Replay escrita por Mrs Days


Capítulo 1
15/09/2013


Notas iniciais do capítulo

Nova One Shot. Depois de bater a cabeça mil vezes, decidi o enredo para o concurso. Espero que gostem.



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O despertador ao meu lado tocou, fazendo-me gemer de cansaço, porém estava feliz. Era o meu aniversário de dezoito anos. Abri um dos olhos e reclamei pela luz que atravessava minha janela diretamente para o meu rosto, porém o barulho de meu despertador era o foco da minha atenção momentânea. Assim que o desliguei, tive o prazer de contemplar o dia perfeito.

Era domingo e, melhor do que isso, amanhã seria o dia do jogo de futebol da final da minha escola. Só de imaginar todos torcendo por mim na arquibancada já fazia os meus músculos ficarem tensos de ansiedade. Porém, tinha um motivo para — naquele momento — meu estômago estar revirado.

Iria contar toda a verdade a Honor, incluindo o fato de estar perdidamente apaixonado por ela.

Era fácil reviver o dia em que nos conhecemos. Ela era a típica garota nova, introvertida e reservada, enquanto eu seguia com o meu status de quarteback ao lado dos meus amigos do time. Ela deveria ter sido só mais um rosto passando por entre os corredores, entretanto havia algo em seus olhos castanhos que me instigaram à aproximar dela.

Honor era complicada. Uma resposta na ponta da língua sempre a acompanhava juntamente com os fones de ouvido e a atitude rebelde — que era destacado com os seus cabelos coloridos. Não tinha nada que me fizesse ficar longe dessa garota, nem mesmo quando ela deixou claro para a escola inteira que minha pele nunca teria o privilégio de tocar a sua. Foi nesse momento que ela se tornou um desafio, por mais que eu sempre demonstrasse que sua amizade bastava — por mais que não fosse a total verdade.

— Cotton, venha até aqui, querido — minha mãe gritou do andar de baixo.

Reprimindo a preguiça, espreguicei-me e cocei meus olhos azuis, soltando um último bocejo. Meus pés tocaram o chão gelado, mas não me importei. O tempo estava quente. Antes de descer, olhei com pesar para o meu computador que tinha estragado na semana passada. Imaginei quantas festas estaria perdendo, já que meu celular tinha tido o desprazer de cair na privada enquanto digitava uma mensagem para Honor e tentava mijar ao mesmo tempo.

Já que as pessoas não eram adeptas a ir até a casa das outras, já sabia que não falaria com ninguém por hoje. Esperava que pelo menos Luke usasse aquelas pernas magricelas para vir comer bolo comigo, além disso tinha que contar o que tinha decido. Terminei de descer as escadas e encontrei minha mãe de costas para mim, fungando enquanto colocava as velas com os números um e oito no bolo que aparentemente era de morango. Não fiquei muito surpreso por ela estar assim. Minha mãe sempre foi uma pessoa muito emotiva e em aniversários era pior ainda.

— Bom dia, mãe — abracei-a e dei um beijo em sua bochecha. Ela forçou um sorriso e me deu um abraço apertado. — Papai ainda está viajando?

Ela assentiu com dor em seus olhos. Eu a entendia. Também odiava as viagens periódicas de meu pai. Minha mãe limpou a lágrima no canto do olho e respirou fundo com o intuito de mostrar que estava bem.

— Ele mandou uma mensagem de feliz aniversário — ela apontou para o telefone que tinha uma luz piscando. Dei um sorriso fraco. — Feliz aniversário, querido. Como está se sentindo?

Dei de ombros.

— Na verdade, bem. — sorri e passei o dedo pela cobertura do bolo, pondo na boca e fechei os olhos saboreando o gosto doce — Honor ligou?

Minha mãe limpou a garganta.

— Não. Mas vai ligar, querido. Eu que te acordei cedo demais, ela deve estar dormindo ainda.

Assenti, sabendo que era verdade. Honor era uma verdadeira dorminhoca quando queria. Ainda assim, não pude me impedir de pressionar os lábios juntos e lamentar. Queria que sua voz fosse a primeira que eu escutasse me dando os parabéns. Não tinha problema, em breve a veria. Meus pensamentos foram interrompidos pela porta da frente se abrindo e a voz de Luke atravessando o corredor.

— Hey, Cotton — ele gritou entrando na cozinha. Sorriu para minha mãe, beijando sua mão — Senhora Dixon. — cumprimentou-a.

Trombei o meu ombro no dele.

— Pare de cortejar minha mãe — alertei.

— Cotton! — minha mãe repreendeu com as bochechas coradas — Não precisa me defender. Luke, pare de me cortejar apenas para comer o bolo — ela apontou para a mesa — Podem se sentar e comer.

