Lobo da Meia Noite escrita por Chiharu Aoi


Capítulo 1
Capítulo 1 - O Lobo Branco


Notas iniciais do capítulo

Primeira fic aqui... g.g Espero que gostem! Estou ao máximo tentando agradar, e por mais que este capítulo esteja grande, é mais como uma introdução, afim de que entendam mais este universo que estou apresentando à vocês. A ficha apresentada estará nas notas finais, onde explicarei também o número de personagens.Boa leitura!



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Capítulo 1

Os ramos e galhos secos rompiam-se sob os pés de ambos na mata fechada enquanto seguiam o cheiro daquele a quem iriam caçar quando os outros caçadores chegassem. Nicole resmungava amargamente dentro de si já que não gostava de contato com outros caçadores, sendo Dominic sua única exceção.

Chegaram a uma encruzilhada em que parecia que o cheiro se misturava e embrenhava em cada mísero caminho, o suficiente para confundir qualquer um, e dando a entender que transitava bastante pelo local, ou que aquela fosse sua armadilha pessoal. Dominic se ajoelhou a sua frente e soltou uma risada. Não uma risada nervosa, mas sim pretensiosa, chamando a atenção de Nicole.

– Ei Niki, olhe isso.

Aproximou-se e ajoelhou-se em frente a ele, deparando-se com uma enorme pata canina, grande o suficiente para que colocasse as duas mãos abertas dentro dela e sobrasse espaço ao redor. Dominic abaixou-se um pouco mais e pôs suas duas mãos abertas sobre as dela, grandes o suficiente para assumir todo o espaço. Franziu o cenho.

– Foda-se.

Olhou para cima e viu os olhos dourados divertidos e o sorrisinho com uma pitada de sarcasmo.

– Você sabe que eu te amo.

– Pois saiba que te odeio.

Ele simplesmente deu de ombros e levantou-se, limpando a terra dos joelhos da calça. Nicole levantou e percebeu várias pegadas em todas as direções possíveis. Algumas caninas, outras de um humano descalço. Aproximou-se e de cima viu logo que pelo tamanho eram pés masculinos.

– É macho, Dom. – anunciou.

– Péssimo. Normalmente estão mais irritados quando chegamos. – ouviu-o gemer atrás de si.

Sabia muito bem que era verdade então ergueu o olhar, seguindo as pegadas ligeiramente errantes, como se estivesse cambaleante quando as deixara para trás.

– Por que não basta apenas nós dois para ir atrás desse? – questionou mais uma vez em voz alta.

– Você sabe o que dizem. Ele trouxe muito trabalho. – Dominic respondeu rapidamente. – Começou atacando os rebanhos das fazendas e os burros dos moradores do vilarejo tentaram matá-lo eles mesmos.

– Não deu certo. – Falou entediada. Era óbvio.

– Por isso que aquele lugar está que nem um túmulo. – ele compartilhou o tom tedioso. – Parece que quase todos os homens de lá morreram, salvo um punhado de três ou quatro.

– Como sabe de tudo isso?

– Ao contrário de você, querida Niki, eu leio toda a Carta Mandante. – falou num tom acusador, fazendo com que os olhos azuis de tom envelhecido, como prata antiga de Nicole se revirassem.

– Muito bem senhor Certinho. – rebateu, pondo as mãos nas cinturas. – O que mais vai me dizer agora? Que frequentou todas as aulas sem falta da Academia?

– Não é para tanto. – disse com um olhar desdenhoso. Quase ninguém levava a Academia a sério.

– Mas já deveria ter gente na cidade. – resmungou. – Quando eles querem chegar? De noite?

Dominic baixou o olhar, o cabelo castanho médio que formava sua franja desigual cobrindo ligeiramente os olhos cor de ouro, parecendo desconcertado.

– Na verdade Niki... Nós vamos atrás do lobo de noite.

Dominic desviou com maestria do imenso galho que Nicole lhe atirou ao escutar aquelas palavras. Sabia muito bem que não tinha culpa alguma, mas conhecendo-a como conhecia, ela simplesmente não conseguira se reprimir.

– Como assim querem que cacemos um lobo preto numa floresta escura no meio da noite?! – exclamou raivosa.

– Não fale como se fosse culpa minha! Parece que o nosso amigo – falou com desdém visível. – tem um hábito bem noturno, pois só ataca à noite. Isso me deixa tão feliz quanto você, mas é bem melhor esperá-lo sair de onde quer que esteja do que procurá-lo, porque, convenhamos, é como procurar uma agulha num palheiro!

– Não que um lobo gigante não seja exatamente chamativo. – rebateu sarcástica.

