Beard, tea and tobacco. escrita por Enoaies


Capítulo 1
A cup of tea and a new job


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem deste primeiro capitulo, e da historia. Até as notas finais!



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Leesburg, Virginia – 09 de Setembro.

De todas as coisas que sempre almejei, acho que me casar e encontrar a pessoa “perfeita” sempre foi a última delas. Não que nunca tivesse imaginado, mas a idéia sempre me pareceu meio espremida no meio de todos os meus sonhos de conquistar coisas maiores, bem mais importantes do que juntar meu nome ao de outra pessoa em um pedaço de papel e comprar uma casa em um bairro no subúrbio. Nunca havia trabalhado a ideia; até um ano e meio atrás, onde me vi sendo deixado no quarto frio de um apartamento na região sul de Leesburg, era a sexta vez que aquilo me acontecia.

Demorei algum tempo até decidir morar com uma das únicas pessoas que não era capaz de me deixar deste modo, minha mãe. Trudie Olen, que morava ao norte, na outra ponta de onde fora abandonado pela sexta garota pela qual me apaixonara perdidamente. Ela conseguia ser uma das pessoas mais otimistas e acolhedoras que já vira em todo esse tempo. Mantinha a casa em ordem e do mesmo modo para quando eu voltasse, porque sempre acabava o fazendo, por mais que todos insistissem em acreditar que aquela seria a vez em que tudo daria certo.

—No que pensa tanto? – surgiu por detrás do balcão de madeira trazendo consigo mais um pouco de chá. – não fique preocupado com o emprego. – pousou o bule sobre a mesa, limpando as mãos no avental manchado. – sei que você deve ter feito o seu melhor, e por isso conseguira o emprego.

Essa era uma das filosofias de minha mãe, a qual ela usava em quase todas as ocasiões em que seus filhos se mostravam decepcionados ou preocupados com algo. Lembro-me de que a usara para convencer minha irmã de que ela venceria a feira de ciências do sexto ano, e também comigo, quando aos sete anos tentei fazer um piquenique para boa parte da família, o qual terminou em um fracasso.

Também me lembro de que só uma vez ela mudou sua incrível filosofia, para um sussurro incerto “As coisas ficarão melhores.”, foi seu curto discurso para me convencer de que qualquer coisa era mais eterna do que a dor da separação dos meus pais. E mesmo aos oito anos e meio eu sabia que ela sentia tanto quanto eu, o quanto aquilo parecia eterno.

—Não tenho certeza. – dei um gole na xícara fumegante de chá. – nunca demoraram tanto para responder a uma entrevista. – fiz uma pausa para analisar todas as chances possíveis. – acho que não gostaram de mim. – conclui.

—Não diga besteiras. – sacudiu um guardanapo em minha direção. – você é um garoto incrível. – sorri diante daquela declaração. – e quando pretende tirar o resto de suas coisas daquele apartamento horrível?

—Não sei, talvez o deixe até ela terminar de pegar o que ainda tem lá.

—E quando será isso?

—Ela só ira voltar para a cidade daqui a três meses. – fiz uma pausa olhando-a bufar. – então, no inicio do inverno.

—Não devia tê-la deixado levar as chaves. – sentou-se a mesa, dobrando o avental, deixando-o no encosto da cadeira. – isso só acabou dificultando tudo ainda mais.

—Tem razão. – disse em um tom audível. – agora podemos tomar o café sem falar dela ou do apartamento? – arqueei a sobrancelha por cima da xícara, que esfumaçava a cima dos meus lábios.

—Claro que podemos. – buscou a torrada ao canto da mesa.

***

12 de Setembro – 14h45min

Depois de três longos dias, recebi uma ligação do diretor da escola “High VA Leesburg school”, na ligação todas as minhas dúvidas sumiram, dando certeza ao que de certo modo surgira em minha cabeça somente no momento em que meu currículo era enviado pelo fax. Desliguei o telefone após o fim da ligação, esperando que tudo voltasse a seu devido lugar. Tudo parecia girar rapidamente.

—Esta tudo bem. – sussurrei, deixando uma fresta por onde o silêncio entrou deixando o momento perpetuado.

Tinham marcado uma reunião, para que soubesse de todos os planos e esquemas horários da escola, e no final algo que a pessoa ao outro lado da linha descrevera como “Um pequeno passeio, para um melhor conhecimento da estrutura da escola”.

Por um instante deixei toda aquela preocupação que parecia me aterrorizar. Subi até o quarto e dirigi-me até o pequeno armário gasto, onde procurei no fundo um de meus suéteres surrados e uma calça jeans. Embaixo da cama busquei meu único sapato casual/desleixado, ao qual usava para qualquer ocasião. Já no banheiro, um rápido banho com um daqueles sabonetes de lavanda de loja de conveniência, e logo depois uma troca de roupa.

Desci pelas escadas, agarrando o molho de chaves em cima da mesinha na entrada, que quase me acompanhou até a varanda. Após o tropeço caminhei até o fusca junto ao meio fio, entrei, sentindo o banco dar um solavanco para trás. Liguei o carro.

15h06min

Parei o carro em um grande estacionamento, cheio de placas e nomes que pareciam ser dos professores que ali lecionavam. O prédio era grande, podia abrigar uma boa parte de nossa cidade, sem contar uma daquelas bandas do colegial. Adentrei o prédio, esperando algum tipo de recepção, o que não fora bem o caso. Na porta não havia ninguém, somente um corredor extenso e o ar gelado que corria por entre os armários azuis com grandes cadeados.

Caminhei por um tempo até encontrar um corredor menor, após algumas portas fechadas, terminava em uma aberta, situada no centro. Inclinei-me a fim de ver uma placa acinzentada que estava presa a ela, mas não obtive sucesso, então continuei pelo corredor. “Diretor” era o que dizia a placa presa a porta. Olhei em volta, não conseguindo vê-lo ali, decidindo então sentar-me na cadeira estofada a frente da mesa.

Todo o local era organizado, as cortinas amarradas com uma fita vermelha e os livros em uma estante logo ao canto eram postos em uma ordem de cores, que deixava para segundo plano os títulos e autores aos quais pertenciam. A sala tinha um leve cheiro de nozes e camomila, um aroma que pareceu brevemente se misturar a um cheiro que parecia claro, mas naquele momento irreconhecível ao seu olfato.

— Heather Kingsley? – uma voz abafada soou do corredor. – sim. 14 de Setembro. – uma pausa. – sim, depois de amanhã. – continuei virado para a mesa a minha frente. – tudo bem. – a voz pareceu mais perto. – até. E bom feriado, para a Sra e Heather. – cruzou a sala parando junto a cadeira do outro lado. Meus olhos continuaram perdidos em um ponto ao qual nem eu conseguia identificar. – o Sr é Charles Ocean? – indagou pousando algumas folhas sobre a mesa. Pude ver de relance meu nome em uma delas.

—Sim, Senhor – voltei minha atenção a frente, chocando meu olhar com o que me pareceu ser o diretor. Tinha uma cara de certo modo carrancuda e grandes rugas que percorriam os cantos de seus olhos, deixando a expressão ainda mais grosseira. Sobre toda essa fúria, uma barba castanho claro, que maior do que a minha, se espalhava, com tons de ruivo, misturava-se ao cabelo respeitosamente penteado. – vim para o cargo de professor de história.


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Notas finais do capítulo

E então? Espero que tenham gostado deste primeiro capitulo. Deem review e até o próximo!



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