Godlin escrita por Amanda8Kane


Capítulo 7
7




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Ele tentou me matar! Duas vezes, no mesmo dia. Só tem uma resposta para isso: loucura induzida por ego ainda mais gigante que o próprio corpo, ou só bipolaridade mesmo.

Não sei em que contexto aquele homem pensa que estávamos, porque no meu mundo, não se diz para ser amado por alguém que nem conhece!

Ahhh...

Quase doeu de tanto que gargalhei de mim mesma. Que tola! Ele é trapaceiro e estava tentando me fazer se sentir mau com seu ataque repentino de amor. Há. Bobinho, achou que sou aquelas deusas que seduziu tão facilmente, está mais enganado do que pensa, meu coração está comprometido com Alex. E foi pensando nele que deitei a cabeça no colchão sem fôlego e dormi.

A glória que sentia ia além de qualquer coisa que já tinha experimentado. Ele observou seu amado Mjölnir com um brilho intenso nos olhos. Havia lutado tanto por ele que soube a razão sobre aquela frase humana "Quando mais se luta pelo que quer, mas gradativa é a realização de vitória". A melhor parte de todas é que iria ver sua amada novamente, por toda viagem só pensou nela, nos seus lábios, no seu cheiro adocicado. Heath. Ele a imaginava deitada sossegada em sua cama de dossel branca, sendo abraçada por lençóis de seda. Lembrou-se da tristeza instantânea nos seus olhos quando disse que tinha que ir a uma missão de Odin, com seu irmão de sangue Loki, e seus lábios se formou em um sorriso debochado.

Sempre soube que a amava. Desde a primeira vez que a viu andando de cavalo no vale, e não era de maneira nada feminina como as dondocas madames que sempre se jogavam nos seus pés em busca de ser cortejada, ela era especial, também tinha que há situação em que se encontraram pela primeira vez era muito constrangedora. Ele tomava banho no riacho mais fundo. Dos fundos. Pelado. Ela cavalgava desesperada com sua égua, e estava chorando, o que partiu o coração dele na hora.

Com desespero ele havia tentado se esconder quando ela se aproximou do riacho, se sentou no chão desmoronando em vários soluços compulsivos e femininos. Ele ficou atrás da rocha, observando. Aquela mulher humana era fascinante. Dona de cabelos loiros e olhos violeta lindos. Em todos os seus anos de vidas - e tinham que dizer que foram muitos -, ele nunca havia se interessado tanto pela beleza humana.

"Sei que você está aí" ela sussurrou com a voz rouca. Levantou os olhos e encontraram os dele, por um momento, quase imperceptível, eles se arregalaram e ela corou forte, mas logo se recompôs fitando o chão. "Não irei te machucar. Garanto-lhe."

Ele não evitou o riso de desdém.

"Não sou eu quem deveria temer" debochou "sou muito mais forte que ti.".

"Deve estar certo, me perdoe senhor, não queria ofender sua masculinidade. Estou certa de que seja um senhor. Vou deixar que termine seu banho clandestino em paz." ela se levantou para ir embora.

"Não! Espere." ele gritou sem ao menos se dar conta "Espere eu colocar as roupas e você pode contar o porquê de chorar, por favor, confie que não irei machucar-te. Porque não irei.".

Ela sorriu de leve.

"E quem garante que eu não irei lhe machucar?"

"Não faria isso. És dessa terra? Nunca havia lhe visto".

"Vivi muito tempo presa na casa de papai. Ele é um bom homem, sabe. Só não que não gosta que mexam no que é dele, e eu, lhe pertenço."

"Deve ser um homem ganancioso" e ele estava certo, podia sentir o espírito indomável da garota de onde estava, ele tremura branco como a neve. Que pensaria naquela tamanha ganância? Esconder algo tão lindo deveria ser crime, pensou. Mas logo se deteve, porque se a tivesse para ele próprio, levaria os dois para os cantos mais remotos do mundo. E eles dois iriam achar uma forma de viver juntos.

Ele já estava vestido com suas roupas do palácio de Asgard.

"Ele é bom com todos, ajuda o povo como ninguém, também e bastante amado".

Provavelmente um duque.

"Certo. Por que choras?"

"Eles mataram o..." soluçou alto "Mataram Barnabas.".

Sentiu ciúmes imediatamente.

"Homem?"

"Cavalo. Eles não queriam me ver andando pelo reino com ele daquela forma, papai foi um homem tão mau essa tarde. Mas eu já o perdoei."

"É tola então"

"Devo ser" admitiu chorosa. Não era sua intenção machucá-la mais do que o bárbaro de seu pai havia feito, mas não conseguiu se aguentar, estava atormentado por todos os pensamentos de proteção que cruzavam seu corpo.

Ele se aproximou e colocou a mão no seu ombro delicado e pequeno. Ela estremeceu. Mas não se afastou. Logo disso. Passou os braços em volta dele o pegando totalmente desprevenido, porém, a segura pelos ombros sabendo exatamente que não largaria nunca mais a doce garota que encontrou no riacho mais fundo, e que chorava pela morte do animal.

~×~

Sonolenta, acordei com chiados perto dos meus ouvidos. Eles não cessaram nem um minuto apenas. O sonho estranho também não estava ajudando muito, ver tudo que se acontecia com um homem e seus pensamentos nunca foi algo que estaria em minha lista de coisas imediatas a se pensar. Os chiados ainda chiaram quando abri os olhos. Então percebi horrorizada que não eram chiado e sim gritos. Que não era nada mais nada menos que de Mia.

– Mia? - gritei alto o bastante para o som ecoar.

