Um pequeno contratempo escrita por magalud


Capítulo 4
Capítulo 4




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No dia seguinte, logo depois do café, os Campbell apareceram para apanhar Severo. Houve uma despedida especial dos colegas, e até a Srta. Dóris o abraçou – tudo isso para que os Campbell não percebessem que lugar horrível era aquele. Severo no fundo estava com pena de seus amigos, mas como todo bom sonserino, ele estava satisfeito por poder aproveitar a oportunidade que o destino lhe trazia.

Só o que ele tinha que fazer era bancar a criança – e aí sim, colocar seu plano em ação: voltar para Hogwarts e recuperar sua identidade de odiado professor de Poções de 37 anos.

– Onde estão suas coisas? – quis saber a Sra. Campbell.

Severo deu de ombros:

– Eu não tenho nada. Só essa roupa que estou usando. O resto era emprestado.

Ela trocou olhares com o Sr. Campbell, que parecia chocado com a revelação.

Em seguida, Severo foi levado pela mão até lá fora e foi colocado no banco de trás de um carro grande, confortável, e dentro de uma cadeirinha especial para crianças pequenas. A Sra. Campbell disse, amarrando-o à cadeirinha:

– Você vai aqui atrás, onde estará seguro.

– Sim, Sra. Campbell.

Ela disse, em tom suave:

– Severo, pode me chamar de mamãe. Nós somos uma família.

– Desculpe.

– Não tem problema, você logo se acostuma. Somos mamãe e papai. E David é seu irmão.

– David é mais velho. É criança grande.

– É, ele vai ser seu irmãozão. Qualquer coisa que precisar, pode pedir a David.

Eles rodaram durante algum tempo, e o balanço do carro fez Severo sentir uma ligeira sonolência. Ele teve que fazer força para não dormir na viagem. Maldito corpinho de quatro anos!

Mas ele sentiu que os Campbell estavam nervosos, e muito emocionados. Severo ficou se perguntando por que eles tinham conseguido ser atendidos tão rapidamente no seu desejo de ter um filho, se eles já tinham um. Mas achou que não valia a pena pensar nisso.

Pareceu muito tempo até que o carro parou. Amarrado na cadeirinha, Severo não viu muita coisa além da cabeça da Sra. Campbell até que ela o desamarrasse e o colocasse no chão.

– Chegamos. Espero que você goste de sua nova casa.

Ele olhou para cima e gostou do que viu. Era uma casa trouxa ampla, com um pequeno jardim, mas tinha dois andares. Sr. Campbell disse, com um sorriso:

– Agora tenho que ir, Severo, porque preciso trabalhar. A gente se vê na hora do jantar, está bem?

– Bill, não se esqueça de me deixar o cartão de crédito. Preciso fazer compras para Severo.

– Está bem, querida. Compre o que precisar para o garoto.

– Obrigada. Bom trabalho.

– Tchau para vocês!

– Severo, dê tchau para o papai!

Ele acenou para o carro, que deu ré e voltou para a rua. A Sra. Campbell disse, levando-o pela mão:

– Agora vamos para dentro, porque está ventando. Aqui você vai ter seu próprio quarto, e muitos brinquedos. No ano que vem, você irá para a escola.

– Mas eu já sei ler e escrever!

A Sra. Campbell se riu alto:

– É claro, é claro.

Ele entrou na casa, e ela parecia bem ampla, mas claro que isso podia ser porque ele estava vendo tudo da perspectiva de um garoto de quatro anos. Mas havia uma sala bem cuidada, com móveis simples e funcionais. Ele subiu as escadas, sempre sendo levada pela Sra. Campbell, que ia mostrando tudo: os quartos, o banheiro, o escritório do papai, e finalmente o quarto dele. Era um aposento simples, confortável e cheio de brinquedos – um quarto de uma criança trouxa normal, muito mais alegre e divertido do que o seu quarto na Mansão Snape.

– Você gostou?

– De quem é esse quarto?

– Esse é seu quarto, querido. Se não gostou de alguma coisa, é só dizer que nós tiramos. Você disse que gostava de futebol, então compramos uma bola novinha para você jogar no jardim. Espero que goste.

Ele olhou o beliche e disse:

– Por que tem duas camas? David também vai dormir aqui?

– Não – ela riu – Toda criança gosta de beliche. Achamos que iria gostar. Podemos tirar a cama de baixo, se você preferir.

– E eu não vou cair de lá de cima?

Ela o pegou no colo e mostrou a ele, pacientemente:

– Olhe aqui – tem uma gradezinha para evitar que você caia. Além do mais, você está bem ao lado da gente. Se acontecer alguma coisa, é só chamar que viremos correndo.

– Sim, senhora.

– Pode me chamar de mamãe.

– Sim, mamãe.

Ela o colocou no chão e ele reparou nos outros móveis. Além do beliche, ele tinha um armário para roupas, uma cômoda, prateleiras aéreas e uma caixa grande, para guardar os brinquedos. E ele tinha muitos brinquedos: carrinhos, jogos, bonecos, bolas, até blocos para empilhar. Ele gostava de blocos.

– Muitos desses brinquedos eram de David. Como não sabíamos do que você gostava, achamos melhor começar com esses. Depois se você quiser mais, a gente compra para você. Mas nós temos um problema: seu aniversário.

– Aniversário?

– Você sabe o que é um aniversário, não sabe?

