O Inferno dos Anjos escrita por ClassWaes


Capítulo 1
A Chegada do Anjo Demoníaco




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O céu estava escuro, como todas as tardes anteriores à aquela. Os relâmpagos cantavam línguas estranhas e a forte chuva fazia com que gotas escorressem pelas janelas do galpão abandonado. Ali, naquele galpão, se encontrava Aline; uma majestosa mulher com cabelos longos e negros. Seus olhos eram azuis feito o mar, sua pele era branca como a neve e sua beleza semelhava ao luar. Estava deitada em uma cama pequena, tão pequena que seus pés ficavam para fora.

O galpão era grande e empoeirado, estava desabitado fazia anos. As únicas sombras presentes era a da cama e da Aline. Porém a cama e a enferma não compunham todo o lugar. De pé, ao lado da cama segurando a mão de Aline se encontrava Juridiel. Era um homem bonito, como se cada parte de seu corpo fosse moldado por mãos de artistas. Seus cabelos e olhos negros contrastavam com sua pele clara. Era alto e forte, parecia um segurança de boate – ou um demônio.

--- Eu não aguento mais, Juridiel – disse Aline com a voz falhando, as palavras saiam parecendo um sussurro – Não aguento essa dor, não aguento esse lugar, não aguento mais fugir dos céus. Eu sinto a vida abandonar meu corpo a cada segundo que passa.

--- Não diga isso Aline, já está acabando, aguente só mais um pouco. Os céus não podem nos encontrar aqui. Já se passaram duas semanas, em breve nós estaremos com nosso filho nos braços.

Aline estava com o rosto molhado, parte era suor e parte era lágrimas. O tempo não passava como deveria, aquelas duas semanas em trabalho de parto pareceram anos. A dor que aquela criança criava dentro de seu ventre era tanto que Aline chegou a pensar que se entregar aos arcanjos seria melhor.

E tudo isso por causa do amor.

Aline era uma anja das mais poderosas, uma Serafim, os mais próximos de Deus. Já Juridiel era um demônio. Ali, naquele galpão, ambos estavam em suas formas humanas, mas suas almas já compunham o Yin-Yang. A luz e a escuridão em um mesmo recinto. Uma paixão proibida pelo rei dos céus e admirada pelo governante do inferno.

Desde que Deus descobriu que Aline possuía uma metade infernal ordenou a sua captura e a morte de Juridiel. Deus, que em toda sua bondade, não se preocupou com a criança no ventre de Aline e mandou que todos os Arcanjos vagassem pela terra para pôr fim ao romance entre um anjo e um demônio.

Os trovões estavam cada vez mais fortes, como se cada trovão representasse a dor de Aline.

Juridiel ainda estava ao seu lado, segurando a sua mão. Aline apertava sua mão com toda a força de um Serafim, até que depois de um estrondoso trovão, um clarão misterioso tomou conta daquele galpão. Juridiel sentiu a pressão em sua mão diminuir, a força de Aline se esvaiu completamente. Tudo aconteceu muito rápido, rápido demais até mesmo para um demônio. Em um estante estava tudo bem – se é que ter os céus atrás de você pode ser considerado bem. – no outro nada mais fazia sentido.

Após o forte clarão Juridiel perdeu parte de sua visão, mas o pouco que restou foi o suficiente para aterrorizar o demônio. Os dedos de Aline não estavam mais entre os seus. A intensidade da luz diminuíra, mas ainda continuava muito forte. A luz emanava de Aline. Tudo estava muito confuso e barulhento para Juridiel. A chuva aumentara e os trovões também, mas estes não eram os barulhos mais assustadores naquele galpão.

Pouco a pouco Juridiel foi se recompondo e recuperando sua visão, e quando ele finalmente olhou para a cama em sua frente, preferiu estar cego. Aline não estava mais em sua forma humana, estava flutuando à 10 centímetros da cama, com suas 6 asas brancas abertas e os braços estendidos. De sua boca emanava dois sons: o grito ensurdecedor de dor, e blasfêmias em línguas estranhas. A forma humana de Juridiel ficou arrepiada com os gritos. Ele não entendia a língua estranha, mas algo lhe fez pensar que Aline estivesse desafiando Deus ou o confrontando antes de sua morte.