– Jane, socorro!

– Mia?! - levantei correndo, ignorei a sensação de claustrofobia ao entrar dentro do túnel mais apertado que minha cintura.

– Me ajuda, Jane.

– Eu estou indo.

Bati a cabeça na rocha da parede, mas também ignorei e continuei a me espremer dentro do túnel. Na verdade, senti os braços e pernas se convulsionando para trás e frente enquanto seguia o som do desespero de minha amiga. Uma correnteza se estendia no próximo túnel, a água era negra e eu tinha quase toda certeza que vi quando borbulhou. Parecia cena de filme de terror.

– Pare! Não corra. - outra voz gritou atrás de mim. Alguém pegou meu cotovelo e me girou para ficar de frente com ele, o sorriso travesso apareceu na minha visão. Minhas pernas ficaram bambas.

– Jane! Me ajuda. - ela parecia desesperada.

– Me solta - rosnei entredentes, o fuzilando com o olhar.

Ele praguejou em outra língua e me puxou mais ainda, forçando os dedos na minha carne.

– Olhe para mim. Escute a mim. Só faça isso. - ele esboçou um sorriso fofo mostrando suas meias luas na bochecha. Adoro covinhas. Por mais idiota que fosse o som dos gritos de Mia acabaram e tudo ficou mudo, tudo que existia era ele, e não gostei nada disso. - São galhas...

– Jane, dói, me ajuda! - berrou Alex. Isso me tirou do transe na hora. Consegui arrancar a mão de Loki da minha e corri por outro lado da caverna, ele ficou mais estreito, e eu podia escutar Loki gritando para mim parar. Eu não ligava pra isso. Não queria ligar. Tudo o que eu precisava era encontrar Alex e o salvar urgentemente, e apesar de saber que provavelmente aquela não era Mia, sabia que Alex estava em algum lugar daqui e sentia dor. E tudo nesse termo era culpa minha.

Não vi quando a terra escorregou sobre meus pés e eu deslizei em um precipício, na verdade, senti. No segundo seguinte uma mão havia se enlaçado com a minha e eu estava pendurada entre a vida e a morte na beirada de um precipício. Pode ser que o choque tenha me feito não gritar, ou talvez seja o fato que pela primeira vez Loki salvou minha vida, ao invés de tentar tirá-la. Ele estava mais sério e sombrio do que antes.

– É nesse momento que você diz o quanto me ama? - debochou cheio de sarcasmo.

– Me puxa!

– Não sei não... - ele tamborilou os lábios com a outra mão - Matar mulheres desesperadas na beira do abismo é meu joguinho doentio favorito. - então sorriu mostrando suas meias luas - Me de um motivo.

– Sempre precisa de motivo para você, não é?

– E como seria minha vida sem motivos? Escutou a voz dele, não foi? Ele apenas gritou e você correu atrás, sua louca! Eu disse para não correr.

O pior é que ele estava certo, bastou escutar a voz dele que corri para dentro do pior dos precipícios.

– Me puxa! - implorei, balançando freneticamente as pernas no ar.

– Tanta coisa sai da boca dele e eu só escuto as palavras ecoando na minha mente. "Eu amo outro" e "Eu sinto pena de você" é blablabla. - indagou furioso e com a voz ainda embargada de sarcasmo. - Magoei, sabia.

– Luke...

E foi quando uma lufada repentina de ar se jogou contra nós dois e sua mão se desvencilhou da minha. Eu estava caindo. E, por motivos que nunca irei entender, quando abri os olhos, ele estava pulando atrás de mim. Loki me agarrou pelos braços e fechou os olhos com força, enquanto me abraçava forte. Também os fechei. Ele grunhiu baixinho no meu ouvido e foi quando senti a terra nos pés.

Ele me largou com um grito alto e agudo. Quando abri os olhos, ele estava no chão colocando as mãos nos ouvidos como se sentisse dor. Estávamos a salvo em terra. Num lugar diferente do de antes, mas salvos. Loki havia nos materializado em outro lugar. Droga, ele tinha salvado minha vida duas vezes no mesmo dia, e sem contar que sou mais grande do que pareço, ele deve estar sentindo o inferno.

– Loki? - sussurrei me aproximando.

– Não se aproxime de mim! - vociferou num grito de dor. - Porra Odin! Pare com isso.

– Me diz como ajudar.

– Não pode, e esse é o problema! Odin! Ele pode ajudar.

– O que eu faço? - pedi arrasada.

– Ficando calada. Rogo libertatis studio peteret. , Ignosce mihi. Da mihi in visione. Auxilium obturatio hic dolor. Quaeso, Odin.

É impressão minha, ou Loki está invocando algum demônio?

Observei-o enquanto dizia as coisas em latim, transtornada, parecia que estava sentindo mais dor que o normal, como se estivessem enfiando várias adagas no seu coração. Loki tirou o manto preto que o cobria, ficando apenas com calça e mostrando seus músculos delicados, cheios de suor. Ele tinha tatuagens. Havia milhares delas durante todo seu ombro, eram espirais, flores e linhas estranhas.

– Liberabit me! Dabo in corde suo. Give me time. Et debellabo ego vos occiderem. - rosnou perdendo toda cor do rosto.

Latim, concluí. Tenho quase toda certeza de que é isso.

As tatuagens extravagantes ficaram brancas e ele arqueou as costas. Sabe naqueles filmes antigos quando uma coisa muito pesada cai na terra levando lufadas de ar no seu rosto? Foi o que aconteceu. Uma luz branca caiu sobre Loki por vários segundos, enquanto ele suspirava caindo no chão todo suado. Seus olhos vermelhos, por segundos imperceptíveis, ficaram dourados, então voltou para vermelho e ele os fechou.

