Elementar escrita por LunaLótus


Capítulo 10
Poder manifestado


Notas iniciais do capítulo

"O sinal, o segundo chamado, quando um Elementar controla o seu Elemento pela primeira vez. Significa que... Que ele está pronto, ou que corre grande perigo se continuar onde está. O Elementar deve partir o mais rápido possível. Mas você ainda não está pronta. Então, só posso supor... Que o governo tem uma boa ideia de quem você é, e está vindo buscá-la."

P.S.: Desculpem o capítulo grande! Prometo que vai valer a pena!



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Thaís chega aos três portais de reconhecimento da sua casa com lágrimas nos olhos. Sua mente está confusa e ela sente medo até da própria sombra. Para em frente ao portão da rua e espera o reconhecimento da sua temperatura corporal para que possa ir para a segunda fase. Depois que sua presença é detectada, avança por um jardim estreito.

– Código, por favor – diz a máquina, com uma voz robótica.

Thaís desenha um símbolo no ar, que fica brilhando fracamente com uma luz dourada:

Ela olha enquanto ele desaparece lentamente. Lembra-se de como o escolheu. É uma letra grega, disso ela tem certeza. Não sabe direito como o viu, ou quando o viu, mas se recorda de ter reconhecido como a letra T. Mas Thaís não escolheu esse símbolo por isso. Ela o quis porque aquele alfabeto já havia há muito sido esquecido. Não existia mais qualquer registro ou coisa parecida. Ela o viu em um dos apontamentos de seu pai, e foi Augusto que explicou a história daquela letra.

– Essa letra tem muita história, minha filha. Faz parte de um alfabeto dos primeiros grandes filósofos que já se teve conhecimento. Platão, Sócrates, Aristóteles... Essa é uma letra grega antiga. Não sei dizer qual exatamente, é um alfabeto muito complicado.

– Mais alguém o conhece? – ela perguntou.

– Não, ninguém. Ninguém dá mais valor a essas coisas simples e que foram tão importantes na evolução da inteligência, Thaís. Infelizmente, infelizmente... Os gregos antigos tiveram histórias fantásticas!

– Que histórias?

– Histórias de coragem, sabedoria, heroísmo, mas principalmente com lições de vida. Por mais que, no início, você não enxergue esses ensinamentos, eles estão ali, esperando para serem descobertos. Um dia, eu lhe contarei todas. Hoje, sua mãe está nos esperando para o jantar. Vamos?

A lembrança se foi. Thaís chora agora por causa da saudade de seu pai. É um homem tão bom, tão inteligente... Ela se sente culpada por fazê-lo sair de casa. A letra desaparece totalmente e a máquina de segurança a deixa passar. Ela avança por um pequeno corredor e chega à ultima fase.

– Identifique-se, por favor – pede a máquina.

Thaís, com o rosto ainda manchado por lágrimas, coloca a mão sobre um ponto na porta fria de metal polido. Exerce uma pequena pressão com os dedos e relaxa a mão. Lembra-se da sua mãe falando:

– Cada pessoa exerce uma força diferente, e seus músculos exercem tensões de maneira diferente. É claro que isso é mínimo, mas não é o seu corpo. É como sua mente ordena para que faça o movimento.

Thaís balança a cabeça para expulsar a imagem da mãe. Sente falta dela, mas não quer se sentir fraca. Espera um pouco. Depois de alguns segundos, a porta desaparece completamente e a máquina diz:

– Bem vinda, Thaís.

A jovem passa pelo portal correndo e se joga no sofá. A porta se materializa novamente, mas ela não se preocupa. Está acostumada com aquilo. Thaís se deixa estar deitada, inconformada com a guerra, com a sua situação e com tudo que está lhe sendo tirado.

E agora sente medo também. Medo de que Alexandre descubra sobre seu chamado e sua família. Medo de que aconteça algo aos seus pais e à Renato. Medo de não ser capaz de encontrar os outros Elementares, ou que não consiga chegar à base. E, o pior deles, medo de não voltar para casa.

