Um pequeno contratempo escrita por magalud


Capítulo 6
Capítulo 6




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Muitos meses se passaram, e Severo rapidamente se integrou à vida com os Campbell. Ele visitou o orfanato duas vezes, e a Mamãe Campbell doou brinquedos para os garotos. Stevie ficou muito satisfeito em ver Severo, que não sentia nenhuma saudade da Srta. Dóris.

Mamãe Campbell costumava levá-lo para brincar no parquinho quando o tempo estava bom, e ele conheceu também os garotos da vizinhança. No inverno, Severo soube o que era brincar na neve com outras crianças. Aliás, brincar com outros meninos era uma coisa que ele nunca tinha conhecido na vida. E ele gostou.

A família costumava sair bastante nos finais de semana: ao parque, ao rio, ao zoológico, ao shopping, ao cinema. Alguns fins de semana havia a emoção de viajar para algum lugar perto, geralmente algum lugar no campo, onde Severo entrava em contato com os animais de fazenda e David reclamava que não havia televisão. Era bom dormir fora da própria cama, com mamãe do lado.

O pequeno Sev conheceu muitas coisas novas. Pela primeira vez, chocolate era somente divertido e não remédio. Ele conheceu Power Rangers, Super-Homem, Batman, Homem-Aranha, Yu-Gi-Oh, Snoopy, Mickey, Pernalonga, McDonald's, videogames e todas essas coisas que povoam a mente das crianças trouxas. Ele adorou tudo aquilo e se divertia à beça.

Ele fez aniversário e completou cinco anos. Pela primeira vez em sua vida, Severo teve uma festa de aniversário, com bolo, cachorro-quente e pipoca, além de outras crianças. Alguns parentes dos Campbell vieram para festa, a fim de conhecer o mais novo membro da família.

Todo esse senso de família se aguçou na época do natal. Pela primeira vez, ele curtiu o sentido das festas, com famílias e amigos. Ganhou brinquedos e roupinhas, e agüentou a sessão de fotos do seu primeiro Natal com os Campbell. Ele gostou muito de saber a respeito de uma misteriosa figura chamada Papai Noel, que só mandava brinquedos para crianças que tinham sido boazinhas. Ele crescera sua infância inteira sem comemorar o Natal, sem ter idéia do traço de união entre as famílias e nunca soube o que era o verdadeiro espírito de Natal.

Mais e mais, as memórias do mundo bruxo estavam sendo esquecidas por Severo, que se limitava a praticar o simples feitiço Wingardium Leviosa – e nem sempre dava certo. O passado parecia cada vez mais distante, e estava lentamente sendo enterrado numa parte de seu cérebro, agora mais interessado nas brincadeiras e jogos típicos de uma criança de cinco anos.

Contudo, nem tudo estava totalmente esquecido.

Era um domingo em plenas férias escolares, e a família inteira estava passeando no shopping. O local estava lotado, com um novo filme de ação estreando naquela semana. David estava furioso porque a censura era 12 anos e os pais haviam determinado que ele não podia ir. Ele ficava passando em frente ao cinema lotado, com filas quilométricas, onde havia os grandes cartazes com os atores em poses de luta marcial – o preferido de David. Numa dessas passadas em frente ao cinema, Severo julgou ter visto um trio bastante conhecido.

Ele olhou uma vez, olhou duas vezes... E teve certeza.

Pensou rápido.

– Mamãe, posso ir com David?

– Quer ir com David?

– Quero ver o cartaz de luta!

– Tá bom, mas não vai...

– Oba! Obrigado!

– ... se perder! Severo!

Ele saiu correndo no shopping lotado de gente, desviando-se do mar de pernas dos adultos até que chegou a seu objetivo: a fila para entrar no cinema, onde ele havia visto o trio de ouro de Grifinória, esperando sua vez de ir ver o filme.

Ele chegou até eles, gritando:

– Harry Potter! Harry Potter!

Hermione Granger sorriu para ele e disse:

– Que bonitinho! Ele conhece você, Harry!

Rony Weasley disse:

– Você o conhece, Harry?

Harry Potter agachou-se e disse:

– Quem é você, amiguinho?

Severo fechou a cara e disse:

– Escute bem, Potter, e escute com atenção porque eu não sei quanto tempo eu tenho. Não importa o que você acha que está vendo, eu estou sob um feitiço.

Os três se entreolharam:

– Feitiço? Do que está falando?

– Eu sou Severo Snape.

– Onde ouviu esse nome, garoto?

