P.O.V Nico

Clarisse La Rue, meu tormento pessoal. Acho que de todo mundo na verdade.

Por conta de um mísero segredo, fui obrigado a fazer muitas coisas na qual eu não queria. Por conta de um mísero segredo, fiz muitas pessoas chorar, fiz muitas delas sair do colégio por não aguentar mais aquela implicância.

Eu nunca quis ser o idiota que eu era. Muitas das pessoas que eu machucava, de certa forma, eu admirava. Como a Thalia por exemplo, tudo por causa de uma verdade jogada na cara de Clarisse, ela começou a ser vítima, e por conta da descoberta de um segredo, eu tive de participar.

Cansei de ser tratado como brinquedinho dela, por isso resolvi fazer intercâmbio no Brasil, sei falar algumas coisas mesmo, não tem diferença. Lembro-me de quando eu era pequeno e meus pais nos traziam para cá, a mim e a minha irmã Bianca, que hoje em dia está em Londres.

No dia em que eu decidi sair daquela escola, sair daquele país e tentar esquecer todas as besteiras que eu cometi, Clarisse ficou muito irritada e me ameaçou. Como sempre. O problema é, já não ligava mais pra isso, já não ligava mais pra nada.

“-Quer contar? Que conte, não ligo mais, chega de ser seu brinquedinho, um mísero seguidor, assim como Silena e Charles. Você sempre procura a fraqueza das pessoas para poder fazer elas irem pelo seu caminho. Chega, eu cansei. Ouviu bem? Can-sei.- disse e sai de sua casa ouvindo ela gritar. Minha escolha está feita, não tem como voltar atrás....”

E eu não me arrependo. Estou morando na casa da minha tia Perséfone e já faz mais ou menos alguns meses que eu estou nesta escola, antes estava tendo aulas particulares para poder aprender mais o português, ô linguinha difícil, muitos verbos, preposições, no começo eu não conseguia falar uma frase completa, mas agora, entendo, escrevo, até canto em português.

Estudo em uma escola particular aqui no Rio, o ruim é que tem uniforme, porém é só a blusa, menos mal. As pessoas com quem eu mais me identifiquei, foram a Reyna e o Jason. Reyna é morena, e um tanto quanto fechada, parece que só comigo e com o Jason que ela vira gente de verdade. Jason é loiro dos olhos azuis, um azul tão intenso, muito parecido com o de Thalia. Fizemos amizade logo no primeiro dia, quando eu estava totalmente perdido e havia me esquecido de como se perguntava onde era minha sala, o legal é que ele também fala inglês, o que me ajudou muito.

–Nicolas di Angelo e Jason Grace, vocês sabem que horas são? – escuto isso logo quando chego em casa com Jason. No sofá estava minha tia me olhando furiosamente, e ao seu lado, estava Reyna com a mesma expressão. Agora eu sei o quanto estamos ferrados.

–Olá minhas lindas, como vocês estão? – digo enquanto ando até elas com passos vacilantes.

–Olá? Vocês chegam aqui quatro horas depois das aulas acabarem e nos diz olá?– Reyna pergunta com uma expressão severa no rosto e fechando as mãos em punho.

Nessa hora, coloquei Jason na minha frente. Se fosse para Reyna dar um soco em alguém, que seja no causador de tudo isso.

–A culpa foi do Jason que me arrastou para a pista de skate. E olha, ainda são 16:00. – completo rindo sem humor.

–É, ainda são 16 horas, mas as aulas acabam 11:55, NEM PRA AVISAR QUE TU IA FICAR FORA? – tia Perséfone gritou.

–What do you think? We fled now or ...?* - Jason fala em inglês para elas não entenderem

Olho ao redor e vejo uma brecha para ir ao meu quarto.

–Now.** – digo correndo para a pequena brecha com Jason ao meu alcance. Porém, havíamos esquecido que Reyna é perita em artes marciais. Ela correu até nós, deu uma rasteira em Jason que o mesmo caiu por cima de mim. Logo ela me imobilizou enquanto Jason reclamava da perna que doía.

–Achava mesmo que ia fugir? Tava na cara. – disse ainda me imobilizando, me fazendo quase ficar sem ar.

–Ok, ok Reyna, chega, assim você vai matar ele. – obrigada tia P. , te amo – Essa é a minha função. – completou com os olhos transbordando de fúria e vindo em minha direção. Okay, não te amo mais.

–CALMA, calma, breque nos hormônios. Desculpa não ter avisado, foi erro meu. Mas eu achei que não iria demorar tanto. – me desculpei sentando no sofá e olhando para Jason.

–O que? – ele pergunta assim que sente meu olhar sobre si- Ah, ta, me desculpe por ter arrastado seu sobrinho para a pista sem nem mandar ele avisar a Srª.

Depois disso minha tia se acalmou, mas não foi o bastante para ficarmos sem o sermão de Reyna. Ela parece até nossa mãe as vezes, devo admitir...é legal saber que ela se preocupa com a gente.

–Reyninha linda, chega, já entendemos, também te amamos, você sabe que sabemos nos cuidar. – a interrompo depois de 10 minutos de briga a abraçando e logo após a segurando pelos braços. Temos uma diferença razoável de altura, por isso minha cabeça ficou em cima da sua.

–Sim, eu sei que vocês sabem se cuidar. Eu só me preocupo com vocês. Vocês sabem o porque de eu não gostar que vocês façam coisas sem avisar um adulto. – disse com lágrimas brotando em seus olhos. Sei muito bem o porque dela estar assim. Envolve a morte da irmã dela. A irmã dela resolveu ir a uma festa escondida dos pais, ela tinha apenas 16 anos, estava tudo bem até uma quadrilha aparecer e policiais os seguirem. Houve uma troca de tiros, algumas mortes, uma delas, a irmã de Reyna.

–Ah Reyna. – disse logo me arrependendo de ir com Jason sem avisar, e a embalando em meus braços novamente. Logo vejo Jason aparecer e colocar a mão no ombro dela. – O que você acha de ficarmos a tarde inteira aqui assistindo filme? Hum?

–É, pode ser, mas eu escolho o filme – Reyna saiu do abraço e correu para o andar de cima da casa com um sorriso lateral no rosto, o sorriso de quem vai aprontar.

Revirei os olhos dando um sorriso lateral. Vejo Jason com uma cara de indignado.

–Você sabe que ela vai querer assistir Crepúsculo néh?! –perguntou se virando pra mim e apontando de leve em direção as escadas.

–Nhé, eu sei, só hoje vai, já demos trabalho demais pra ela em apenas um dia, ela merece. – respondo olhando-o sorrindo.

–E então meninos, vocês vem? –Reyna aparece no alto da escada novamente.

Olho de relance para Jason que concorda. Subimos as escadas e entramos no meu quarto. Parece que ficaremos umas boas horas aqui dentro.