A Contadora de Histórias escrita por Lu


Capítulo 3
Capítulo Dois – O egoísmo das duas ondas


Notas iniciais do capítulo

Não desistam de mim! Eu voltei! E sim! Agora falta reescrever minha última história e daí minha agenda normaliza assim como a postagem dos capítulos!
Não desanimem, não me deixem, leitoreeeees ♥
Beijinhos de luz, nos vemos lá embaixo! ♥ ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/639722/chapter/3

Vesti o uniforme cinza da escola, um tanto contra minha vontade. Tudo bem, não vou mentir, eu odiei esse uniforme e o vesti sem vontade alguma. Uma blusa de manga curta no tom de um branco acinzentado com uma gravatinha cinza escuro. A saia é as duas cores mescladas e a sapatilha num preto fosco.

Fosco, a exata palavra que define meu humor assim como o clima. As nuvens se movimentam entediadas carregando a poluição humana. A chuva cai tão devagar quanto o meu caminhar arrastado pelas escadas do prédio. Meu pai me conforta colocando as mãos em meu ombro enquanto descemos a escadaria em direção ao mundo lá fora, mais filosoficamente, para o fundo do poço.

– Vai ser divertido querida! – as palavras de meu pai saem tão falsas quanto o sorriso que ele insiste em manter naquela cara amassada pelo cansaço.

Ele me deixa com carinho no ponto de ônibus, me despeço dele com um beijo na bochecha e ele segue rumo ao novo emprego. Uma idosa carrega cinco bolsas pesadas, ninguém se oferece para ajudá-la. Um homem repugnante, com a cara abatida pela idade, retira um cigarro da certeira e começa a fumá-lo. Bafora em cima das pessoas toda aquela fumaça contida dentro de sua boca. Pego minha maletinha da escola para tapar a fumaça, que facilmente acabo ingerindo.

O ônibus enfim chega, mal as pessoas se aglomeraram lá dentro e ele já da partida. Para não entrar na confusão da cinco pessoas tentando passar pela mesma porta, espero tranquilamente ser a última a entrar no ônibus. Até agora não tenho certeza se o motorista não me viu ou se ele estava nem aí pra mim, só sei que quando fui entrar ele simplesmente acelerou, quase me lançando para longe da calçada.

Graças a Deus, eu consigo entrar, mas não acho lugar algum para sentar e acabo por ficar de pé mesmo. Se passam alguns minutos e eu desisto de observar a paisagem cinza e sem graça, noto a senhora das várias bolsas se remexer desconfortável, na tentativa de não deixar que a bagagem pesada caia. Ela está de pé, e ninguém oferece lugar para ela. Faço a única coisa que poderia fazer e gentilmente a cumprimento.

– Bom dia senhora, – ela me retribui com um sorriso – gostaria que eu carregasse alguma de suas bolsas?

– Claro querida, que bom que há pessoas gentis como você no mundo – ela me estende com cuidado uma sacola de papelão e eu a seguro.

Não se passa nem dois segundo e a senhora grita em desespero.

– Socorro! – todos os olhares no ônibus se dirigem a ela e a mim. – Essa menina! Ela está roubando a minha bolsa! – um rapaz arranca a sacola de minha mão e outro me derruba no chão desferindo um golpe no meu rosto.

Caio bruscamente e para não ferir minha cabeça jogo minha mão de apoio que se rala com o chão áspero. Todos aqueles olhares voltados para mim, a senhora me olha rindo, alguns me ignoram e outros tiram sarro da minha cara.

–Era só um ratinho – um comenta – deve voltar do lixo que você saiu. Aonde já se viu? Roubar uma senhora! Ah, suma daqui favelada!

Ele não precisou falar duas vezes, ao tentar me levantar o ônibus freia e todos somos lançados para frente, no portão da escola, eu me jogo pela porta do veículo que nem terminou de abrir as portas para me ver livre daquela gente. Escorrego na calçada e meus joelhos recebem o impacto do chão impiedoso.

