Kin Pumpkin; A Rainha do Halloween escrita por Lenore Marana


Capítulo 24
Kin Pumpkin; A Rainha dos Criminosos. Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

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A resposta para todas suas dúvidas? O que será de Kin Pumpkin????? D:



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No próximo instante, Kin sentiu que seu corpo estava leve como nunca esteve. Olhou para baixo e notou não estar tocando o chão.

Flutuava no céu.

Olhou para baixo e percebeu estar acima daquela mesma avenida na qual tinha acabado de ser atropelada, porém não via o acidente onde ele deveria estar, nem as pessoas reunidas curiosas.

Forçou seu corpo para frente e notou ser capaz de controlar o flutuar, apesar de não com muita destreza. Começou a percorrer um caminho voando. Em certo ponto da trajetória, não conseguiu evitar um muro que bloqueava o caminho, devido ao fato de não ter completo controle de seu voo, mas, ao invés de colidir contra esse muro, seu corpo o ultrapassou.

Não podia tocar nada sólido, sua pele estava pálida e flutuava.

“Eu morri?” pensou.

Desceu até o solo e, flutuando o tempo todo, se aproximou de um homem de terno que caminhava pela calçada apressado.

–Ô, gente fina, consegue me ouvir? – Perguntou a ele.

O homem agiu normalmente, sem notar a presença de Kinberline.

–Ei, não me ignora! – Em protesto, Kin tentou tocar no homem, mas seu corpo translúcido ultrapassou o corpo do homem, como se ela fosse apenas uma ilusão de ótica, fazendo-a perder o equilíbrio.

Virou-se para uma senhora que passava perto.

–Senhora? Olha eu aqui!

Após ser ignorada novamente, convenceu-se de que estava invisível.

Voltou para o céu, desnorteada ao perceber seu novo estado.

“Depois de seis anos treinando, não vou ser capaz de fazer o teste.” Kin percebeu. “E eu prometi à Delaila que seria aprovada. E gostaria de reencontrar Kallin também. Como eu fui idiota ao me deixar morrer em um acidente.”

A garota estava aflita. Flutuando no céu como um fantasma, que não podia tocar ou sentir mais nada. Ainda era capaz de sentir a umidade de algumas lágrimas escorrendo pelo seu rosto. “Que idiota eu fui.” Pensou.

–Que idiota! – Declarou. Ainda tinha voz, apesar de não poder ser ouvida.

–IDIOTA! – Gritou frustrada, e começou a chorar desenfreadamente, berrando e gemendo, com o rosto todo úmido, com o nariz escorrendo e os olhos encharcados. – IDIOTA! IDIOTA! IDIOTA! IDIOTA!

Esperneava no céu. Gritava e chorava ao mesmo tempo, mesclando as palavras com o soluçar.

–AAAAAAHHH! – Perdeu a razão. – DELAILA! KALLIN!

Por mais que chamasse o nome de entes queridos, suas palavras não chegavam a ninguém. Era como se nunca tivesse existido, pois nem o acidente que acontecera recentemente estava onde deveria estar.

–DEUS! SE VOCÊ EXISTE, A CULPA É SUA! – Rugiu contra os céus. – VENHA BATALHAR COMIGO! EU VOU TE DERROTAR! MALDITO!

A menina translúcida avançou para os céus, flutuando apenas para o alto na maior velocidade que podia.

–EU VOU ACABAR COM VOCÊ – Soluçou enquanto bradava descontrolada.

Após avançar infindamente para o céu, enquanto suas lágrimas caiam em velocidade proporcional, desistiu, ao notar não chegar a lugar algum jamais.

Impotente, sentou-se no ar, permitindo que a corrente de vento a carregasse para onde quer que fosse.

Pareceu se acalmar, mas foi só uma questão de recuperar o fôlego, para tornar a prantar.

