My Old Man escrita por WeekendWarrior


Capítulo 10
Blue Lady


Notas iniciais do capítulo

1º capítulo no ponto de vista do jim.



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Jim

Não me arrependo de nenhuma escolha que fiz, nenhuma mesmo. Olho pra trás e meu passado é uma sombra. É como olhar num espelho embaçado, tudo muito turvo. Como disse, não me arrependo de nenhuma escolha que fiz, mas não pensei que doeriam tanto. Porém, difícil fica quando seu passado começa a perseguir você.

 

Tento fazer tudo extremamente certo, mas daí, no final me pergunto: ‘’Porra! O que deu errado?’’ Ao longo do caminho fui perdendo tudo, mas sempre mantive algo em mente: ‘’Não posso perder a mim mesmo’’. Pego meu cigarro e uma garrafa de bebida e caio dentro da insanidade. Vamos por isso pra‘’repetir’’.

Tudo bem, acho que sou um pouco perturbado. Sou homem preso nele mesmo. Sempre achei que não precisaria de mais ninguém, não depois de perder a pessoa que eu mais amava nessa droga de mundo. Mas aí, eu a vi. Ela era uma miragem, um Oasis no meu deserto. Veio e me salvou, ela me saciou. Porém, fiz o que sempre faço, foder com toda essa merda. Eu a deixei.

Você deve saber quem eu sou e o que faço, mas na verdade não sabe nada sobre mim. Não sei se você gosta de mim ou me odeia. O que posso fazer? Sou assim... Meio perdido. Sou um constante ‘’loop’’. Acredite é uma merda.

Sabe, um dia prometi, não, eu jurei, jurei que nunca me meteria nos assuntos do meu pai, nunca seguiria o exemplo dele, prometi que nunca seria como ele. E agora olha pra mim! Acho que é carma, só pode ser.

Meu pai era um grande traficante de Las Vegas, O Grande James; como costumavam chamá-lo. Bom, eu tinha orgulho do meu pai, até um dia... Eu deveria ter uns doze anos, já “sabia” o que meu pai fazia, sabia menos da metade. 

Estava escondido no porão onde era proibido eu entrar, pois lá ele escondia seus ‘’instrumentos’’ de trabalho. Eu ouvi algumas vozes vindo da porta e me escondi num armário que ali se encontrava, meu pai e um homem entraram no porão e começaram a conversar sobre coisas que eu não entendia na época, então meu pai encaixou pacientemente o silenciador na arma e atirou no homem, ele nem ao menos implorou pela vida, aceitou a morte de bom grado. Eu vi tudo.

Para uma criança, presenciar tal cena é algo aterrorizador. O som, mesmo abafado da arma fez com que meu corpo tremesse de medo.

Meu pai limpou o sangue, se desfez do corpo, parecia fazer tudo aquilo com maestria. “Será que o homem tinha família? Filhos?”. Meu pai parecia um monstro diante de meus olhos.

A partir desse dia, criei repulsa de meu pai e pelo que ele fazia. Até ser forçado a fazer o que era preciso.

Cinco anos depois meu pai morreu num incêndio, num galpão onde ocorria uma negociação entre traficantes. Morreu pela mão de outros traficantes – o que se era esperado. Não soltei uma lágrima sequer no enterro dele, enquanto minha mãe e irmã mais nova gastavam em vão suas preciosas lágrimas com um homem daquele.

Passei anos sendo cobrado por todos os amigos do meu pai para que continuasse o que ele não terminou, para que eu mantivesse a honra de meu pai e assim possivelmente manter a minha. O caralho! Na época só queria saber de me embebedar, experimentar novas drogas e me divertir com garotas. Nunca pisei numa faculdade, nem terminaria o ensino médio se não fosse pela minha mãe, eu realmente não sabia o que queria ser da vida. Já fui de tudo, já trabalhei em mecânicas, já fui frentista, garçom, atendente de mercado, até mesmo um vagabundo. Fiquei nisso por anos, pulando de um emprego pro outro e sempre decepcionando minha mãe.