Lobisomens tinham características que qualquer caçador ou ser humano saberia reconhecer, mesmo em suas formas humanas. Quando chegavam à adolescência tornavam-se muito maiores do que qualquer lobo, fato que a imensa pegada com que haviam se deparado comprovava. Todos eram, machos e fêmeas, filhotes e adultos, imensuravelmente negros. Em forma humana, tinham marcas de nascença semelhantes a tatuagens negras, no rosto, e, na verdade, em todo o corpo, quase que tribais, mas variava de cada um. Por isso, eles jamais se misturavam a vampiros e caçadores. Asco supremo por todas as partes. Alguns eram mais civilizados, portanto poderiam viver dentro da sociedade, mas a grande parte concentrava-se em matilhas, e os errantes normalmente traziam problemas.

Dominic tocou seu ombro, chamando a atenção de Nicole.

– Por mais que esteja certa, bem... Não dá pra fazer nada. Acho melhor a gente voltar para ver se alguém chegou – disse de maneira arrastada e nem um pouco animada quando se referiu aos outros caçadores. – e se absolutamente nenhum ser depredou minha moto.

Nicole quase riu, pois sabia que Dominic gastara muito tempo para conseguir comprar a velha porém extremamente bem conservada moto que possuía. E que a adorava justamente por seu visual antigo, pois Nicole gostava dela também devido a isso.

Deu uma última olhada para as pegadas novamente antes de segui-lo pela floresta de volta ao vilarejo. Mal via a hora de ir atrás do lobo.

XXX

Movia suas mandíbulas várias vezes, como se para verificar se sua mandíbula movia-se normalmente, antes de grunhir. Estava perfeita, mas parecia que ainda sentia os ossos do pescoço daqueles humanos rompendo-se entre seus dentes e suas orelhas zumbiam com gritos. Odiava isso. Não poderiam somente tê-lo deixado comer em paz?!

Suas patas chutavam a poeira do esconderijo improvisado que arrumara por enquanto, andando em círculos. Seus olhos doíam, mas mesmo com seus hábitos noturnos não conseguira pregar os olhos com o sol alto. Olhou com repugnância um dos raios de sol que adentrava por uma fresta da madeira e rosnou, antes de jogar seu imenso e pesado corpo contra o chão, fazendo a poeira levantar. Queria dormir, mas não conseguia relaxar.

Olhou novamente para o raio de sol, antes de virar-se e com a barriga grudada ao chão arrastar-se para longe daquela coisa que doía. Ao menos para si. Malditas exceções.

A cauda espanava o chão, a única parte do corpo que ainda se movimentava. Olhou para o buraco novamente. Aquilo o irritava. Rolou no chão, de costas para ele. Passou talvez meio segundo naquela posição antes de olhar por cima do ombro novamente para ele. Fazia se sentir ameaçado. Rosnou mais uma vez. Era apenas uma fresta com luz, mas o incomodava tanto.

Com um imenso suspiro de desistência, rolou novamente, virando um pálido humano de cabelos negros, estando completamente nu, para ir fechar aquele maldito buraco com uma pedra. Os lábios estavam comprimidos e os olhos irritados, mas o que poderia fazer? Depois de ter matado todos aqueles fazendeiros e seja mais o que lá eles fossem, era óbvio que chamaria a atenção. Não duvidava que talvez houvesse uma dúzia de caçadores atrás de si agora, mas isso não importava tanto. Apesar de seus esforços, sempre iria arranjar problemas, acima de seus esforços de se manter quieto.

Seu estômago agitava-se ligeiramente. Fazendo-o grunhir enquanto se transformava em lobo novamente. Estava começando a ficar com fome. Isso era mal. Rolou mais um pouco, tentando fechar os olhos para adormecer.

Estava começando a ficar com fome de novo...

Um ganido escapou. Sabia que iria se ferrar eternamente desde que se vira sozinho.

Talvez devesse caçar a noite. Talvez carne de caçador não fosse tão ruim quanto esperava.

XXX

– Ótimo. – Dominic gemeu. – Já chegaram.

Nicole revirou os olhos. Via dois homens com casacos de pele de lobo cobrindo seus ombros e braços, perto da moto de Dominic. Havia um perto de uma moto vermelha, muito mais moderna que a que seu amigo possuía. Ele tinha o rosto meio quadrado com uma barba rala e por fazer, bronzeado com algumas cicatrizes esbranquiçadas em seu queixo e sua face esquerda, com olhos negros e sagazes, pareciam prontos para zombar qualquer um que ousasse se aproximar o suficiente, com o cabelo curto e loiro, ligeiramente ondulado. Não aparentava mais de vinte e cinco anos.

