Percebi ontem que não coloquei cabeçalho na carta anterior. Bem, o arquivo do Word nunca me lembra de colocar essas coisinhas que a etiqueta das cartas pede - e que nos e-mails não são necessárias. Então talvez eu faça o resto por e-mail. Sei lá, você vai descobrir quando chegar aí. O importante é que você leia - e não responda - e eu sei que tanto seu correio, quanto seu e-mail, são religiosamente verificados todos os dias, não é mesmo?

Bem, eu te dei um spoiler na carta passada, não foi? Sim, eu tranquei jornalismo. Porque? Não era pra mim, Syaoran! Assim como Educação Física, Administração ou qualquer outro curso que eu tentei nesse tempo. Desculpa te iludir por tanto tempo, mas acho que graduação não está para mim e nunca esteve. Talvez essa tenha sido uma das minhas lacunas mais fáceis de notar, porque se você me conhece tão bem quanto eu espero que conheça, notaria que eu nunca fui disciplinada o bastante para gostar de me comprometer dessa maneira com os estudos.

Eu ando fazendo cursos de culinária, para falar a verdade. Não te obrigam a entregar relatórios e monografias, e ainda por cima Tomoyo está me ajudando a ganhar algum dinheiro com isso. Ela compra minhas tortinhas e afins para revender aos funcionários da empresa dela no café - e se você quer saber, eu estou fazendo um certo sucesso por lá.

Eu não te contei antes sobre toda essa mudança de rumo porque ainda está fresco na minha memória o seu discurso de porque-você-deve-ter-um-curso-superior. Olhe, se eu entrar em algum agora talvez seja gastronomia. Mas ainda assim eu preferia ficar só na área de confeitaria e pra mim estava bom. Os trabalhos universitários são muito chatos, Syaoran! Não sei como você aguenta. E por mais divertido que seja fazer reportagens em festivais e olhos de furação, não estava mais valendo a pena para mim passar quatro ou cinco anos estudando para isso.

Tá bom. Na verdade tem mais um motivo para eu ter saído da universidade sem te contar.

E ele é meio vergonhoso.

E eu disse que ia contar, a Tomoyo disse pra eu contar, até o Yue, quando eu perguntei, disse que eu deveria contar. Na verdade ele disse que eu deveria ter ido até você nesse meio tempo para ter uma boa conversa. Mas vamos fingir que não sabemos o quanto eu fiquei covarde depois que minhas missões de cardcaptor acabaram. Anh. Então.

Quando eu te falei que não era questão tempo-espacial, mas de sentimentos, era também sobre esse tipo de coisa que eu queria falar. Eu não gosto menos de você - eu olho suas redes sociais e suas fotos com uma frequência que te deixaria com medo, e não lisonjeado. Mas os sentimentos, tais como as lembranças, ficam confusos com muita facilidade, principalmente com pessoas como eu. E eu andei muito confusa nesses tempos.

Havia um colega (isso vai ficar estranho) no curso - que eu só fui perceber depois da terceira fase, sério - e que, de acordo com a Tomoyo (você sabe o quanto eu sou tapada), investia alto em mim. E, como eu sou tapada, só percebi um bom tempo depois. E eu fiquei bem aflita. E eu não deixei de pensar em você por isso. E é engraçado porque apesar de tudo isso que eu preciso de te contar, Syoran, apesar de todo tempo-espaço e sentimentos, tudo é sobre você. Quando essas coisas aconteciam, era em você que eu pensava primeiro. E não importa o quanto eu fale das lacunas e de não esperar mais e ainda diga um tanto de besteiras: eu penso em você, Syaoran, mais do que minhas lacunas E não lacunas deixam transparecer.

E eu sei que isso parece não fazer realmente sentido, e eu disse que estava confusa, e é por não saber como dizer todas essas coisas que eu preciso é que eu evitei tanto começar essa carta. É porque eu sempre penso em você primeiro MAS:

O problema é que depois eu preciso pensar nas outras coisas.