Então um dia recebemos a notícia que minha irmã Anna tinha câncer, aquilo foi um baque pra todos nós. Ficamos sem chão. Claro que meu pai deixou uma boa grana, mas esse dinheiro estava se esvaindo e chegou o dia que acabou. E minha mãe não podia mais trabalhar pra ficar com Anna que estava extremamente mal e eu estava trabalhando na construção de um hotel, mas o dinheiro não era suficiente. Tomei a decisão. Assumiria as rédeas de onde meu pai parou.

Tinha vinte e oito anos e mandava em homens com o dobro da minha idade, não nego que senti medo no começo e minha mãe foi contra, mas eu sabia o que queria. Salvar minha irmã.

Dois anos se passaram e Anna piorava, nem mesmo os médicos sabiam como ela havia resistido tanto. Todos diziam que era ‘’milagre’’, mas não acredito muito nessas coisas, nem acredito muito em Deus. Acredito em mim, acredito que não preciso de nenhuma força maior pra conseguir o que quero. Eu achava que podia tudo.

Precisava de mais dinheiro, precisava ajudar minha irmã, precisava salvar a vida dela. Ela era tão doce e ingênua.

Recebi a notícia que tinha alguns cubanos querendo negociar e eles não queriam pouca coisa não, eram da pesada pelo que me disseram. Não pensei duas vezes, quando vi já estava nas Canárias. Mas não contava com o que me aconteceria. No meio de toda aquela tormenta, no meio de toda aquela bagunça, encontrei paz nela... Lana, Lizzy, Elizabeth. Quando a vi soube que seria minha, porém a deixei, sabia que nunca daria certo, não queria a envolver. Tudo bem, eu sei que foi errado seduzi-la e depois ir embora, mas espere, na verdade, foi ela quem me seduziu com aquele ar manso e entregue. Eu deixei bem claro o que aconteceria entre nós. Porém, o destino nos deu uma segunda chance, acho que era pra ser.

Nesses dois anos que passei longe dela perdi e ganhei muita coisa, conquistei, perdi, reconquistei e perdi novamente. Mas perdi uma coisa irrevogável, algo que nunca poderia ser recompensada, minha irmã. Não sei o porquê, mas quando Anna morreu, eu pensei em Lana e em como gostaria que ela estivesse comigo naquele momento. Mas agora acho que está tudo bem, porque a tenho.

[...]

— E agora Jim? Como vai ser? – Lana pergunta pra mim com uma cara de indecisão, ela encosta a cabeça na janela do carro e me encara novamente.

— Me diz qual é a sua preocupação.

— Tenho muitas, mas a maior é perder você.

Tiro os olhos da estrada por um momento e a encaro terno. Essa mulher ainda vai me levar à insanidade. Passo a mão direita em sua coxa, como que para acalmá-la. Ela coloca sua mão em cima da minha e olho pra sua unha azul vibrante.

— Belo esmalte – comento. Ela ri.

— Obrigada, queridinho – brinca.

Volto a atenção para a estrada e paro num posto de gasolina para abastecer. Desço, abasteço e apareço na janela do carona.

— Quer alguma coisa? – aponto pra loja de conveniências logo atrás de mim.

Ela olha pro lado direito como se pensando e responde sorrindo:

— Cigarros e pirulitos.

Eu rio do pedido.

— Só isso mesmo? – ela assente com um sorrisinho – Tudo bem – me dirijo à loja, pago a gasolina, pego pirulitos de vários sabores e cigarros Marlboro, porque eu sei que ela gosta desse, pego duas revistas ‘’Mad’’* e me dirijo de volta ao carro.

Entro no carro, entrego o que ela me pediu e dou partida.

— Nossa! Como você sabe que gosto dessa revista? – ela me mostra uma das revistas ‘’Mad’’.

— Sei de muitas coisas de que você gosta – pisco para minha garota.

— Assim não vale, Jim! Como você me conhece tão bem? – ela faz um biquinho.

— Eu só sei, simples assim – sorrio e Lana fica insatisfeita.

— Você é tão misterioso... – me encara por um segundo, depois vem em minha direção e toca a cicatriz do meu braço esquerdo dizendo – E essa cicatriz? É bem feia, hein. Qual a história dela?

— Nada boa. Posso te garantir.

— Ai meu Deus! – ela balança as mãos no ar – Por que estou surpresa? Eu sei que tem coisas você nunca vai me contar!

