Um Amor que Cura escrita por Além do Meu Olhar


Capítulo 41
Reflexão


Notas iniciais do capítulo

-Um deslize e Adélia descobre que Alberto teve importante função em seu parto... Sabiamente Joana entra em ação para que dessa vez nada possa separar o casal.

Boa leitura!



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A cerimônia foi triste e silenciosa, poucas pessoas compareceram, os pais de Adélia, de Alberto, Glória e Nestor, Joana, Estela, o médico que cuidou da gravidez e mais alguns conhecidos. A igreja embora pequena, era muito suntuosa, as imagens de santos ostentavam grossos mantos bordados com fios de ouro, mesmo tamanha beleza não ofuscava a figura de Adélia na primeira fileira de bancos, próxima ao altar, com um vestido preto sem detalhes e os cabelos soltos, sua imagem pálida destacava-se entre todos os presentes, que a olhavam pesarosos por sua perca. Ela segurava firme um terço, o mesmo terço que Joana havia colocado em suas mãos ainda no hospital e parecia alheia a tudo que acontecia a sua volta.

—Seu filho, anjo escolhido por Deus, regressou aos céus, pois seu propósito aqui na terra já foi cumprido, parece errado que um bebê nem chegue a nascer e tenha uma triste partida, mas há algo maior que não podemos ver, entender e nessa hora tão pouco aceitar... Precisamos encontrar a força e esperança para seguir...

O padre falava de uma forma gentil em sua homilia, Alberto que manteve a mão sobre a da esposa observava as lágrimas que desciam pelo seu rosto. Do outro lado Joana igualmente chorava sem fazer um único som. Em seu peito crescia o medo e a angustia do que seria do depois, “Adélia se entregaria diante de tão grande dor ou superaria como fez em outras dificuldades ao longo de sua vida”? Ele não saberia responder, queria voltar atrás em sua escolha, queria poder ter salvo o bebê, queria não ter escolhido nada, e ter os dois ao seu lado, fechou os olhos com força enquanto o padre puxava uma oração seguida pelos presentes que se levantaram em respeito. Teve um vislumbre de como seria se fosse diferente, e em vez da morte estivessem celebrando a vida, o batismo da criança, liberta de todos os maus dos antepassados das duas famílias, sentiu um aperto firme em sua mão direita, abriu os olhos e encontrou Adélia com um sorriso triste então se deu conta que também estava chorando.

**

Após um curto cortejo fúnebre, com a luz do dia quase se esvaindo, Adélia depositou uma rosa vermelha e solitária, sobre o local onde seu bebê foi enterrado. Um vento frio fazia seus cabelos se agitarem, e mesmo com dificuldade se ajoelhou e fez uma prece.

—Meu bebê, não poderei ver seu rostinho, segurar você em meu colo, contar histórias na hora de dormir nem ao menos poderei lhe dar um nome, será para sempre meu anjinho... E mesmo que passem anos, jamais deixarei de te amar.

Alberto que se posicionara logo atrás de Adélia, ficou mudo diante da cena que via, ajudou que ela se levantasse e a abraçou beijando o alto de sua cabeça.

—Tudo vai ficar bem meu amor, eu prometo! – apesar da afirmação, não tinha certeza de nada. – Vamos para casa?

—Vamos...

Joana, a mãe Adélia e o Médico ainda acompanhavam os dois, os demais já haviam partido. Se reuniram no portão da frente do cemitério para se despedir.

—Filha, eu queria poder diminuir a sua dor... - Adélia olhou para a mãe com dúvida. - Eu sei que não fui a melhor das mães... Mas eu de maneira nenhuma queria ver você sofrendo tanto.

A mulher abraçou Adélia que se deixou ficar ali sentindo o calor da mãe que nunca teve uma atitude tão humana para com ela e no fundo sentiu sinceridade nas palavras ditas.

—Quero visitar vocês se me permitirem e claro...

—Sogra, será bem-vinda para trazer conforto a sua filha quando quiser. - Alberto tratou de dizer.