–MÃE! EU NUNCA VOU CONSEGUIR TE DERROTAR! – Suas próprias palavras a afetaram, fazendo-a chorar mais. – NUNCA!! WAAAAH!

Desfaleceu ainda mais ao deitar no céu, derrotada, se deixando carregar.

Após soluçar infindavelmente, seus olhos secaram e não tinha mais lágrimas para chorar, então permaneceu deitada, tentou dormir, sem sucesso. Estava de olhos fechados, mas completamente consciente, a luz do sol atrapalhava seu sono. Abriu os olhos sutilmente para espiar a paisagem.

–Mas o que é aquilo?

Kin notou um painel informativo que mostrava as horas, a temperatura e a data. Flutuou até esse painel e o observou atentamente com seus olhos inchados.

–O horário está certo, e a temperatura provavelmente também, mas essa data é de nove anos atrás! Quando eu tinha apenas um ano! Será que fui enviada para o passado e terei que vagar durante todo o tempo de vida que vivi?

Enquanto se perdia em reflexões, foi interrompida por uma voz distinta, que não a sua.

–Eu não permito isso!

Era voz de um homem. Kin se virou em busca do dono da voz, mas não encontrou ninguém.

–Eu não sou sua propriedade, pai! Como consegue ser tão egoísta?

Kin vagou em busca das vozes, seguindo-as, até se aproximar de uma casa. Olhou pela janela e viu uma garota de cabelos castanhos e uma faixa vermelha com laço na cabeça dentro da casa, que brigava com seu pai e mãe.

–Quando dizia que estava fazendo trabalho voluntário, filha. – A mãe entrou no debate. – Estava treinando para se tornar uma exorcista, é isso?

–Vocês não iriam permitir se eu contasse a verdade. – Confessou.

–Você mentiu para nós! – O pai gritou. – Você vai assumir a empresa da família, não vai ser exorcista, desista agora desse exame! Não serve pra nada, é inútil!

–Eu treinei muito para isso! – A menina chorava. – A opinião de vocês não importa para mim, se vocês não são capazes de me amar pelas escolhas que eu mesma faço, não preciso de vocês!

A garota foi interrompida por um tapa no rosto, desferido pelo pai.

Agachou-se, pegou sua mochila no chão, abriu a porta e foi embora. Nunca mais retornou.

Kin se aproximou da menina chorosa.

–Ei, garota? Tá tudo bem?

A menina não podia a ouvir, então não respondeu. Correu até um ponto de ônibus e subiu em um ônibus, Kin a acompanhou.

Kin seguia a menina como se fosse um espírito a atormentar apenas a ela, mas na realidade sua presença não fazia diferença alguma.

“Eu conheço esse caminho”. Pensou. Quando Kin se deu conta, a garota estava indo para a montanha onde ficava a casa de seu avô Giyami.

A menina desceu do ônibus e foi até a porta da casa do avô.

–Ei, menina! Você não vai querer entrar aí! O velho que mora aí é um pé no saco! – Por um instante, esqueceu que estava invisível e inaudível e tentou ajudar a menina a quem seguia.

–Amélia. Chegue mais perto. – Quando a menina entrou na casa, uma pessoa, escondida pelas sombras do ambiente, chamou-a.

“Essa não é a voz do Giyami.” A ruiva pensou.

–Como foi com seus pais? – A mulher escondida pelas sombras perguntou.

–Não foi nada bem, mestra Cittara. – Amélia revelou com pesar.

–Cittara?! – Kin reconheceu imediatamente o nome de sua mãe, e fazia sentido ela estar naquela casa, afinal de contas. Abandonou Amélia e voou para perto de sua mãe.

A mulher, de cabelos vermelhos e presos todos para trás, com alguns fios soltos na testa, vestia uma blusa preta, sem mangas, calça com estampa de camuflagem e coturnos, era realmente Cittara, a mãe de Kin.

