“Era uma vez...”

E assim começa a história. Os fogos de artifício que brilhavam ao longe faziam com que Regina trincasse o maxilar, rangendo os dentes com força, mas disfarçadamente. Killian estava em pé parado em frente à porta do quarto, e Regina não queria que ele percebesse sua fraqueza.

– Está tudo bem, minha Rainha? – o Capitão perguntou. Regina salvara a vida de Killian quando o mesmo estava prestes a perder uma luta para Úrsula e, desde então, ele jurara que seria seu servo até que a Rainha considerasse sua “dívida” paga. Killian tinha seu braço esquerdo colado ao corpo, o gancho pendendo ao lado de sua cintura, e a mão direita repousava suavemente sobre a espada.

– É claro que está – Regina virou-se bruscamente e caminhou para dentro do quarto, fechando as portas que levavam à sacada com um simples aceno de mão. Sua longa capa negra arrastava no chão atrás de si, a saia do vestido movimentando-se levemente conforme o movimento de suas pernas. Seu tom de voz era baixo, porém ríspido. Killian sabia que, por dentro, a Rainha contorcia-se de raiva. – Me deixe só – a morena ordenou, parando em frente à lareira acesa e respirando fundo.

Com uma demorada reverência, seu servo a obedeceu, fechando as grandes portas do quarto atrás de si. Regina sentia-se tão irritada que até Killian cumprindo suas ordens a fazia bufar e virar os olhos. Por que aquela menina estúpida sempre ganhava tudo, absolutamente tudo, enquanto Regina tinha que conviver com a infelicidade que estava fadada a sempre sentir? Snow White já havia destruído seus sonhos uma vez, e aquilo fora o suficiente para que toda a vida da Rainha fosse por água abaixo, e cada atitude, cada novo ganho daquela princesinha a fazia sentir-se ainda mais enojada por tê-la, de uma forma ou de outra, em sua vida. Entretanto, esse novo acontecimento seria a deixa perfeita para que Regina pudesse, finalmente, colocar a sua vingança em prática. A morena chegara a cogitar a hipótese de lançar uma grande maldição sobre todos os habitantes da Floresta Encantada, até que ouviu uma notícia maravilhosa: Snow White e Príncipe Charming estavam esperando um bebê! Regina, em partes, odiou a notícia. Conseguia esconder perfeitamente de todos os seus servos no castelo, mas não podia esconder de si mesma a inveja gigantesca que sentia da felicidade constante que eles tinham em sua vida. Por outro lado, a Rainha vibrara, seu desejo por vingança aumentando a cada segundo. Qual ponto mais fraco de uma pessoa se não o seu filho – ainda mais o primeiro filho? A alegria da Rainha era incontestável, e a maldição fora definida: seria lançada no dia em que o casal apresentaria seu herdeiro ao reino.

– Chegou a hora de ir – ao passo que a Rainha proferia tais palavras, uma fumaça roxa envolveu todo o seu corpo, e o vestido vermelho que antes usava transformou-se em um belíssimo vestido negro, cuja parte posterior da saia estendia-se em uma cauda longa. Caminhou a passos lentos até a porta e abriu-a, encontrando Killian parado no grande corredor.

– A carruagem está pronta – ele lhe informou, cortês.

Regina apenas assentiu, sorrindo ansiosa e maldosamente.

– Espero não me atrasar.