Instituição JGMB - Interativa escrita por AceMe


Capítulo 18
Minhas Sinceras Desculpas


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos! Não, esse capítulo não é de aviso. É só título mesmo.
Agora que o recesso de carnaval acabou (Uma cachoeira se forma no quarto), terei menos tempo para escrever. Outra coisa que me desaminará: Sabem qual o nome da professora de Matemática desse ano? Isso mesmo: Margareth! Igualzinho ao de nossa amada rainha dislexica dinamarquesa. Queria ★ morta!
Mas, enfim, esse é o quinto capítulo de 10 (No máximo) para acabar a fic.
Boa leitura, ;)!



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Sabe aquele momento em que alguém diz aquela maldita frase, “pelo menos não dá para ficar pior”, e então começa a chover? Naquele momento só faltava isso acontecer. E olha que a rainha nem havia verbalizado esse pensamento.

O avião fora realmente bastante rápido. Chegou em Nuuk antes do que o normal. Porém, a aterrisagem foi desconcertante, já que as nuvens cinzentas começavam a tomar o céu e a claridade completamente para elas em um ato de egoísmo. Por uns instantes pensou que estivesse se sentindo como os pais e o irmão deveriam ter se sentido quando o avião deles caiu. Seria muito irônico, não? Morrer em uma queda de avião exatamente vinte anos depois do acidente. Afinal, ela era a única que faltava acolher a morte. Mas, felizmente, durante a segunda tentativa de aterrisagem forçada no aeroporto, o piloto finalmente conseguira pousar com poucos danos na aeronave e nenhum nos passageiros.

Depois vieram outros infortúnios: Além do carro derrapar tanto durante o percurso que Margareth chegou a pensar que o motorista estava bêbado, não havia ninguém na Instituição. Nem uma alma penada para avisar que foram todos ao além. Descobrira por que suas ligações não haviam sido correspondidas, mas outro mistério lhe foi jogado nas mãos: Onde é que eles estão?

Só havia uma única alternativa lógica: Eles acionaram a Base. Contudo, onde a Base poderia estar? Se tivesse sorte, ela estaria invisível em algum lugar à frente. Margareth engoliu em seco e começou a procurar sua agulha naquele enorme palheiro.

Aquelas botas realmente não foram feitas para serem usadas na neve, que lhe afundava até um pouco acima do calcanhar – E olha que Vossa Majestade é alta. Porém, após esses golpes do destino, a sorte pareceu-lhe bater na porta, já que ela fez o mesmo com a da Base. Levou a mão ao nariz vermelho e ajeitou os óculos para ver o inalcançável vazio em sua frente.

—Achei.

Constatou a si mesma e começou a tatear a construção. Harold havia mostrado a ela os dispositivos de invisibilidade no modelo virtual, e se se lembrava bem das explicações dele, logo encontraria um painel eletrônico para se comunicar com eles lá dentro. E não é que não demorou muito para a textura invisível mudar de concreto para uma tela sensível ao toque que assim que foi tocada começou a chamar pelas pessoas lá de dentro?

Não demorou nada para aparecer um monitor flutuante com a imagem de um jovem de ascendência hindu com não muito mais de 20 anos. O rosto lhe era ligeiramente familiar, mas Margareth não conseguiu ligar uma coisa a outra de imediato.

—Ahm... – O menino parecia meio confuso. – Oi...?

—Olá. – A rainha saudou se perguntando quem ele era. – Eu preciso falar com o diretor Laudrup, ou talvez com Jorgensen, se ele estiver.

—Errr... Não faço a menor ideia de onde eles estão.

—Não sabe!? – A rainha perguntou sarcasticamente e revirando os olhos. – Mas esses dois não conseguem fazer nada organizado sozinhos!?

O garoto observava Margareth atentamente, como se estivesse tentando lembrar de algo que estava na ponta da língua. Finalmente ele chegou para frente e exclamou:

—Ei, eu conheço você! É a Rainha da Dinamarca, não é? Eu sou Henry Murray. Faço... Fazia parte do grupo 5.