O outro era mais alto e bastante mais pálido e sério que o bronzeado. Parecia ser também mais novo também, com olhos pequenos inexpressivos cor de grafite, margeados por sobrancelhas finas e elegantes, com um nariz reto e rosto anguloso, os cabelos finos e negros até seus ombros penteados para trás, com um brinco em apenas uma orelha de uma flecha com uma pedra vermelha de penduricalho semelhante a cabelos humanos. Pelo cheiro, Nicole percebeu que deveria ser o cabelo de algum – ou alguma – lobo. Parecia ter chegado ao local com as próprias pernas.

– Então um de vocês deve ser o dono dessa lata velha, não é? – o loiro disse desdenhoso, derrubando a de Dominic com um único chute, que caiu com um pesado som metálico ao chão. Nicole o sentiu se retesar ao seu lado, mas não fez nada, afinal, ele não era do tipo que dava corda a arruaceiros.

Olhou para cima enquanto escutava o bate boca e viu outro sobre o telhado de uma casa, resistindo bravamente ao frio matinal usando uma larga regata preta coberta por um colete feito com a pele de lobisomem que os caçadores usavam e calças pretas coladas, os braços brancos cobertos por tatuagens vibrantes de armas, lobos, monstros, flores e pensou ter visto um busto de longos cabelos. Seu rosto parecia deveras delicado para um caçador, com olhos amendoados e bem marcados com delineador – como Nicole fazia com os próprios, mas não esfumaçados -, de um incrível tom de verde claro, com cabelos curtos e negros, até a metade da testa. Ele percebeu que ela o encarava e lançou-lhe um pequeno sorrisinho. Nada de provocações, apenas algo do tipo não mexa comigo, que lhe deixarei em paz. Gostou dele justamente por isso.

Escutou o som de algo caindo pesadamente ao chão e viu o loiro estatelado com o de cabelo preto prendendo o riso. Dominic ainda segurava o revólver com silenciador que possuía e percebeu o tiro bem no meio da testa do loiro e um pouquinho de cérebro espalhando pelo chão. Acabou sorrindo. Não gostara dele também.

– O que deu em você, Dom? – perguntou nem um pouco preocupada com o fato de o amigo matar outro homem levianamente. Apenas estranhava, pois ele fazia o tipo que esperava e esperava antes de a bomba explodir.

O rapaz do telhado saltou rapidamente dele, se dirigindo ao mais novo cadáver enquanto Dominic respondia com a maior simplicidade do mundo:

– Não quero problemas mais tarde. – disse guardando o revólver novamente dentro do casaco. – Só isso.

– Ninguém quer a moto? – o de olhos amendoados questionou com uma voz petulante, erguendo as chaves, presas num chaveiro de presas de lobo. Nenhum disse nada, enquanto Dominic erguia sua moto. – Sério? Então é minha.

– Quais são seus nomes? – o de cabelos compridos perguntou repentinamente.

– Dominic.

– Nicole. – respondeu enquanto via Dom verificando se nada acontecera com a sua.

– Feros. – O rapaz do telhado respondeu, parecendo alegre com o novo pertence e ignorando completamente o cadáver. Girava o chaveiro no dedo indicador, as unhas pintadas de preto.

– Meu nome é Eryx. – o de cabelo comprido respondeu. – Estamos com menos um para de noite.

Seu tom de voz não parecia lamentar nem um pouco, e sim comemorar. Ele não disse mais nada, apenas saiu de onde estava com alguns moradores olhando horrorizados para o corpo ignorado.

– Legal. Sony Ericsson está entre nós. – Feros disse pondo as mãos nos quadris, olhando então distraidamente para o morto. – O que fazemos com ele agora? – perguntou cutucando-o com o bico do sneaker que usava.

– Deixe-o aí. Talvez deem de comer aos porcos. – Dominic respondeu com simplicidade, claramente já queria ir embora.

– Vocês dois – apontou para ele e Nicole com os dedos indicador e médio, fazendo então movimentos de tesoura com eles. – são amigos ou coisa parecida?

– Bem isso. – Nicole respondeu rapidamente.

– Pheee, sério mesmo? Se fossem um casal, perguntaria se eram realmente caçadores. – Rolou os olhos antes de subir na moto e arrancar nela.

Nicole franziu o cenho e virou-se para Dominic.

– Sério que ele parou para perguntar isso, Dom?

– Não é nem comum um caçador ter um bom relacionamento com o próprio mestre, quanto mais com outro caçador. – falou rispidamente, carrancudo. – Agora vamos sair daqui, que não quero encontrar mais ninguém além de você durante as próximas três horas no mínimo. – virou-se para os moradores que em sua grande maioria eram mulheres. – O que é?! Nunca viram um cara não?!

