia.

Ficamos em silêncio por um bom tempo, até eu encarar Alvo.

— Desde quando você conhece Augustus Waters?

— Desde que fui num grupo de câncer por aí para fazer um trabalho da escola. Quer ir almoçar em algum lugar?

Concordo com um menear de cabeça. O parque perdeu a graça depois dos insultos aos meus sonhos. Aff, até parece que Alvo e eu seremos um casal comum...

(...)

— Pode escolher primeiro o que quer comer.

— Não, escolhe você — Digo para ele, com um sorriso simpático.

— Não, primeiro as damas.

— Não, primeiro quem paga a conta.

Chegamos a um acordo finalmente. O garçom parece estressado por algum motivo que não me interessa, e com um revirar de olhos se afasta de nós com os pedidos anotados.

— Alice — Alvo faz uma pausa, limpando a garganta. — Acho que seremos um casal perfeito.

— Ahhhh, eu também acho fofinho — Aperto uma das bochechas dele, e ele sorri.

— Alice...

— O que foi?

— Eu tenho que...

Mas ele é interrompido logo que um assobio corta o ar, e um pássaro entra no restaurante. O assobio se prolonga, por culpa do pássaro, e logo um grupo adentra o local.

Pronto! É o rapa!

No entanto, reconheço os três que lideram a cambada.

— Alvo Severo Potter! — Peeta Mellark diz seriamente, em seguida dando risada. O Potter se levanta e ambos se cumprimentam com um toque de mãos.

Katniss Everdeen e Gale Hawthorne me encaram como se eu fosse uma ameaça. Ei, eles deveriam me conhecer também! Sou filha do carinha que ajudou o pai do Alvo a ser um herói! Aff!

— Cara, pensei que você estava no Distrito 12! — Alvo diz, sentando-se novamente. — Como vão as coisas Kat?

Kat? Opa, pera um momentinho! Ele chamou ela de Kat? K-A-T? Que intimidade é essa com a mulher que tem dois caras aos pés dela? Se ainda falasse o apelido da Hazel, eu até apoiava. Mas logo da Katniss?

— Vão muito bem, Al — Katniss mantém sua postura de combatente, tendo um arco em mãos e uma aljava de flechas presa às costas. Cruzo os braços, arqueando uma das sobrancelhas, tentando permanecer com a postura reta como ela. — Você está finalmente namorando?

— É ele tá! — Digo, imitando a seriedade dela, mas me sinto uma modelo com botox demais na cara e volto ao normal. — Sou Alice.

— Prazer Alice — Gale responde pela Kat. — Então, já foram ao parque?

— Já sim — responde Alvo, segurando minha mão, como se previsse o que estava por vir.

— E agora vieram almoçar em um restaurante pouco badalado? — Peeta questiona.

— É... — Concordo lentamente.

— E depois vão ao cinema? — Katniss pergunta, arqueando as sobrancelhas.

— É... Vamos sim — Alvo sorri amarelo.

Os três se entreolham como se algo muito sério estivesse acontecendo.

— O-O que foi? — Pergunto, começando a ficar nervosa. Algum membro do Snow está por aqui, querendo briga? Alguém da Capital?

— É que... Vocês são um casal sabe... Normal — explica Peeta, dando de ombros, como se pedisse desculpas.

Com muito custo, forço um sorriso amarelo. Isso tá começando a irritar.

— Vocês já comeram pizza? — Pergunto, cruzando as mãos em frente ao rosto.

Os três negam com meneares de cabeça.

— Vocês já comeram yakissoba?

Novamente negam.

— Vocês já comeram brigadeiro de panela?

E com trocas de olhares, os três negam.

— ENTÃO POR QUE VEM FALAR DO MEU RELACIONAMENTO, INFERNO? — Grito, levantando-me de chofre. Os três recuam. — Você! — Aponto para Peeta, que parece chocado. — Só sabe fazer pão e carregar saco de farinha! Você! — Aponto para Gale, que recua um passo. — Só sabe caçar e caçar e caçar, e ser um babaca que gosta dela! — Encaro Katniss, trincando os dentes, e ela semicerra os olhos. — Uma indecisa que quer comer pão e carne! Não se satisfaz só com pão nem só com carne! PELO AMOR DE DEUS! Eu estou aqui, sabe, aproveitando comida de verdade! Ohhh! Olha! — Pego o prato com a macarronada que o garçom trás, e passo pela frente dos três, que parecem interessados. — Viram? Viram? Casal comum? Ainda somos um casal comum?

Katniss parece levemente ofendida, e sai do restaurante, começando a chorar. Gale e Peeta se entreolham e correm atrás dela. Os figurantes parecem não ter nada para fazer, e vão atrás também, apenas para terem a sensação de que estão ajudando o Distrito 12 ou algo assim.

O tordo começa a assobiar novamente, mas pego a faca da mesa.

— PARA DE ASSOBIAR ESSA PORRA!

E ele cessa na mesma hora, saindo voando do restaurante, e desaparecendo de vista.