Então era daí que o rosto dele lhe era familiar. Era do mesmo grupo que o informante Christian. Devia já ter visto os dois juntos uma vez ou outra. Uma rajada forte de vento gelado fez a rainha apertar ainda mais o casaco contra o corpo e se lembrar de algo importante que havia esquecido: David Moore também não estava em lugar algum. Onde ele estaria?

—Sim, sou eu, Margareth VI. E eu lembro vagamente do seu rosto, – Disse apressada. – mas precisa prestar muita atenção à minha pergunta, pois ela é muito importante: David Moore está aí dentro?

Henry coçou a nuca e franziu o cenho antes de responder.

—O especialista em história? Eu não o vi, mas provavelmente deve estar entre os outros especialistas, não?

Foi então que a ficha da rainha começou a se aproximar da borda do penhasco, pronta para se jogar a qualquer instante.

—Como assim não sabe se Moore está aí ou não!? – Questionou perturbada. – O que está acontecendo?

O semblante de Henry, ao contrário do desesperado de Margareth, era triste e até mesmo frio, como se já não lhe restasse mais esperanças ou alegria para se prender. E quando não se tem mais esperanças ou felicidade o corpo fica desabitado, esperando elas voltarem das férias.

—Na verdade, nem eu sei bem ao certo o que está acontecendo. – Confessou. – Tudo que sei é que meus pais armaram um complô junto a uns presidentes e pegaram essa base para eles dominarem o mundo e querem que eu seja um mini líder ou algo assim. É tipo 1984, só que real.

—O quê!? E só me avisa isso agora! – Margareth levantou as mãos como se fosse agarrar a tela, mas nunca poderia, já que ela era presa na parede. – Por tudo que é mais sagrado, você tem que me deixar entrar!

Ele desviou o olhar entristecido do próprio colo para a mulher que implorava.

—Confesso que não gostei do plano de meus pais, mas a senhora tem um plano? Se eu te deixar entrar, sabe o que vai fazer? – Interrogou. – Quero dizer, mesmo armando esse esquema todo, eles ainda são meus pais. Não posso traí-los dessa forma, sem uma garantia que tudo vai dar certo.

A cara de Margareth se fechou em um semblante pensativo. Para adentrar na construção teria que convencer o jovem Henry que deixa-la entrar era uma coisa boa, mas como? Arquitetar um plano era ainda mais difícil sob pressão e ela não podia demorar muito, senão com certeza ou ele iria encerrar a transmissão ou alguém ia chegar.

—Eu sei lutar esgrima. – Informou de repente. – E jiu jitsu, taekwondo e outras artes marciais. Posso chegar na surdina e... – E o quê? Golpear? Atordoar? Matar com certeza não. “O que fazer? O que fazer?” — E assumir o lugar do Moore e mandar uma mensagem para todos os que ajudaram a assumir a base saírem daí por algum motivo e teletransportar a base para outro lugar. – Completou com a primeira saída que lhe veio a mente.

Henry apoiava os braços na mesa e observava tudo quanto era canto, como se ponderasse a resposta da Rainha. Vendo que não tinha nada a perder com isso tudo, se pronunciou novamente, dessa vez olhando diretamente nos olhos dela.

—Não deve demorar muito mais para eu perder a memória. Por favor, tente fazer isso antes que venham me buscar. Mas se não der, garanta que nunca mais meu grupo tenha que me ver de novo.

Após esse apelo e o consentimento da rainha que iria cumprir sua promessa se pudesse, Henry descobriu como abrir a porta pelo micro computador. Vossa Majestade ainda agradeceu antes de finalmente entrar e começar a driblar os guardas, um por um, enquanto se recordava do fato de que não sabia inglês o suficiente para mandar mensagens se passando por Moore.

Henry tirou o holograma de sua frente, tentando apagar os vestígios do que fizera. Não deu nem tempo de pensar se sua decisão foi a correta quando ouviu passos vindos do corredor.

...

Quanto tempo havia se passado ali? 5 minutos? Meia hora? Duas, talvez metade do dia? Ninguém podia dizer com exatidão. Ao contrário do que acontecera mais cedo, em que todas as pessoas do grupo 5 estavam em silêncio, agora o desespero era uma visão geral. De repente metade do pessoal se tornou hiperativo e andava de um lado pro outro, enquanto a outra metade ainda estava sentada tentando raciocinar o que estava acontecendo.