Pareceu que quase todas soltaram um histérico grito assustadiço e se dispersaram. Nicole balançou a cabeça, pondo as mãos na cintura, fingindo decepção.

– A que ponto você chegou Dominic... Aterrorizando mulheres inocentes... Tsc.

– Foda-se, quero sair desse lugar o mais rápido quanto o possível. – retrucou enquanto saía andando à sua frente, com passos duros e largos, fazendo com que Nicole praticamente corresse para segui-lo.

– Depois eu que sou a mal humorada.

– Eu escutei!

– Pouco me importa! – rebateu.

Não que nenhum dos dois já não houvesse visto o outro num mau humor memorável. Haviam sido criados juntos, já que foram mandados ainda bebês para o mestre de ambos. Nicole chegara ainda um bebê recém-nascido, enquanto Dominic já estava lá há um ano e poucos meses, tendo exatamente a mesma idade. Já eram caçadores há cinco anos.

Dominic era um rapaz de dezoito anos, alto com cabelos castanhos claros e desiguais, a parte direita da franja que chegava aos olhos dourados era mais longa que a esquerda, a parte esquerda do corte na nuca era mais comprida que o direito. Era bagunçado e Nicole achava legal. Não podia discordar que ele também era bastante bonito. O maxilar era bem desenhado e o rosto era ligeiramente oval, com o nariz reto e bem centralizado, os lábios agora comprimidos eram carnudos e naturalmente rosados. A maioria das pessoas conseguia vê-lo mais como um galã de filme adolescente do que como o bom caçador que era.

Nicole, apesar de mais baixa que Dom, era bem alta. Chegava a ser pálida por não gostar de interagir muito com o lado de fora de sua casa, seus cabelos lisos e lustrosos caíam como uma cortina negra por suas costas até suas coxas, passando ligeiramente da metade, com penetrantes olhos de um tom envelhecido de azul com cílios longos e grossos, bem delineados e marcados, esfumaçados. Gostava assim. O rosto também era ovalado com a pele bem lisa, uma espessa franja escondendo sua testa até os olhos.

– Estou com fome. – ele anunciou quando estavam novamente chegando à beira da floresta.

– Tenho cara de comida?! Você não trouxe nada?!

Dominic não respondeu, apenas jogou-se aos pés de uma árvore, soltando um longo e cansado suspiro.

– Não era você o senhor Responsável? – Nicole questionou com uma sobrancelha erguida, pondo suas mãos em sua cintura.

– Eu não disse nada! – Dominic ergueu as estendidas e balançou-as em frente ao próprio corpo, cobertas por grossas luvas de lã que deixavam seus dedos para fora.

– Não espere que eu vá até a moto para pegar alguma coisa. – avisou, mas ele simplesmente pegou seu braço e puxou-a para que sentasse à sua frente, entre suas pernas.

– Tô sabendo. Provavelmente só vou pegar alguma coisa quando estiver tremendo de fome. – murmurou. – Acha que tem uma pequena probabilidade de nosso amigo aparecer enquanto estivermos aqui?

– Sem chance. – Nicole disse com simplicidade.

XXX

– Acho que pelo menos quase todo mundo deve ter chegado. – Dominic murmurou dando uma enorme mordida no hambúrguer de micro-ondas que trouxera, olhando para o início do crepúsculo.

Nicole deu de ombros, apenas comendo mais lentamente o seu para que não acabasse mais rápido. Voltara a se sentar entre as pernas de Dominic depois que ele voltara com a comida que trouxera para ambos. Viu a mão dele pegando a lata vermelha de Coca-Cola com o sanduíche ainda meio embrulhado no papel seguro na outra. Fez uma careta. Não gostava de Coca.

– Não estou muito animada, e você sabe disso. – Murmurou, voltando a comer o seu.

– Não se preocupe. Qualquer coisa, eu mato outro. – Dominic disse num tom brincalhão. – E você cuida de mais um.

Era uma ideia tentadora. Olhou para o céu. O sol ainda estava presente, mas a lua também subia distante por ele. Precisavam acabar rápido para irem pegar as armas de verdade e adentrarem a floresta, já que ninguém aparecera por lá.

Terminou de comer sua comida rapidamente quando percebeu que Dominic terminara seu imenso hambúrguer, bebendo seu Cherry Coke em três goladas antes de levantar num salto. Dominic pegou os embrulhos e os amassou; enfiou três dedos na abertura da lata de Coca e a abriu com um rangido metálico, jogando a imensa bola de papel dentro. Pôs as mãos nos quadris e soltou um grande suspiro.