–Mãe! Você tem sensibilidade espiritual! Você pode me notar! Ajude-me! – Kin pediu por ajuda, mas foi ignorada. Cada vez mais acreditava estar morta e ser apenas um espírito. – Mãe!!

–Posso notar pela marca de mão em seu rosto, Amélia. – Cittara respondeu à sua pupila. – Que as coisas não foram nada bem. Volte para casa e peça desculpas aos seus pais. Você pode fazer o exame do ano que vem e, até lá, convencê-los de sua escolha.

–Não, mestra! Eu vou fazer o exame de hoje! Eu estou preparada e sei que consigo! Por favor, eu tenho certeza de que vou passar! – Amélia voltou a chorar. – Eu prometi a você, mestra, que iria te superar. Não posso deixar uma coisa dessas me impedir.

Cittara se levantou.

–Não vai me superar jamais se continuar sendo uma chorona. – Virou-se de costas. – O trabalho de uma mestra não é mandar, e sim orientar. Se quiser fazer o exame, vá, mas saiba que não irei te apoiar.

Cittara deixou para trás uma carta recomendando Amélia, assinada por ela, e deixou o aposento.

–Mestra! – A aspirante a exorcista profissional gritou. – Não me deixe mestra! Mestra Cittara!

Amélia se quedou ajoelhada no chão, abandonada, impotente.

–Ninguém acredita em mim. – Falou sozinha. – Ninguém me deixa realizar meus sonhos.

–Eu acredito em você, Amélia! – Kin tentou animar a diácona, emocionada com seu caso, mas não podia ser ouvida.

–Eu vou provar pra todos! – Amélia agarrou a carta escrita por sua mestra e correu para fora da casa, estava determinada a ser aprovada de qualquer forma. – Eu vou passar no teste mesmo sem o apoio de ninguém! Vou mostrar que tenho capacidade!

Quando pisou na estrada, o solo estava congelado e escorregadio, ela deslizou e caiu na vegetação ao lado da estrada, abandonando a carta para trás. E não deu mais nenhum sinal de vida.

Cittara abriu a porta e se dispôs na soleira da casa, olhou a carta no chão, pegando neve e ficando úmida, e olhou para a vegetação, por onde Amélia havia caído. Cittara podia sentir que a vida de Amélia se findara.

Kin observou tudo abalada. Quando Amélia escorregou, tentou a agarrar e salvar, mas lembrou de que era intangível. Aguardou naquele local por algo acontecer, nem mesmo conseguia mais ver o corpo de Amélia, oculto pelas árvores e mata ao lado da estrada.

Cittara segurava uma xícara de café, chamou o resgate pelo telefone e os trabalhadores rapidamente encontraram o corpo da garota e a retiraram de lá, colocando-a em uma ambulância.

–Desculpe-me, senhora. – O líder da equipe de resgate deu as notícias para a mestra. – Ela caiu sob um pedaço de bambu afiado, que rasgou seu peito e danificou seu coração. Não tem como a salvar.

A mestra não reagiu, apenas agradeceu ao homem e tomou um gole de café.

Quando todos foram embora, sobrou apenas a mestra e Kin. Cittara se sentou sobre o chão da soleira, colocou a mão em seus cabelos, sem ligar em bagunçá-los, como se mantê-los arrumados fosse incômodos demais em vista da situação presente, e chorou.

Kin observou. Nunca imaginou ver sua mãe em estado frágil. Flutuou até seu lado, se sentou e segurou seus ombros, tentando a consolar, mesmo tendo certeza de que não seria notada.

O pranto da mãe começou contido, mas evoluiu para um soluçar melancólico e desesperançoso.

Após alguns minutos apenas acariciando os ombros da mãe, tentou dizer algo a ela.

–Mãe, você foi boa pra ela.

A mãe limpou o rosto e virou-se para o lado.

–Obrigada, Kin.

Quando a garota percebeu que a mãe notou sua presença espiritual, espantou-se, mas antes que pudesse reagir, foi transportada para outro lugar, sendo separada da mãe.