Entretanto, algo que atraiu a atenção de todos foi o senhor Christian Ford soltar a plenos pulmões repentinamente:

—Essa não! Foi tudo minha culpa!

—O que foi agora, Chris? – Arícia perguntou assustada. – Não basta Henry e Isis terem sido levados e a base tomada, agora você também tem que dar chilique nervoso?

Chris ignorou o comentário da prima e continuou:

—Eu... Eu me lembrei agora o que aconteceu lá! Zulu, ele... Ele apertou minha mão e então deixei o fingido ler a carta. Não sei como, mas... Desculpa!

Ed e Jean pareciam ser os únicos que entenderam de que carta Chris estava falando, pois se aproximaram um pouco mais enquanto Carol perguntava “Que tipo de pessoa manda carta hoje em dia?”.

—Você está dizendo que deixou alguém ler a carta da águia e causou isso tudo!? – Jean se levantou de súbito e deu pequenos passos até Chris. – Ah, mas agora eu é que vou ler esse troço.

E assim o francês agarrou o casaco do outro, procurando pela carta. Apesar da relutância do estadunidense, conseguiu achar o pedaço de papel marcado com uma águia marrom na ponta. Porém, não conseguia ler o que estava escrito, pois Chris permanecia de pendurado nele, tentando recuperar a carta e tinha que deixar o braço com a carta estendido e afastado e o outro bloqueando o mais baixo.

—Para com isso! Essa carta é do Henry! – Reclamava. – Não podemos ler, é invasão de privacidade.

—Mas pro Zulu não teve problema mostrar, não é? – Jean revidou.

—Não, isso foi diferente! – Protestou. – Ele...

—Será que os dois não podem deixar para flertar outra hora? Tem mais em jogo aqui.

Ambos se surpreenderam ao perceberem que Ed pegou a carta da mão de Jean e começou a lê-la enquanto o resto assistia àquela cena. Chris se desvencilhou rapidamente de Jean, pois se Ed fez um comentário é porque ou a cena era muito forte, ou estava demasiado ridícula. Nenhuma das duas opções eram boas.

—Eu não flerto, – Chris se defendeu. – principalmente com o Jean.

—O que é uma pena. – Jean acrescentou baixinho.

—O que você disse? Ah, quer saber, não importa. – O primeiro mudou de assunto. – Ed, você não pode ler essa carta. Por mais que isso pareça sem sentido agora, ainda acho que ela tem que ser entregue primeiro ao Henry.

—Eu sou o melhor amigo dele, – Justificou sem tirar os olhos da carta. – então na ausência dele eu sou ele.

—Eu realmente não queria me intrometer na conversa de vocês, – Miguel começou já se intrometendo. – mas sinto que ainda tenho que manter o grupo sobre controle: por que tanto alvoroço só por causa de uma carta?

Os três se entreolharam e depois olharam todos ao mesmo tempo da Miguel, que os encarava ao mesmo tempo em que Arícia, Carol e Hyun-Ae faziam o mesmo. E essa troca de olhares demorou uma eternidade até resolverem quem contaria o que na história, que praticamente se resumiu a Chris contar os fatos mais importantes, Ed dar uns complementos enquanto finalizava a leitura e Jean dramatizando algumas partes; umas que ele nem estava presente no momento.

—Entendo. – Miguel comentou quando a história acabou de ser contada. – Isso é realmente muito sério.

—É tudo minha culpa. – Chris se responsabilizou. – Não deveria ter aceitado espionar o tal de David Moore. Muito menos ter deixado de contar sobre Randhir Murray pro Senhor Laudrup. É por minha causa que estamos aqui.

—Não. – Hyun-Ae interrompeu. – Fui eu.

Todas as cabeças giraram ao mesmo tempo na direção da coreana.

—O Tanaka Dong-Su convenceu meu filho e eu a construirmos um teleporte. – Confessou. – Ele disse que seria para o avanço da ciência, mas agora entendi tudo. Muitas vezes via ele, Moore e Zulu conversando. – Hyun-Ae abaixou a cabeça com vergonha. – Deve ter sido assim que essas pessoas armadas chegaram tão rápido. Me desculpem.