– Lá vamos nós. Que o lobo morra rápido.

Nicole assentiu, já pressentindo a dor de cabeça que seria. Sabia que se a maioria concordasse em algo, sempre haveria um que discordaria de algo e começaria uma discussão.

Os dois voltaram para a vila, percebendo que Feros perambulava pelas ruas geladas com a moto vermelha. Dominic jogou tudo na lixeira e foi pegar as armas na moto. Não havia sinal de Eryx, e apesar dele não ter feito nada, Nicole torcia que fosse menos um na caçada.

– Chegou mais alguém? – questionou quando ele passou por si em alta velocidade.

– Só mais uns nove. – gritou por cima do vento, já sumindo novamente.

Soltou um gemido. Tudo isso?! Não daria certo.

Dominic atravessou a rua, entregando a besta de prata de Nicole, junto com o recipiente de pequenas flechas de prata. Nada que não fosse de prata mataria um lobisomem.

– Talvez você vá gostar disso. – disse, lhe passando uma pequena e fina barra de prata. Os olhos dela brilharam quando percebeu o que era.

– Onde pegou isso?

– Do morto. – respondeu com simplicidade, ajeitando a bainha longa espada de lâmina ligeiramente curvada de prata no cinto.

Nicole soltou um breve sorrisinho de escárnio.

– Ele ainda está lá?

– Já está fedendo. – Dominic torceu o nariz. – E algum animal já começou a comê-lo, mas deve ter um gosto bem ruim, porque não passou disso.

– Se eles pensam que nós vamos enterrá-lo – Nicole disse, ajeitando a pequena aljava tampada, passando a correia por sua coxa. – podem ir tirando o cavalinho da chuva.

Dominic apenas riu, contando suas balas de prata, antes de guardá-las.

– Eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeei! – Feros passou novamente pela moto. – Já estão indo pra floreestaaaaaaaaaaaaaaaa!

Dominic franziu o cenho para ele enquanto sumia numa esquina.

– Como a gasolina dessa coisa ainda não acabou?

– Talvez o cara tenha enchido o tanque. – Nicole replicou rapidamente.

Dominic balançou a cabeça.

– Não estou falando da moto. Estou falando de Feros.

Deu de ombros. Não se importava. Prendeu a besta no cinto, amarrando então os longos cabelos para que não atrapalhassem, pondo por cima o capuz que era a cabeça do primeiro lobisomem que Dominic abatera quando tinha treze anos. Quando um caçador matava sua primeira presa, precisava tirar a pele, tendo que ter obrigatoriamente a cabeça, para levar de prova, então dar para outro caçador novato – não precisava ter um vínculo forte. No caso, ele dera o seu para Nicole. Nada surpreendente e imprevisto. Assim como ele usava o primeiro que ela matara. Uma troca justa.

– Quantas pessoas Feros disse que tinham mesmo, Niki?

– Mais nove. – respondeu enquanto os dois iam pelo caminho norte em direção à floresta, por onde viram Feros passar com a nova moto. – Com mais quatro, treze. Seriam catorze. Tem certeza que não é muita gente Dom?

– Com certeza é muita gente, mas não adianta reclamar. Olha pelo lado bom, tem menos um. – deu de ombros. – Que o lobo fique com fome e saia de onde quer que esteja que vai ser mais rápido.

Chegaram rapidamente à borda da floresta, vendo claramente oito pessoas. Não foi difícil também perceber outro cadáver um pouco mais afastado. Esse era o de uma mulher, com cabelos escuros e pele azeitonada, apenas meio jogada de lado. De um canto da mata apareceu Eryx, quando os dois se acoplaram sem dizer uma palavra, Feros apareceu correndo, com uma faixa transversal vermelha em seu tronco segurando uma katana embainhada em suas costas.

– Vish, mais um. – constatou o que todos já tinham reparado. – Melhor dizendo, menos um.

– Acho melhor nos separarmos em três grupos de quatro. – uma menina de cabelos curtos e encaracolados, loiros e cada cacho com a ponta pintada de verde anunciou. Ela era uns vinte centímetros mais baixa que Nicole, seu casaco era mais para um bolero com a cabeça do lobo servindo-lhe de única ombreira.

– Ah claro, prefiro procurarmos individualmente. – um homem alto e robusto de pele negra, completamente careca falou com sua voz grossa. Era robusto, com uma cicatriz prateada atravessando a face esquerda e seu cenho parecia ser do tipo permanentemente franzido, deixando-lhe permanentemente mal encarado. Sua pele de lobo estava amarrada junto com a calça, a regata branca expondo-lhe os músculos com veias saltadas.

