Enigmas - Tomione escrita por Teddie


Capítulo 1
Sobre sonhos.


Notas iniciais do capítulo

Olha quem voltou com mais uma Tomione? Espero que gostem!



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O que é, o que é que quanto mais se perde, mais se tem?

Tom nunca fora adepto aos sonhos, literalmente falando. Para ele, sonhar era quase tão desperdício de tempo quanto dormir, porém uma vez que dormir era necessário, ele se opunha aos sonhos.

Quando era menor, ouvia as crianças do orfanato onde vivia falando sobre sonhos com marshmallows e arco-íris, e até mesmo em Hogwarts tinha que ouvir as baboseiras dos colegas de quarto sobre sonhos com resultados de jogos de Quadribol.

Com o passar dos anos, ele aprendeu a induzir o sono a um estágio do qual ele não precisasse passar pelo infortúnio do sonho. Era tranquilo. Fechava os olhos, adormecia, acordava.

No entanto, na primeira noite do seu sexto ano ele sonhou. Vendo de um tempo futuro, ele culpava o banquete. No orfanato, no mundo trouxa, ele não comia muito, principalmente agora que estavam em tempos de guerra. Ele abusou um pouco dos pastelões e do peru, e como resultado, provavelmente não alcançou a inércia necessária para não ter um ridículo sonho.

Ele estava em uma clareira, uma em que ele reconheceu sendo uma das muitas da Floresta Proibida. No centro dela, iluminada por uma idiota luz do sol, havia um monte de tecido branco sujo jogado no chão. Tom se aproximou, na tentativa de ver o que era aquilo, e se chocou ao ver que era uma garota. Ela estava desmaiada e o rosto estava coberto por arranhões, mas ainda assim era maravilhosamente bonita.

A pele era clara, e os cabelos castanhos estavam emaranhados e compridos. Parecia respirar com bastante dificuldade. Tom se abaixou e sacudiu de leve a menina, esperando que ela acordasse. Quando não conseguiu, sacudiu um pouco mais forte.

A garota soltou uma bufada forte e começou a tremer, como se tivesse tendo um acesso. Então em um salto ela acordou, se sacudindo contra os braços de Tom. Ele tentou acalmá-la, sem sucesso.

Os olhos dela encontraram os dele, eram castanhos como chocolate, mas estavam injetados de pavor.

— Senhorita, acalme-se, por favor — usou sua melhor voz, aquela que conseguia convencer todo mundo.

Ela esperneou mais, finalmente se soltando de Tom.

— Você é um monstro. Afaste-se de mim.

Ele se aproximou mais, cada vez achando a menina mais louca. Ela rastejou para trás, querendo ficar cada vez mais longe.

— Senhorita, do que está falando?

Ela negou veemente, tremendo de medo.

— Você é um monstro, Tom Riddle.

E em um supetão, Tom acordou, sentindo o corpo latejar de dor. Notou que estava no chão, e os quatro companheiros de quarto olhavam para ele, inquisidores.

— Tom, você está bem? — Abraxas Malfoy perguntou.

Riddle revirou os olhos. Malfoy era um cara alto, atlético, capitão do time de Quadribol, a única coisa que Tom não fazia. Vinha de uma família rica e aristocrata que prezava o orgulho do sangue puro. Louro e de cabelos longos, era o mais próximo de amigo que Tom podia chamar.

Mas Tom não tinha amigos.

— Quantas vezes já falei para não me chamar desse nome? Quando estamos entre nós use o nome que eu escolhi. O nome que representa minha grandiosidade como bruxo.

— Tudo bem, mestre — Lestrange falou, olhando feio para Abraxas — Abraxas cometeu apenas um erro.

Tom levantou-se, desamassando o pijama preto gasto. Era um dos poucos que ele tinha.

Nas férias de verão, Tom costumava trabalhar para conseguir trocar as libras por galeões, para não parecer tão miserável quanto se sentia por não ser rico como os companheiros sonserinos. Mas com a maldita guerra que algum trouxa imbecil – Albert, Alphonsus? – causara, Tom passava seu verão trancado no abrigo anti-bombas junto com aquelas crianças choronas e barulhentas. O moreno adquirira repulsa a choro depois dos últimos verões.

— Estou bem, Lestrange. Foi apenas um sonho, um sonho estranho.

Os quatro se olharam confusos, Tom nunca falara de sonhos em sua vida.

De qualquer maneira, enquanto se arrumava para o dia letivo, Tom não conseguia mais se lembrar do que havia sonhado, apesar de ter quase certeza que tinha chocolate.

Bocejou, sentindo que não tivera uma boa noite de sono. Claro que não, passara a noite sonhando com qualquer coisa estúpida que não conseguia se lembrar.

Deu o nó na gravata e se olhou no espelho uma última vez, aproveitando que os companheiros burros já tinham ido para o café da manhã.

Adorava esses momentos em que poderia ficar sozinho. Odiava barulho, pessoas e qualquer coisa que pudesse atrapalhar sua concentração. Preferia o bom silêncio e os seus pensamentos como companhia.