– Esse é o meu nome, estou dizendo!

– Não é verdade! – disse Hermione – O Prof. Snape morreu há alguns meses.

O menino disse, petulante:

– E onde está seu corpo? Escutem: minha varinha foi destruída, então não posso provar quem eu sou fazendo mágica. Mas posso lhe perguntar, Potter: se eu quisesse encontrar um bezoar, onde deveria procurar? E o que eu obtenho adicionando asfódelo a uma infusão de losna?

O queixo de Harry caiu até o peito:

– Professor!...

– Ah, vejo que suas faculdades não o abandonaram, Potter.

Rony Weasley fez cara de incrédulo:

– Mas com uma camiseta do Mickey Mouse?

Harry perguntou:

– O que aconteceu, Professor? Quem lhe fez isso?

– O Lord das Trevas. Ele mandou que eu fosse deixado num orfanato e fui adotado por uma família trouxa. Meus pais devem estar procurando por mim. Eu fugi de meus pais.

– Pais?!

– Escute: precisam avisar Dumbledore. O feitiço usado foi um chamado Puer terragenum. Para revertê-lo, é preciso adicionar uma poção – eu tenho a receita no livro Poções Poeirentas. Mas precisam me tirar daqui. Vocês podem me encontrar junto à família Campbell. Eles são Bill e Jane Campbell, vejam aqui. Eles me fazem usar isso.

Ele mostrou um papelzinho pregado na camiseta, contendo o nome e endereço para o caso de a criança se perder. Hermione o encarou, e ela estava entre curiosa e penalizada, mas Rony indagou:

– Professor, o senhor está desse jeito todo esse tempo?

Ele deu um olhar ferino para o ruivo:

– Brilhante dedução, Sr. Weasley.

– Todos nós pensamos que o senhor estivesse morto. Fizeram uma homenagem e tudo. Acho até que estão pintando um retrato bruxo para colocar nas masmorras.

– Então todos sabem que sou um espião?

– Não. O Prof. Dumbledore achou melhor não revelar nada disso. É como se ele soubesse que algo assim estaria para acontecer.

– Potter, preciso que me tire dessa situação.

– Mas como?

– Um contra-feitiço é o indicado. Eu ainda tenho magia, mas não consigo realizar feitiços sem minha varinha - ele ouviu gritos e disse – Acho que meu tempo se acabou. Ajam como se me conhecessem!

Abrindo caminho entre a multidão, estava Jane Campbell, gritando:

– Severo! Severo! David, você deveria estar tomando conta do seu irmão!

– Eu? Mas ele sai correndo e a culpa é minha?

– Olha ele ali!

– Severo! Severo!

Ela correu até ele e o abraçou:

– Severo, meu filho! Oh, meu filhinho, que susto a mamãe levou! Você podia ter se perdido!

Severo, com a cara mais inocente do mundo, apontou:

– Veja, mamãe: é Harry Potter!

Ela o pegou no colo, aflita:

– Harry Potter? Quem é Harry Potter?

Harry se adiantou:

– Eu sou Harry Potter. Eu conheço o Prof- er – Severo.

Bill Campbell quis saber:

– De onde conhece Severo?

– De... antes. Fiquei surpreso por ele ter me reconhecido.

– Você era amigo dos pais dele?

– Não, de um... vizinho.

– Do tal vizinho que o levou ao orfanato, o tio Lúcio?

– Tio Lúcio? – Harry arregalou os olhos – Ah, sim, eu sei quem é Lúcio.

– Ele recolheu Severo depois do incêndio. Mas depois o largou num orfanato. Agora nós o adotamos.

– Que bom. Ele é meio teimosinho, mas é muito inteligente.

– Acredita que ele já sabe ler?

– Isso não me surpreende.

– Você mora aqui mesmo em Surrey, Harry?

– Isso mesmo.

– Gostaria de nos visitar algum dia? Sabe, rever Severo?

O menino se animou com a idéia:

– Sim, mamãe, podemos? Por favor?

– Você quer ver Harry Potter, querido?

– Quero sim, mamãe.

– Agora só temos que ver se Harry Potter quer ir nos visitar. Ele pode ter outros compromissos no verão.

Harry sorriu:

– Eu adoraria visitar Severo. Quem sabe eu posso ficar com um telefone para combinarmos os detalhes?

Os Campbell forneceram o número, e Severo ficou no colo da mãe, batendo palminhas que tudo estava se resolvendo.