— Você precisa relaxar — Alvo me diz, começando a saborear sua macarronada. — Não vamos estragar nosso encontro de hoje, okay?

Me sento na mesa, embicando os lábios.

— Desde quando você conhece gente do futuro?

— Ah, eu e o James estávamos desenvolvendo uma chave de portal que trouxesse nossos personagens favoritos do futuro, sabe — Alvo pigarreia, vendo minha cara nada contente. — Ai deu errado e eles ficaram aqui.

— Da próxima vez, cria uma chave de portal que mande a Katniss para o inferno! — sibilo ameaçadoramente, e Alvo assente com vigor, deixando-me satisfeita.

(...)

Estamos em um cinema lotado, com um monte de gente falando ao mesmo tempo enquanto um filme meloso passa no telão.

É a parte final do dia, e não posso estar mais contente.

Alvo segura minha mão, e em meio à balbúrdia ao redor, se aproxima lentamente. Nossos rostos estão próximos demais, e estamos prestes a cumprir o último ato do dia, quando Decode do Paramore começa a tocar.

— AH MEU DEUS! — Não contenho o berro de irritação.

Então Bella Swan, Edward Cullen, Jacob Black e uma pirralha pálida entram no cinema. O legal é que ninguém parece notar a presença deles. Bons figurantes. Aff.

— Esses eu não conheço não — Alvo engole em seco, se encolhendo em sua poltrona.

— Dá licença — Bella sorri com aquele sorriso de vaca desdentada. — Vocês poderiam nos conceder seus lugares? O cinema está lotado e nossa filhinha quer muito ver o filme.

Olho para a tela, onde uma mulher está amarrada em uma cama, gemendo loucamente.

— Sua filhinha quer ver 50 Tons De Cinza?

— Eu tenho 150 anos. — A garotinha fala, segurando a mão de Jacob.

— Olha então você precisa me passar o seu formol porque com 150 anos eu adoraria parecer uma pirralha de doze — E começo a rir da minha própria piada sem graça, enquanto a família Cullen me encara com olhares de "Por que ela não está no hospício?". — Enfim. Estamos em um passeio romântico.

— Assistindo 50 Tons de Cinza? — Jacob ironiza.

Abro e fecho a boca várias vezes.

— Ou era esse ou era A Culpa É Das Estrelas versão replay consecutivo — Dou de ombros, já me levantando. — Mas, meu encontro já estava acabando.

— E agora vocês vão para um hotel? — Edward pergunta, sorrindo para a esposa Bella.

— Olha, não seria uma... — Alvo começa, mas tapo sua boca com minha mão.

— Não gostamos de quebrar camas por aí — Os encaro com um sorrisinho amarelo. — E nem sou de fazer print com bebês — Dou um tapinha no braço de Jacob.

— É imprinting!

— Ah, tanto faz. Tá na mesma família. Bella, o que você usa no seu cabelo? — Pergunto, interessada. Ela parece lisonjeada, como se eu a tivesse elogiado. — Porque não tá funcionando não. Sabe... Parece que você passou cuspe demais e ele adquiriu um brilho mais legal. E você Edward? Andou passando glitter na cara de novo? Oh meu Deus! Vocês são os personagens mais toscos que eu já vi! Desde quando vampiro brilha no sol? E desde quando um vampiro namora uma garota que nem sorri? Acho que ele fingia que você tava morta, Bella — Meneio a cabeça negativamente. — Sabe, não pergunte porque ele não quis ir para os parangolés com você antes. Vamos amor! — Puxo Alvo pelo braço. — Estou sentindo-me como uma caça em meio a um monte de figurantes que não servem nem para ajudar! Ah, céus, como é horrível — Encaro o telão do cinema, logo que a tal mulher que nem sei o nome desmaia. — E ele só dá um Advil e uma pomadinha depois! É! To spoilando mesmo!

Os Cullen se ajeitam nos lugares, um tanto constrangidos.

Saio do cinema com Alvo.

— Você percebeu? — o Potter suspira aliviado. — Eles não nos chamaram de casal comum.

— É... Mas é que eles já são repetitivos demais. Sabe... A menina fracassada se apaixonar por um vampiro que fica reluzente no sol e um lobisomem que tem relações com uma pirralha de doze anos... Isso é pedofilia, não print!

— Imprinting — Alvo me corrige, suspirando. — Alice, você é doida.

— Eu sei. Mas estou seguindo o roteiro melhor que você — Dou uma cotovelada no braço dele, enquanto caminhamos pela calçada de volta para casa. — Melhores amigos que começam a se gostar... Uma doida que ferra com tudo. A gente vai se dar bem.

— É... Podemos ir para um hotel agora? — Alvo questiona rapidamente, e franzo o cenho. — Sabe, fugir do comum...

— Calado, Potter!

— Okay, okay. Talvez duas semanas...

— Alvo!

— Meses, meses!

E por mais trágico que pareça, vivemos felizes para sempre.

FIM


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