Droga de guerra, droga de andróides, droga de chamado!, pensa. Sua vida está sendo destruída, levada aos poucos, roubada! Ela levanta a cabeça e olha para a parede branca logo a sua frente.

– Não tem jeito – murmura, a voz embargada, mas firme. – Se eu quiser acabar com isso, terei que ir para a guerra. Não me deixarão em paz nunca. Preciso ir e preciso vencer. E eu vou vencer.

Thaís senta-se no sofá e enxuga o rosto. Renato não pode vê-la assim. Tenta manter uma postura normal por mais tempo possível. Levanta-se e caminha um pouco pela sala para relaxar. Vai à cozinha, bebe água e retorna ao sofá. Está inquieta. Seu namorado está demorando. Tenta relaxar e se descontrair, mas não consegue.

Ela levanta e vai até um pequeno armário altamente tecnológico. Olha para ele, pensando nos Elementares, em sua família, seu namorado, sua missão e, agora, a decisão que acabara de tomar. Thaís digita a sua senha, e a porta do pequeno cofre desliza silenciosamente, revelando um livro antigo. Ela o pega e olha carinhosamente. O álbum de família. Alisa a capa e volta ao sofá.

Thaís está apreensiva. Renato não pode vê-la fazendo isso. Ele vai pensar que ela já vai partir, vai tentar impedi-la e tornar tudo ainda mais difícil. Ela suspira e abre o álbum cuidadosamente.

Na primeira foto ela está abraçada com Thaíssa. Thaís olha o sorriso da sua irmã e lágrimas querem jorrar novamente, mas ela se controla e passa a página rapidamente. Seus pais aparecem na próxima foto. E então Thaíssa brincando, ela chorando... Agora já não olha as imagens. Procura desesperadamente o que seu pai indicara.

– Isto vai ajudá-la quando você precisar partir. Não pegue até que tenha certeza que deve ir – dissera ele.

Thaís continua passando foto após foto. Está ficando impaciente e olha para a porta, ansiosa. Volta sua atenção para o álbum, vira mais duas páginas e para, com os olhos arregalados e a boca aberta.

Ali, bem ali, no meio do álbum, está um buraco propositalmente recortado, totalmente milimetrado, um quadrado perfeito, como uma caixa. Não existem mais fotos. Dentro da suposta caixa escondida, acomodada em uma almofada vermelha, há uma pequena chave, muito delicada. Thaís vira a cabeça para a porta novamente, mas seu olhar recai sobre o estranho objeto. Ela não entende. Como uma chave irá ajudá-la?

Thaís olha em volta. Não há nada que possa indicar uma resposta. Repassa a imagem de seu quarto mentalmente, mas ali também não há nada. Nem no quarto de seus pais. O que poderia ser? Ela pega a chave e analisa o seu formato. Pequena demais, não há nada aqui que possa ser aberta com isso.

A jovem abaixa a cabeça e sua mente dá um estalo. Ela olha o próprio braço, mais precisamente o seu pulso esquerdo. É claro! Ela não pode partir usando isso! Poderiam rastreá-la muito fácil! O mini-computador, o rastreador, a arma de controle do governo. Ela tem que tirá-lo.

Thaís gira um pouco o pulso e tenta ver onde a pequena chave se encaixaria. Depois de muito exame, consegue vê-la. Bem ali, ao lado do visor, uma fissura minúscula, que ninguém jamais perceberia se não soubesse o que está procurando. Finalmente livre, pensa. Está quase girando a chave, quando escuta um barulho.

– Renato! Ah não! – sussurra ela para si mesma, apreensiva.

Ela coloca desajeitadamente a chave no álbum, fecha a capa, levanta-se correndo e o guarda em seu cofre. Digita a senha para trancá-lo e corre para a cozinha a fim de beber uma água.

– Bem vindo, Renato – escuta a voz robótica saudá-lo.

Seus pais pensaram realmente em tudo. Até cadastraram Renato no sistema de segurança da casa. Como poderiam ter adivinhado o quão importante ele seria, ela jamais poderia sonhar. No entanto, eles acertaram. Depois de poucos segundos, Thaís o escuta:

– Thai? Você está aí?

