Anima Lumen escrita por FireboltVioleta


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo


Oe, pessoas!
Uma nova oneshot para vocês! Espero que gostem!
Boa leitura!



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- Não vai conseguir ir muito longe, ruço!

A rua devia estar deserta naquela tarde.

No entanto, foi perturbada pelo som de passos velozes e violentos, que deveriam ter chamado a atenção dos lojistas do pequeno vilarejo.

E, adiante deles, com o coração aos pulos, eu corria para tentar me salvar.

Olhei desesperado ao redor, tentando visualizar algum lugar por onde escapar. Minha varinha, mesmo em mãos, parecia tão hesitante em fracassar numa tentativa de se defender quanto eu.

- Não pode correr para sempre, garoto! – ouvi um dos seqüestradores exclamar.

Eu sabia disso. E por isso estava desesperado para encontrar um esconderijo.

A viela em que eu corria ficou mais estreita, repleta de sacos de lixo e caixotes descartados.

Num assomo de aflição, usando o pouco de disposição que ainda me restava, acelerei a corrida, ultrapassando alguns metros adiante e permitindo que eu pudesse me esconder repentinamente em meio á bagunça de lixo e sujeira que havia num beco ao lado.

Encolhi-me ainda mais em meio aos detritos, cavoucando o monte e prendendo a respiração, até que os seqüestradores finalmente chegaram ao beco.

- Pare de se esconder, rapaz... – ouvi um deles se aproximar do monte de lixo que me encobria, a varinha em riste.

- Para onde ele foi? –outro perguntou, irritado.

Para minha sorte, o tanto que eles eram velozes, também tinham de burros. Nem se deram o trabalho de fuçar no lixo para abrir caminho até onde eu poderia estar.

- Ele não pode ter sumido.

- E nem se enfiado no lixo, idiota.

Se era o que eles pensavam, ficava satisfeito em poder não corrigi-los.

- Vamos continuar procurando. Aquele ruço não deve ter ido longe.

Ouvi os passos se distanciarem, até sumirem de meu campo de audição.

Senti minhas pernas protestarem pela corrida desenfreada., mas me recusei a sair da posição em que estava por alguns minutos, decidido á ter certeza absoluta de que os seqüestradores não voltariam.

Com o corpo dolorido e sentindo fome, foi fácil e torturante pensar no como, naquele momento, estar junto de minha família, saboreando uma ceia deliciosa, seria realmente maravilhoso.

Lágrimas de angústia ameaçavam escorrer pro meu rosto.

Como eu chegara àquele ponto?

Minha consciência, acusadora, apontou para mim cruelmente.

Você. Foi você que causou tudo isso.

E ela tinha razão.

Eu causara tudo que estava acontecendo comigo.

Fraco, patético e inconseqüente, para variar. Tinha deixado-me subjugar por aquele maldito medalhão.

Corroia-me recordar dos pesadelos que ele me causara. Do como aquele pequeno objeto parecia dissecar, de modo profundo e insensível, cada emoção minha, cada medo, cada sonho. Do como, de modo horrendo, havia feito meus pensamentos mais inconscientes surgirem em minha mente com uma proporção maior e mais assustadora, implantando em mim, como uma erva daninha e venenosa, os piores sentimentos, que me levavam ás piores ações.

Claro que a culpa não fora apenas dele. Eu mesmo não quis – ou não pude – impedir que ele me dominasse e me devorasse de dentro para fora.

Havia cansado de ver, durante o sono, minha família morta. Nossos amigos mortos. Os dois mortos.

Nada, porém, justificava o que eu havia feito. Nem uma única ação minha. Tudo fora fruto da minha fraqueza e dos pensamentos errôneos que o medalhão plantara em minha mente.

Sabia que minha família estava segura, graças ás transmissões de rádio que eu procurava ouvir pelo caminho. Enquanto seus nomes não fossem anunciados, estariam bem. Enquanto nós estivéssemos juntos, também ficaríamos bem.

E eu devia ter percebido isto antes de partir.

Havia querido voltar no mesmo instante, mas foi justamente naquele miserável momento que eu topei, pela primeira vez, com os caçadores de recompensas. E então, naturalmente, foi impossível retornar. Todas as semanas seguintes tinham sido uma tentativa- agora, provavelmente impossível – de voltar á revê-los.

Encostei minha cabeça na garrafa de vidro atrás de mim, sentindo minha garganta se fechar.

A saudade e a culpa me consumiram, avassaladoras.

Como eu pude fazer aquilo com eles?