Era seu penúltimo ano em Hogwarts, sua casa. Não se sentia confortável para assumir nenhum lugar como lar além da escola de magia. Era lá onde poderia ser quem realmente era, fazer magia. Era reconhecido e respeitado, estava entre os dele. No mundo trouxa, ele era só mais um órfão que ficou velho demais para der adotado e que causava medo nas crianças mais novas.

O lado bom do orfanato era que tinha um quarto só para ele, coisa que nunca teria no colégio. Dos males o menor, pensava sempre. O que era ter que dividir o quarto com alguns bocós ricos quando em contrapartida tinha um mundo ilimitado a ser explorado?

Apesar de ser veemente contra o sentido literal dos sonhos, o moreno apoiava os metafóricos. O desejo que você tinha de aspirar a algo no futuro. Tom queria ser grande. Um bruxo poderoso como nunca existira. O mais próximo de poder que viu um bruxo deter era com Dumbledore. Um dia, ele pessoalmente iria acabar com aquele bruxo velho e patético.

Ele não era puxa saco dos professores sem motivo nenhum. Não bajulava Slughorn naquele clube ridículo só porque a comida era boa. Slughorn conhecia muita gente influente.

O primeiro passo era acabar o colégio, o segundo, conseguir uma vaga no ministério.

Tom tinha ideias perigosas. Andava pesquisando por coisas que fariam todos os professores o olharem como Dumbledore o olhava. Claro, ele era cuidadoso, passou os últimos cinco anos criando uma imagem perfeita, não ia estragar tudo agora.

Passou as mãos pelo cabelo, ajeitando o topete e desceu para o café. Era o primeiro dia de aulas de seu sexto ano.

Seria um dia longo.

— Acho que o ar ficou um pouco mais poluído agora. — Abraxas se inclinou até Tom para fazer o comentário maldoso.

Tom riu e olhou para a entrada do grande salão para ver do que Malfoy se referia. Fazia sentido, chegou a conclusão. O terceiranista entrou afobado, com as roupas remendadas para caber nele e parecendo peludo demais para alguém de só treze anos. Se não bastasse ser terceiranista, era grifinório.

E se não bastasse ser um grifinório, era um meio gigante.

Tom detestava muitas coisas: choro, crianças, emoções humanas, famílias, corvinais, lufanos, grifinórios, seres inferiores e coisas pela metade.

Rubeus Hagrid teve o azar de ser três das coisas que ele mais odiava. Era um grifinório e metade gigante. Um pacote completo de aberração.

Não entendia como era possível ele ser meio gigante, mas sabia com toda certeza que ele não merecia estar sentado entre vários bruxos, agindo como se fosse um deles. Se o futuro do mundo bruxo dependesse de um mestiço atrapalhado como Hagrid, as coisas estariam muito, muito ruins.

Gigantes eram seres inferiores, elfos também, e duendes, e centauros e criaturas mágicas no geral. Sendo que existiam alguns seres que ele detestava mais. Sangues ruins, por exemplo. Tinha nojo de ver aqueles malditos ladrões de magia maculando o chão do castelo. Sangues ruins conseguiam ser piores que os trouxas inúteis.

Suspirou, tomando um gole do suco de abóbora, um dia, todos os seus planos dariam certo.

A primeira aula foi Herbologia, e por sorte era individual, então não teve que aguentar os bobocas da Lufa-Lufa falando baboseiras sobre as férias. Foi assim nos últimos anos, e Tom enfiaria mandrágoras na boca de Felician Abbott se ele falasse sobre suas férias magníficas onde ele passara jogando Quadribol com o pai e com os vinte irmãos ou algo assim.

Para um garoto de quinze anos, Tom poderia ser bem amargo e mal humorado.

De qualquer maneira, assim que acabou a aula, ele e Abraxas ficariam com um tempo livre. Abraxas porque não conseguira as notas necessárias para a aula de runas e Tom porque não estava interessado naquela aula por enquanto. Esperaria algum professor o chamar e ai sim ele entraria.

Ele não precisava daquela aula, mas todo professor gostava de se gabar por ter Tom Riddle como aluno.

Os dois sonserinos sentaram-se na orla da Floresta Proibida, aproveitando o clima suave do fim do verão. Aquele tipo de tempo que é ensolarado, mas fresco, e você pode sentir o inicio da primavera chegando.

— Ei, Tom, você pensa no futuro?

Tom revirou os olhos, Abraxas conseguia ser bastante tapado às vezes.

— Você deveria pensar no seu, já que parece que não quer viver muito. Chame-me de mestre.

— Tom, sou seu discípulo, acredito piamente no que você quer fazer, mas também me considero seu amigo, mesmo que você não sinta o mesmo. Considere-me seu tesoureiro.

Tom riu, mas sem humor nenhum. Ele não tinha senso de humor.

— Eu penso bastante no meu futuro. Você conhece meus planos.

