Blair me odeia. Simplesmente me odeia! E eu notei isso assim que chegamos ao carro. Josh abriu a porta do carro para mim. Eu entrei, ele em seguida e depois Gretchen. Blair fechou a cara ao sentar no banco da frente. E eu não entendi.

Claro, eu estava acostumada às pessoas me olhando torto como se me achassem estranha e me quisessem bem longe delas. Era desse jeito que Blair me olhava. Esperei que isso fosse só o meu complexo de inferioridade em ação e não dei atenção. No aeroporto , ela parecia ser legal. E foi simpática comigo e tudo. Só fechou a cara depois que entramos no carro. Que esquisito.

A Sra. Watson e Blair moravam num perto da praia. O aeroporto ficava bem longe de lá. Tivemos, portanto, que andar um bocado de carro. Los Angeles é a segunda maior cidade dos Estados Unidos e é bem assustadora.

Não me entendam mal: Eu nasci em Boston, capital e maior cidade de Massachusetts. Já estive em Nova York. Não existem muitas coisas urbanas que me assustam. Mas Los Angeles tem um jeito de... Não sei. É muito... Grande. Intimidador. Talvez eu estivesse mais acostumada com Franklin do que havia pensado.

A Califórnia é um estado muito quente, talvez por isso nunca tenha me atraído. Adoro lugares frios e com chuva. Quando chegamos à casa onde Josh havia vivido a vida inteira, eu já estava quase enjoada. É, não me dou muito bem com carros. Quando passo mais de meia hora em um carro em movimento, eu enjôo. Talvez fosse por isso que Josh ficava me olhando preocupadamente de vez em quando.

- Luh, você está verde. – ele comentou.

- Que legal. – respondi – Adoro verde.

- Deixa de ser esquisita. – Gretchen rolou os olhos – Nossa, eu nunca estive em um lugar tão urbano assim! Você já, Luh?

- Bem... - Eu murmurei – Já estive em Boston, Nova York, na Filadélfia, Baltimore e Trenton. Quase toda a megápole no Nordeste dos EUA.

- Você é de Boston, não é, querida? – perguntou a Sra. Watson.

- Ah... É, eu sou. – respondi – E pretendo voltar pra lá.

- Ah, é mesmo?

- Hmmm... – eu estava mesmo enjoada e provavelmente delirando, por que falei: - É, estou bem estabelecida em Franklin, mas eu queria fazer faculdade em Boston. Sabe como é, é lá que fica Harvard.

- Você quer ir pra Harvard? – perguntou Blair com um tom de antipatia na voz.

- Quero. – respondi esfregando os olhos – Eu queria estudar literatura ou quem sabe direito...

- Ah, que interessante! – Exclamou a Sra. Watson sorrindo pra mim – Bem que eu queria ter filhos decididos assim.

- Mamãe, eu só tenho doze anos – resmungou Blair em tom de defesa.

- E eu vou saber o que eu tenho que fazer quando chegar a hora. – Josh também falou e em seguida resmungou pra mim: - Você pode parar de ser a adolescente perfeita? Minha mãe já tem argumentos suficientes contra mim para você ficar dando exemplos pra ela.

- Eu não sou perfeita! – falei em tom ofendido.

- Por que vocês falam como se isso fosse uma coisa ruim? – perguntou a senhora Watson.

- Por que eles são a Luh e o Josh. – Gretchen respondeu – Eles tem que brigar uma vez por dia para provar o amor que sentem um pelo outro.

- Cale a boca, sua bocuda de peito caído. – É, essas palavras saíram da minha boca.

Josh teve um acesso muito forte de riso quando eu falei isso. Gretchen fez uma cara muitíssimo ofendida e praticamente rosnou pra mim:

- MEUS peitos não são caídos! Os seus é que são gigantes, sua peituda anômala!

- Vocês duas tem que discutir o tamanho dos peitos agora? – perguntou Josh – Eu não vou conseguir dormir a noite, estou ETERNAMENTE traumatizado.

- Morra. – Gretchen e eu respondemos em coro.

- Morram vocês duas. – Josh estirou a língua para nós.

- Mantenha sua língua dentro da boca, se não quer que eu arranque ela pra você, Watson.

- Calem a boca, vocês três! – Blair gemeu. - Ah meu Deus, parecem crianças.

Depois dessa, a gente se calou. Você se sente meio ridículo quando uma garota de 12 anos diz que você parece criança.

A casa da Sra. Watson era, na verdade, um chalezinho perto da praia. Era bem pequeno. Dois banheiros, três quartos apertados ao máximo, uma cozinha e a sala de estar. O menor quarto da casa pertencera/pertencia a Josh. E era neste quarto onde – ai meu Deusinho do céu! – eu dormiria. Gretchen dormiria com Blair. Aí eu me pergunto: POR QUE EU?!

Claro que – ainda no avião e parecendo muito constrangido – Josh explicara a situação. Alguém teria de dormir no quarto com ele, pois na sala só havia duas poltronas e nenhum sofá onde um ser humano poderia dormir. Gretchen e eu resolvemos isso do modo mais maduro possível (par ou ímpar) e eu, a perdedora, dormiria no quarto de Josh.

