Hinata Shouyou estava na universidade a dois meses, e sinceramente, ele estava surtando. A quantidade de professores sádicos que teve a infelicidade de encontrar em suas primeiras oito semanas foi enorme. Já tinha uma pilha de deveres e trabalhos que tinha que terminar de uma vez só, e isso sem contar os treinos para a equipe de vôlei.

O ruivo deu um suspiro, e encarou de soslaio o relógio do outro lado do quarto. Uma da manhã. Estava fazendo todo aquele dever a no mínimo três horas. Voltou o olhar ao gigante amontoamento de trabalho que tinha poucas horas para terminar.

Como que ele teve a brilhante ideia de tentar se formar em uma universidade prestigiosa? Se algum dia encontrasse o seu eu do ensino médio, com certeza que faria de tudo para impedir a decisão de ser tomada.

Respirou fundo. — Vamos lá, Shouyou! Você consegue. Para de procrastinar e foca no dever. — incentivou-se, procurando da garrafinha de água para tomar mais alguns goles.

E foi isso que ele fez nas próximas duas horas. Repetiu o processo de ler, grifar o texto importante, responder as questões, fazer resumos e depois beber água até conseguir (finalmente!) terminar tudo para o dia seguinte.

Considerou adiantar as tarefas para os próximos dias, mas assim que checou as horas, logo desistiu. Eram três da manhã, e de acordo com a sua programação, ele supostamente acordaria daqui a quatro horas.

O jogador de vôlei deu um último suspiro, levantando-se e tentando alongar o corpo dolorido pelas quase seis horas ininterruptas de estudo. — Que tal alguma coisa para relaxar? Um pouco de chocolate quente vai te deixar sonolento em alguns minutos. — murmurou.

Hinata se sentia um idiota falando com si mesmo em alto e bom tom, mas ninguém estava ali para ouvir. Afinal, eram três horas da manhã, e ele esperava que seus colegas de universidade fossem mais prudentes do que ele.

Caminhou em passos lentos e cansados até a cozinha de seu apartamento alugado, e começou a pegar os ingredientes para preparar o chocolate quente. Foi rápido em juntar tudo, ansioso por suas preciosas quatro horas de sono. Agora só faltava esperar o leite esquentar.

Fitou a janela do prédio a frente, que parecia idêntico ao seu. A mesma pintura, número de apartamentos...não ficaria surpreso se os donos fossem os mesmos.

Ainda na espera de seu leite, percebeu as luzes da cozinha oposta serem acesas. Levantou uma sobrancelha. Quem era o idiota que estava acordado até agora? E ainda mais, procurando comida. (Se bem que Hinata não podia falar nada, estando na mesma situação.)

Quase deu um pulo para trás ao ver o rosto de seu colega de sala. Qual era seu nome mesmo? Kagawa Taichi? Kageyama Tobio? Provavelmente o primeiro.

Mas isso não era importante. O importante era que Kagawa Taichi (será?), a única pessoa na universidade inteira que lhe dava arrepios, estava morando no apartamento da frente, e se encontrava no momento encarando ele diretamente.

Mostrou um sorriso amarelo, esquecendo completamente do leite que fervia ao seu lado. O moreno do prédio oposto ignorou o colega de classe claramente assustado, começando a preparar seu copo de café.

No final, acabou por suspirar de um jeito irritado e apontar para Shouyou, que entrou em pânico. Porque o outro estava apontando para ele? O que ele tinha de especial? Por acaso seria sua próxima vítima? Será que amanhã ele seria sacrificado para algum deus ocidental que não conhecia?

Kageyama continuou a apontar para o ruivo, que suava e tremia como nunca. Claramente mais bravo do que antes, ele pegou o fervedor mais próximo e levantou-o para que entrasse no campo de visão do colega de sala.

E foi assim que Hinata Shouyou se lembrou da razão de que viera parar ali em primeiro lugar: tomar uma caneca de chocolate quente. Foi assim também que o ruivo teve que tomar leite muito mais quente do que esperava, e terminou queimando seus lábios.

☆

No dia seguinte, Hinata acordou mais cansado do que quando adormeceu. Tinha um copo sujo na sua mesa de trabalho, e todas suas folhas estavam espalhadas pelo chão. Deu um grunhido prolongado, forçando-se a levantar.

Depois de arrumar o quarto e sua mochila, pegou a primeira coisa que viu de sua geladeira e partiu para a universidade. Estava a ponto de cair no sono bem ali, em pé mesmo. Imagina que sua situação ficasse pior no meio da aula.

Soltou um alto bocejo, e focou-se em seguir na direção atual, ainda que mal via um palmo a frente de seu corpo.

E com isso, acabou por trombar com alguém mais alto do que ele. Engoliu em seco ao perceber a face acusadora do vizinho e colega de classe. — Ka-kagawa-san! Desculpa! Eu não queria esbarrar em você!

— Kageyama.

Confuso, o ruivo levantou os olhos, encontrando-se com as bochechas levemente coradas do moreno. — O que? — deu uma risada envergonhada, coçando a nuca.

— O meu nome não é Kagawa. É Kageyama. Kageyama Tobio. — murmurou, desviando o olhar. — Você é Hinata, não é? Eu te vi treinando com a equipe de vôlei. Você pula bem alto. Mas você precisa de um bom levantador para te ajudar a ganhar.

Shouyou sentiu a própria face queimar, e esboçou um sorriso. — Sério? Muito obrigado!

Tobio voltou o olhar a ele, curioso. — Hinata-san, o que você estava fazendo acordado três horas da manhã? — indagou.

O ruivo olhou para o chão, envergonhado. — Aah! E-eu estava terminando o dever do Shinohara-sensei...e você?

— O mesmo... — o levantador respondeu, imitando o gesto do colega de classe.

Hinata criou coragem para falar, o sorriso em seu rosto começando a surgir novamente. — Se você quiser, da próxima vez a gente pode fazer ele juntos! Que tal? Daí a gente acaba mais rápido, e pode jogar vôlei depois!

— Ok...

— Sabe, eu aprendi uma jogada super legal! Eu venho correndo, e depois a bola vem e faz um gyuun, e shuu! Eu vou te mostrar na hora do treino!

— Sério? Você já viu aquela que vem kyaa, e depois nyuun?

— Ah, ah, já sei!

Com isso se formou a amizade entre Hinata e o vizinho assustador do prédio da frente, que surpreendentemente entendia todas suas conversas sobre o barulho da bola em diferentes jogadas.