Congelei no lugar. Onde nos encontramos era bem mais claro que antes, óbvio, havia uma grande passagem de ar no teto, conseguia ver o sol de lá. Eu desconfiava que fora dali que a luz branca havia vindo.

– Eu estou bem, formosa mea. Não precisa se preocupar. Estou intacto.

– Eles não eram reais, certo?

– Não. Eram galhas demoníacas. São malditas armas de Odin para espantar pessoas que infiltraram-se dentro de sua cabeça e projetam seu pior pesadelo. Te levam para o lugar mais perigoso em segundos.

– Ainda sente dor?

– Suportável.

– Eu perguntei se ainda dói? Não se você ficara bem.

– Tudo dói igual a o inferno. Meu corpo se dilacera por dentro como se estivessem cravando milhares de espadas fervendo. Os olhos doem a cada piscar e, eu acho que vou ficar cego.

– Que drama! Achei que fosse um Deus. O que? Quer ficar só com um olho como Odin? - minha voz estava baixa e rouca. - Onde estamos?

– Caverna da viúva. Que beleza! Agora teremos que lidar com ninfas manhosas. - ele reclamou.

– Ninfas?! - gritei histérica. Ninfas não é exatamente o que chamaria de boa companhia no momento. Pelo o que sei delas, e são pouquíssimas coisas, são criaturas.

Ele ficou quieto me olhando do canto dos olhos, um sorriso brincava nos seus lábios rosados agora, e o rosto antes corado, voltou a um branco bem papel. Recusei-me a olhar pela os seus músculos. Estava ocupada demais pensando no que poderíamos enfrentar a seguir; como iríamos achar o Alex e quando, por Deus, poderíamos sair dalí. Sentei, me sentia exausta de alguma forma muito chata, mesmo assim, necessitava de um sono profundo que me daria melhores pensamento. Por isso, deitei no chão ereta, copiando Loki, e fechei os olhos.

Passamos os próximos dois dias andando pelo túnel azulado. Parecia refletir alguma coisa nas paredes. Jóia, talvez. Achamos um monte de vezes riachos. Loki disse que não poderíamos beber nada se quiséssemos permanecer com nossas sanidades intactas, e até fez um comentário engraçadinho sobre eu ser mais decente quando não estou sendo rabugenta. Eu não sou rabugenta. Espera, eu sou? Talvez um tiquinho. Não encontramos nenhuma ninfa nesse caminho todo. Eu vi o cavaleiro da máscara de ferro várias vezes pela minha visão periférica, ele estendia a mão para mim, mas sempre que virava ele sumia como vapor.

A convivência com Loki estava a cada dia se tornando menos torturável, quando ele não está fazendo comentários obscenos sobre sexo, era até que um cara legal. Estava sempre me alertando para não tocar nas jóias na parede. De vez em quando me segurava quando escorregava no chão molhado. E todas as noites, no momento onde finalmente paramos para descansar, ele fechava os olhos e me oferecia qualquer tipo de comida ou mimos que poderia imaginar.

Eu e ele estávamos sentados agora em frente a uma fogueira brilhante. Loki tamborilava de leve seu joelho, enquanto eu, desesperadamente, comia o hambúrguer e bebia coca-cola. Realmente achava que não fazia isso de modo nada feminino, também! Andamos por horas à ermo e não comi nada durante a hora do almoço, e isso fazia dias. Estava mais magra. Mais fraca. E tentava entrar ao máximo no jogo de Loki. Ele achava que eu iria fazer o que quisesse, eu, por outro lado, só queria achar Alex de uma vez antes que o veneno... Não. Se à água desse lugar me curou, tenho a esperança de que tenha feito o mesmo com ele, ou que as pessoas - qualquer criatura - que o pegaram tivessem sabedoria para curá-lo. Pensar em Alex dói. Tinha ignorado esse sentimento porque precisava ser forte, mas mesmo assim, ignorar não quer dizer não sentir.

– Saboreia? - perguntou Loki, de repente, se encostando à parede. - Pensa no humano outra vez.

– Como sabe?

Ele sorriu triste.

– Você tem um tique. Quando pensa nele, suas sobrancelhas se arqueiam e você mexi os lábios como para falar com o invisível. Percebi isso.

– Para de olhar para os meus lábios. Lunático. - brinquei, dando bocanhadas no hambúrguer. - Acha que ele está bem?

– Sinceramente?

Assenti.

– Ele tem grandes chances de ter sido vendido para um Jarls. Ou pior. Mas não vamos falar sobre isso agora. - ele girou o chapéu de caubói preto nos dedos - Fale-me mais sobre você, Jane Lovely.

– Está dizendo que ele vai virar escravo! - estava horrorizada de verdade agora. Não conseguia ter nem um vislumbre de Alex como escravo. Nem dele sendo vendido como uma vaca de rebanho! E, se ele fosse por acaso mandado para esse tal Jarls, será que estava sendo bem tratado? Será que poderiam feri-lo com chicotes? Todos os piores pensamentos inundaram minha mente num maremoto imundo.

Sentindo-me um lixo, agora já sabia diferenciar, apertei os joelhos tremendo até meus dentes baterem. Fechei os olhos com força, foi péssima ideia já que quando o fiz, imagens de Alex preso em um bambu sendo chicoteado; Alex sangrando até a morte; Alex servindo coquetéis; invadiram minha mente.