Não era tão ruim quando eu pensei que seria, eu pensei ao entrar no quarto dele. Parecia arrumado demais para o quarto de um cara. Parecia de fato inabitado há meses. Havia uma cama coberta por um edredom, uma cama de armar, uma estante, um guarda roupa e uma escrivaninha.

Na estante estavam alguns poucos livros, vários CDs, alguns troféus de futebol da época da escola e três porta-retratos. Posteres cobriam quase toda a parede azul-sem-graça.

- Hmm... Bem vinda – ele falou, incerto.

Eu ri ao largar minha mochila do chão. Aproximei-me das fotos na estante para examiná-las. A primeira parecia ter mais ou menos um ano. Mostrava Josh e um garoto loiro magro e muito bonitinho no que parecia ser uma festa. A segunda tinha uma garota loira muito parecida com a Gisele Bündchen.  Senti um aperto na garganta ao vê-la. Era incrivelmente bonita! Eu me virei rapidamente para a outra foto.

Eram duas crianças na praia. Uma garotinha de cabelos castanhos parecidos com os de Josh e um garotinho muito parecido com ela. Ambos sorriam e faltavam os dois dentes da frente dele.

- Que gracinha! – eu ri

- Ah, que droga! – ele resmungou – Ela colocou isso ai de novo. Mamãe ama essa foto. Acho que ela quebraria meus dentes de novo se eu deixasse.

- Quebraria? – repeti

Ele veio para o meu lado e largou a própria mochila, como eu fizera, segundos antes.

- É. Eu cai do skate e quebrei os dois dentes da frente. Só que eram dentes de leite, então nasceram outros no lugar.

Continuei olhando para a foto, mas registrei pelo canto do olho que Josh estava sorrindo (desta vez com os trinta e dois dentes). Olhei-o de soslaio e resmunguei:

- Ficava mais bonito sem os dentes.

- Eeei! – ele reclamou socando meu ombro de brincadeira.

Eu ri um pouco antes de olhá-lo. Fiquei séria no instante em que registrei sua expressão. Ele parecia meio atordoado,quase não à vontade de estar na própria casa.

- Deve ser estranho estar de volta – comentei.

- Como vocês se sentiria se voltasse a Boston?

- Não sei.

- É exatamente como estou me sentindo agora. – ele sorriu torto.

Foi quando aconteceu algo realmente estranho: Josh e eu nos olhamos nos olhos. Quero dizer... REALMENTE olhamos. E eu fiquei impressionada com a cor dos olhos dele. Era um castanho tão profundo que me perdi dentro deles.

E fui tomada pelo impulso mais idiota que já senti na vida: Ficar na ponta dos pés e acabar com a distancia já ridiculamente pequena entre nós. E era o que eu teria feito se o próprio Josh não estivesse se curvando pra mim como se fosse... Me beijar. AiminhasantalhaminhadoHimalaia!!

- O que vocês dois estão fazendo aí?

Cara, ainda bem que eu não sou cardíaca, caso contrário teria morrido naquele instante. Imagine você estar num clima de beijo com um cara muito gato (ainda que seja seu melhor amigo) quando , do nada, a porta abre-se e entra no quarto a irmãzinha de doze anos do dito cujo. É, é uma situação pra levar um susto.

E acabo de me lembrar que o acima citado melhor amigo gato tem uma namorada que parece a Gisele Bündchen.  Ah, e quando eu digo que a minha vida é uma merda ninguém quer acreditar em mim e ainda me chamam de emo por causa disso.

- O que você quer, Blair? – Josh perguntou bruscamente. Ele parecia encabulado.

- Ai, também te amo! – respondeu Blair, surpresa com a grosseria

Ela não notou nada. Graças a Deus. Graças a Deus! Mas se bem... Se a Blair entrou no quarto e não notou nada, provavelmente foi coisa da minha cabeça. Ai, meu Merlin!

Claro, não há nenhum sentido em mentir pra mim mesma dizendo que eu não gosto do Josh. Por que a idiota aqui está completamente na dele. E eu quase beijei ele e ele NÃO ia me beijar! Ah, que mico! Será que Josh notara que eu estava babando por ele? E vamos ter que dormir no mesmo quarto! Que CONSTRANGEDOR!

Logo atrás de Blair estava Gretchen com uma expressão reservada e estranha. Aquela expressão que Gretchen usa quando está tendo idéias. Ideias que normalmente me fazem precisar de uma boa xícara de chá verde e um travesseiro fofo.

- Então... Vocês tem um show para ir mais tarde. – Comentou Blair.

- O SHOW! – gritamos Gretchen e eu em uníssono.

- Banho! – falei correndo para a bolsa e pegando minha toalha

-  Chapinha!  - Gretchen falou correndo de volta para o quarto da Blair.

- Elas são sempre assim? – perguntou Blair enquanto Gretchen e eu nos descabelávamos.

- A Gretchen é. – respondeu Josh. – A Luh só em ocasiões especiais.

Cara, como eu estava distraída! Não lembrei que o show era hoje! O que eu tinha na cabeça?

...

Ok, eu tinha meu melhor amigo na cabeça por acaso.

QUE INFERNO!