Não havia concordado em ajudar Harry á encontrar as horcruxes? Eu e Hermione não havíamos nos disposto á enfrentar qualquer coisa para ajudar nosso amigo?

Se era assim, por que eu os abandonara?

Harry já tinha um peso enorme para carregar, confiado á ele por Dumbledore. E eu acabara de tornar as coisas ainda mais difíceis. O arrependimento pelo que dissera á ele parecia querer me destruir. Meu amigo nunca mereceria ouvir o que eu havia dito.

E Hermione...

O soluço finalmente escapou, quase me sufocando.

E se ela estivesse ferida? Assustada, agora que era a única em que Harry podia confiar, também dividindo com ele a responsabilidade da caça ás horcruxes? Magoada pelo que eu havia feito... com certeza ela devia estar. Pensar nela chorando outra vez, por minha causa... era a definição de pesadelo.

Eles podiam estar em perigo... Harry era procurado em cada canto, em cada aldeia., como um criminoso – o que ele não era.

E Hermione... ela não era uma bruxa conhecida para merecer um anúncio de assassinato... então... podia muito bem já estar...

Não... não podia. Ela não podia.

Ou eu também iria querer estar...

Só a possibilidade foi o suficiente para trincar um pouco mais o órgão caquético que pulsava em meu peito.

O que seria de mim se Hermione morresse?
Solucei, angustiado, finalmente me permitindo chorar.

Se ela morresse, a culpa seria minha. Tão minha como se eu mesmo apontasse a varinha que tiraria sua vida.

Se houvesse uma maneira de voltar no tempo, e eu pudesse fazer tudo diferente...

Mas nenhum vira-tempo podia me ajudar agora.

E o pior de tudo não era isso.

Era saber, agora, que amava Hermione.

Saber que a amava agora... justamente quando a havia perdido.

E eu sabia que Hermione nunca me perdoaria. Não desta vez. E teria razão em fazer aquilo.

Eu era como uma granada de vidro. E, toda vez que me estilhaçasse, iria ferir quem estivesse ao meu redor.

Talvez fosse melhor sumir. Desaparecer para sempre. Talvez até ser morto de uma vez por um bruxo das Trevas.

Tudo seria melhor do que suportar viver sem Hermione.

E eu nunca mais iria querer causar ainda mais feridas em seu coração.

Era nessas horas que eu me questionava a causa do meu nascimento. Por que tudo que eu fazia parecia só fazer quem eu amava sofrer... cada vez mais.

Apalpei os bolsos da jaqueta surrada que afanara do últimos seqüestrador que conseguira neutralizar. Havia colocado lá o pequeno desiluminador que herdara de Dumbledore.

Na minha última fuga, o objeto deixara meus perseguidores numa completa escuridão e me ajudara á escapar. Então, desde aquele momento, o deixava por perto, para caso de emergências.

Tirei-o do bolso, afagando o metal frio e brilhante.

Nele, vi meu reflexo. Um rosto escurecido de olhos saltados, como um animal selvagem e assustado.

O sol, que até então se mantivera longe da sujeira do beco, lançou sua luz sobre o lixão, tornando o cheiro cada vez mais insuportável, e minha consciência cada vez mais vaga. Exausto pela fuga e desanimado ao extremo, mal tinha forças para sair dali.

Decidi me afastar, levantando lentamente e guinchando de dor quando senti meus joelhos quase travarem.

Apoiei-me no muro, segurando ainda o desiluminador na outra mão.

Sabia que era questão de tempo até a insolação, somada á fome, me derrubarem de uma vez. E não queria morrer em meio á caixas apodrecidas.

Mas percebi que não teria muito tempo, já que, vindo do desiluminador, jurei ter ouvido um pequeno guincho.

Pronto. Agora você já está ficando louco, choramingou minha consciência.

Tive vontade de arremessar o objeto de metal contra a parede. De que aquilo me serviria, se eu ia morrer ali mesmo, inútil e imperceptível como o lixo que me rodeava?

O guincho ficou mais alto.

- Porcaria – gemi, apertando-o em minha mão – coisa... inútil...

Estava já imaginando em quanto tempo os abutres finalmente perceberiam o cadáver no beco. Diverti-me depressivamente em pensar no que arrancariam primeiro. Os olhos? Ou talvez os dedos? Talvez não quisessem nada... assim como ninguém nunca me quisera. Ninguém nunca me percebera.

Exceto, talvez, minha família, Harry... e Hermione.

Eu quis, por um momento, que não sentissem minha falta. Por que, se sentissem, eu continuaria a causar sofrimento, mesmo depois de morto. E isso era demais para suportar.