Porque alguém estava gritando? Ah, espera, sou eu. Eu estou berrando. E duvido que posso parar. Minhas cordas vocais são bem

– Jane, pare, vai chamar atenção desnecessária. - avisou Loki. - Está fazendo disso pior do que realmente é.

Não conseguia ousar abrir os olhos, ele me olhar só faz o sentimento ficar pior, e eu beijei-o. Aquele pesar estava me matando. Eu, de alguma forma, traí Alex, mesmo que contra vontade. Mas traí.

Buhm! Buhm! Buhm! O som ecoou na caverna fazendo o chão tremer.

– Que ótimo, agora estamos ferrados. Diz aí, anda lá, gosta de ser espetinho de gigantes?

– Eu não ligo. - Abaixei os olhos até que estivessem à altura dos seus e ofeguei ao constatar que eles não estavam mais vermelhos, mas sim dourados claros e brilhantes. Ele piscou várias vezes como se pressentisse a mudança. Fechou-os por vários segundos antes de voltarem a cor natural. - Pode mudar de cor? - sem menor consciência do que fazia, estendi o braço e passei o polegar no seu olho. - É incrível.

Seus lábios se curvaram para cima num sorriso estrangulado. Minha mãe sempre dizia que aquele tipo de sorriso só era dado pelos mais desastrados dos desastrados. Que quando a pessoa sorri de canto, quer dizer que alguma coisa a esconder tem, e era para se manter longe delas. Porque eram perigosas. Só pessoas que passaram muitas coisas ruins na vida sabiam sorrir de verdade. Loki pegou a palma de minha mão e passou de leve pelo seu rosto, eu nem sabia como reagir, então continuei olhando a cena, pasma.

– Temos que sair daqui, formosa mea. Téns gigantes por todos os lados. - advertiu levantando. Puxou nós dois para outra caverna azul turquesa que fazia o som ficar menos propagado. Foi esquisito ele pegando na minha mão. Não que eu sentisse qualquer coisa por ele... Só foi esquisito. Loki era frio e quente ao mesmo tempo. Pele áspera e muito delicada. Ele é o próprio fogo e gelo. Não precisa de ninguém, mas sempre quer estar acompanhado, nunca disse nada que não fosse bobagem, porém sabe as palavras mais sábias. Como pode? Alguém ser tão egoísta e tão benevolente ao mesmo tempo? Ele é encantador e assustador! Ele é bonito sem ser convencido - na maior parte do tempo, - sabe ser charmoso. E, enquanto isso, eu tento achar uma maneira de não matá-lo por colocar Alex em perigo. Mas também tento não gostar dele. No instante seguinte ele estava com as mãos apontadas para uma cachoeira a nossa frente, terminantemente ele ficou maluco.

– Quer que a gente pule?

Buhm! Buhm!

Ele me encarou como se fosse à coisa mais óbvia do mundo.

– Bah! Que isso. Deixe que a garota vire comida de gigante Loki. Ela não liga para vida mesmo!

O fitei franzindo os lábios para baixo. Nós dois nos encaramos por um longo tempo. Ele tinha aquele sorriso travesso de sempre.

– Eu não vou pular! - Brandei cruzando os braços. Quebrando a conexão de olhares.

– Vai sim.

– Você não manda em mim.

– Hmm... Não vai mesmo pular, né?

Sorri vitoriosa.

– Exatamente.

– Ta bom - ele sorriu perversamente. Esticou os longos braços e tocou minha bochecha - Tão linda. Mas tãooo teimosa. Sinto muito, baby. - soltou uma risada sarcástica - Isso vai ser engraçado.

E pegou meus braços com facilidade, demorou apenas um segundo para eu perceber sua intenção verdadeira. Sem nenhuma cerimônia, atacou-me como uma bola. Em sete metros de altura! Numa cachoeira!

Doeu quando me espatifei com tudo na água morna. Minha cabeça foi jogada para trás e os pés prensaram em algumas algas marinhas na profundidade. Várias bolinhas de ar saíram da minha boca quando me debati sacudindo pra poder sair dali. Foi àquela péssima ideia. Como num passe de mágica as plantas cresceram puxando meus pés para baixo. Eram tão bonitas. Variavam de cores conforme os corais de baixo. Outra vez por causa do Loki eu estava em perigo de morte na certa, a não ser que seja aquele tipo... Que ótimo. Bebi água da cachoeira sem ao menos me dar conta. Agora estou literalmente, excepcionalmente, lindamente ferrada.

Mesmo que a água não tenha entrado antes nos meus pulmões, quanto mais tempo passava ali perdendo o ar, maior era o tempo que demorava para os pulmões desistirem de lutar tanto por algo tão fraco. Então tive uma ideia. Peguei o canivete suíço de Alex e me dobrei para baixo, numa última tentativa, desesperada, de conseguir cortar aqueles negócios. Para minha surpresa, quando toquei nelas com o ferro recuaram imediatamente me libertando. E com a visão borrada voltei para a superfície engasgando e vomitando água pra todos os lados. Precisei de muita força para encherga as pedras cristarinas no chão de outra caverna.

Cai no chão com as mãos na barriga tentando, ainda, encontrar o ar necessário nos meus pulmões. Eles pareciam em constante agonia recentemente. Fiz uma nota mental sobre ir ao médico fazer seja lá o que poderia ser feito para olhar meus pulmões, e ter certeza que estavam meramente bem.

