House olhava pro teto do seu lado da cama; Cameron encarava a parede de costas para ele, no lado que pertencia ‘temporariamente’ a ela. Nem um dos dois estava dormindo. Ambos lutavam contra suas dúvidas e inseguranças. Acima de tudo, lutavam contra si mesmos.

Alertada, Cameron sentou-se na cama com as mãos na barriga.

– O que foi!?? – House perguntou preocupado, sentando na cama ao lado dela.

Ela puxou uma das mãos dele e colocou sobre a dela.

– Vc está sentindo? – era a primeira vez que sua filha dava sinal de vida.

House sabia o que era aquilo. Podia explicar com todos os termos técnicos o que acontecia dentro do útero dela, pois de medicina ele entendia... mas de forma alguma conseguiu articular em palavras o que estava sentindo naquele momento. Ele apenas sorriu... Ficou um tempo assim, em contato com a pele dela, em silêncio, até cessarem os movimentos. Retirou a mão e sentou-se à beira da cama, de costas para ela.

Uma dor, mais psicológica do que física lhe podia ser sentida. Sem ligar o abajur, encontrou o pote de vicodim na mesinha de cabeceira e engoliu uma pílula. Depois, fez menção de levantar-se, mas ela o segurou pelo braço.

– Onde vc vai?

– Deitar na sala...

– Pq??

Ele não respondeu.

– Me desculpa. – ela disse. Ele ficou ouvindo, sem, no entanto, olhar pra ela. – Eu devia ter me retirado completamente...

– Se retirado de onde?

– Da sua vida.

– Fui eu quem te trouxe pra dentro dela outra vez. Eu tenho que aprender a viver ciente de que vc não é mais... minha.

...

Na manhã seguinte, Cameron acordou cedo. Tomou um banho, trocou de roupa e foi até a sala. House ainda dormia no sofá. Ela sabia que depois daquela conversa ele demorou pra dormir. Ela mesma não conseguiu. Ficou ouvindo o barulhinho da TV que vinha da sala e refletindo no que ela estava fazendo da vida dela... da vida deles.

Ajoelhou-se perto dele e passou os dedos por entre os cabelos grisalhos. Fazia tempo que ele não era acordado deste jeito.

– Eu vou fazer o café... sei que vc gosta. Pq vc não vai dormir na cama?

Ele sentou-se com certa dificuldade e ainda com sono. Ela se afastou alguns centímetros e antes que pudesse levantar, ele a fez sentar ao lado dele.

– Eu não me arrependo.

– Do que? – ela perguntou.

– De ter te trazido de volta. Eu lamento sim, que vc não possa ficar nela (na minha vida) pra sempre.

– Greg... – ela lutava contra algumas lágrimas que rapidamente se formaram em seus olhos. Passou a mão no rosto dele e ele fez o mesmo com ela, limpando com o polegar algumas gotas que não resistiram a urgência de cair. Eles estreitaram lentamente o espaço que separavam suas bocas. Estavam decididos a errar uma vez mais...

De um jeito insano, que só os apaixonados compreendem, aquilo era o certo a ser feito.

Eliminaram todos os obstáculos – os físicos e os morais – e beijaram-se. Quase não ouviram o telefone tocar e a campainha soar ao mesmo tempo.

Com dificuldade pararam o que estavam fazendo. House atendeu o telefone enquanto Cameron levantou para atender a porta.

– House, é o Wilson. Eu ainda não tenho certeza como, mas Chase ficou sabendo sobre o que aconteceu com a Cameron e voltou mais cedo de viagem...

Cameron abria a porta neste exato momento...

[...]