Ergui uma sobrancelha, estranhando.

— Sem parabéns?

Minha mãe me deu um olhar sombrio antes de se virar para saída.

— Você não quer esperar Honor?

Sorri, feliz.

— Claro.

Minha mãe saiu antes que eu pudesse dizer algo, mas escutei-a fungando mais uma vez. Emotiva. Aproveitei que estava sozinho com Luke e resolvi falar sobre a decisão que tinha tomado antes de dormir. Meu melhor amigo estava concentrado em seu pedaço de bolo e não pude deixar de reparar que ele parecia monstruosamente maior do que da última vez que nos vimos — que tinha sido ontem. Preferi não comentar.

— Luke, precisamos conversar.

Por um segundo jurei ter visto os seus membros se tencionando.

— O que é? Vai sair do time antes de grande jogo? — caçoou dando outra mordida em seu pedaço de bolo — Ou quer desfazer os nossos planos de ficar jogando vídeo game o dia inteiro, treinando nossos já habilidosos dedos?

Suspirei, desviando os meus olhos dos seus.

— Não é isso. — engoli a seco, tomando coragem — Vou contar hoje a Honor que nos aproximamos por causa de uma aposta. Ela merece saber, sabe? Eu era imaturo e estava com raiva por causa daquilo que ela disse na frente da escola inteira. Ela tem que saber que minhas investidas só eram por causa de uma aposta. Ok, eu perdi, mas me sinto culpado por ela sempre ser sincera comigo e eu guardar esse segredo.

Luke suspirou e seus olhos verdes pareceram momentaneamente cansados, como se ele estivesse carregando o peso de uma vida. Talvez eu não fosse o único que se sentisse culpado. Seus dedos moveram-se por seus cabelos loiros e ele me deu um olhar sério.

— Você quer mesmo fazer isso?

Assenti com certeza.

— Luke, eu a amo e você sabe disso. — ele mexeu a cabeça, desviando o olhar — Se vou lutar de verdade para estar com ela, tem que ser do jeito certo. Incluindo contar a verdade sobre a aposta.

Pensei que ele iria se irritar e dizer que eu estava tomando uma decisão estúpida. Ao invés disso, pôs a mão em meu ombro e deu um leve aperto.

— Tudo bem. Assim que a Colorida puser os pés aqui, você conta que está pronto para ser o seu escravo do amor. — ele deu um sorriso e voltou a atenção para o bolo.

Continuei estranhando.

— Cara, está tudo bem? — questionei, cruzando os meus braços. — Você parece abalado com essa decisão. — arregalei os meus olhos. — Você também está apaixonado por Honor?

Ele deu um soco em meu braço.

— Só não quero ser trocado aos finais de semana porque você está se agarrando com a Colorida. — ele se levantou, dando o assunto por encerrado — Vamos subir. Antes que se torne um homem comprometido, quero te dar uma última coça no vídeo game.

*******************

Honor não ligou, nem apareceu. Pedi para Luke ligar para o celular dela, porém só dava na caixa postal. Fiquei preocupado, mas nem tanto. Ela tinha dito ontem que estava preparando a surpresa que mudaria minha vida, então aparecia de madrugada. Só que, quando eram cinco para meia-noite e Luke se despediu de mim com pesar nos olhos, tive minhas dúvidas.

Será que ela tinha se enrolado com a surpresa? Nem me dei ao trabalho de indagar sobre a ausência do meu time e de algumas garotas da torcida. Ninguém importava, apenas Honor. Ao final da noite, tudo o que me restou foi trocar de roupa e deitar, esperançoso que acordaria com ela jogando um balde de água em meu rosto e dizendo o quanto os jogadores de futebol eram mariquinhas.

********************

O despertador ao meu lado tocou, fazendo-me gemer de cansaço, porém estava feliz. Era o meu aniversário de dezoito anos. Abri um dos olhos e reclamei pela luz que atravessava minha janela diretamente para o meu rosto, porém o barulho de meu despertador era o foco da minha atenção momentânea. Assim que o desliguei, tive o prazer de contemplar o dia perfeito.

Iria contar a verdade a Honor. Que no início, quando ela me achava um idiota aproveitador, era apenas o Cotton-jogador-de-futebol-Dixon falando por conta de uma aposta estúpida. Só que eu a amava e ela merecia saber a verdade de minha boca.

