POV KATE

O jantar foi ótimo. Alexis estava muito animada, apesar de ter acordado há pouco tempo. Me falava como foi seu dia, do que fez na escola, o desenho que ela e Lara assistiram... enfim, ela falou bastante. Eu podia perceber o quão feliz ela estava em me ter aqui e por incrível pareça eu também estou feliz e muito confortável neste lugar.

O apartamento de Rick é extremamente aconchegante, a decoração, os inúmeros porta-retratos dele de Alexis e de mais uma senhora muito bonita que eu suponho ser a mãe dele, me faz pensar que eu gostaria de morar aqui. Essa seria a forma que eu organizaria minha casa se tivesse o dinheiro e o espaço que Rick tem aqui.

Agora eu continuo conversando com Alexis enquanto Rick organiza as coisas na cozinha.

– Sabe tia Kate – é a primeira vez que ela me chama de tia e eu gostei, soa mais familiar – eu tô muito feliz que você veio aqui hoje, eu já estava com saudade – ela fala como se aquilo fosse algo confidencial.

– Oh querida! – puxo ela para um abraço – eu também já estava com saudade.

– Sério? – ela tem uma carinha surpresa, acho que ela é uma menina um pouco carente, apesar do amor declarado que Rick dedica a ela.

– Sim. Eu gosto muuuuito de você querida. Você é adorável e muito doce, eu quero que a minha Larinha seja assim, como você.

– Obrigada tia – ela diz com um sorriso envergonhado no rosto – tenho certeza que a Larinha será ótima, assim como você. Na verdade eu queria ter uma mamãe que fosse assim como você.

– E como sua mamãe é?

– Não sei – ela forma um biquinho, como quem vai chorar e eu imediatamente a abraço, me arrependendo amargamente de ter perguntado – eu nunca a vi e meu papai não fala dela quando pergunto, eu não consigo entender tia, será que meu papai não quer que eu a conheça ou será que minha mamãe não gosta de mim? Eu sou uma criança ruim tia?

– Não fale isso nunca. Você é simplesmente maravilhosa, a melhor criança que eu já conheci. Talvez você não conheça sua mamãe, mas e seu papai? Rick é um pai super legal e atencioso não é? E ele te ama muito.

– Eu sei, meu papai me ama e eu também o amo muitão, mas eu queria conhecer minha mamãe.

– Acho que seu pai quer esperar você crescer para explicar algumas coisas. Apesar de você ser incrivelmente inteligente, você só tem cinco aninhos, meu amor, você é quase um bebê. Tem coisas na vida que a gente só entende quando cresce.

– Eu queria entender... – ela fala cabisbaixa.

Nesse momento Rick nos interrompe, chamando Alexis para dormir.

– Você pode subir com a gente tia?

– Claro querida.

Depois disso nós três vamos para o quarto de Alexis, que é muito bonito também. Quase vinte minutos depois ela já está dormindo, estava bem cansada e a história que Rick contou a ajudou a pegar no sono.

– Vamos Kate, vamos pra sala. – ele me chama.

Quando saímos do quarto de Alexis eu falo:

– Rick, acho melhor eu ir, já te incomodei bastante por um dia.

– Não Kate, fica mais um pouco – ele fala com um olhar suplicante – eu queria conversar mais com você.

– Tudo bem então – depois disso nós nos dirigimos para o imenso sofá da sala e eu começo o assunto, preciso dizer a Rick que toquei num ponto delicado com a filha dele. – Rick eu acho que falei demais hoje com Alexis e acabei deixando-a um pouco triste. – digo com pesar.

– Sobre a mãe dela – ele suspira – eu ouvi e eu quero te agradecer.

– Agradecer?

– Sim, pela forma como você tratou do assunto com ela – ele fala triste.

– Você quer falar sobre isso?

– Acho que sim. Eu nunca falei muito desse assunto, acho que preciso me abrir.

– Estou aqui, pode falar.

– Eu conheci a mãe da Alexis, Meredith, quando tinha 20 anos, numa festa. Nessa época eu ainda não tinha enviado nenhum manuscrito à editora, mas já tinha certeza que queria ser escritor. Eu era festeiro, gostava de esbanjar o pouco dinheiro que tinha e gostava de sair com muitas mulheres – ele fala envergonhado e eu não consigo imaginar ele assim, ele é tão doce e tão amável, é simplesmente inconcebível pra mim imaginar Rick como o pai de Lara, um homem que só usa mulheres.

– Rick, é difícil pra mim acreditar que você já foi assim...

– Mas é verdade Kate. Eu me envergonho disso e agradeço aos céus por não ter conhecido você naquela época, pois nunca teríamos essa relação bem construída apesar de curta. Mas voltando ao assunto da mãe de Alexis: Meredith era como eu. Gostava de festas e de esbanjar. Tinha um sonho, ser atriz e não media esforços para realiza-lo.

– Determinada ela né?

– Ambiciosa seria a melhor palavra. Nós começamos a namorar, nada muito sério, afinal nem eu nem ela queríamos isso. Ficamos cerca de seis meses nesse namoro quando ela descobriu que estava grávida. Ela enlouqueceu, não queria o filho, falou inúmeras vezes em aborto por que, segundo ela, esse bebê ia acabar com a carreira que ela mal tinha começado.

– Nossa! – é tudo o que eu consigo falar.

– Mas eu não deixei, eu disse a ela que queria esse filho e que nós daríamos um jeito. Eu não podia simplesmente deixar que ela matasse uma vida entende? Uma vida veio de nós, que veio de mim. Os meses passaram e quando Alexis nasceu, ela saiu do hospital, me entregou minha filha e disse: “Richard, eu sinto muito. Eu não posso cuidar dela, eu tenho um sonho muito maior do que ser dona de casa e mãe de família” com isso ela se foi e eu nunca mais soube dela.

– Que horror Rick! – exclamo – como uma mulher é capaz de fazer isso com seu próprio filho? E você? Cuidou sozinho dela?

– Sim. Quer dizer, minha mãe me ajudou muito por que eu não tinha experiência alguma com bebês e eu sou eternamente grato a ela por isso. Eu me dediquei integralmente à Alexis e à tentativa de ser o melhor pai que eu poderia ser pra ela. Eu sempre quis que ela se sentisse tão amada por mim que não desse falta da mãe, mas vejo que não consegui.

– Claro que não conseguiu. Eu tenho certeza que você é o melhor pai que Alexis poderia ter e se dedicou de forma perfeita para que ela se sinta completamente amada. Mas a figura da mãe é algo que não tem como não sentir falta. É algo que ela convive todos os dias, seja na escolinha, seja nos parques, seja em qualquer lugar que ela frequente.

– Eu sei – ele diz com a cabeça abaixada muito, muito triste e nesse momento eu não contenho o impulso de abraça-lo pelo simples fato de que eu não aguento vê-lo sofrer. Dói em mim.

Quando estamos abraçados sinto meus ombros molhados por suas lágrimas e me afasto para olhar em seus olhos e limpar seu rosto.

– Eu só queria que minha menininha não sofresse tanto sabe Kate, eu só queria que ela fosse completamente feliz.

– Eu sei Rick, eu sei. Mas Alexis é feliz e quando chegar o dia de você contar a ela essa mesma história que você acabou de me contar ela vai entender que apesar de não ter o amor de uma mãe, ela tem o amor de um pai maravilhoso.

– Obrigado Kate – ele me abraça de novo – muito obrigado.

– Sempre. – eu repito a promessa que ele me fez hoje mais cedo e quando saímos do abraço nossos rostos estão muito próximos e para minha surpresa ele fecha a distância que há entre nós e cola nossos lábios.