—Lamento por esse desfecho tão doloroso, Adélia. - o médico disse segurando as mãos da moça entre as suas. - Sabíamos que seria difícil, mesmo assim lutou bravamente. Alberto, não consigo imaginar como foi para você fazer tal escolha, mas asseguro que fez a melhor diante da situação.

Adélia que estava parcialmente entorpecida por todos os acontecimentos, abriu os olhos curiosos.

—Escolha? Que escolha? - perguntou buscando Alberto.

Um clima de tensão se instalou, o médico não soube o que dizer, e tão pouco Alberto que ficou apenas olhando para a esposa.

—Querida, não é hora para tais questões, está esfriando...

—Eu fiz uma pergunta! Quero uma resposta e quero agora! - Adélia falou calando a mãe que tentava ajudar a amenizar a tensão. - Que escolha Alberto?

—Adélia, no hospital... - o médico começou meio incerto. - Tudo foi se complicando com a dificuldade do bebê nascer, e meu colega, um dos melhores especialistas da capital, teve que escolher entre dois procedimentos muito perigosos para você e seu bebê...

—Não entendo! - ela voltou o rosto para o homem a sua frente. - Seja o que for que fosse a escolha já não estava feita? Meu bebê em primeiro lugar certo?

O rosto de Adélia foi assumindo uma irã que podia ser vista por todos.

—Acalme-se menina! -Joana se aproximou. - Está nervosa demais!

—O que vocês estão escondendo de mim? Falem agora! - Adélia se afastou dos braços acolhedores da negra.

—Você precisa entender que seu bebê tinha poucas chances independente do procedimento que fosse usado, Alberto só assumiu uma responsabilidade que como pai só ele poderia naquele momento...

Os olhos de Adélia se abriram ainda mais ao passo que ela entendia o que estavam falando.

—Está dizendo que minha vontade não foi respeitada? Você escolheu matar o nosso filho, é isso? - colocou as mãos fechadas sobre o peito do marido. -Diga alguma coisa Alberto pelo amor de Deus!

—Adélia, eu não podia perder você e... - começou incerto diante da suplica que ouvia dos lábios de Adélia.

—Não posso acreditar... - Falou se afastando, foi um mero segundo e ela sentiu tudo rodar.

—Adélia! - a mãe gritou ao ver a moça desmaiando, Alberto imediatamente segurou seu corpo inerte antes que ela chegasse ao chão.

—Menina! Meu Deus! - Joana exclamou correndo para auxiliar.

—Muita emoção para um dia só, Adélia está fraca, levem- a para casa imediatamente o médico aconselhou. -Deixem que descanse e recupere suas forças, quando estiver mais forte poderá compreender tudo.

Alberto imediatamente acomodou a esposa na parte de trás do carro, Joana com a cabeça dela em seu carro e Estela do outro lado nervosa.

—Fique calmo Alberto, essa provação terá fim! - Joana afirmou quando percebeu a aflição dele antes dele ligar o carro, era como se não soubesse ao certo o que fazer. -Vamos para casa e tudo vai se ajeitar aos poucos, precisa ser forte!

Ele concordou olhando para ela agradecido, recobrando a ordem sobre seus gestos, ligou o carro e partiram.

 **

 

Com Adélia adormecida, Alberto foi até a casa da irmã, encontrou com Nestor e desabafou.

—Não sei o que fazer... Ela tem razão, eu ignorei a escolha dela, mas me diga oque eu poderia fazer... Não havia chances do bebê sobreviver!

—Se acalme meu amigo! - Nestor observava o outro andar de um lado para o outro na sala. - Adélia está frágil e debilitada, os nervos a flor da pele, descontará em você, é uma fase, logo as coisas vão melhorar.

—Temo que tenha perdido ela para sempre... Seria uma boa ironia, quis mantê-la viva e talvez nunca me perdoe!

—Não seja pessimista! Leve as crianças para casa, talvez isso ajude ela encontrar um norte no meio desse caminho obscuro que se encontra!

Alberto analisou a situação por um momento e logo disse.

