Tessália escrita por Melanie


Capítulo 1
Alice idiota


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, é bem estranho estar de volta depois de tanto tempo kkkkk
Boa leitura e, por favor, deem dicas e tudo mais...



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Depois de esvaziar a ultima caixa da mudança infernal, Alice encontrou forças em algum lugar dentro do corpo magro de cabeça loira pra sorrir como uma debiloide. Ignorei o ato perturbador e me deixei cair no sofá velho, que conseguimos por uma pechincha com os moradores do apartamento ao lado, que soltava fumaças de pó e rangia— como se algum animal estivesse preso dentro da velharia.

-Temos que comemorar! –Alice falou, dando pulinhos de felicidade.

-Temos que dormir, Alice. Dormir. –Murmurei a palavra sagrada dos universitários quase como um apelo, já sabendo que ela não fazia parte da vida ativa e cheia de festas da minha melhor amiga.

-Tess, nós vamos comemorar! Você queira ou... Deixa pra lá, você só tem essa opção. –Ela deu de ombros e foi para o corredor que levava aos quartos.

Revirei os olhos e me levantei recitando como se só pra mim um poema... “Oh, Senhor Deus dos desgraçados...” e então fui para o quarto me arrumar para o que se seguiria: alguma festa, algumas bebidas, algumas poucas horas de sono, muito café e muitas aspirinas.

Alice fazia o tipinho alemã: alta, magra, loira e de olhos claros. O tipo de beleza falsa brasileira: água oxigenada, lentes, lipo e silicone. Uma ótima combinação com o tubinho preto decotado, os saltos vermelhos e a maquiagem forte. Não me dei o trabalho de me arrumar tanto (nem de fazer uma lipo), tendo em vista que quanto mais eu parecesse bonita durante a noite de hoje, mais seria notório o meu abatimento pós bebedeira— também conhecido como “ressaca”— durante a impiedosa manhã de segunda-feira. Então coloquei um shorts jeans, uma camisa branca soltinha e um salto preto, deixei que Alice me maquiasse como um guaxinim— como ela adorava fazer todas as vezes que decidimos sair— e fomos em busca da tal “perdição” de domingo.

Usar salto foi algo bem idiota a se fazer, sabendo que tanto eu quanto Alice morríamos de medo de elevadores... pensando bem, quem mora no oitavo andar quando se tem medo de elevadores? Bom, Alice também tinha medo de assaltos, então chorou com o corretor até que ele mantivesse o preço do térreo para o nosso apartamento. É claro que a loira me ligou toda contente, como se tivesse feito um ato heróico, e não uma burrada daquelas.

-Inspiração. –Diogo beijou minha mão, como sempre fazia quando estava um tanto alcoolizado. Mais alguém conhece alguém que bebe e fica poético?

-Oi, Di. –Sorri, um pouco sem graça.

-Oi, loira. –Ele beijou a mão de Alice, que uniu as sobrancelhas, olhou para mim e sorriu amarelo.

-Olha só... Ele... –Gaguejou enquanto buscava algo útil para falar –Bebeu. –Falhando. Era nítido que o jovem Diogo estava chapado.

Nos separamos: Eu fui para o bar e ela foi pra pista de dança. Eu pra tequila e ela pro Felipe.

Olhei a minha volta, para todos aqueles jovens vazios que tentavam, desesperadamente, se preencher, com amores baratos ou bebidas do mesmo valor e me senti em casa. Algumas garotas com piercing no umbigo me deixaram com agonia e essa foi a única grande emoção que passei na noite. Não que eu não fosse divertida, ou bonita pra que os caras não se aproximassem e as garotas não se entrosassem. É só que era domingo e eu estava exausta, só precisava da minha cama, e foi pra ela que eu corri assim que chegamos em casa... “Corri” significa que arranquei os saltos e subimos, eu e Alice, escoradas uma na outra— como se fossemos apoios confiáveis.

Um barulho que mais parecia o alarme de incêndio do prédio me fez pular da cama, ou cambalear para fora dela batendo levemente parte do meu rosto contra o guarda roupas. Que primeira manhã abençoada pelos dedos sacanas do destino. Desliguei o despertador e fiz minha higiene matinal. Alice não estava acordada, e nem tinha colocado o despertador pra tocar, o que tornava ela uma amiga menos melhor e mais preguiçosa. Fui até a cozinha e preparei meu café da manhã.

-Alice. Acorda. –Senti vontade de atacar gelo nela, senti vontade de pular em sua coluna e bater com sua cabeça na pia.

-Morre. – Ou Alice havia encontrado um traveco (do qual eu não me lembrava) em algum dos oito lances de escada, ou o álcool e a noite fria fizeram mal para suas cordas vocais (que, deus queira, não sejam permanentes).

Olhei para o espelho atrás de mim, no banheiro.

-Sabe, Alice... Talvez eu já esteja aparentemente morta.

Alice e eu chegamos na faculdade a tempo de pegar a primeira aula, o que era bom. Alice fingia estar sem voz alguma, o que colaborava com a minha dor de cabeça infernal, e me poupava das loucuras naturais dela.

Voltamos para o apartamento e eu voltei a dormir antes de ser novamente acordada por um outro som estranho e intrigante, que me levou na ponta dos pés até a cozinha, onde Alice fazia gargarejo e emitia um som semelhante a um peru acasalando— Não que eu realmente soubesse qual era o som de um peru acasalando. Pensei na hipótese de mandar ela parar, mas ela tentaria diversas coisas pra tentar melhorar, então decidi sair um pouco.

Um tanto tarde demais, notei. A lua estava posta e se mostrava linda e grandiosa em um céu totalmente inundado de estrelas. Pensei que seria um ótimo cenário para encontrar o amor da minha vida. Foi quando algo bateu bruscamente em meu ombro e me atirou ao chão. Olhei para cima a tempo de ver o senhor que, aparentemente, era décadas mais velho que o nosso sofá. Ele olhou para mim com o cenho franzido, fez uma careta e voltou a andar balbuciando frases que eram basicamente “Tão jovem e já drogada”. O apelidei de tartaruga-ninja-velha-do-mal e voltei pra casa com dor no quadril pensando que, talvez, o dia seguinte pudesse ser mais tranqüilo e menos dolorido.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem ^^'



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