– Prefiro quatro grupos de três. – outro rapaz interferiu. Parecia ter a idade de Dominic, com cabelos ruivos caindo-lhe pelo rosto anguloso, o resto preso em uma trança solta pendendo ao lado esquerdo da cabeça, preso pouco acima dos ombros e deixando o que não fora preso escorrer livremente. Assim como Feros, seu casaco, na verdade, era um colete.

– Você só está fazendo isso para implicar, não é? – uma menina com o cabelo curto e loiro cortado com uma franja retrucou, de estatura mediana, e... Reta. Seu cabelo mais parecia um capacete. O casaco estava mais para um xale.

– E se eu estiver? – o ruivo rebateu, dando um sorrisinho provocativo.

– Pressinto que não sairemos daqui hoje. – Dominic sussurrou para Nicole.

– Eu avisei. – alfinetou.

– Ora, ora. Tem dois de cochicho aí. – outro rapaz disse numa voz alta e esganiçada. Seu rosto era ligeiramente quadrado com o cabelo platinado curto e jogado para trás, com olhos pretos e uma expressão afiada. – Devem ser amiguinhos, não é? Ou namoradinhos?

Pareceu que todos os olhares voltaram-se aos dois. Era óbvio. A amizade deles era algo mais do que incomum.

– Eu não devo explicações algumas a um babaca feito você. – Dominic rebateu, parecendo ficar irritado com a petulância do outro.

– Se acalmem! – Eryx exclamou para então se virar para Dominic. – Você: Não mate outro, porque já temos menos dois, e...

– Ele matou o cara da vila?

–... E temos que ir adiante, porque o lobo não vai esperar nossa boa vontade para ir atrás dele. – Eryx continuou, ignorando completamente a pergunta.

– Ui, senhor Certinho. – Feros ironizou, balançando as mãos na frente do corpo, mostrando as unhas negras. Eryx lançou-lhe um olhar ameaçador, que foi devidamente ignorado.

– Três grupos de quatro?

– Quatro grupos de três. – o ruivo interviu.

– É apenas um grupo a mais. – a menina de cabelos verdes lhe dirigiu um olhar cético.

– Melhor individualmente. – o negro falou com seu maxilar travado.

– Melhor para ser abatido também. – Dominic se intrometeu, recebendo um olhar gélido, mas que recebeu de cabeça erguida. Seus olhos dourados demonstravam que pouco se importava com a opinião do outro.

– Três grupos de quatro. – outra garota concordou.

– Ninguém entra num consenso, então três grupos de quatro. – Feros disse, analisando as próprias unhas.

Depois de protestos, discussões e mais algumas ameaças de aparecimento de um novo cadáver, acabou que se foi decidido ser três grupos de quatro. Os doze dirigiram-se a encruzilhada, finalmente se separando. Dominic acenou discretamente para Nicole quando se afastava com seu grupo, e ela, completamente contrariada, foi juntar-se ao seu. Escutou uma risadinha fina e irritante, deparando-se com uma menina de cabelos escarlates secos, presos em um rabo de cavalo cuja cada mecha formava uma trança. Era tão magra que seus braços pareciam gravetos.

– O que foi isso? Aquele um acenou pra você? – ergueu o queixo. – Que pena, normalmente os mais bonitos são os que morrem mais rápido.

– Que pena, horrorosas também são estraçalhadas mais rápido. – rebateu. – Principalmente se forem pele e osso como certas pessoas.

A garota a encarou com uma expressão de puro ódio e Nicole deu um sorriso vitorioso, passando diretamente. O ruivo de antes apenas lhes deu uma olhadela antes de revirar os olhos e seguir em frente.

– Que pena que esse cabelo tão bonito pode ser perdido. – ela continuou, olhando para o cabelo que escapava por sob o casaco.

– Que pena que o seu parece uma palha de aço. Se passar a mão cai.

O ruivo soltou uma risada reprimida e Feros lhe olhou com um olhar divertido de quem estava claramente gostando das alfinetadas. A garota estalou a língua atrás de si, atrás de argumentos.

– Podemos usá-la como isca. Com toda essa carne, não vai tardar a atrair o lobo.

– Não, não vamos desperdiçar nada. – o ruivo continuou e deu uma boa olhada em Nicole. – Poderíamos usar quem mais sabe usar a língua...

– Se bem que era bem capaz de o lobo dar meia volta e sair correndo. – Feros continuou. – Ah! Não, não, ele morreria envenenado. Se bem que ele não teria carne para comer, só ossos para roer.

Ela lançou um olhar indignado aos rapazes enquanto Nicole dava risada. De repente estava gostando bastante de Feros.