– Estou aqui. Na cozinha – responde ela, ajeitando o cabelo.

Thaís escuta passos lentos e logo pode ver Renato. O corpo dela está tenso, mas ela está com um sorriso nos lábios que mistura alívio e nervosismo. Espera que ele entenda a expressão como causada pela demora dele e não por outra coisa.

Renato chega perto dela na bancada e pergunta:

– Oi, está tudo bem?

– Sim. Você demorou...

– Desculpa.

Ele a beija, e se dirige até a mesa, senta-se e pega uma maçã para mordiscar.

– Então o que esteve fazendo a tarde toda? – pergunta ele.

Thaís vira de costas, fingindo lavar o copo, para que ele não encontre nada demais em seu rosto. Assim como Alexandre, Renato tem o dom de desvendar suas expressões. E assim como acontecia com Alexandre, ela se sente nervosa, quase vulnerável, com aquilo. Respira fundo e dá de ombros.

– Caminhei pela praça, vi algumas crianças brincando, conversei com algumas pessoas... – Conversei com uma pessoa, corrige-se mentalmente, e continua. – E como foi na casa de seus pais?

– Como sempre. Parece que desde o dia em que vim para cá, a situação lá se agravou. Brigam quase todo minuto agora.

– E seu pai foi despedido? Por causa do acidente na Purys...

– Foi. Também não havia o que fazer. Não havia provas a favor dele.

– E havia contra? – Thaís vira-se para Renato, a expressão dura. Falar sobre aquele sistema a deixava com muita raiva.

– A máquina quebrou. Você sabe como é esse sistema. Agora a lei é outra. Eles não procuram algo que incrimine, mas algo que inocente. Se não há provas para inocentá-lo, ele é o culpado.

– Mas isso é tão injusto!

Ela joga o pano que estava na mão para o lado. Está tão revoltada que suas mãos chegam tremer. Não consegue acreditar que vive nesse mundo hipócrita, doentio! Esse governo é um insulto à dignidade das pessoas! Como tantos podem aceitá-lo? Ela quer destruí-los, bani-los da face do planeta!

De repente, o ar da cozinha começa a ficar mais denso. Os papéis que estão espalhados numa pequena bancada mais adiante começam a cair e voar pela sala. Renato coloca as mãos nos olhos para protegê-los. A temperatura cai drasticamente e a jovem começa a bater o queixo.

Thaís olha, escandalizada, para o chão. Como em um filme antigo, está se formando um pequeno redemoinho, como um ciclone de pequeníssimas proporções, bem ali, na sua cozinha, pronto para arremessá-los contra a parede se crescer e ganhar mais energia.

O barulho do vento é ensurdecedor, como em uma tempestade. Ela não aguenta mais, mas não consegue parar. Pensa que é a base tentando se comunicar mais uma vez. Infelizmente, seu instinto lhe diz que não.

Os cabelos dela se balançam furiosamente, quase lhe ferindo o rosto, e seus olhos estão semicerrados. Renato tenta se segurar na mesa o melhor que pode para não cair ou ser jogado na parede. Thaís se apoia na bancada, ainda com raiva, mas incrivelmente o pequeno tornado não parece atingi-la. Sim, ela pode sentir a sua força, o poder, mas não parece direcionada a ela. O ciclone parece decidido a destruir a cozinha.

– Thaís, acalme-se – grita Renato, tentando se fazer mais alto que a ventania. Sua voz demonstra preocupação.

– Não sou... Não sou eu.

– É você, Thaís. Acalme-se. Você não quer destruir a casa. Vamos.

Thaís olha para as próprias mãos, que estão com tremores. Ela tenta começar por ali, tenta fazer com que elas parem de tremer. Não sabe como agir. Talvez se desanuviasse a cabeça do ódio que está sentido...