Escutei outro estrondo quando Loki pulou dentro da água, por motivos que ainda não sei, fiquei imaginando aquelas algas pegando no seu grande pé e o puxando para baixo exatamente como fez comigo. Seria tão cômico. O Deus do fogo morrendo afogado deveria ser reportado em todos os lugares, seria a maior descoberta desde a luz. E muito hilário. Sou uma pessoa ruim por estar imaginando a morte dele? Afinal, tudo - Bom, quase - que ele fez foi me ajudar a tentar achar o Alex. Ele que o sequestrou mesmo, uma vozinha perversa ecoou em minha mente. Lembrando-me de que ele que na verdade é o vilão dessa história, e que poderia morrer que eu nem ligaria.

Eu desejava sua morte?

Esse lugar me mudou tanto assim para mim estar desejando a morte dos outros?

Eis a questão. Eu não queria Loki morto.

– Quer dizer que os Deuses nórdicos não são imortais. - concluí. Massageei minha têmpora com força total, tentando desesperada, acalmar a dor de cabeça que pulsava como um vulcão.

– Ouviu o que disse? Nós encontramos meios de viver um bocado mais que os humanos. Porém sim. Se alguém arrancar nossa cabeça ou cravar uma estaca no coração deve resolver o problema.

– Hm... Tipo vampiro?

Eu estava só zoando, mas ele levou a sério.

– Nós não brilhamos, bebemos sangue, derretemos, temos presas. Se bem que morder garotinhas lindas sempre foi algo que apreciei. - ele sorri maliciosamente - Quer uma mordida, Jane?

– Passo.

– Muitas mulheres dariam a vida por uma mordidinha minha. Sabia? É como dizem... Nunca se diz não ao Deus do sexo.

– Opa! Pode parar por aí Shakespeare. Suas palavras lindas de sexo, putaria, jeitos com que faz sexo, modos... - me larguei no chão, com as mãos largadas, enquanto ria até 2876. - Eu não estou a fim de tanta sedução, Lokiii.

– Ta bêbada.

– E mesmo assim consigo lutar contra o impulso interminável de agarrar você num beijo enlouquecedor, que acabaria em sexo. E eu perdendo minha virgindade numa caverna cheia de gigantes. - recuperei o fôlego.

Loki engasgou forte com a bebida que estava bebendo. Uau será que Deuses podem entrar em estado de choque? Isso só me fez rir mais, e eu nem me importava de estar falando de sexo com um estranho, porque nem queria. Aposto que é o efeito da água da cachoeira que ingeri.

– Erit me deiecerit insanis. - praguejou alto.

Fechei os olhos por alguns instantes enquanto ele falava várias coisas em latim. Fiz outra nota mental de guarda tudo o que ele dizia para poder traduzir quando voltasse pra casa. Quando eu era pequena, sem nada na cabeça que não fosse Marias chuquinhas rosas presas no topo, eu fazia anotações em bloquinhos cor de cobre para poder me lembrar de certas coisa. Normalmente sempre esquecia onde havia colocado aqueles malditos papelzinhos, até que um dia parei, já que anotei no papel: Sequestrar o gato da vizinha. E ela o achou voando pela rua dois dias depois que escondi o Pocahontas dentro do meu armário. Fiquei de castigo por muito tempo. Mas valeu a pena, Pocahontas foi um glorioso soldado em algumas brigas de com o senhor ursinho e um porquinho da índia do mal. Eles se davam tão bem. Quase nem tentavam se matar. Mas, oras bolas, eles eram inimigos mortais na guerra do quarto da Jane.

Passei as mãos nos olhos parando de rir na hora.

– Loki?

– Quê é? - perguntou, com a voz ainda estrangulada. Não fazia ideia se ele estava assim porque eu era virgem ou porque admiti que tivesse desejos sexuais por ele. Acho que verdadeiramente não tenho, sendo uma pessoa apaixonada por outro tudo o que posso sentir pelo Loki é tesão. Queria gritar para ele parar de ser tão sombrio. Será que ninguém nunca avisou que os sombrios são os mais sexy?

– Quando o efeito da água deve acabar?

– Daqui alguns minutos. Beba mais da água que lhe mandei. Vai ajudar. - aconselhou baixinho.

Bah! Ele estava tão estranho. O que será que aconteceu? Deve ser só minha imaginação.

– Loki?

– Sim.

– Onde estão seus chifres?

– Eu não os tenho há anos.

– O que aconteceu com eles?

– Odin.

– Ele parece alguém bem ruim.

– Só não sabe controlar a raiva de um jeito bom. Ele até que é uma pessoa camarada.

– Ele matou Heath.

– Concluindo ele é a pessoa mais cruel e narcisista que já conheci na vida. Tem péssimo humor. Tirando que uma aparência horrenda. Odin é o pior dos piores, não admira que matei seus passarinhos.

– Hugin e Munin? Sequestrou-os.

– Eu os matei! - ele grunhiu com voz exasperada - Eu queria algum tipo de vingança. Ela não merecia ter morrido.

– E Thor merecia? O que ele fez para você?

– Ele a conquistou!

– A viu primeiro. Tinha esse direito. - eu disse virando para encarar seus olhos vermelhos e assustados. Sua boca não se formara naquele belo sorriso trapaceiro, ele simplesmente estava com raiva. Lembro-me de não poder fazer nada enquanto a isso. Loki vivia com raiva quando falava sobre Heath e eu já estava exausta de lidar com seus transtornos bipolares. - Não importa agora. Os dois estão mortos.

– Thor está perdido. E você não sabe a verdade da verdadeira história para saber o sobre quem a conheceu primeiro. - enfatizou bravo - Você não entende.

– Está certo - minha voz desceu alguns milênios - nunca irei entender esse seu triângulo amoroso. É doentio. Vocês, ao invés de falarem, tentam se matar.

