Fábio

–Vamos ao curso intensivo de “como ser um bom namorado” por Igor Santim.

–Até parece o maior “pega ninguém” me dando aula de como ser namorado. - debochei.

–Fique sabendo que esse título pega ninguém já foi... Sabe né? Eu e a Lia...

–Eita sei, espero que desgrudem um dia, porque nunca vi um casal mais grudento. Eu não sou esse tipo de namorado...

–Sei bem o tipo de namorado que você é!

–Cala boca mala!

–E quando vai mostrar uma de suas crônicas para Lis?

–Não sei cara, agora não é o momento recém começamos a namorar.

–Sempre é momento de dizer a verdade!

–E quem disse que eu estou mentindo? Só estou omitindo, depois eu estou revertendo o assunto delas, em vez de escrever sobre mim vou escrever sobre você, e esse seu namoro chiclete.

–Chiclete nada! Eu e a Li... -o celular de Igor dá sinal de mensagem. -Ah agora tenho que ir Lia está me esperando.

–Vai chicletão. - debochei enquanto ele pegava a mochila e saía correndo.

Olhei meu celular e resolvi mandar uma mensagem para Lis.

F: Oi namorada!

L: Oi namorado...

F: O que está fazendo?

L: Ajudando a tia Ana com uma formada de bolachas. E você?

F: Estava pegando no pé do Igor, agora estou aqui sozinho e sem nada para fazer... 

L: Já terminou seus textos?

F: Sim...

L: Oque entende sobre enfeitar bolachas caseiras?

F: Hum, entendo de comer... Posso ajudar?

L: Pode, tem uma formada daqui a pouco que vou preparar, seu conhecimento pode ser útil.

F: Estou indo...

L: Até já Fábio.

F: Até, meu amor!

***

Lis

Nem dava para acreditar na reviravolta do meu relacionamento com o Fábio no último fim de semana. Depois de uma conversa franca e aberta, onde tanto um quanto o outro colocou para fora tudo de mais doloroso que tinha guardado dentro de si, acabamos aos beijos no meu apartamento, entre troca de carícias e pequenas declarações tivemos uma noite de amor intensa, até ai tudo normal, poderia se dizer, o anormal foi acordar de manhã com um cheirinho de café enchendo o quarto. Desconfiada, sozinha na cama, levantei curiosa para descobrir o que estava acontecendo e encontrei-o na cozinha terminando de arrumar a mesa com um lindo café da manhã.

–O que está acontecendo aqui? - falei.

–Bom dia! Café da manhã... A refeição mais importante do dia.

Permaneci onde estava simplesmente sem saber o que fazer ou falar diante dele todo empenhado arrumando tudo.

–Nossa Lis, eu fiz essa cara naquela manhã? Gente ainda bem que você aceitou sair comigo de novo... Porque pela sua cara parece que está na frente de um corpo esquartejado e não da frente do café mais caprichado que eu já fiz na vida inteira.

–É que eu não estava esperando por isso, e sim você fez uma cara nesse nível, não é atoa que minhas amigas te chamam de “o apavorado do café”.

–Hum... Deixa isso para lá e vem tomar café da manhã antes que esfrie.

–Você fez tudo isso?

–Não... Na verdade eu levantei bem antes e corri na padaria, mas também sou um jornalista não um chefe renomado né?!

Eu ri do jeito brincalhão dele.

–É que ontem não combinamos nada, mas outro dia você disse que não quer ser mais meu amigo...

–Vamos corrigir isso sim... Não quero mais ser só seu amigo!

–Estou um tanto confusa...

–Bom, eu já te expliquei como me sinto quando estou com você... Já admiti que estou apaixonado e quero deixar as coisas mais pessoais, café da manhã foi a primeira coisa que pensei em começar diferente nessa nova etapa da nossa relação.

–Que etapa seria essa?

–Etapa em que tomamos café da manhã juntos?

–Isso se chama o que? Amizade colorida com café da manhã?

–Não, isso se chama namoro Lis!

Olhei para ele espantada.

–Namoro? Tipo eu e você namorando?

Ele andou até chegar perto de mim e colocou as mãos no meu rosto.

–Quer namorar comigo?

Primeiro continuei em choque com a atitude dele.

–Lis? - ele me sacudiu um pouco me tirando do transe.

Ai sorri feliz e me joguei nos braços dele.

–Espero que isso seja um sim... - disse retribuindo meu abraço.

–Sim, sim, sim! -eu disse ainda enlaçada a ele e procurando seus lábios.

______________

–Assim ó! –eu mostrava a Fábio como enfeitar as bolachas que tínhamos feito para uma festinha infantil.

