Kin Pumpkin; A Rainha do Halloween escrita por Lenore Marana


Capítulo 6
Kin Pumpkin; A Rainha do Halloween. Capítulo 06


Notas iniciais do capítulo

A trilha sonora que acompanha esse capítulo é:

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As inscrições no chão, e o globo do pirulito, ambos cintilantes, no momento em que o corpo de Jobs fora atingido, emitiram uma luz mais poderosa ainda, que engoliu tanto Kin quanto Jobs e logo em seguida se dissipou totalmente. Quando a luz se dissipou, Kin e Jobs não estavam mais lá.

Kin se viu em um espaço escuro repleto de pontos brancos por todos os cantos, um lugar que lembrava muito ao espaço sideral. Descendeu a esse espaço toda tomada por luz; apenas uma silhueta luminosa, caindo vagarosamente, como se a gravidade não existisse. Apenas parou ao chegar ao solo.

Apesar de não existir chão visível, ela conseguia andar com firmeza. Nesse lugar, era muito difícil ter noção de espaço, pois não existiam paredes, teto ou chão, apenas uma cor escura repleta de pontos brilhante.

Com exceção dos olhos, o corpo todo de Kin estava encoberto por uma luz dourada, impossibilitando que se enxergassem características de seu corpo ou as roupas que vestia antes.

À medida que caminhava, a exorcista iluminada pode observar voando pelo espaço, imagens, como se fossem telas de cinema mostrando filmes. Todos os filmes envolviam Jobs, alguns retratavam momentos de vitória de sua vida, outros, momentos de derrota, alguns filmes mostravam imagens estáticas, um deles descriminava a imagem do terno bege que Jobs sempre usava, outro, um simulado de vestibular no qual tivera um ótimo resultado, em mais um, Kin e Arista.

Além dos filmes que voavam pelo espaço e Kin, a única outra coisa lá era uma porta. A porta era apenas um contorno, pois tinha as mesmas cores que o espaço sideral e não tinha maçaneta, apenas o contorno de uma porta comum. Um retângulo.

Kin caminhou até essa porta e a atravessou, passando por entre o contorno. Agora, via-se em um espaço igual ao ultimo, porém não estava mais sozinha, Jobs estava lá, sentado no chão com a cabeça abaixada e abraçando os joelhos, com os cabelos do tamanho normal e a aparência regular, as roupas intactas, com exceção do terno que havia desaparecido.

A exorcista, ainda completamente iluminada, caminhou até ele e, quando tocou seu ombro, as luzes se dissiparam e ela voltou ao normal.

–Jobs?

O garoto tremia e não levantava a cabeça para responder ao chamado.

A ruiva deu a volta e sentou-se em sua frente, cruzando as pernas uma em cima da outra.

–Eu estou aqui pra te ajudar, Jobs. Sei que você pode me ouvir, converse comigo, por favor. O que aconteceu antes de eu chegar?

A cabeça encolhida do rapaz louro se mexeu vagarosamente e, ainda escondendo um pouco a feição, ele encarou a exorcista.

Seu rosto estava vermelho e os olhos inchados e úmidos, lágrimas desesperadas escorriam como dois rios pelas suas bochechas.

–Não adianta nada! Não adianta, Kin! – Mesmo com a voz falhando, gritou. As estrelas luminosas do local se movimentavam em proporção à intensidade dos gritos. – Quando o professor de educação física tentou confiscar meu terno, ele me fez perceber que eu nunca vou me tornar um advogado do jeito que eu quero, é a profissão mais concorrida do país!

–O professor, hein? – Ela refletiu.

–Ele disse que não adianta eu ficar alimentando a fantasia já que eu não tenho real capacidade. – Encolheu o rosto novamente, queria esconder de Kin que estava chorando. – Então tudo ficou preto.

As fadas do silêncio dançaram pelo refeitório destruído da escola após Jobs e Kin terem sumido do local. Arista adentrou no cenário despedaçado e encarou Mestre Enguia solitário que se dispunha em pé, observando o resto de fumaça que o encantamento de Kin deixara para trás.

–Quem é você?

O Mestre, que estava distraído com os próprios pensamentos, fora despertado pela garota e se virou para respondê-la.

–Oh, uma garotinha. – Caminhou até ela e se agachou para que ficassem da mesma altura. – Mestre Enguia, prazer.

Enguia estendeu a mão, mas a garota não a apertou.

–O que foi, garotinha?

–Mestre Enguia não é um nome de verdade.

Enguia se sentou no chão e soltou uma risada suave.

–Você tem razão, mas não posso contar meu nome para uma pessoa que acabei de conhecer.

–Você é amigo da Kin, não é? Por que não pode contar seu nome? – Ela o questionava repetidamente sem demonstrar sentimento em sua expressão facial como se não fosse permitida de fazer isso até saber se podia confiar nele.

–Você sabe o que é capoeira? – Explicou, sentado no chão, com as pernas cruzadas uma em cima da outra, enquanto se segurava nas pernas e se balançava.

–Não. – Sem perder a poker face.

–Capoeira é uma luta e dança criada por africanos que foram escravizados e mandados para um país chamado Brasil. A luta foi criada com a intenção de batalhar contra os opressores e escravagistas, mas, para disfarçar, os escravos diziam que era apenas uma dança.

Arista o observou cuidadosamente enquanto ouvia à explicação. Mestre Enguia continuou.

–Depois que os senhores de engenho perceberam os perigos da capoeira, houve uma grande proibição da luta, mas mesmo assim os africanos continuavam praticando, escondidos.

–O que isso tem a ver com o nome? – Cortou.