**********************

— Luke, vou contar a verdade a Honor — revelei vendo-o tirar a atenção do bolo e me encarando. Levantei-me e fui escutar a mensagem do meu pai: Hey, campeão. Pena que não estou aí para te dar um abraço, mas saiba que receberá um belo presente assim que eu voltar à cidade. Parabéns, Cotton — Obrigado, pai. — encarei meu amigo, voltando ao assunto — Eu a amo, Luke, por isso ela merece saber que, no início, era apenas uma aposta idiota entre jogadores de futebol. Só que a ligação que sinto por ela, não é. Ela é minha melhor amiga — depois de você, claro — e precisa saber que estou apaixonado por ela.

Esperei pela fúria que não veio. Luke apenas deu de ombros — que pareciam terrivelmente maiores desde a última vez que tinha o visto ontem.

— Só não se torne um submisso de amor e me troque.

**************************

Honor não apareceu naquela noite. Assim que deu cinco para meia noite, Luke foi embora e eu troquei de roupa, me deitando. Não ligava que ninguém do time e nem as garotas da torcida tinham vindo me visitar. Só Honor importava. Tinha esperança de que ela me acordaria com um balde de água, dizendo o quando os jogadores de futebol eram mariquinhas.

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Acordei com o barulho irritante do despertador, porém ao relembrar que dia era hoje, aquilo não importou. Era o meu aniversário de dezoito anos e amanhã era o grande jogo. Só que aquele era o dia D também por estar ansioso para ver Honor e contar o que sentia e a grande verdade.

Lamentei por estar com o celular e o computador quebrados, estava ansioso para ver os recados que deixaram-me. Estava caminhando para a cozinha quando algo no canto de minha cama chamou a minha atenção. Inclinei-me e percebi que era o celular de Luke. Franzi o cenho. Não me lembrava dele ter entrado no meu quarto no dia anterior.

Apertei o visor e a confusão me abateu ao ver a data que marcava. Três de dezembro de 2015. Isso era loucura, já que estávamos em 2013. Ignorei. Luke e a sua mania de querer ser inovador com as coisas.

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— Hey, cara, você deixou seu celular no meu quarto — disse assim que Luke atravessou o batente da cozinha. Vi seus músculos — que estavam assustadoramente grandes desde a última vez que o vi — se tencionando, junto com a respiração de minha mãe que parou. — Como você fez isso? Esteve no meu quarto enquanto eu dormia? E essa coisa de 2015 na data? Ensina-me depois a fazer isso para enganar os trouxas e dizer que sou do futuro — eu ri.

Porém ri sozinho.

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Hey, campeão. Pena que não estou aí para te dar um abraço, mas saiba que receberá um belo presente assim que eu voltar à cidade. Parabéns, Cotton.

— Acho que vou ganhar um carro. Esse vai ser o jeito do meu velho compensar o tempo que passa fora. — disse para Luke enquanto ele tinha a atenção totalmente voltada para o seu pedaço de bolo. — Luke, vou contar a verdade a Honor hoje. Eu a amo e quero que ela saiba da estúpida aposta que fizemos. Quero que tenhamos um relacionamento, porém ela tem que confiar em mim e tenho que ser sincero com ela.

Fiquei em silêncio, torcendo para que ele não surtasse. E ele não o fez. Apenas deu de ombros.

— Boa sorte, cara. Só não se torne um submisso do amor.

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Honor não apareceu naquela noite e Luke já havia ido embora. Ele parecia bem cansado, com olheiras. Talvez fosse por ficar acordado até tarde conversando com alguma das líderes de torcida que dava mole para ele. Não me importei que ninguém do time veio me dar os parabéns, muito menos as líderes de torcida. Apenas Honor importava.

Deitei esperando o momento em que ela jogaria um balde de água em mim e diria o quanto os jogadores de futebol eram mariquinhas.

*************************

Acordei antes de o meu despertador tocar. Talvez fosse a ansiedade por ser um dia especial. Era o meu aniversário de dezoito anos. Porém isso não me impedia de estar um pouco nervoso. Iria contar a verdade a Honor. Esperei que os raios solares invadissem o meu quarto e machucassem os meus olhos, porém tudo o que senti foi o vento frio.

Estranhando, fiquei de joelhos em minha cama e vi que tudo estava tomado pelo branco da neve. Confuso, mentalmente fiz as contas de cabeça e percebi que faltava mais de três meses para o inverno. Isso atrapalharia o nosso jogo de amanhã. Desistindo de entender as estações do ano — Honor com certeza poderia me explicar quando chegasse aqui — resolvi descer antes que minha mãe me gritasse.

Encontrei-a na sala, de costas para mim, falando no telefone. Por mais que forçasse a sua voz a ficar baixa, sabia que estava exaltada.