—Então era isso que você tanto fazia na biblioteca!? – Carol perguntou e afirmou simultaneamente assustada. – Depois daquele bilhete na sala de descanso pensei que você ia lá dar uns pegas no outro coreano.

As bochechas de Hyun-Ae coraram mais ainda e o constrangimento aumentou. Arícia deu um empurrão no ombro da melhor amiga.

—Carol! – Censurou-a baixinho. – Também achava isso, mas agora não é hora.

—Não, a culpa não é sua. Você nunca teria como saber quais eram as intenções de verdade deles. – Chris tentou reconforta-la. – Eu também não deveria ter pedido seus projetos através de uma mentira. Você foi uma boa amiga e por causa da nossa gentileza elevada estamos aqui.

—Está bem, já deu, parem com isso! – Miguel suspendeu os perdões intermináveis. – A culpa é de ninguém, e se tiverem que culpar alguém, me culpem, porque eu é que era o responsável por todo mundo. Todos tinham seus motivos para fazerem o que fizeram e agora que tudo já foi feito não adianta ficar se lamentando. Arrependimento nunca consertou o que você faz de errado.

—Que piegas. – Jean comentou irônico. – Agora, Ed, será que poderia dizer o quê tem nessa carta?

Ed não parecia ter ouvido, pois nem desviou os olhos. Devia estar concentrado assim fazia já bastante tempo. Tempo até demais para a ansiedade de Jean.

—Ei, Edward!  Estou falando com você! – Como repetir não funcionou, ele balançou o braço do outro. – Edward! Diz logo o que tem nessa carta!

—Está um pouco confuso. – Finalmente respondeu. – Ela foi enviada pelo presidente dos EUA. Diz que tanto o Quimical Rush quanto o Oriente Médio já haviam acabado de fazer aquela bomba venenosa, mas conta também que eram para serem usadas como garantia no caso de algum país não concordar com os termos deles de como a nova ordem da Terra deve ser empregada e também para conversar com David Moore no caso dos planos mudarem por causa da Dinamarca. Dá a entender que a quarta guerra é uma farsa.

—Como assim uma farsa, gente? – Carol perguntou. – Está sugerindo que o diretor Laudrup mentiu para a gente?

Ed deu de ombros enquanto dobrava a carta e a colocava em um canto. Chris se aproximou do canto em que deixaram a bagagem e arrastou a maleta que havia recebido pelo correio, e com muito sacrifício, conseguiu coloca-la sobre uma das camas.

—Agora sim meu pai ter enviado essa mala faz sentido.

—Do que você está falando? – Arícia perguntou. – O que tio William te mandou?

—Meu pai é militar. – Chris revelou. – Ele já devia saber o que estava prestes a acontecer, já que me mandou isto.

Ele subiu os fechos da grande maleta e a abriu, mostrando um grande arsenal portátil. Lá dentro tinha de facas de atirar a uma escopeta. Os olhos de todos se encheram de espanto com aquilo.

—Como diabos isso passou pelo detector de metais!? – Jean perguntou abismado.

—Isso não importa. – Chris também não fazia a mínima ideia da resposta, por isso resolveu fingir que não significava nada. – Mas é assim que vamos salvar o mundo.

—Espere aí! Salvar o mundo!? Nós!? – Miguel questionou. – Não, não, não. Isso é muito perigoso. Não acha melhor chamar alguma autoridade?

—Como você acha que faríamos isso? – Chris revidou. – Já tentamos mexer no celular e nos telecomunicadores, mas alguma coisa aqui impede que eles funcionem. Nós somos os únicos que podemos fazer alguma coisa! Simplesmente não podemos ficar aqui parados com uma chance dessas.

—Está bem, mas também simplesmente não podemos sair apontando armas na direção de todos. – Ed opinou. – Tem algum plano?

Chris pensou por um curto período de tempo até ter a brilhante ideia de pegar caneta e papel da bagagem comum e desenhar no chão tudo que lembrava dos mapas da base que vira mais cedo. O grupo se ajeitou em círculo para planejar estratégias.