Ele se manteve em silêncio. Tenho medo de ele estar ainda mais bravo comigo. Fixei os olhos na terra da parede da caverna. Essa também é diferente, como em todas as outras duas essa tinha algo de especial, era branca amarelada, a cada segundo rajadas de vento se chocavam em nós. Era um dos lugares mais frios. Eu tive que largar meu casaco vermelho para secar por causa da água da cachoeira, ela tinha me deixado bêbada por muito tempo, e desconfio que pudesse ser sobre isso que Loki dizia quando falava de sanidade mental.

Passamos a noite deitados no chão de areia cristalina, eu me sentia horrível por causa do quase afogamento, e Loki parecia estar mergulhado em pensamentos. Foi quando eu o vi. Novamente. Ele estava sentado no outro lado da caverna, usava a mesma máscara de ferro de sempre; estendia a mão para mim. E pela primeira vez não era em minha visão periférica, eu me assustei, arqueando as costas e ficando ereta.

Não fique... Corra.

Uma voz forte e fraca disse na minha cabeça, foi a primeira vez que ouvi sua vez, se é que foi sua voz.

– Eu não entendi. - sussurrei de volta.

Corra! Corra! Corra! Agora ele berrou muito alto. Coloquei a mão no ouvido tentando parar o zumbido que ecoou dentro da minha mente.

– Para onde? - berrei de volta.

– O que você está fazendo? - Loki disse captando minha atenção. Olhei para ele por um segundo, mas quando voltei para o homem de máscara ele já havia saído. Quando dei por mim, minha visão ficou tão turva, tão borrada, tão sem sentido, que a última coisa que escutei antes de perde a consciência foi de Loki gritando uma única palavra que faria com que eu realmente corresse: Gigantes! Mas já era tarde demais para mim.

– Não tinha o direito! - berrou Thor batendo o martelo com força na coluna de cimento branco. "É mentira! Mente pra mim." não sabia se aquilo havia mesmo dito aquilo. Estava arrasado. Queria a morte de todos, e principalmente de Odin.

– Eu não faço ideia do que você está falando, filho - Odin disse suavemente.

– A matou!

– Busquei ajudar. Não sei no que pensa que está falando, filho, mas posso garantir que não entendo sua apreensão com a morte de uma humana. - O pai de todos parecia sincero, quando mandou um olhar para Loki, que se mantinha na dianteira atrás de Thor, guardando a passagem para dentro do palácio de Asgard. Thor entendia um pouco sobre aquilo que o irmão deveria estar sentindo, estava arrasado, queria a morte, seguir sua amada até o infinito. - Loki o seguiu na batalha, certo? Os humanos estavam se matando na terra, precisavam de motivo pra viver. Eu escolhi aleatoriamente um sacrifício humano. Por que, Thor? Conhecia a humana? - Podia ser só imaginação de Thor, mas ele jurou escutar uma pitada de sarcasmo e desdém na voz de Odin. Deveria estar imaginando. Odin nunca faria tamanha crueldade com seu próprio filho, ou pelo menos era isso que ele tentava acreditar. Uma pontada de decepção mútua quase o cegou por completo, suas mãos tremiam tanto de raiva que poderia ser o causador do destruimento do grande palácio de Asgard tão facilmente.

Nunca esqueceria o pequeno sorriso que se formou no canto da boca de Odin. Ele esperava que Thor confessasse seu amor pela humana de uma vez, dando liberdade para ele avisar aos asgardianos sobre a traição do seu herdeiro. Sentiu sua mão compulsivamente para frente um segundo quando girou o martelo em direção a Odin, choque, foi o que viu antes do martelo acertar centímetros do seu rosto velho. E um olho só.

– Irmão... - Loki se colocou na frente de Odin. Puxa saco como era, ele nem queria ver a morte de Odin. Mas Thor viu ressentimento nos seus olhos verdes azulados. Ele conhecia Heath tão bem quanto Thor, sabia o quanto ele a amava, a estimava, mesmo assim se colocava na frente daquele homem que se diz Deus.

– Filho! - Jord, sua mãe, entrou pela passagem onde Loki deveria estar guardando. Atrás dela seus dois irmãos se apressaram para assistir a cena. Meili e Vali usavam roupas de combate. Thor não aguentou e soltou uma gargalhada estrondosa, que ecoou por todos os cantos do palácio fazendo até castiçais tremerem. Ele se sentia bêbado de luto.

– Mjölnir - chamou o martelo teatralmente e em segundos ele já estava em seus punhos. - Sumam! - trovejou entredentes - Não quero machucar vocês. Jord, por favor, não quero te machucar. Mas eu vou.

– Thor - repreendeu sua mãe, com os olhos azuis cheios de lágrimas - não está raciocinando direito.

– Ele a matou. - Sua voz era de puro choro, mas ele ia se recusar a chorar na frente deles. - E-e-eu não entendo.

A única que sabia sobre seu amor com a mortal era Jord. Não foi surpresa quando os grandes olhos azuis quase saíram da órbita. Ela sabia como fuzilar Odin com o olhar. E o fez.

– Ainda nem sei sobre o que vocês estão falando, mas, Thor, se conhecia a humana. Meus pêsames. Ela está morta. - disse Odin naturalmente. Os olhos de Thor ganharam cor de fogo, e ele não hesitou em jogar o martelo no peito de Odin, que tentou pegá-lo no ar. Mas ele não era digno, então Mjölnir o acertou em cheio.

Meili e Vali o atacaram quando o martelo voou. Suas espadas apontadas para garganta de Thor nem o intimidou, estava caindo uma tempestade do lado de fora e só bastaram alguns raios leves para mantê-los longe de alcance. Loki observava tudo quieto no lugar.