Com cuidado usando glacê fiz uma carinha sorridente na bolacha.

–Me deixa tentar... –ele parecia criança, tia Ana o fez por um dos aventais dela e toca no cabelo e ele estava adorando. –Eu posso fazer o que eu quiser?

–Sim, pode!

Com jeitinho ele começou a desenhar um coração na bolacha e no último risco apertou demais a bisnaga e espalhou glacê por toda a bolacha.

–Droga!

Eu comecei a rir da frustração dele.

–Ah, Fábio, não tem problema, tenta de novo.

–Você tá rindo é? Rindo da minha desgraça!

–Crianças! –Tia Ana que estava por ali chamou nossa atenção.

–Não tia Ana, sua sobrinha é uma palhaça, fica rindo da minha falta de jeito...

–Não, não to rindo disso. - justifiquei ainda rindo. - É que sua cara foi impagável.

–Minha cara? –ele me olhou brincalhão. –Eu que vou rir da sua!

–Da minha por... Ah Fábio!!! –ele encheu o dedo de glacê e colocou no meu nariz.

–E nem pense em revidar, sua tia está aqui e temos que respeitar o lugar de trabalho da família. –falou sério com olhar maroto lembrando-se do dia em que fizemos algo parecido na minha cozinha.

–É? Isso vai ter volta! –falei limpando meu rosto enquanto ele ria.

–Lis?

–Sim tia?

–Domingo irei passar o dia na casa da avó do seu primo, como sempre, quero que vá conosco.

–Como assim tia? –estranhei o convite.

–Será melhor querida, mesmo que visite sua mãe não acho bom ficar sozinha.

–O que tem domingo? –Fábio perguntou na mesma hora que eu lembrei que dia seria.

–Dia das mães... –falei desanimada.

–Não tem sido uma data muito fácil nos últimos anos. – ouvi minha tia dizer enquanto eu fingia embalar as bolachas.

–Entendo... –escutei ele dizer.

–Você vai ir ver sua mãe?

–Provavelmente, minha irmã vem com os filhos e minha avó faz questão dos netos todos nessas datas. –Fábio disse com a voz pensativa.

–Eu vou recusar tia, gosto de ficar introspectiva nessa data. Vou na clínica levar um bolo para ela de manhã e durante e aproveitarei o restante do dia para ajeitar minhas coisas, logo a licença que tirei no restaurante acaba e preciso me organizar.

–Tem certeza querida?

–Sim tia, fique tranquila. –despistei.

Dia das mães era o pior dia de todos nesses dois anos, não tão ruim como os natais, mas era uma data nostálgica. Quando a mãe estava bem sempre a levava para almoçar fora, comprava um presente bonito e depois sempre acabavam na cozinha tomando vinho e fazendo bolo recheado.

–Está pensando em que mocinha? –Fábio me surpreendeu chegando atrás de mim e me abraçando.

–Sabe que eu estou te devendo uma coisa.

–Uma coisa? –ele questionou enfiando o rosto nos meus cabelos.

–Isso! –falei me virando e enchendo o rosto dele com glacê.

–Ah, cara! Que danada! Me pegou direitinho... mas eu até que gostei...

–Sou uma mulher vingativa! Gostou de ficar todo lambuzado?

–Gostei por que agora o nosso beijo vai ser ainda mais doce. – então me beijou e não tive como fugir de todo glacê que veio junto para o meu rosto e ainda mais quando correspondi o beijo.

As mãos agitadas dele já foram se encaixando na minha cintura.

–Fábio... Não... A tia...

–Saiu... – falávamos entre os beijos.

–Não Fábio... –interrompi o acesso das mãos que entravam por debaixo da minha blusa. –Tá louco!

–Tá bom, parei já... Mas só porque tenho um convite para você...

–Convite?

–Quer ir lá para casa comigo? Vou preparar um jantar para nós.

Olhei surpresa.

–Oi? Não entendi.

–Quer jantar comigo?

–Não pode ser, pergunta de novo!?– brinquei.

–Está tirando uma com a minha cara né?

–É que para quem se apavorou com um simples café da manhã, já convidar assim para jantar só posso pensar em grandes evoluções nessa relação.

–Engraçadinha você! Muito engraçadinho hoje para meu gosto. – disse me beijando de novo.

–Sim, quero jantar com você. –sussurrei no ouvido dele.

–Ótimo, vai se preparando que para não me derrubar vou te amarrar de novo.

–Não precisa, acho que já superamos isso...

–Bom, vamos tirar a prova mais tarde.

–Vamos tirar a prova é se você sabe cozinhar!

–Vai se surpreender! - ele disse voltando a me beijar.