Beard, tea and tobacco. escrita por Enoaies


Capítulo 4
Wrong words, wrong people


Notas iniciais do capítulo

Quarto capitulo! Espero que gostem. Geoffrey Moosen.



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Leesburg, Virginia – 17 de Setembro.

Três dias. Há três dias as aulas haviam começado, e tudo já estava um caos a nossa volta. Professores se atrasavam para o primeiro de aula, alunos insistiam em faltar devido à proximidade de dezembro, e a superintendente repassava todos os conteúdos a serem estudados nesses últimos meses. Sem dizer o cheiro infernal de mel que continuava impregnado em um de meus ternos preferidos, por mais que Sr.Ocean tivesse atendido ao meu formal pedido, e parado de colocar a substancia em sua bebida.

Na manhã de 14 de Setembro, as coisas estavam catastroficamente piores. Os corredores cheios de jovens insistindo em ficarem fora da sala, professores dando aula para meia dúzia de alunos, inspetores em algum lugar da escola e varias coisas a serem resolvidas ao telefone. Parecia me desdobrar em mil para que as coisas não fugissem do controle, mas todos os meus esforços pareciam apenas uma pequena ação diante de tudo aquilo. Um gesto positivo, que exasperado buscava ordem no desespero.

–Srta.Eleanor Ryland. – chamei a garota, que de imediato parou no meio do corredor.

–Diretor Moosen! – engoliu em seco.

–Não devia estar na aula de inglês agora?

–Claro, eu devia.

–Então. – arqueei a sobrancelhas.

–Já estou indo.

–Ótimo. - declarei, vendo-a voltar pelos corredores. Assim que terminado a “vigilância”, voltei até meu escritório, onde me encontrei com um telefone que tocava furiosamente em gritos histéricos. Atendi. – alô.

–Sr. Moosen? – a voz feminina ao outro lado da linha me era desconhecida.

–Sim. No que posso ajudá-la? –indaguei.

–Olá, meu nome é Judith Wolin, e estou ligando para falar sobre o pacote de férias para Miami que sua noiva contratou.

–Pacote para Miami? – franzi o cenho, mesmo sabendo que ela não veria tal reação.

–Sim. Um pacote de um mês para o final deste ano. – explicou.

–E quando foi que ela contratou esse pacote para Miami?

–Faz três meses. – informou-me. – isso não era do seu conhecimento?

–Não, eu apenas havia me esquecido disto. –menti. – mas houve alguns imprevistos e acho que não poderemos fazer a viagem.

– Podemos marcar uma hora, se quiser re-agendar a viagem.

–Acho que não seria possível. – insisti. Aquilo me parecia uma confirmação de que meu dia só poderia ficar pior.

13h45min

Os corredores já estavam mais calmos, os professores estavam em suas salas, e eu terminara de enviar e arquivar algumas fichas, referente aos alunos e ao corpo docente. A única papelada que faltava era referente ao novo professor de historia, Sr.Ocean, que no momento estava esperando por sua próxima aula, na sala dos professores. Como tinha tempo, peguei a ficha que faltava ser preenchida, e fui até a sala para terminar com tudo aquilo de uma vez.

Ao chegar, parei junto a porta semi-aberta, vendo-o concentrar-se em um livro de capa dura, que me pareceu bastante com um dos exemplares de Shakespeare. Estava bebendo naquela enorme xícara de porcelana listrada, usava óculos, armações que pareciam de madeira e lentes um tanto grossas. Notei que não havia ali o cheiro enjoativo e adocicado do mel, havia somente o chá, quente e fumegante. Antes que reparasse minha presença do lado de fora, entrei.

–Sr. Ocean. – chamei em baixo tom.

–Sr. Moosen. – levantou os olhos parecendo um tanto surpreso com minha presença ali. – os outros professores não estão. – fechou o livro, marcando a pagina com o dedo indicador.

–Não estou aqui para falar com nenhum deles, e sim com o senhor. – olhei em volta, puxando uma cadeira.

–Comigo? – indagou ríspido.

–Sim. – sentei-me com a ficha em mãos. – tem um tempo? – indaguei.

–Claro. – deixou o livro em um canto e logo retirou os óculos, colocando-os junto ao livro. – pode falar.

–Bem. – limpei a garganta. – preciso terminar de preencher esta ficha para mandá-la ao departamento. – expliquei. – para que registrem o senhor formalmente como o professor da escola.

–Entendo. – fez um gesto de cabeça.

–Então. – me ajeitei na cadeira. – para que a lista fique completa. – dei mais uma folheada para me certificar das informações pendentes. – precisamos do seu endereço, numero da identidade e um telefone de alguém de uma das escolas em que trabalhou.