– Thor! - gritou Jord. Ele olhou exatamente para sua mãe quando um trovão mal intencionado aceitou-a no peito. Ela caiu. A consciência de Thor voltou na hora, correu para onde ela estava e a pegou segundos antes de cair no chão. - Oh, meu querido filho. Não desista do seu amor.

– Ela está morta! - grunhiu pegando ela no colo. Mas ela o impediu colocando as mãos no peito e acenando com a cabeça.

– Morta não. Perdida. As pessoas não morrem até que a última alma pare de acreditar. - ela tossiu sangue. - Um dia. Quando sua amada voltar, você estará preparado para ela.

– Mãe. - seus irmãos se aproximaram da Deusa com velocidade de trovão. Todos, incluindo Loki, que é tão trapaceiro, mas o mais leal.

– Je les aime. Et vous ne serez jamais perdu. Famille devant la puissance. . - disse Jord olhando para o nada.

– Famille devant la puissance. - repetiu Loki imediatamente.

– Famille devant la puissance. - Thor chorou.

– Famille devant la puissance. - Meili e Vali disseram em uníssono.

– Famille devant la puissance. - Foi à vez de Odin. E todos repetiram em voz bem alta.

– Famille devant la puissance. - e foi um som tão estrangulado, tão estragado e doído que foi quando os irmãos, um por um, caíram de joelho no chão chorando pela morte da mãe. Thor, já lúcido, puxou o martelo de volta e o largou no chão com um estrondo.

– Famille devant la puissance. - sussurrou de voz rouca, deixando uma lágrima cair do seu rosto de cair na bochecha delicada da mãe.

A mensagem estava clara nas últimas palavras de Jord.

Acordei sentindo cheiro de canela forte, eu chacoalhava nos braços de alguém e não demorou muito para descobrir que era de Loki. Eu gemi sentido meu corpo todo doendo como se tivesse acabado de correr a maior maratona. Estava ofegante e suada. Ou eu fiquei perto demais do fogo ou sou sonâmbula.

– Me coloque no chão - murmurei sentido meu rosto em chamas por estar sendo carregada, nem sei o porquê. Loki parou ao escutar minha voz. Seu rosto estava mais branco que o normal.

– Jane? - perguntou incerto, fixando os olhos nos meus.

– Não. Jesus. Me coloque no chão, por favor.

– O que aconteceu com você? - e ignorou meu pedido. Também acho que nem aguentaria ficar de pé mesmo.

– Só me responde uma coisa. O que "Famille devant la puissance" quer dizer?

Ele quase me deixou cair no chão. Quase. Mas segurou meus ombros mais fortes.

– É francês. Família ao poder. - sussurrou abaixando os olhos até eu ver que ficaram dourados novamente. Com um leve tom de verde dessa vez. - Como sabe disso? - sua voz estava pintada de mágoa.

– Eu vi. Você, Thor, Meili, Vali, Jord e Odin. Vocês...

– Viu a morte dela - murmúrio desviando os olhos para cima, onde várias pedras prediam, de repente seus olhos dourados ganharam o maior e mais radiante vermelho. - Famille devant la puissance. Isso foi quase um juramento perante a sua lápide, como se prometessemos devoção à família. Só fizemos isso uma vez... O que será que ele está tentando mostrar? - essa pergunta nem era para mim.

– Parece algo muito bonito, sabia? - me aconchego dentro dos seus braços enfiando a cabeça nos seus ombros. Ele me apertava ainda mais. Tinha algo errado, podia sentir isso de longe, não sei como, nem porquê, mas sabia. E isso envolvia Loki. Ele tinha quase preocupação nos olhos, se é que isso fosse possível.

Ele assentiu e me colocou no chão delicado. Então começou a andar de um lado para o outro como se ponderasse suas opções. Olhe, eu ainda estava meio grogre por causa do suor e tal, não era como se estivesse observando ele andar. Só observava ele. Consequentemente nem conseguia mexer meus olhos! Isso era revoltante e chato. Eu estava febria.

– O que aconteceu comigo? - pisquei os olhos sonolentos.

– Desmaiou. - respondeu de imediato. Rápido demais para meu gosto, como se já estivesse ensaiado.

– E os gigantes? - indaguei condescendente.

Ele bufou. E parou de andar abruptamente.

– Sinceramente eu nem sei qual merda tem na sua cabeça, Jane. Mas consegui tirar você de lá antes que virasse espetinho de gigante. De nada. - pegou o chapéu de caubói e fez reverência. - Foi uma honra.

– Por que sinto como se tivesse corrido milhares de quilômetros?

Eu falava sério. Minha mente estava em erupção total e o pior era que podia sentir-me entrar na escuridão novamente. Desmaiaria.

– Picada de cobra. Estamos chegando a floresta, aguenta? Acha que pode andar até lá?

Loki apontou para mim.

– Eu estou fisicamente e emocionalmente exauta! Loki, seja alguém legal e suma um pouco de vista. Eu quero dormi com os dois olhos fechados essa noite, precisamos estar bem dispostos para encontrar Alex amanhã. Não é? Se não vai contar porque quer que eu fique aqui, quer minha ajuda para alguma coisa, é só dizer Loki. Com o tempo eu te conheci melhor, poderia ajudar com qualquer coisa.

– Quero que ajude a recuperar o martelo do Thor. Mjölnir. Ele está perdido, e com esse martelo, podemos ressuscitar Thor. E aí, Jane? Gostou da verdade. - ele disse de forma natural. Humm, muito natural, sabe. - Vai ajudar a trazer meu irmão de volta? - seus olhos vermelhos brilharam na escuridão da caverna. Ele parecia o demônio em um rostinho bonito.