—Isso é um mapa da base, se ainda não perceberam. A sala de controle é aqui, no penúltimo andar. – Indicou. – Lá nós podemos trancar a porta, desligar o bloqueio de invisibilidade e chamar ajuda externa ou mandar alguma coisa que obrigue todos a saírem. – E então ele apontou uma pequena sala, não muito longe da saída dos dormitórios. – Essa daqui é a sala onde guardam o material de limpeza e é onde tem a passagem secreta mais próxima. As paredes da base são recobertas por túneis para chegar mais rápido em locais em causa de acidentes. Nós podemos descer na saída do corredor do andar em que fica a sala de controle e chegar lá facilmente.

—Mas e os guardas? – Hyun-Ae perguntou. – Quero dizer, com certeza tem guardas por aí.

—A gente consegue atordoa-los. Jean e Ed são gigantes, então se ao invés de colocarmos as balas, colocarmos a versão de dardos tranquilizantes como munição, podemos tira-los da jogada sem matar.

—Mas paramos também para salvar Henry e Isis. – Arícia adicionou. – Não é?

—Bem, não sabemos para onde eles foram levados, mas provavelmente é nessa área. – Chris circulou as portas restantes do corredor. – São escritórios onde se faria a contabilidade de mantimentos, água e esse tipo de coisa. São as salas mais propícias a conversar inquisidoramente com alguém, já que eram para serem usadas como escritórios.

Depois que os planos foram discutidos, cada um foi pegar uma arma para usar o tranquilizante. Carol quis pegar algo parecido com um estilingue que se usava para brincar em sua rua, mas na verdade era uma mini sniper ultra moderna. Arícia acabou ficando com ela e Carol preferiu por fim uma arma que era o estilo de um arco e flecha, só que portátil e mega avançado. Ed pegou uma pistola, mas acabou trocando com o revólver que Chris pegou porque o mais baixo disse que queria ficar com a pistola por ser mais legal de se usar. Miguel afirmou que sabia se virar na mão, mas Chris tinha a impressão que ele sabia fazer era nada. Hyun-Ae e Jean admitiram que não sabiam manejar nada, apesar do francês insistir que podia acertar alguém com a caneta. Os dois então ficaram encarregados de irem atrás para ver se tinha alguém seguindo-os.

Saíram do quarto, que apesar de ser um dos primeiros, Chris notou ter o número 321 (A mudança de número de quartos que Laudrup fez deveria ter bagunçado tudo, já que estavam em ordem decrescente os números) e seguiram para a saída. Durante a expedição pelos túneis secretos chegaram até mesmo a cravar mensagens na parte mais alta que tinha para se lembraram daquela história toda no futuro que com certeza seria contada aos seus filhos.

...

—É aqui a primeira porta. – Chris sussurrou.

Eles já estavam todos no último andar e atordoaram um guarda antes de entrarem no primeiro escritório de contabilidade a procura de Henry e Isis. Como os outros ainda estavam acordados – e com os ouvidos bem apurados – não se arriscaram a fazer muito barulho. Chris abriu a porta e todos entraram rapidamente, com Hyun-Ae fechando a porta bem devagar para não provocar um ruído alto.

De um lado do escritório havia o que parecia uma pequena área de conversação, por causa do sofá e da mesinha. Na parede à frente, uma porta e uma janela. E então, do lado esquerdo, um quadro, uma escrivaninha, e três cadeiras, onde em uma delas, estava sentado o pequeno inglês de coloração cobre e uma tendência tão forte por leitura de clássicos que tinha aberto em mãos um exemplar de “A Revolução dos Bichos”. O ser que era comumente mais conhecido como Henry Kamadewa Murray.

Ao ouvir as pessoas adentrando a sala e o olhando aliviados, ele retirou a atenção que estava toda direcionada à leitura e encarou-os espantado.

—Henry, você está bem! – Arícia exclamou mais calma, mas seguiu brincando, já que o momento permitia. – Meu cupidinho bovino!

—Nós lemos a carta. – Chris contou. – Desculpa por isso, mas agora já sabemos mais ou menos o que está acontecendo.

—Encontramos um jeito de salvar todo mundo aqui. – Miguel comentou. – Agora venha, ainda temos que encontrar a Isis.

Henry se levantou da cadeira, claramente apavorado, e deu uns passos para trás.

—Quem são vocês e o que estão fazendo aqui?

O grupo o encarou, e ele encarou de volta, o que deveria ter durado uma eternidade. Por fim, Jean soltou uma risadinha abafada.