Abraxas não conhecia todos os planos de Tom, não os mais obscuros. Talvez se soubesse, não apoiaria tanto assim o amigo.

— Sim, eu conheço — disse apenas.

Tom franziu o cenho, Abraxas não costumava apenas concordar. Tinha que falar mais alguma coisa, algum comentário inútil, pelo menos.

— Algo o incomoda, Malfoy?

Abraxas olhou para Tom, parecia perturbado, triste, confuso. Não se lembrava de ter visto o louro tão medíocre quanto estava agora.

— As coisas andam acontecendo mais rápido do que eu gostaria. Parece que foi ontem que entramos aqui, duas crianças que não sabiam de nada, e agora já é o nosso penúltimo ano.

Parece que alguém ainda não sabe de nada, ironizou Tom.

— Além disso, a pressão familiar aumentou. Já sou quase maior de idade, tenho uma vaga no ministério para assumir, assim como meu pai e meu avô. Preciso arrumar uma esposa de sangue puro. A maioria é minha prima, de qualquer jeito. — continuou.

Tom assentiu, mas sem realmente concordar. Pessoas como Abraxas já tinham a vida infeliz toda programada, nunca seriam nada além de subalternos de alguém mais poderoso e mais inteligente.

Havia boatos de que o pai de Abraxas era um servo de Grindewald, um bruxo que andava cometendo crimes com magia negra séria.

No futuro, Abraxas provavelmente teria muito dinheiro, um casamento infeliz co alguma prima feia, um filho tão medíocre quanto ele, e no fim, morreria de causas naturais, e sem ter feito nada de importante.

— Tente arrumar uma prima bonitinha, pelo menos. — fez uma piada, e funcionou, porque Abraxas deu uma boa gargalhada.

Desnecessário.

Estava quase na hora de voltar para o castelo quando Tom ouviu o barulho. Pareciam gemidos de dor. Inconstantes. Finos demais para pertencer a um homem.

Venha...

Tom sacudiu a cabeça, desconfortável. Sua noite mal dormida estava rendendo alucinações.

— Tom, está ouvindo isso? — Abraxas perguntou, um sorriso malicioso brincava em seus lábios. — Acho que tem gente fazendo... aquilo na Floresta.

O moreno estava prestes a falar que o companheiro estava delirando, mas o grito o interrompeu. Era dolorido, alto, agudo e carregava tanta agonia que fez Tom se sentir mal.

Trocou um breve olhar com Abraxas antes de ambos saírem correndo para dentro da Floresta, querendo ver o que era o dono do grito.

No fim, não era o que, mas quem.

Chegaram a uma clareira, e no meio dela estava uma pilha de trapos brancos, que calhava de ser uma menina. Estava desmaiada, suja e maltrapilha, e parecia respirar com dificuldade.

— Abraxas, corra até o castelo. Chame alguém, qualquer um.

Ao reparar o tom urgente do mestre, Abraxas saiu correndo, deixando Tom sozinho com a menina. Uma forte tontura o atingiu, e ele se recordou do sonho que tivera pela manhã. O mesmo vestido sujo, o mesmo cabelo emaranhado, o mesmo rosto machucado, porém impecavelmente suave e bonito.

Você é um monstro, Tom Riddle.

Ignorando o que recordara, Tom se aproximou, sacudindo de leve.

Ao contrário do sonho, a garota despertou rapidamente, uma mistura de gemidos doloridos e lágrimas sujas. Parecia pior do que quando dormindo.

Um pedaço de papel voou da manga comprida do vestido branco.

— Quem é você? — a voz dela era fina, assustada. Como a de uma criança perdida. — Onde estou? Que lugar é esse?

Foi se afastando de Tom, se encolhendo em uma bola, cada vez mais distante. Tom não se compadeceu e não deu espaço para a jovem.

— Acalme-se senhorita, você está segura. Sou Tom Riddle, e você está em Hogwarts?

Ela franziu o cenho, claramente confusa.

— O que? O que é isso?

—Não sabe o que é Hogwarts? — ela negou rapidamente, sacudindo a cabeça — Senhorita, como se chama?

Ela arregalou os olhos, lágrimas involuntárias pareciam estar saindo compulsivamente. Ela parecia ainda mais assustada do que quando acordou.

— Eu... eu não sei.

Tom assentiu, sentindo uma necessidade estranha de consolar a garota. Tentou aproximar-se novamente, mas ela se esquivou, voltando a chorar com os braços em torno dos joelhos. Murmurava coisas incompreensíveis, mas que provavelmente deveriam ser sobre a própria identidade.

Então o moreno viu o papel que voara. Não passava do tamanho de um cartão postal. Só havia uma coisa escrita.

Hermione.

— Ahn, senhorita — voltou-se para a garota. Ela o olhou enquanto secava as lágrimas. Seu rosto agora estava ainda mais manchado de sujeira — Acho que descobri qual é o seu nome.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Devo continuar?Até o próximo!