Fiquei irritado quando ouvi, pela terceira vez, o desiluminador ressoar.

Porém, antes que o ímpeto me fizesse jogá-lo raivosamente para longe, percebi que já não era mais um guincho.

Era uma voz familiar.

Baixa.

Como um sussurro.

Não podia ser...

Era a voz de Hermione.

-Rony...

Dizendo meu nome...

Balancei a cabeça, atônito.

Devia ser meu cérebro fritando. Por que não era possível.

No entanto, preferi, em meio á minha provável perda de sanidade, absorver, maravilhado, o som da voz que nunca imaginei ouvir outra vez.

E dizendo meu nome.

A dor de saudade que me varreu foi dolorosa, mas pareceu reacender uma fagulha de vida em meu corpo quase inerte e oco.

Apertei o desiluminador, pensando se, já que estava enlouquecendo, aquela ilusão poderia me fornecer ainda mais daquele som tão nostálgico.

Como seria bom ouvir a voz de Hermione... Não a vinda daquela insana miragem, mas a verdadeira voz dela.

Iria adorar até que ela gritasse comigo, me chamando dos piores nomes do mundo. Por que, vindo daquela garota, sendo a demonstração de que estava viva e segura, não passaria da mais bela música do mundo.

Foi quando, para meu espanto, o desiluminador tremeu levemente em minha mão.

Em vez de abstrair as luzes mais próximas, ele, muito pelo contrario, começou a brilhar, como se regurgitasse uma esfera de luz já absorvida.

Mas a esfera que finalmente surgiu em meu campo de visão não era parecida com nenhuma que eu já tivesse visto.

Encarei, pasmo, a pequena bolinha luminosa que pairava diante de mim. Era brilhante como uma estrela, e pulsava como um ser vivo.

Mal conseguia piscar enquanto admirava, hipnotizado, a esfera se aproximar de mim.

Todo o torpor em meu corpo pareceu desaparecer quando ergui a mão, tocando levemente a pequena luz.

A esfera flutuou para ainda mais perto de mim.

E me senti estremecer, abismado, quando ela mergulhou, quente e resplandecente, em meu peito, onde estava meu coração.

Arfei, sentindo meu solhos saltarem.

A quentura da esfera aparentou aquecer cada centímetro de meu corpo, revitalizando-o, suave e terna como um abraço. Pareceu me devolver o fôlego de vida que eu havia perdido minutos antes, recobrindo a fadiga e a angústia que me assolavam.

Eu não estava louco. Estava sentindo aquilo de verdade.

Mas como...?

Olhei outra vez para o desiluminador que segurava.

A explicação me pareceu tão óbvia e repentina que pude me responder numa única palavra.

- Dumbledore – ofeguei, dando um sorriso que eu nunca mais esperava dar.

Levantei-me, erguido pela força inusitada que a esfera me proporcionara.

Meu coração palpitava, parecendo revigorado, me içando para frente.

Guardei o desiluminador e sacudi a jaqueta, limpando-a dos detritos que haviam grudado nela.

Sentindo o ponto onde a esfera luminosa mergulhara ficando ainda mais quente, ergui os olhos para o céu.

E, por algum motivo, agora eu sabia para onde deveria ir.

Enquanto aparatava, sendo guiado pela esfera de luz, uma esperança nova surgiu em minha mente e meu coração.

Por algum motivo, Dumbledore me dera aquele desiluminador.

E eu tinha, agora, uma ideia maravilhosa do por que.

Talvez ele me conhecesse melhor do que eu imaginava.

E, graças á ele, eu ia ter uma nova chance de consertar as coisas.

Talvez, até mesmo, uma chance de me consertar.

Por mais que a amizade entre mim e meu amigo fosse forte, tive que ser sincero comigo mesmo. Não era o reencontro com ele que dominava a minha mente.

No fundo, onde aquele pequena bola luminosa havia feito seu lar, era o rosto da garota mais irritante e fantástica do mundo que dominava minha mente e minha alma.

E foi com o ânimo de viver renovado que rumei em direção ao desconhecido, onde, ao contrário do que a horcrux me mostrara, tudo o que eu desejava seria possível. Por que eu enfrentaria tudo e todos para ter o que realmente queria agora...

Um mundo e uma vida ao lado da garota que eu amava, e nada mais.


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Notas finais do capítulo


Gente, não tem UMA imagem no Google sobre essa cena. NEM-UMA. Bi-surdo kkkk
E aí, o que acharam?
Obrigada por lerem!



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