Era quase inacreditável para Mokou. Como uma simples humana que não tinha nem metade de sua idade podia ser tão forte? Ao ponto de fazê-la sentir-se perto da morte. Quem era aquela humana de roupas estranhas, que vivia no presente do mundo real?

Sua luta foi indescritivelmente deliciosa. Aquela humana, Sumireko Usami, tão jovem, se mostrou quase tão forte quanto uma imortal. Se seu tempo no mundo real não tivesse acabado naquela noite, talvez estariam lutando até que não pudessem mais aguentar a dor dos ferimentos.

Agora Sumireko havia voltado para seu devido mundo, mas as cartas de Zener que ela havia derrubado em Gensokyo foram um pretexto para que Mokou pudesse voltar a vê-la. A humana de óculos continuou voltando para Gensokyo através de seus sonhos, mesmo que não fosse com seu corpo real. Mokou e a presença espectral de Sumireko continuaram a se encontrar e a se enfrentar. Elas sorriam tão sinceramente toda vez que se viam.

Mokou, sem perceber, sentia-se feliz na presença real e surreal de Sumireko. Tão feliz que até mesmo animou-se em levá-la para explorar o restante de Gensokyo. Lugares que a mortal não conhecia, e a imortal não ia a muito tempo. Cada dia parecia sempre ter uma surpresa aguardando a dupla. Youkais para enfrentar, ou lindas paisagens para serem observadas. Até mesmo se familiarizar com outros habitantes fora da Floresta de Bambus dos Perdidos. Mokou não havia percebido, mas tornou-se muito mais aberta graças à amizade de Sumireko.

A ligação das duas tornou-se tão intensa que até mesmo segredos não eram mais necessários entre as duas. Seus passados e suas vidas, nada mais era um segredo a ser mantido. Apesar de tudo, a imortal não podia mais ir ao mundo real, então a humana lhe contava tudo o que podia sobre a nova geração do mundo. Elas gostariam de explorar o mundo real juntas também, como exploravam Gensokyo. Com certeza os dois mundos haviam muito a mostrar para aquela dupla implacável.

Nos dias em que Sumireko não aparecia, estranhamente nada animava Mokou. A humana logo voltava alguns dias após, e mesmo que fosse apenas sua presença espectral, abraçava sua amiga com intensidade, como se não a visse a anos. Chegava a ser irônico. As duas, que nunca foram de ter amigos, pareciam cair em depressão quando não estavam juntas.

Mesmo quando não tinham muito o que fazer, sempre davam um jeito de se divertir. Por mais que isso se resumisse a trocar ideias. De alguma forma, aquela amizade era tão intensa que Mokou sentia-se uma simples humana novamente, e Sumireko sentia-se uma imortal, querendo que aquilo durasse para sempre...

Sumireko também passou a ajudar Mokou em seu trabalho na Floresta de Bambus dos Perdidos. Levava vários humanos que iam se consultar com Eirin para o Eientei, e depois se juntava à imortal e aos habitantes da Vila dos Humanos para jantar ou para festejar durante a noite. Os meses passavam, sem que as duas percebessem.

Às vezes, a mortal trazia seus apetrechos do mundo real junto com sua presença espectral. Ensinava sua amiga a jogar nos consoles, tipos diferentes de jogos. Trazia comidas de seu tempo para que as duas pudessem comer juntas. Livros de diferentes tipos para lerem. Músicas para ouvirem. E em retribuição, a albina lhe mostrava os costumes de Gensokyo. As comidas, os livros, as músicas daquele mundo selado.

Parecia não haver amizade mais perfeita. Ambas apegaram-se de forma que não conseguiam mais se ver de volta à suas antigas rotinas. Era um sentimento tão puro e tão honesto.

A chuva que as duas aproveitavam, ou com um guarda-chuva para dividir, ou brincando nas poças, trazia a deliciosa sensação de despreocupação. Poderiam ficar ali eternamente, esquecer do restante do mundo, apenas a se divertir. Ao mesmo tempo que eram tão distintas uma da outra, pareciam se entender tão bem.

Logo, os que melhor conheciam Mokou sempre sabiam que ela estaria acompanhada do espectro da menina do mundo real. Não a julgavam. Era bom ver a imortal sorrindo, depois de tanto tempo em solidão e tristeza. Até podiam jurar que havia um sentimento a mais conectando as duas.

Os habitantes do Eientei também já haviam se acostumado com a presença de Sumireko ao lado da albina quando humanos eram levados até lá. As duas coelhas pareciam indiferentes a respeito, mas vez ou outra, partiam para se aventurar com a dupla e voltavam apenas no fim do dia. Eirin parecia contente com a nova amizade de Mokou, sempre as tratando gentilmente e até mesmo as convidando para entrar e lanchar.

Kaguya, porém...