Ele pensou na melhor resposta que um menino de 4 anos daria e disse:

– É quando eu passo disso – mostrou três dedos – para isso – mostrou quatro dedos. Não é?

– Isso mesmo! –ela sorriu – Mas nós não sabemos quando é seu aniversário.

– Eu sei! Eu sei! – ele disse, abrindo um raro sorriso – É 5 de novembro.

– Como você sabe.

– Mamãe me disse. Sabe, minha outra mãe. Aquela que morreu.

– Eu sei. Estou surpresa que você se lembre da data.

Ele pensou numa saída rápido:

– Mamãe dizia que eu era esperto demais.

– Estou vendo que temos um espertinho na família. E agora eu tenho uma festa de aniversário para preparar.

– Já está perto?

– Não, mas eu tenho que fazer os preparativos mesmo assim. Mas agora não. Bom, querido, agora eu vou cuidar do almoço. Quer conhecer a cozinha?

Severo arregalou os olhos. Seria a primeira cozinha trouxa que ele veria. Ele sabia que eles tinham os aparelhos mais fantásticos para compensar a falta de magia, bem como alguns ingredientes muito usados em poções. Ele pareceu entusiasmado de verdade:

– Oba, quero sim!

– Está com fome?

Severo não saberia dizer por que, mas algo o inspirou a dizer:

– Não. Eu como bem pouquinho, Sra – er, quer dizer, mamãe. Juro que eu como bem pouquinho.

Jane Campbell olhou para ele, muito séria e numa voz engraçada, como se estivesse se controlando com muito esforço, disse:

– Severo, querido, nesta casa ninguém vai dar bronca em você por querer comer mais. Sempre que você estiver com fome, pode pedir comida. Você está muito magrinho e precisa engordar para não ficar doente.

Ela tinha razão, ponderou Severo. Ele passou a infância cheio de doenças por ficar enfurnado dentro de casa sem permissão para comer comidas saudáveis.

– Posso comer frutas?

– É claro que sim. Mas antes vamos almoçar. De tarde, mocinho, eu e você vamos sair. Você precisa de roupas novas. Aliás, você precisa de muita coisa nova. Acho que a conta bancária do papai vai ficar mais magra hoje.

Severo fez cara de quem não entendeu, e terminou seguindo-a até a cozinha, no andar de baixo. Pequeno como ele era, não viu muito dos aparelhos de que tanto ouvira falar, mas viu que a Sra. Campbell fazia amplo uso deles. Ele suspirou, olhando em volta. Não tinha nada para ele fazer.

Como por mágica, a Sra. Campbell notou o silêncio do menino e indagou:

– Quer me ajudar?

– Sim.

– Então você vai me ajudar a picar o alface. Venha aqui para eu lavar sua mãozinha.

Depois de devidamente higienizado, Severo foi colocado em cima de um banquinho, de pé, para ficar da altura do balcão da cozinha. Lá ele recebeu a missão de rasgar as folhas de alface para a salada. Não era exatamente o trabalho mais cerebral do mundo, mas ninguém de sã consciência daria uma faca para uma criança de quatro anos manusear, ele teve que reconhecer. E ele quase se sentia de volta a uma bancada de trabalho, cortando ingredientes para fazer uma poção.

Como ele sentia falta de suas poções.

Enquanto ele cortava a alface com sua pequenas mãozinhas, ele imaginou o que estava acontecendo em Hogwarts. Será que o tinham dado como morto? E o que tinha acontecido com seus estoques preciosos? Quem estaria ensinando os cabeças-ocas? Será que teriam alienado seus bens – o que teria sido feito da Mansão que seus pais lhe deixaram?

Aqueles pensamentos fizeram Severo estremecer. Se eles o tivessem considerado morto, isso significava que ninguém estaria procurando por ele. Ele estava só, abandonado, deixado para viver entre trouxas pelo resto de sua vida, que acabara de se alongar ainda mais. Ele teria mais uns 70 ou 80 anos para viver – afastado de seu verdadeiro mundo, esquecido por todos.

Ele sentiu uma dor indizível no peito, uma espécie de nostalgia, mas que não era bem uma saudade, algo muito difícil de descrever, quanto mais de controlar.

– Oh, meu bem... Está tudo bem.

De repente ele se viu envolvido por dois braços amorosos, reparando que seu rosto estava molhado. Ele estava chorando, e nem sabia dizer direito por que chorava. Mas como era bom ser acariciado, posto no colo, deixar suas angústias se esvaírem em lágrimas sob os braços cheios de carinho de uma mãe que estava dizendo doces palavras ao seu ouvido. Severo chorou, chorou, incapaz de se controlar, agarrado à sua nova mãe.

A Sra.Campbell o levou em seu colo para cima, e o colocou na cama. Ele protestou, entre soluços:

– Não estou com sono.

– Eu sei que não. É só para você descansar um pouco antes do almoço. Só um pouquinho.

O menino concordou, porque estava estranhamente cansado. Uma sonequinha até que era bem-vinda.

– Eu fico aqui até você dormir. Quer ouvir uma historinha?

– Depois.

– Então está bem.

Em menos de cinco minutos, ele estava ferrado no sono, embora alguns soluços de vez em quando o sacudissem todo. Ele não sentiu um beijo carinhoso na testa quando a Sra. Campbell deixou-o no quarto e pôs-se a fazer o almoço.

Sem sentir, Severo começava a dar seus primeiros passos para formar uma verdadeira união com os Campbell.


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