Parou de prestar atenção por um instante, respirando fundo e sentindo o cheiro do lobo sendo trazido pelo vento. Repentinamente se animou. O cheiro era fresco, ou seja, o lobo saíra para caçar. Portanto, era muito mais fácil pegá-lo.

– Sentiram isso? – o ruivo perguntou o que se passou exatamente na cabeça de Nicole.

– Impossível não sentir, não é? – a ruiva perguntou num tom antipático.

– Depende, você é tão subnutrida que talvez tivesse perdido o olfato. – Feros rebateu, tirando sua katana da bainha.

Não sabia se isso era possível, só sabia que adorara a resposta, antes de por se a admirar a arma. O cabo tinha pequenas triangulações vermelhas e um fio enrolado, com miçangas e penas de pavão na ponta. Era visível que a lâmina era prata puro, com o símbolo gravado na base. Chegava a reluzir. Com certeza valera uma fortuna.

– Onde você arranjou isso? – a garota perguntou com a inveja visível em sua voz.

– Peguei do último cara que matei. Era um caçador do Japão. Até que ele era legal... Só que não.

Nicole ia fazer algum comentário sobre o fato de ele visivelmente peneirar coisas dos mortos quando escutou um som que reconheceria em qualquer lugar: O de dentes estraçalhando carne e rompendo os ossos. A primeira coisa que se passou em sua cabeça foi Dominic e o discreto aceno. Era óbvio que ela se preocupava com ele, afinal, era a única pessoa com quem se identificava, fazendo-a sentir-se especial entre tantos caçadores solitários.

Correu em direção ao som e ele pareceu parar, mas ainda assim sacou sua besta, carregando sua munição de flechas. Chegou à trilha e o que encontrou lhe deixou aliviada. O negro, a cabelo de capacete e o cara quadrada estavam lá. E Dominic não estava naquele grupo.

– Ei, trabalho em grupo significa... – Feros começou num tom falsamente didático, aparecendo logo atrás de si, quando o som de carne sendo estraçalhada novamente chegando-lhes aos ouvidos. Virou num salto, já atirando uma flecha que pelo som molhado, acertou o alvo. Viu o ruivo logo atrás de si, e então a garota desagradável ali, caída ao chão, com as costas abertas e o pouco de carne que possuía espalhada para os lados.

Os olhos prateados brilharam na escuridão, encarando-os com raiva, incômodo, dor, uma mistura de sentimentos, sendo então acompanhado por um ameaçador rosnado. Era difícil descobrir onde atirar-lhe no escuro.

– Corram para uma área aberta! – o ruivo deu-se ao trabalho de dizer exatamente o que Nicole pensara novamente, então os três correram cada um em uma direção, mas ela sentiu os passos pesados exatamente atrás de si, que correu em linha reta.

Mexeu em seus bolsos, deixando cair os dois pequenos dispositivos no chão. Com um estalo, escutou o ganido atrás de si e viu as árvores dando espaço a um imenso desfiladeiro que logo se abriria a sua frente. A luz da lua seria o suficiente. Assim que se livrou das árvores virou-se em direção a fumaça, vendo a silhueta imenso corpo. Atirou uma saraivada de flechas, escutando os ganidos, mas não o que justamente queria escutar: O som pesado caindo ao chão, indicando que já desistira de resistir.

Passou um único momento e Feros saiu de dentre as árvores, mas o mais completo silêncio estava ali. Nicole franziu o cenho e abaixou a besta, tentando ver se o lobo dera ao menos meia volta.

Foi quando a imensa sombra saltou sobre si, cravando-lhe profundamente as garras na coxa direita. Gritou de dor e caiu no chão, pegando sua besta. O animal afastou-lhe com uma patada, jogando-a além do alcance de Nicole, que pegou o bastão e balançando-o para que virasse uma lança e cravando no animal quando este investiu sobre si.

Os olhos prateados se arregalaram, e seus olhos azuis também. Todos os lobisomens eram pretos como a noite.

Mas aquele era branco como a neve.

O sangue pingava da boca, maculando a pureza de cor na pelagem. A grande cabeça do animal estava a apenas alguns milímetros do rosto de Nicole, tão próximo que se levantasse a mão tocaria o focinho preto. Ele a olhava dentro de seus olhos enquanto resfolegava, já que a lança por muito pouco não tendo atingido o coração. Viu flechas e armas cravadas em suas costas musculosas, mas nada daquilo fora o suficiente para que caísse. Pareciam mais joias de prata que as armas que eram, fazendo o rubro sangue escorrer-lhe por seu pelo, como fios vermelhos bordados em branco.