Se tudo desse certo, em breve ele voltaria a Hogwarts.

Mas ele já não tinha tanta certeza de que aquilo seria uma coisa tão boa assim.

Mamãe Campbell serviu um prato de banana com aveia para Severo e indagou, com um sorriso:

– Sabe quem vem hoje para cá?

– Não.

– Harry Potter.

Severo abriu um sorriso:

– Harry Potter? Vem mesmo, mamãe?

– Sim. Ele ligou e eu o convidei para vir almoçar aqui. Vocês vão poder brincar juntos.

– Oba!

– Você gosta muito desse Harry, não gosta, Sev?

– Eu estava com saudades dele.

– E vocês brincam juntos?

Severo respondeu, rindo:

– Antes de eu vir morar aqui, ele me fazia sorrir muitas vezes.

– Que bom! Agora eu espero que vocês se encontrem mais vezes. Onde fica a escola dele?

Severo deu de ombros:

– Não sei. Mas ele diz que viaja.

– Oh, deve ser no interior, então. E você, meu querido, você vai para a escola também. Não é excitante?

– Escola? Que escola?

– Uma bem pertinho daqui de casa. A gente pode ir até à pé. David já freqüentou essa escola. Agora ele vai numa outra, que fica do lado. As aulas vão começar em breve.

O cérebro de Severo entrou em operação total. Aquela visita de Harry poderia ser sua última chance de ser resgatado de volta para o mundo bruxo.

Ele disfarçou, tentando prestar atenção na sua banana com aveia:

– Eu vou para a escola amanhã?

– Não – A Sra. Campbell sorriu – Você só começa as aulas em 1 de setembro, como todos os outros meninos e meninas.

– Então podemos ir nadar nesse fim de semana lá onde o rio faz a curva?

– É um ancoradouro de barcos. E eu já disse que você ainda é muito pequeno para nadar ali.

– Mas o David nada!

– David já é grande e sabe nadar. Você não sabe. Se entrar na água, pode se afogar, e aí vamos ficar todos muito tristes.

Magoar aquela gente seria mais dolorido do que ele imaginara. Sinceramente, ele disse:

– Eu não quero ver você triste, mamãe.

– Então me obedeça e nada de nadar naquele ancoradouro.

– Mas podemos ir lá? É fim de semana, não é?

– O fim de semana é daqui a três dias.

– Podemos ir lá quando for fim de semana, mamãe?

– Bom, eu vou falar com seu pai. Ele é quem decide.

– Por favor, por favor!

– Eu já disse que vou falar com ele. Já comeu sua banana toda?

– Já terminei, mamãe.

– Então pode ir brincar.

Ele desceu da cadeira, mas mudou de idéia e voltou.

– Mamãe?

– Que foi, meu filho?

Ele se abraçou nas pernas dela:

– Eu gosto muuuuuuito de você.

Ela beijou-lhe as faces, comovida:

– Eu também gosto muito de você, meu querido. Mamãe ama você.

Ele deu um beijinho no rosto dela e saiu para brincar.

Quando Harry Potter chegou, ele foi recebido com um sorriso pela Sra. Campbell. Olhando com cuidado para a casa, viu que era ligeiramente maior do que a dos Dursley, embora fosse parecida para alguém que olhasse o lado de fora. Foi instruído a subir e lá encontrou o seu professor mais odiado, o temível Mestre de Poções de Hogwarts empilhando blocos coloridos cheios de letras.

– Sev, querido – chamou Mamãe Campbell – Olha só quem chegou.

Severo sorriu:

– Harry Potter!

Harry levou um choque. Ele jamais tinha visto Snape sorrir antes – sempre era uma risadinha malévola ou maliciosa, mas nunca um sorriso tão espontâneo ou iluminado como aquele. O menino correu a puxá-lo pela mão:

– Vamos brincar.

Mamãe Campbell sorriu:

– Se quiserem brincar no jardim, podem ir também, aproveitar que não está chovendo.

– Obrigado, Sra. Campbell.

– Obrigado, mamãe.

Ela saiu e Severo cochichou para Potter:

– Empilhar blocos pode ser extremamente relaxante para a mente, Potter.

– Professor, eu estou pasmo. O senhor foi mesmo adotado?

– Exatamente. O processo foi todo legal, Potter, por isso é que será difícil tirar-me dessa gente. Legalmente, eu sou filho deles. Ninguém me disse nada, mas acho até que trocaram meu sobrenome.

– E como isso aconteceu?