–Posso perguntar o motivo? – franziu o cenho inclinando-se um pouco.

–Para que o departamento de ensino possa fazer contato e pegar outras informações. – expliquei. – caso precise.

–Entendi. – fez outro sinal de cabeça.

–Comecemos com seu endereço. – disse já mais ríspido, em resposta a seu tom.

15h30min

Havíamos liberado todos, meia hora antes, como sempre fazíamos quando restavam três meses para o fim do ano. Os professores já tinham ido embora, e eu estava sozinho na escola. Atendia ao resto dos telefonemas e pegava os faxes com chegada prevista até quatro horas. Resolvera o assunto de May Belle com a agencia de viagens, e recebera uma mensagem furiosa dela dizendo que precisávamos conversar.

Já conseguia imaginar o jeito como ela descreveria todo o clima quente de Miami, e tentaria me convencer à re-contratar o pacote. Falaria-me sobre as praias e as bebidas, festas e pessoas, mas nada que realmente agradasse a um diretor de escola. Não um diretor como eu.

Alguns minutos antes de eu sair, o telefone tocou. Cogitei a idéia de deixá-lo tocar, mas nada iria acontecer se o atendesse, não perderia nada, não me atrasaria para nada. Atendi.

–Alô. – virei-me de costas para a mesa.

–Como assim você cancelou o pacote para Miami? – sua voz estremeceu ao telefone.

–Não podia fazer essa viagem. Não tinha como. – continuei calmo. – não agora que falta tão pouco para o fim do ano.

–Coloque alguém em seu lugar, já disse. – esbravejou. – primeiro foi o casamento, e agora a viagem. Qual será a próxima coisa que sacrificara por seu trabalho? – indagou.

–Não cancelamos o casamento. – retruquei quase que na mesma hora. – apenas mudamos a data. –suspirei. – e não são sacrifícios, apenas trabalho.

–Eu trabalho, e não preciso fazer coisas como estas.

–São trabalhos totalmente diferentes May Belle. – rangi os dentes de modo silencioso.

–Geoffrey Moosen! Acho que o ultimo problema no final são nossos empregos. – bufou, desligando o telefone após alguns segundos em silencio.

No mesmo tempo, bati o telefone contra o gancho, busquei a pasta embaixo da mesa e sai pela porta, vociferando pelos corredores que levavam o som por toda a parte. As vezes não conseguia compreender a relação entre mim e May Belle. Não nos víamos muito pouco, por causa de nossos trabalhos, e quando nos víamos ou nos falávamos era para discutir algo sobre o casamento, o futuro ou sobre como eu devia começar a malhar. Realmente era algo que envolvia muita cobrança e paciência.

Antes de dobrar outro corredor senti um cheiro peculiar. Cheiro esse que não sentia a vários dias, e que voltou rapidamente, invadindo minhas narinas e me embriagando com toda sua doçura. Dobrei mais alguns corredores e logo me juntei a porta de madeira, vendo por uma fresta a fumaça adocicada que subia até o teto e ali mesmo morria. Pude ver de modo embaçado as grossas lentes e o livro de capa dura, o suéter e por um rápido instante, o cheiro forte do mel.

Então adentrei a sala, parando diante de seu único hospede. O incomodo e desleixado professor de historia, Sr.Ocean.

–Sr. Moosen? –tirou de imediato os óculos.

–O que falei sobre isso? – apontei a enorme xícara ao lado do livro.

–Disse que não deveria mais colocar mel no meu chá, mas.

–E como explica esse cheiro por toda escola? – o interrompi. – colocou mel no chá, não?

–Bem, eu.

–Desrespeitou um pedido que lhe fiz de modo educado. – esbravejei.

–Achei que todos tivessem ido embora mais cedo. – tentou explicar-se.

–Tivessem ou não ido embora mais cedo, isso não lhe dá o direito de desrespeitar o diretor. – argumentei.

–É só um pouco de mel.

–É só um pouco de mel, é só um atraso no primeiro dia. – argumentei. – é só um suéter infantil. –apontei de maneira arfante. O silencio pairou sobre nossas cabeças, residiu ali por alguns segundos, tornando o momento mais longo do que precisava ser.

–Entendo. –sussurrou. Pegou a pasta no centro da mesa e jogou dentro dela o livro e os óculos, de maneira qualquer, terminou em um gole o chá adocicado, e então se dirigiu até a porta. – me desculpe pelo chá. – saiu pela porta, deixando naquele momento somente o som dos passos no corredor e o cheiro do mel.


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Notas finais do capítulo

Espero que estejam gostando, pois estou gostando de escrever. Continuem pacientes, e quem sabe um review para este cap? Até o próximo capitulo! :3



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