—Você pode estar certo... Ela ama Maria sem limites, e Téo ganhou seu coração... Vou fazer isso...

—Tenho certeza que ela vai adorar, vou avisar Glória para arrumar tudo.

Nestor saiu e deixou um Alberto mais seguro, sabia que não seria tão fácil, mas as crianças seriam importantes na recuperação da esposa.

**

 

Adélia acordou e encontrou Joana velando seu sono.

—Oi menina...

—Já anoiteceu? -perguntou ao perceber a penumbra do quarto.

—Sim, faz tempo...

—Onde está Alberto?

—Foi até a casa da irmã... Estava bastante abalado.

—Você estava lá Joana? Porque deixou que ele fizesse isso? - os olhos dela se encheram de lágrimas.

—Um dos maiores males do mundo é não se colocar no lugar do outro... O homem que engravidou minha filha, não se colocou no lugar dela, sua mãe por diversas vezes não se colocou no seu lugar, diante do sofrimento que vivia... Será que você Adélia, uma mulher tão decidida e batalhadora não pode se colocar um pouco no lugar de Alberto?

Joana falou num ímpeto sem pensar nas consequências, não queria ver novamente os dois separados sofrendo, a vida sido dura demais com Adélia e Alberto, e queria a todo custo facilitar as coisas dessa vez.

—Joana, não fale assim comigo... - ela se pôs a chorar compulsivamente.- Como quer que me sinta sabendo que meu filho poderia estar vivo...

—Você não ouviu o médico naquele corredor mal iluminado no hospital, não viu o brilho de desespero tomando conta de todos nós, sem saber o que fazer ou falar... Alberto ficou com todo o peso sobre os ombros, reflita Adélia se é certo você o culpar por tentar salvar a única vida possível naquele momento?!

De lábios tremendo e o rosto manchado pelas lágrimas, Adélia sentou na cama com certa dificuldade.

—O que devo fazer Joana?

Joana sentou na beirada da cama e segurou as mãos geladas dela entre as suas, sua menina, era novamente uma criança, lembrou-se de certa vez quando foram ao mercado central na capital, ela e mais outras escravas faziam compras para uma temporada que a família ficaria na casa de um tio de Adélia, haviam levado a pequena que no alto dos seus sete anos, corria deslumbrada com o mundo de cores e cheiros a sua volta, em algum momento se perdeu do grupo de negras, elas procuraram e nada, quase meia hora depois Joana apavorada a viu encolhida num cantinho, entre uma tenda de alfaces e outra de batatas, se aproximou com rapidez e quando percebeu quem era, a menina pulou em seus braços. Tão pequena e indefesa, nem parecia a tagarela que movimentava a fazenda. E era aquela mesma criança assustada que estava na sua frente agora, olhos nervosos e assustados.

—Você precisa dar um tempo para as coisas se tranquilizarem... Mas por favor não se afaste de Alberto, ele te ama de verdade... Está sofrendo tanto ou até mais que você!

—Não sei se consigo fingir que nada aconteceu...

—Não finja, não quero que guarde essa magoa, mas deixe o tempo aliviar essa dor, não seja inflexiva, escute o que ele tem a dizer! Pense querida, pense que ele também estava esperando esse bebê com ansiedade... Agora vou descer e preparar seu jantar, logo trarei algo para você se alimentar.

Adélia concordou e a viu deixar o quarto, assim que ficou sozinha tocou sua barriga, alisando com carinho.

—Joana tem razão... Não posso culpar Alberto, mesmo assim não sei como farei para tirar esse vazio do meu peito! - falou para si mesma entre as teimosas lágrimas que voltaram aos seus olhos.




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Notas finais do capítulo

Sumida estouuuuu das outras fics (sorry) aos poucos estou voltando, não desistam de nós :) obrigada por cada comentário do último capítulo, me motivaram a continuar!
Nossa fic está acabando de fato, espero que não estejam me odiando muito... Prometo fazer o melhor por Adélia e Alberto!

Beijos =*