Sinto vontade de chorar, mas em vez disso, me levanto e bato o pó de minha saia. Sinto os arranhões do joelho e da palma mão se abrirem libertando gotinhas de sangue. Respiro fundo e expiro aquele ar sujo rapidamente. Um único pensamento me conforta.

Tomara que aquela velha seja atropelada pelo próximo carro que cruzar a esquina.

O cruel pensamento me acompanha até o final da aula na minha cara amarrada. As crianças me ignoram e me olham como um animal. Os professores não me notam então resolvo nem tirar o material escolar da mochila. Com a educação dos alunos, aprendo uma dúzia de palavrões novos para usar em meu vocabulário da próxima vez que eu encontrar algum daqueles malditos que estavam naquele ônibus novamente.

Vou a pé para casa, almoço disfarçando um sorriso magnífico, penso que poderia ser atriz. Meus pais vão trabalhar e eu saio de fininho do apartamento. Vou a um lugar onde posso viver, feliz, sem ter que provar nada a ninguém.

Analiso a porta da biblioteca e entro rapidamente na esperança de que ninguém tenham me visto. A bibliotecária pelo contrário, até me dá boa tarde, retribuo o cumprimento e apresento meu cartão da biblioteca.

Vou caminhando para pegar um livro e avisto a moça do dia anterior. Sentada na mesma posição, na mesma cadeira, lendo um livro diferente.

Caminho lentamente até ela e começo uma conversa amigável.

– Boa tarde! Pensei muito no que me ensinou, eram palavras reconfortantes.

Ao contrário da última vez que a vi, ela me olhou por cima dos óculos, desta vez, sorrindo satisfeita. Ela jogou no chão um livro que estava em um banquinho e o indicou para eu me sentar. Me sentei no assento e a observei curiosa.

– Muito obrigada.

– Não há de que, pequena – ela recolocou os óculos e continuou. – Fico feliz em saber que minhas palavras a ajudaram. Como foi o dia?

– Péssimo, me ofereci para ajudar uma senhora e ela formulou um falso assalto. Fui ignorada e desprezada pelo resto do dia e vim parar aqui – olho para o chão, desabafando.

– Não se preocupe, – ela acariciou minha cabeça – tudo pode melhorar. Amanhã, refaça este dia só que diferente, vá a escola sorrindo, faça as atividades sem se relacionar com ninguém, vá a pé para a escola e depois volte aqui e me conte como foi.

– É, acho que posso fazer isso – confirmo notando seus olhos verdes amarelados. Ficamos um pouco em silêncio analisando as feições uma da outra.

– Dia lindo, não? – não entendo o que ela viu de lindo no dia.

– As nuvens parecem tristes e tudo está cinza, diferente da minha antiga vida o sol nem me deu bom dia hoje de manhã.

– Eu não acho isso, – ela levanta meu rosto e sorri radiante – as nuvens tem esperança na humanidade. Assim como as flores tem esperança que uma linda borboleta irá pousar nelas.

– Então a vida é uma flor? – pergunto cruzando as pernas.

– Sim. E você é a linda borboleta – fico um pouco corada com o elogio e tento mudar de assunto. Não consigo achar nada mais de interessante para conversar e prossigo com a mesma conversa.

– E por que eu já não estou na flor? Não seria melhor abandonar tudo isto e pousar logo na minha flor e ser alegre?

– Isso você que deve descobrir borboletinha. Já ouviu a história do egoísmo das duas ondas?

– Não, o que conta nela?

– Eu também não sei – ela simplesmente diz, com um sorriso triste. – Eu peguei esse livro agora, não faço ideia do que conta. Gostaria muito de ler.

– E por que simplesmente não abre e lê? – pergunto já sem paciência.

– Porque sinto que não vai dar tempo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam? Pelo tempo que passou deveria trazer um testamento aqui mas né... :v
adoro vcs



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Contadora de Histórias" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.