–Mãe, você pode me ouvir? – Quando fez essa pergunta, já estava longe da mãe. Notou que estava de volta no local onde tudo começara. – Mas é o quê?

Olhou para baixo e viu a avenida onde fora atropelada, e novamente notou que o acidente não havia acontecido, mas reparou algo diferente dessa vez: se viu saindo do carro de Delaila e prestes a atravessar a avenida na qual fora atropelada.

–É o acidente novamente! – Rapidamente se aproximou de seu corpo, que estava prestes a ser atropelado, com a intenção de intervir.

Quando o carro estava para colidir, jogou-se entre seu corpo e o veículo, causando uma explosão de energia de força-de-vontade.

Seu corpo ficou encasulado por um escudo avermelhado de energia parecido com uma gigante bolha, e o carro se amassou ao bater no escudo, porém a motorista estava bem, e o corpo de Kin não fora atingido.

Kin espiritual saiu do meio do abalroamento e notou que tudo havia perdido a cor, estava preto e branco, e o tempo estava congelado, apenas ela se movia, todas as outras pessoas e coisas estavam estáticas, paradas no mesmo lugar.

–Apareça! – Ordenou.

–Quando percebeu que não era uma experiência de morte. – Uma pessoa revelou sua presença, ela, assim como Kin, mantivera suas cores e movimento. – E sim uma possessão?

A pessoa que falava com Kin era Amélia, a aprendiz de sua mãe que falecera nove anos atrás.

–Faz um tempo já.

–Kinberline, filha de Cittara. Eu vi você nascer.

–E agora que estou me lembrando melhor. – Kin apoiou o queixo na mão. – Eu fui ao seu funeral quando tinha um ano de idade.

– Você tem vontade de ser exorcista, mas eu tenho mais. Desculpe-me, mas preciso de você para realizar meu sonho agora. – Amélia disse, com certo pesar em sua voz.

–Você faleceu, mas tinha tanta vontade de se tornar exorcista quando em vida que permaneceu vagando na terra, presa a seu próprio tempo, enquanto não fosse capaz de realizar essa vontade. – Kin analisou o caso. – Aguardou nove longos anos até que alguém que tivesse a mesma vontade passasse por uma experiência de quase-morte no dia do exame, para se apoderar desse corpo em estado frágil.

–Você entendeu. Tudo pelo que passou desde o acidente foi uma ilusão. Mostrei a você os motivos de precisar de seu corpo, agora irei toma-lo.

–Só tem um problema, Amélia. Eu quero muito ser uma exorcista e superar minha mãe Cittara. Agora que eu sei que eu não realmente morri, não vou permitir que nada me impeça de realizar o exame. Nada mesmo.

–Eu preciso disso. – Amélia começou a se exaltar. – Eu preciso de um corpo para provar que sou capaz de passar no exame. É preciso!

–Amélia, eu não vou te dar meu corpo. – Kin caminhou até a garota e segurou sua mão, em seguida, abraçou-a. – Mas eu vou permitir que venha comigo, que me ajude.

Cochichou aquelas palavras no ouvido da contra parte.

O corpo das duas começou a se desintegrar e formar luz, no meio daquela imensidão descolorida.

Kin acordou em seu corpo de carne e osso, no tempo presente e na cena do acidente. Quando retomou a consciência, o escudo de força de vontade se desfez e ela caiu sentada no chão.

–Garota, você está bem? – Os curiosos tentavam a acordar, após ter sofrido o acidente.

–Kin!! – Delaila estava na multidão, apavorada. – Kin, me responda!

A ruiva abriu os olhos, olhou para sua irmã Delaila e para o resto da multidão, ergueu sua mão e fez um sinal positivo com o polegar, afirmando estar tudo certo.

Levantou-se, recolheu o taco de beisebol do chão.

–Com licença, pessoal, tenho um exame para ser aprovada.

Partiu.


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