Um Coringa na festa das Cartas escrita por V M Gonsalez


Capítulo 1
O Triste fim de minha Humanidade


Notas iniciais do capítulo

Para aqueles que estão presos,...



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Eu estava sentado calmamente em meu pequeno e bem bagunçado escritório quando, de repente, como um súbito grito de uma banshee atormentada, senti algo se remoer e entrar em colapso em meu peito. Temendo as garras frias da Senhora Morte, agarrei-me ao que me restava de vida com todo o empenho de um faminto a um pedaço de pão. Cai no chão rolando de dores insensíveis que laceravam minha carne, mas que eu não sentia.

Após minutos de meu frustrado teatro, algo no fundo de meu peito chamou, choramingando. Era se não meu pulsante coração rubro, que carregava pesado o fardo de uma noticia triste.

- Senhor... Tenho péssimas noticiais...

Temendo o pior, voltei a sentar-me em minha cadeira, procurando tinta e papel para redigir minhas argumentações de defesa contra o diabo. Antes que eu pudesse me empenhar verdadeiramente na minha legítima defesa, meu companheiro acanhado chorou devagar:

- Senhor... Sua humanidade... Ela morreu.

Com aquelas singelas palavras de meu honesto coração, larguei imediatamente a caneta sobre a mesa, enquanto o papel engordurado em que escrevia escorregava para o chão. Será que aquilo estava certo? Será que, depois de tantos anos dessa vil podridão de espírito, eu estava finalmente livre? Um sorriso de satisfação maléfica se esboçou em minha face sombria, enquanto eu me levantava mais uma vez da cadeira.

Isso era simplesmente maravilhoso! Minha mente doente começou a fervilhar em continuo delírio para as portas sagradas que se abriam agora diante de meu rosto. A humanidade, sem qualquer sombra de dúvida, sempre fora meu maior e pior inimigo, o mais implacável e o mais teimoso, pois recusava-se em admitir sua derrota diante de minha inquestionável vitória. Mas agora, meu maior inimigo repousava sabe-se lá onde o diabo o tinha, o que importava é que estava longe de mim.

- Mas senhor... Sem sua humanidade, como poderá amar?

Meu pobre e inexperiente servo, meu pobre e doente coração, parecia não entender o que aquele feito notável, nosso maior triunfo contra nossa Nêmesis significava. Quem precisava de amor, quando havia fantasia a rodear os ares em confusão aromática eterna? Quem precisava de ódio, quando existia o singular mistério do impreciso? Quem precisava de humanidade, quando as irresponsáveis pulsações da alma gritavam e choravam pedindo por libertação?

Meu tristonho servo pareceu consentir de cabeça baixa, ao meu entusiasmo febril. Eu não me preocupava, porém, com ele, pois logo ele perceberia o que nosso grandessíssimo feito significava. Uma grande carga horária a menos para ele, com certeza, e uma bem vinda e relaxante massagem para mim. Meus dedos festejavam em convulsão movimentar enquanto eu andava pelo meu escritório arrumando algumas coisas para aquela noite de comemoração.

Afinal, havia muito a se fazer agora, sem se preocupar com o que é ser humano.


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Notas finais do capítulo

...e querem se libertar.



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