Severo contou a história toda, sem omitir nenhum detalhe, por mais vexatório que fosse. Harry ouviu tudo boquiaberto.

– Então foi simplesmente uma prova? Voldemort só queria uma prova de lealdade e o fez passar por isso tudo?

Severo deu de ombro:

– Como meu lorde, é uma prerrogativa que ele tem.

– Bom, nesse caso o senhor vai gostar de saber que sua morte foi muito pranteada, como se diz. A Profª McGonagall fez seu panegírico, porque o Prof. Dumbledore caiu doente quando o senhor desapareceu. Ele temia que o pior tivesse acontecido.

– Mas você disse que ninguém sabe que eu sou um espião.

– Sim, isso foi mantido em sigilo. O Prof. Dumbledore parecia estar prevendo algo assim. Ele mandou diversas missões da Ordem da Fênix procurarem pelo senhor – ou por seu corpo, se fosse o caso. Ele nunca deixou de ter esperança.

Severo estava tocado.

– Alvo é um grande amigo. Mas eu estou ficando preocupado, Potter. Às vezes minha cabeça se esquece de quem eu sou e eu fico pensando que tenho cinco anos, como qualquer menino de cinco anos, e me esqueço de minha vida pregressa.

– Eu falei isso com o Prof. Dumbledore. Ele ficou entusiasmado que o senhor está vivo e me mandou combinar o seu resgate. Alguma idéia?

– Eu tenho apenas uma, mas não sei se vai dar certo. Teremos que fingir um acidente para que os Campbell e a polícia trouxa não o acusem de rapto de criança.

– Rony e Hermione querem ajudar.

– Escute o meu plano.

Ao final da explicação, Harry deu algumas sugestões para melhorar o plano, e viu que realmente ele teria que fazer tudo sozinho. Todos os detalhes foram combinados cuidadosamente em voz baixa.

– Acho que está tudo certo. Tem grandes chances de funcionar.

– É minha única chance. Os Campbell são muito protetores. Se eles desconfiarem que alguém está tentando levar seu filho, vou ficar mais trancado que Rapunzel na torre.

– O senhor sabe quem é Rapunzel?

– Está num livrinho que eles me deram.

Harry olhou o quarto:

– Hum, eles realmente o adotaram não foi? Eu nunca tive um quarto desses – ele apontou para o pôster na parede –Manchester United?

– É, o Man Uni foi presente do meu irmão. Ele me transformou em fã do Beckham.

– Simas Finnigan torce pelo West Ham.

– Você tem time?

Harry deu de ombros:

– Só de quadribol.

– Aqui ninguém conhece quadribol, Potter. Escute, que tal jogarmos o baralho Yu-Gi-Oh?

Os olhos verdes de Harry se arregalaram:

– O senhor conhece Yu-Gi-Oh? Nem eu conheço direito essas cartas!

– Bom, eu tenho sido um menino de cinco anos em tempo integral. Tive que aprender algumas coisas. Agora já sei quem são os X-Men, a Liga da Justiça e mais um monte de personagens. Sei ligar a televisão também.

– Impressionante.

– Impressionante é o que os trouxas fazem sem magia. Se eu sair daqui com minhas faculdades intactas, vou ter que repensar todos os meus conceitos sobre os trouxas. E acho que vou ter uma conversinha sobre o Lord das Trevas a respeito deles, também.

– O senhor parece ter se adaptado muito bem à vida trouxa.

– Bem demais – disse ele pesadamente – Estou esquecendo que tenho quase 40 anos! Só no que penso é nessas cartas Yu-Gi-Oh!

– O senhor parece ter muitas delas.

Ele se entusiasmou:

– Eu tenho o Dragão Branco de Olhos Azuis! É a carta mais poderosa do Yu-Gi-Oh!

Mamãe Campbell apareceu na porta e disse:

– Meninos, se vocês quiserem ir se lavando, vamos almoçar daqui a alguns minutos. Harry, você pode se certificar que Severo lave as mãos?

– Com prazer, Sra. Campbell.

Os três almoçaram, pois David tinha ido para a casa de amigos e o Sr. Campbell estava trabalhando em Londres. Harry e Severo "brincaram" mais um pouco depois do almoço, até que Harry deu uma desculpa e disse que iria voltar para casa, pois tinha que chegar antes do jantar. Agradeceu a acolhida e abraçou Severo, dizendo:

– Vou deixar tudo preparado para o resgate.

– Tchau, Harry Potter! – e em voz mais baixa – Estarei esperando.


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