O lobo ganiu e soltou um rosnado, olhando para trás. Nicole viu claramente Dominic e o ruivo com revólveres em punho, mas mesmo com uma lança de um metro cravada no peito, correu em direção aos dois que apenas se abaixaram quando ele saltou por sobre eles e sumiu na floresta.

– Uau! Um lobo branco! Nem sabia que existia! – Feros exclamou, mas Dominic já corria em direção à Nicole.

Nicole rangeu os dentes. Deveria agradecer por estar viva, mas estava com raiva. Estava tão próximo, mas não conseguira sequer...

– Com tudo aquilo, acho que ele não vai durar muito. – o ruivo anunciou, enquanto Eryx e um rapaz de cabelo castanho ainda encaravam o caminho por onde o lobo fugira.

– Parabéns, você é a única garota que sobreviveu. – Dominic disse a ela enquanto pegava um de seus braços e a fazia passá-lo envolta de seu ombro. Entendendo o recado, abraçou seu pescoço, arquejando quando ele a carregou e fez mover a coxa machucada.

– Não preciso da piedade de um pulguento de três metros de altura. – Nicole murmurou, cravando as unhas nos pelos do casaco de Dominic para descontar sua raiva e a dor que sentia. Viu de relance o olhar sugestivo de Feros e o surpreso dos outros três não com o que ela dissera, e sim com a cena, mas nem se importou.

Porém podia se acalmar. Sentia o cheiro de Dominic e ele estava bem ali. Ao menos não virara ração de lobo. Reparou que havia sangue escorrendo por seu rosto e que suas roupas estavam ligeiramente rasgadas e tinha alguns arranhões por sua pele, principalmente no pescoço e no peito.

– Onde você se machucou?

– Aquele um pulou encima de mim, mas ficou mais interessado na cabelo de sapo. – balançou a cabeça. – Depois saiu correndo.

– Esses dois são um casal, estou falando. – Feros disse recebendo um olhar mortal de ambos.

– Cada doido com sua mania. – o ruivo disse e coçou a cabeça. – Sério que sobreviveu só isso? Normalmente um lobo é... Se bem que aquele era um branco. Não era normal.

– Óbvio que não era. Mata quase todos antes que percebam. – o moreno retrucou e o ruivo virou-se para encará-lo.

Dominic soltou um suspiro teatral e revirou os olhos, então entrou na floresta novamente enquanto carregava Nicole em seu colo.

– Pressinto mais um cadáver. – ela cantarolou, tentando ignorar a dor que parecia lhe nublar a mente, olhando por cima de seu ombro, aproveitando a visão dos dois discutindo.

– Se isso te deixa feliz. – Dominic disse friamente, fazendo-a voltar-se para ele. Seu rosto estava tenso e o maxilar movia-se ligeiramente, revelando que ele rangia os dentes.

– Ora Dom, o que foi?

– Nada, só agora vi o quanto isso está feio. Estou vendo a gordura daqui. – respondeu, apertando o passo. – Você sabe que eu não gosto quando você se machuca muito.

– O mesmo. – disse estremecendo quando Dominic saltou por alguns corpos, a dor parecendo se intensificar de tal modo que preferiu fechar os olhos, enquanto um formigamento ligeiramente conhecido espalhava-se por seu corpo.

Estava na beira da inconsciência quando sentiu Dominic reduzir seu passo e algo de leve roçar em seus lábios.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Espero ter agradado! Acho que vocês perceberam o números (28) de personagens que desejo. Bem, há um motivo. Há sete "raças" as quais necessitarei para seguir com Lobo da Meia Noite, então precisarei de quatro membros de cada raça! E bem, agora a ficha:
*FICHA DE PERSONAGEM
*NOME:
APELIDO:
SEXO:
SEXUALIDADE:
IDADE (Lembrando que os caçadores envelhecem muito devagar e vivem muito mais que um humano normal. Lobisomens e vampiros em si não envelhecem depois dos 24 anos):
HISTÓRIA PESSOAL:
NACIONALIDADE:
RAÇA (lobisomem, vampiro (puro sangue, mestiço, ou transformado), ortros (mestiço vampiro/lobisomem) caçador de vampiros, caçador de lobisomens):
APARÊNCIA:
PERSONALIDADE:
O QUE GOSTA?:
O QUE NÃO GOSTA?:
PONTOS FORTES:
PONTOS NEGATIVOS:
ESTILO (roupas que costuma usar):
HOBBIES:
META PESSOAL:
CARREGA ALGO DE VALOR PESSOAL?:
DESEJA QUE O PERSONAGEM TENHA PAR ROMÂNTICO?:
SE IMPORTA SE O PERSONAGEM MORRER?:
E é isto! Espero reencontrá-los em breve!