—Henry, você não é nada bom com brincadeiras. Melhor deixa-las pra mim. – Disse. – Agora vamos, não temos o dia todo.

Henry piscou e continuou bem afastado.

—Desculpa, mas eu realmente não sei quem são vocês. – Persistiu. – Melhor saírem daqui antes que eu chame alguém.

Tudo bem, agora a situação estava realmente séria. Henry não tinha a menor sombra de estar fazendo uma piada sobre amnésia. Ele realmente não tinha a menor ideia de quem eram as pessoas com quem passou os últimos 31 dias. Estavam todos chocados demais e sem entender o que estava se passando ali para se moverem. Todos com a exceção de Ed, que corajosamente se aproximou mais do menino.

—Você... Realmente não se lembra? De nada? Nem de mim? – Insistiu. Seu tom era frio, mas dava para sentir que por dentro estava desolado. – Sou eu, Edward Fleming, Ed. Seu colega da cama de baixo, você sempre me ajuda a resolver meus problemas.

Vendo que isso não surtira efeito algum, mudou de tática. Começou a apontar para cada pessoa naquela sala.

—Aquela ali é Arícia Ford, você adora implicar que ela come muito e ela te chama de bovino porque você tem nojo de carne de vaca. Aquele ali é o primo dela, Christian Ford. É nele que você mantem muitos de seus segredos. E o do lado dele é Jean Comte, ele está sempre enchendo a paciência do Chris e quase sempre está agarrando alguém pelos corredores. A de óculos é a Carolina Jackson, a melhor amiga da Arícia. Elas estão juntas em todos os lugares que vão e ela gosta de contar histórias de aventura. O árabe é o Miguel Lieber, trás as nossas correspondências e nos ensina qualquer coisa melhor do que o melhor professor da melhor escola do mundo faria. A coreana é Hyun-Ae, vocês dois são muitas vezes encontrados batendo papo sobre livros, principalmente de Júlio Verne. E ainda tem a Isis, ela é exploradora e tem resposta para tudo, dá sempre a última palavra a você e a todos.

A expressão de Henry permaneceu passiva. Nenhuma alteração fora feita.

—Me desculpa mesmo, mas vocês devem estar me confundindo com outra pessoa. Meu rosto é bastante comum.

Ed ainda não conseguia acreditar que seu melhor amigo lá, que o aceitou de braços apertos, simplesmente havia se esquecido num passe de mágica de tudo que eles haviam passado. De todas as crises que ele silenciara, de todos os segredos que ele escondeu por ele, de todos os ensinamentos que aprendera...  Tudo isso só valia para ele no fim das contas? Não podia ser.

—Não! Todas as lembranças estão ainda guardadas no seu cérebro! – Ed insistiu. – Ainda podem ser reativadas! Nós podemos reativa-las!

Ed encostou a mão no ombro de Henry, que se afastou ainda mais dele. E agora pior: A expressão dele agora era medo. Não aquele medo bobo, mas medo de verdade. Pavor, aflição, horror, fobia, terror, pânico. Tudo junto.

—Não encoste em mim! – Berrou. – Sinto muito, mas vou ter que realmente chamar alguém!

Jean puxou Ed pela gola da camisa para tira-lo do transe. Agora Ed tinha a síndrome de perda de melhores amigos seguidamente em sua enorme lista.

Quando Henry discou os números no telefone, eles todos saíram apressados em um mutirão pelo plano ter falhado. E talvez até tivessem conseguido fugir se não tivessem trombado por uma mulher que tentava caminhar silenciosamente por aquele corredor também.

Margareth e o grupo se entreolharam surpresos milésimos de segundos antes de os guardas chegarem, os imobilizarem e os levaram cada um por um caminho diferente antes que pudessem ter qualquer reação.


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Notas finais do capítulo

Parou! Parou! Parou! Minha chatice para com vocês ainda não acabou!
Queria fazer uma pequena enquete: Algum de vocês já leu As Crônicas dos Kane? E gostou? Se me perguntarem o motivo de eu estar perguntando isso, vou responder, mas antes quero que me digam isso. E era só isso que eu tinha pra falar mesmo.
Até a próxima, ;)!