–Calma, calma! – Levantou-se. – Para que, caso um escravo fosse preso e torturado por praticar capoeira, não delatasse os outros praticantes, pois nem conheceria seus verdadeiros nomes, os africanos passaram a usar apelidos nas lutas de treino. Até hoje essa tradição permanece nos meios de capoeira, quando você ganha a primeira faixa, seu mestre te dá um apelido baseado em você.

A garota finalmente fez uma expressão facial. Enguia entendeu na hora que era expressão de dúvida.

–Enguia é porque eu sou escorregadio feito uma enguia! Consigo me esquivar de ataques com facilidade! – Deu uma risada. – Eu sou um exorcista físico, uso a capoeira para exorcismos, já entrei em contato com espíritos que foram escravos brasileiros diversas vezes, conheço a dor deles e compartilho de sua causa, por isso também escondo meu nome, da mesma forma que eles tiveram de esconder o deles no passado.

Arista levou o dedo indicador ao lábio, como se refletisse, e sorriu pra ele sutilmente.

–Me ajude a procurar possíveis vítimas ou pessoas escondidas, senhor Mestre Enguia.

Enguia coçou a cabeça e deu uma risada envergonhada.

–Mestre Enguia tá bom, ou só Enguia mesmo! Ahaha!

Arista e Enguia partiram ao socorro das pessoas acidentadas.

–E onde está a Kin? – A menina perguntou enquanto procuravam por pessoas.

–O exorcismo foi iniciado com sucesso. – Explicou com o dedo indicador levantado, como se fosse um cientista explicando uma teoria. – Posso dizer que nesse momento ela está dentro da mente do seu amigo irritadinho de garras afiadas.

Arista o encarou com desaprovação pela piada.

–Esse olhar afiado tá rasgando meu coração! – Provocou e fingiu ser atingido levando a mão ao peito.

O espaço estrelar que rodeava Kin e Jobs rodava incansavelmente à medida que as emoções de Jobs eram colocadas pra fora. Estava convencido de que não era capaz de alcançar seus objetivos.

–Jobs, me deixa te - -

Kin tentou dialogar, mas o garoto a interrompeu.

–Eu estudo todos os dias! Eu me esforço e dou o meu máximo! Mas minhas notas não estão nem perto do que é necessário! Será que você não entende, Kin Pumpkin? É inútil! Só pessoas especiais conseguem chegar onde eu quero! Não alguém como eu! Só quem nasceu assim! Com talento!

As estrelas giravam loucamente pelo espaço, o local lembrava um liquidificador, mas o movimento das estrelas foi cessado imediatamente quando Kin desferiu um tapa no rosto de Jobs.

–Que droga é essa? – Estava de pé, com o pirulito amarrado às costas. – A maioria das pessoas que são advogados hoje só o são porque se esforçaram muito!

O garoto observava a exorcista assustado. Ela estava realmente furiosa e se expressava de forma violenta.

–Ninguém chegou lá por ser especial! Não desdenhe o esforço dos outros se você não é capaz de se esforçar!

O garoto acalmou-se um pouco e Kin prosseguiu, agora mais calma.

–Deixa eu te contar uma coisa sobre exorcistas. – Sentou-se novamente à sua frente. – Os exorcistas usam um tipo de energia especial para realizar seus ataques, encantamentos e exorcismos, é a energia que alguns chamam de chacra, outros de ki, mas, independente de como se chama, essa energia se resume a uma só coisa: força de vontade.

Segurou as mãos dele.

–Com força de vontade você pode fazer qualquer coisa. Você pode criar ondas onde não existe mar, você pode quebrar uma parede de concreto com um soco, você pode se tornar uma exorcista aos dez anos de idade e você pode se tornar um advogado.

As lágrimas de Jobs se secavam enquanto ele ouvia atentamente o discurso de sua amiga.

–É só você querer, Jobs. Você não prometeu que traria justiça ao mundo? Vai decepcionar as pessoas do mundo que estão contanto com você agora?

–Mas... Eu estou perdido. Está tudo escuro e não sei onde estou. Não sei se sou capaz de me tornar um advogado, mesmo que as coisas voltem ao normal.

–Jobs, você vai virar um advogado. Confia em mim, por favor. – Soltou as mãos dele e se levantou. – Outra coisa sobre exorcismos. Quando você perde completamente sua força de vontade, espíritos, que não passam de uma força de vontade tão forte que ficou na terra após seu dono falecer, se apoderam do seu corpo, para realizar o que tanto têm vontade.

–Eu fui... Possuído?

–Poxa vida, demorou pra perceber. – Comentou para si mesma. – Jobs, exorcistas não passam de conselheiros mágicos! A única pessoa que pode exorcizar o espírito que te possui é você mesmo!

–Sou eu?

–Levante-se! – O puxou pelo braço. – Enquanto você não decidir voltar a tentar se tornar um advogado, um espírito que jurou odiar escolas e a disciplina está machucando a todos nossos colegas! A Arista está em perigo, Jobs.

–Eu não posso deixar que isso aconteça. – A determinação começou a preenchê-lo novamente.

–E não é só isso! Você é uma pessoa que não pode permitir injustiças! Em lugar algum! Por isso vai se tornar o melhor advogado de todos.

–Kin. – Respirou profundamente. – Eu quero meu corpo de volta!

–Se você quisesse mesmo, já o teria! – Incentivou-o.

EU QUERO MEU CORPO DE VOLTA! – Gritou mais alto

Todo o espaço sideral desapareceu, dando lugar para o mesmo ambiente onde estavam anteriormente, a cafeteria demolida. Ambos caíram no chão sentados devido ao susto da troca súbita de ambientes. Quando Kin prestou atenção no local, viu uma pessoa que não estava lá antes.

–General McRougall?!


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Notas finais do capítulo

Pela primeira vez, um exorcismo foi mostrado na história.
Muitos mais estão por vir! :)
Obrigada pelo apoio de vocês