– Claro que vou. Ele é seu irmão.

Loki pareceu tão surpreso com minha palavras que deu um passo para trás batendo as costas na parede. Parecia que ao invés de lhe ajudar, falando palavras de conforto, a única coisa que aconteceu foi eu bater com um taco de beisebol em sua cabeça. Ele parecia assustado de verdade. Não havia qualquer indício de felicidade no seu rosto belo, mas isso foi passageiro, ele se recompôs erguendo os ombros para trás.

– Vai ajudar ele por mim? - soltou friamente. - Eu... Te vejo mais tarde.

E assim como num passe de mágica ele desapareceu da minha frente. Desisti de tentar entender Loki e fui dormi.

No dia seguinte acordei e Loki estava de volta, porém estranhamente calado. Ele nem ousou abrir a boca para falar comigo. Ainda estava com febre, mas consegui seguir os grandes passos de Loki sem cair no chão morta. Como ele acha que devo reagir ao saber que fui picada por uma cobra - sem espécie, que recentemente descobri um machucado verde no braço - e ficar andando para caverna super aquecida sem dizer nada? Fora estranho para mim também, ok, falar em ajudar o Thor e sobre isso ter haver com eu gostar mesmo que minimamente dele. Mas fazer toda essa cena para nada! Eu posso estar morrendo aqui, poxa.

Essa caverna é diferente como as outras. Paredes de um vermelho vivo quase ofuscante e muito quente, como se entrassemos dentro do forno mais quente do mundo. Eu não sou burra. Notei o padrão entre elas logo na terceira caverna. A primeira: muito barro e terra por todos os lados. Segunda: água, cores neutras e azuladas. Terceira: Rajadas de vento. Quarta: Fogo. São todos os elementos grudados dentro de cada túnel, o estranho é que em nenhuma dessas divisões eu estava com os olhos abertos para saber. Normalmente pulava de precipícios sendo materializada em outra caverna, ou desmaiada por causa de fantasmas que berram.

– Vou te contar uma história. - disse Loki de repente, sua voz extremamente fria - Era uma vez, um filho de Odin e Friga, Balder, ele era tão puro, que todos os amavam demais. Friga fez juramentos para todos os lados pedindo pra que seu filho fosse protegido, terra, planta, ar, tudo. Eles o testaram jogando flechas e pedras nela. Nada funcionou. Até que um Deus muito articuloso havia pensado em algo que Friga esqueceu de dar sua bênção. O visco. Que ela jugara uma planta pequena e inofensiva. Ele pegou uma flecha feita do ramo de visco e atirou no coração dele o matando para sempre. Quando frigga tentou ressuscitar o bom e benevolente filho pede para Hermodr, ele concorda ir ao submundo trazê-lo de volta. Hela concorda, com a condição de que todos os seres vivos derramassem uma lágrima por Balder. Mas a tentativa é novamente frustrada pelo Deus, que disse que não o faria. Dessa forma, Balder não pôde ser ressuscitado. Consegue imaginar a moral da história, Jane?

Meus olhos lacrimejaram.

– Não faça isso. - eu sussurrei dando vários passos para trás - não me faça odiar você.

– Fazer o que? Te contar a verdade por trás da carinha bonita? Eu não sou bom pra ninguém, Jane, eu mato por diversão.

Não da para acreditar que ele está vindo com essa porra de "eu sou perigoso"! Como, em deus, saimos de Nárnia e fomos parar em crepúsculo?

Respirei fundo várias vezes com minha visão ficando turva. Eu não conseguia respirar. Estava tendo uma crise de pânico. Respira, Jane. Respira. Acho que a febre nem ajudou tanto, e droga, o Loki dando uma de idiota estava fazendo eu ter uma crise? Respire, por favor. Não tenho uma crise desde que meu pai morreu anos atrás e lembro como é um inferno, o ar saindo dos pulmões, o cérebro lutando para encontrar uma saída lógica, a facilidade com que se perde a força enquanto seu corpo fica mais fraco e fraco...

Ajoelhei no chão quente colocando a cabeça entre os joelhos. Anda lá, respira. Otima forma de ter essa crise, ótima hora. Pensei em Alex, no seu riso gostoso e despreocupado; na forma que suas sombrancelhas se arqueam quando está fazendo piadas completamente sem graça. Os olhos verdes. Lábios lindamente esculpidos a perfeição e em como são macios, céus, muito macios.

Respira, Jane, respira.

Voltei ao normal de pouquinho em pouquinho. Aguçei minha visão apertando os olhos e levantei, Loki nem ao menos tinha virado para saber se já estava morta ou qualquer coisa. Todo tipo de simpatia que senti por ele nesses dias acabou ali. Ergui o queixo febril e andei há sua frente, indo para qualquer direção que não estivesse perto dele. Ele não poderia ao menos ser um amigo. Ele é mau. Deveria ter sabedoria disso antes. Tola!

Eu nem sei porque me importo no que penso sobre ele.

Eu não me importo, francamente.

Eu só... Só... Achei o modo com que ele conversava comigo. Sei lá! Estou completamente confusa e perdida.

Tenho que sair desse lugar antes do que pensei, talvez possa até ajudar com a busca pelo martelo do Thor. Não posso julgar ele pelas façanhas do seu irmão, não seria certo, né?

Meu braço coça novamente e minha visão fica nublada. A próxima coisa que sei é que caiu sonolenta, uma mão me segura e logo em seguida estou nos braços de Loki e sua boca captura a minha.


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