— Só tem uma coisa de mim que você realmente precisa saber – disse sério.

— O quê então? – me encarou séria de braços cruzados.

— Que eu te amo – vi sua cara séria se desfazer e sorrir pra mim, tudo bem, eu sei o poder que tenho sobre essa mulher e estaria mentindo se eu dissesse que não uso isso ao meu favor. Ela se esticou até mim e me beijou rapidamente na bochecha.

— Você é um usurpador, sabia? – ela ri – Eu te amo, mas eu não sei por quê.

Somente sorrio sem tirar o olhar da estrada, porque na verdade, ela não está mentindo. Mas agora estamos juntos e nada nos separará, somos os sortudos da vez. Eu e minha garota.

Olho pro lado e rio com a cena, ela está com um cigarro numa mão e um pirulito na outra, ela reveza as ações. Ela é tão doce às vezes e outras tão ácida. Acho nunca senti isso antes, é como se precisasse dela constantemente e mesmo às vezes que a deixei foram para protegê-la, porque na verdade eu tinha medo de perdê-la e essa minha maneira estúpida de cuidar de quem eu amo sempre estraga tudo, pode me culpar.

— Será que você pode ir mais rápido, lindinho? – ela pergunta e chupa o pirulito, observei aquela cena por um segundo e continuei a fitar a estrada.

— Pra quê Rainha de Nova York? – a instigo.

— Só saberá quando chegar lá, então sugiro que dirija rápido – ela me olha com desejo. 

Caralho! Me excito! Merda!

Piso no acelerador e ela ri. Safada! Não vejo a hora de chegar no Parque De Trailer e me trancar naquele ‘’quarto’’ com ela e... Bom, isso fica a seu critério imaginar.

Quando chegamos, eu ia quase puxando Lana pra fora do carro, mas avistei uma figura que não via há muito tempo. Puta que pariu! Ryan! Ele aqui... Coisa boa não era. Vi que Lana também o reconheceu, pois mudou a expressão.

— O que ele faz aqui? Você tem mantido contato com ele? São... amigos? – ela arqueia as sobrancelhas.

— Bom, ‘’amigos amigos’’, não somos... Mas mantemos contato – conversávamos enquanto nos aproximávamos de Ryan.

— Não! Espera! Ele trabalha no mesmo que você?

A encarei e isso respondeu sua pergunta. Ela ergueu as sobrancelhas. Mas quem parecia mais impressionado ali era Ryan, estava meio que chocado por ver Lana ali, comigo. Automaticamente me aproximei mais dela.

— Hummm, vejam só! Não esperaria isso nem em mil anos! Ver Jim e... Lizzy? Lana? – ele encarava Lana descaradamente. Um ciúme ridículo me abateu.

— Fala logo o que você quer, Ryan. Aconteceu alguma coisa? – indago impaciente. Lana se aproxima de mim e entrelaça seus dedos nos meus.

— Eu queria conversar com você Jim... a sós – Ryan diz e depois encara Lana. Ela olha pra mim, alisa meu braço e sai de perto, a vejo entrar no meu trailer.

— O que foi? Desembucha!

— Calma aí, cara! Relaxa, que tal darmos uma volta? Tem uma pessoa que quer te ver.

Tudo bem, eu fiquei surpreso por Ryan aparecer aqui, não nos víamos pessoalmente a mais ou menos uns oito meses e sempre que eu via a cara dele era porque alguma transação estava sendo feita ou porque estava metido em encrenca, o cara era fodido. Ele é um ótimo negociador, mas é um debochado e fresco de carteirinha, sempre está de social e se acha superior. Olha, um dia ainda vou ter o prazer de socar a cara dele.

E eu nem estou ligando muito pra tudo isso, o pior é que eu desperdicei uma ereção, porra! Estou pensando que eu e Lana poderíamos estar agora sozinhos... Ah, maldição!

Estávamos indo em direção a um carro e tinha um homem lá dentro, quem será que... Merda! Olho pro lado e o bastardo do Gosling estava rindo. Me aproximei do carro e o vidro foi abaixado.

— Como vai James Júnior? – odeio que me chamem de James.

— Vou bem, vô e o senhor?


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Notas finais do capítulo

obg por ler. ^-^



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