— Peter, temos que deixar nossas diferenças de lado e cuidar do nosso filho. Não vai te fazer nenhum mal sair de sua família perfeita por um dia e vir visitar seu filho no aniversário dele. — ela passou o dedo pela ponte do nariz — Hoje talvez seja um dos dias difíceis, já que o tempo mudou. Ele vai perguntar por ela e teremos que contar a verdade. — ela pausou, o escutando — Eu sei que você odeia fazer isso. Acha que é fácil ter um filho que vive preso em um dia e não sabe que tem quase vinte e um anos? Que é fácil fazer um bolo todos os dias apenas para ele não estranhar? Que não dói mentir para ele dizendo para esperar a melhor amiga que nunca vai aparecer?

Minha garganta secou com a menção a Honor e tropecei nos últimos degraus, atraindo a atenção de minha mãe. Ela arfou e desligou o telefone sem se despedir de meu pai. Esperei que ela se desesperasse — como eu estava — entretanto ela estava perfeitamente calma.

— O quanto você escutou, Cotton?

Passei as mãos por meus cabelos escuros.

— Eu vivo preso no mesmo dia e tenho vinte e um anos. Você me faz um bolo todos os dias. E — pausei, respirando fundo — Honor não vai aparecer. — sentei nas escadas, pondo a cabeça por entre as mãos — O que você quer dizer com isso?

Escutei seus passos, até que suas sapatilhas entrassem no meu campo de visão.

— Cotton, você sofreu um acidente de carro no dia do seu aniversário — ela hesitou e estalou a língua — E Honor estava com você.

Soltei uma lamento baixo, sentindo os meus olhos se enchendo de água.

— Mas eu nem tenho carro.

— Seu pai apareceu de noite e lhe deu as chaves de um carro novo de presente. — Ela pôs a mão em meu ombro e me obriguei a encará-la. Seus olhos pareciam cansados. Na verdade, ela toda parecia cansada. — Honor apareceu minutos depois e você estava ansioso para contar o que sentia.

— Honor estava dirigindo — Luke acrescentou fechando a porta com cuidado e andando vagarosamente. Surpreendi-me com o quanto ele havia crescido — Ela insistiu e você não conseguia dizer não à Colorida. Você deveria estar contando sobre a aposta que fizemos e ela perdeu o controle, batendo diretamente na árvore.

Não consegui mais me controlar e comecei a chorar.

— Você teve uma lesão no lóbulo temporal e ficou com amnésia anterógrada — minha mãe continuou com o relato — Todos os dias você acha que é o seu aniversário.

— E Honor? — perguntei soluçando.

Ao invés de responder, todos desviaram os olhares de mim. Meu choro se tornou ainda mais alto. Eu nem tinha me declarado para ela. Todos os planos que tinha feito em minha cabeça eram apenas esperanças rasgadas. Fechei os olhos, querendo lembrar o que havia acontecido, porém tudo o que vinha em minha cabeça eram o quanto os seus olhos castanhos brilhavam quando ela sorria e o quanto achava os seus cabelos tingidos de rosa bonitos. E nunca mais veria isso.

— Há quanto tempo faz isso?

— Dois anos, cara — Luke respondeu. — E respondendo sua próxima pergunta, sim, talvez você possa voltar ao normal, mas o médico não deu garantias.

Naquele momento, quis que o médico tivesse razão.

Levantei-me, passando o braço pelo rosto querendo limpar as lágrimas.

— Leve-me até Honor. Preciso vê-la.

Luke não parecia surpreso com o meu pedido. Apenas pegou as chaves em seu bolso e caminhou até a porta.

***********************

Honor Hilary Carter, boa amiga e filha. Sentiremos sua falta.
09/04/1996 – 15/09/2013

Coloquei as flores em seu túmulo e fiquei encarando a pedra. Sentia a vaga presença de Luke atrás de mim e por um segundo agradeci por isso. Não sabia o que faria se estivesse sozinho.

— Então, vocês fazem isso todos os dias? Parabéns e bolo? — perguntei encarando-o.

Luke assentiu.

— Todos os dias você fala de Honor. Que vai se declarar e contar a verdade sobre a aposta. Eu deveria ter lhe impedido, só que preferi largar de mão. — ele passou as mãos pelos cabelos.

Botei uma mão em seu ombro.

— Não foi culpa sua. Foi do meu péssimo timing — demos sorrisos tristes um para o outro e voltamos a olhar o túmulo, em silêncio. Suspirei alto. — Luke, o que vai acontecer amanhã?

Ele me olhou pelo canto do olho.

— Você vai esquecer e será seu aniversário de novo.

Abaixei os olhos para o nome de Honor. Por um segundo jurei ter escutado o seu riso baixo em meu ouvido.

— Então quero logo ir dormir.


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