Julie POV

Sabe? É meio complicado acostumar com toda essa coisa de mudança, apesar de já ter lidado com isso muitas outras vezes. Às vezes parece que, quando finalmente consigo me adaptar a um local, criar amizades ali, a vida quer que eu vá para frente. O problema é que já estou cansando dessa coisa de seguir em frente, por mais que seja bom na maioria das vezes. Há muitos obstáculos no caminho e já estou cansada deles, mas continuo sempre mantendo a minha força.

Apesar de que às vezes é bom fugir um pouco da realidade. Desde o dia que cheguei aqui, venho procurando um lugar tranquilo e bastante agradável, para que eu possa ficar com os meus pensamentos. Acredite ou não, mesmo neste fim de mundo, já encontrei. E é aqui onde estou agora, sentada em uma pedra, observando a cidade tranquila, enquanto dorme, onde o único barulho que permanece é a água caindo, e a natureza, que apesar de bela, jamais descansa.

— Por que o mundo é tão pequeno? — me pergunto em um sussurro, ao ouvir o som do trovão.

— Pois ainda há muitas coisas que você não conhece — uma voz diz bem atrás de mim, parece que disse alto suficiente para que uma pessoa ouvisse. — O mundo é semelhante às pessoas, por mais que você passe sua vida inteira ao lado delas, você só descobrirá seus segredos mais profundos com o passar do tempo.

— Você acaba de filosofar — olho pra trás e sorrio. — Parabéns!

— É, talvez — ele sorri, exibindo suas covinhas. — Obrigado!

— Não precisa agradecer — disse. — Você conhece bem o mundo?

— Não, mas uma parte de mim sabe que ainda existem muitas coisas me esperando por aí.

— Claro — disse. — Me dê um exemplo.

— Vejamos... — ele sorri, e faz uma cara de pensativo. — Pessoas novas, culturas diferentes, você sabe, sempre haverá algo novo, não importa onde você for, ou se permanecer no mesmo lugar.

— Sim, eu sei.

— E o que te trouxe aqui em cima?

— Esse é o meu lugar favorito. Gosto de vir aqui para pensar e observar a tranquilidade da cidade. E você, o que lhe trouxe aqui?

— Procurando uma bela vista para fotografar.

— Quer dizer que, além de filósofo, você é fotógrafo?

— Não exatamente, esse é o meu hobby.

— Entendo — respondo e ele sorri para mim.

— Você poderia fazer a gentileza de tirar uma foto minha? — ele pediu, com uma carinha tão fofa que era impossível negar. — Agradeço desde já.

— É claro que eu posso, aliás, o que mais eu faria uma hora dessas, além de pensar? — sorri, e ele me entregou sua Polaroid, e fez uma pose. Logo depois, pediu para que eu tirasse duas fotos, e, é claro, que foi isto que eu fiz.

— Você é uma ótima fotógrafa — ele diz, após eu entregar as fotos, junto a Polaroid.

— Sou nada — começo a rir.

— Se você diz — sorrio. — Aliás, mas uma vez, obrigado pela foto.

— Por nada — sorri, e ele retribui. — Queda de luz, eu odeio isso — digo após a luz de toda a cidade acabar e ficarmos no escuro.

A luz volta rapidamente, e quando percebo, ele não está mais ali. Mas ele havia deixado alguma coisa no chão, uma fotografia. Me abaixo para pegar, e noto que é uma das fotos que eu tirei do garoto. Estava em dúvida e não sabia se havia sido proposital ou não, mas, provavelmente sim, já que ele pediu que eu tirasse duas fotos. Guardo-a no meu bolso, já que não haveria mais uma maneira de lhe entregar.

[...]

Primeiro dia de aula. Em uma escola nova, com alunos novos, tudo novo. E a ansiedade tomava conta de mim, é claro. Mas eu poderia superar, continuo andando pelo corredor em busca da sala da minha primeira aula e, distraída, esbarro em uma pessoa.

— Vê se olha por onde anda! — digo, literalmente, berrando.

— Me desculpe — uma voz masculina responde. — Isso não acontecerá novamente, lhe garanto.

— Obrigada — disse, e me virei para olhar em quem eu havia esbarrado. E não conseguia acreditar, era o garoto de ontem.

— Você — sorri. — O filósofo fotógrafo.

— Eu mesmo — ele levanta o rosto e sorri. — E gostaria que você soubesse que eu tenho um nome, aliás, eu sou o Logan.