Ela tenta pensar em sua irmã, em seu sorriso e sua voz. Pensa em sua mãe cozinhando e a abraçando, dizendo que vai ficar tudo bem. Lembra de seu pai lhe contando histórias antigas e lhe dizendo o quanto ela é forte e corajosa. E, por fim, lembra-se de Renato, o homem que a ama e que a tem ajudado em tudo.

As imagens passam como flashbacks em sua memória. Suas mãos se acalmam um pouco. Apesar do barulho ainda ser alto, o ciclone na cozinha perde grande parte da sua potência. Ela olha para Renato e lembra-se da noite que tivera com ele, o quanto ele é carinhoso e amigo. Sorri. A temperatura começa a aumentar e ela já não bate mais o queixo. O ar fica um pouco mais normal e a ventania cessa lentamente, até que para e Thaís desaba no chão, ofegante.

– Thaís! – arqueja Renato, correndo para ajudá-la. – Amor, está tudo bem? Fala comigo, por favor!

– Renato, eu não sei como fiz aquilo. Como fiz aquilo? O que foi aquilo?! Era eu, o tempo todo?

– Ah...! Ah! Graças a Deus! Você está bem...

– Renato, me responda. O que foi aquilo? Eu... o Ar... Manipulei...?

A respiração dela está acelerada. Sente-se fraca, mas precisa de respostas agora. Parece que toda a sua energia foi sugada de seu corpo.

– Renato... – ela implora.

Ele balança a cabeça e lágrimas começam a escorrer por sua face, assustando Thaís. Não quer responder, mas... Renato tenta se manter lúcido e a voz controlada. Seu coração está apertado, porém tenta raciocinar com clareza para explicar tudo para sua namorada.

– O que foi? – pergunta ela, acariciando o seu braço. – O que foi?

– Você... Você manipulou... o Ar. Ah! – Ele parece completamente perdido com tudo aquilo. – Não era para ser agora. Devia demorar mais... Não posso deixar... Deixar você...

– Renato – ela puxa o rosto dele de modo que possa ver seus olhos –, o que você está dizendo?

Ele não responde. Balança a cabeça negativamente e olha nos olhos dela.

– Você vai partir, não é? Você já percebeu que deve partir...

Thaís não responde. Está surpresa com a linha de raciocínio dele e como ele chegou a essa conclusão.

– Renato, eu...

– Não tem jeito, é claro – ele a interrompe. – Você iria mais cedo ou mais tarde. Achei que pudesse demorar mais. Estava enganado. Esse é o sinal.

– Que sinal? Do que você está falando?

– Thai – ele segura as mãos dela como quem implora –, prometa somente que vai me dar mais dois dias. Mais dois dias para treiná-la, prepará-la. E... Há mais uma coisa... Prometa que me dará mais dois dias apenas. Por favor.

– Tudo bem, eu prometo, mas que sinal é esse? – A voz dela falha na última palavra. Ela está fraca, mas se esforça para se manter lúcida, enquanto espera a explicação.

– O sinal, o segundo chamado, quando um Elementar controla o seu Elemento pela primeira vez. Significa que... Que ele está pronto, ou que corre grande perigo se continuar onde está. O Elementar deve partir o mais rápido possível. Mas você ainda não está pronta. Então, só posso supor... Que o governo tem uma boa ideia de quem você é, e está vindo buscá-la.

Thaís olha nos olhos de Renato. Está em choque com a nova informação.

“Não, não pode ser! Eu confiei nele!”, sua mente grita o tempo todo. Como Alexandre conseguira fazer aquilo? Como ele pôde traí-la desse jeito?! A visão dela fica turva, a voz de Renato começa a ficar muito distante, e Thaís desmaia.


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Notas finais do capítulo

Uhuul! Mias um capítulo! Perdão pelo atraso, Aliás, estou atrasada nas duas histórias, mas tenho explicações - Lílian, universidade, confusões na vida pessoal... Enfim! Vamos ao mais importante: o que acharam do capítulo? E agora, amam ou odeiam Alexandre? hahaha'
Ansiosa para ver os comentários!
Beijoos



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