Normalmente, se Juridiel visse um Serafim em sua plena forma ele tentaria fugir, enfrentar um Serafim de igual para igual era suicídio para um demônio. Mas aquela situação era diferente. Ele não pensou em fugir, não naquele momento. O principal motivo de Juridiel e Aline se manterem em suas formas humanas era porque se eles estivessem em suas formas originais eles estariam visíveis aos olhos de Deus, se tornando um alvo fácil para os arcanjos. Ver Aline em sua forma original desafiando Deus era difícil de entender. Não fazia sentido.

O clarão sessou e deu lugar a uma tempestade dentro do galpão, tudo se fez chuva e vento. Uma ventania tão forte que a cama foi jogada por uma das janelas. Assim que a primeira janela se partiu, todas as outras entraram em harmonia e acompanharam o compasso da sinfonia.

Juridiel estava com os dois braços na frente do rosto tentando se proteger dos cacos de vidro que giravam pela sala como se estivessem em um furacão. Tendo o corpo arrastado lentamente pela força do furação gerado por Aline, Juridiel abdicou de sua forma humana.

A transformação começou pelos braços ensanguentados. A pele branca começou a criar bolhas e a derreter, dando lugar a uma pele vermelha escamosa. As mãos dobraram de tamanho devido os dedos longos e finos. As unhas cresceram e escureceram até se tornarem garras pretas. Os braços, que antes já eram robustos, se tornaram ainda mais. No rosto, os olhos que antes eram negros e redondos, agora estavam amarelados, pontudos e astutos, assemelhando-se aos olhos de serpentes. O Cabelo continuou negro e liso, só que agora dois chifres cresciam em sua cabeça. Os cifres eram grandes e grossos, fazendo algumas espirais até chegar na ponta. Os lábios escureceram e seus dentes aumentaram e afinaram, parecendo milhares de agulhas. A abertura de sua boca ia de orelha a orelha, o que deixava seu grito ainda mais assustador. De suas costas brotaram um par de asas escuras, parecendo asas de um morcego.

Tendo dobrado de tamanho, a força do furacão não era capaz de arrastar Juridiel, mas mesmo estando estável no chão, ele não sabia o que fazer. Não entendia o que estava acontecendo.

--- Aline, o que está acontecendo? – gritou Juridiel com sua grossa voz de demônio.

Ao escutar a voz de seu amado, Aline parou de blasfemar a Deus e olhou fixamente para Juridiel. O furacão foi sessando pouco a pouco e Aline pousou em sua frente. Juridiel conseguiu fazer o impensável; conseguiu suavizar um rosto demoníaco. Vendo a amada em sua frente ele acreditou que tudo poderia ter voltado ao normal. Sua esperança acabou quando ele olhou Aline nos olhos. Aline possuía todo o globo ocular negro.

Ao ver a face de desespero do demônio, Aline deu uma gargalhada. A gargalhada foi a peça final que faltava para que Juridiel entendesse o que estava acontecendo.

Aline estava sendo possuída.

Uma Serafim estava sendo possuída.

Juridiel sentiu cada músculo de seu corpo travar, ele lutava consigo mesmo e perdia a batalha. Aline estendeu a mão em direção a ele, que começou a levitar. Juridiel tentou mais uma vez mover seu corpo, um único músculo sequer, mas era em vão. Dos pés de Aline se emanou uma escuridão que tomou todo o lugar. Em questão de segundos toda a luz se esvaiu, restando apenas o brilho da Serafim possuída.

Os céus cantavam trovões e relâmpagos com a força de mil anjos. Arcanjos já rondavam o galpão pelos ares.

Nenhuma movimentação assustava Aline, ela – ou o espírito que ali se encontrava – estava calma como um anjo. Aline deu mais um passo em direção a Juridiel, e disse:

--- Não à mate, ela não sabe o que está fazendo.

Neste momento as asas de Aline se fecharam, a escuridão que ela criou se dissipou e sua luz de Serafim acabara. A maestria escura de um Serafim possuído deixara lugar para a forma humana de Aline. Junto com o cessar da escuridão, veio o barulho do corpo de Juridiel caindo no chão.

Com uma velocidade descomunal, Juridiel se levantou e correu em direção a Aline. Enquanto corria, sua forma original dava lugar a sua forma humana. Com lágrimas nos olhos, Juridiel abraça o corpo de Aline, que não respirava mais. A morte voava pelo ar. Mas nem toda Aline era morte. Juridiel percebeu que o bebe dentro de Aline ainda se movimentava.

A movimentação de arcanjos do lado de fora do galpão aumentara. Eles rondavam o galpão iguais a urubus rondando o animal morto. Juridiel sabia que em pouco tempo eles iriam invadir o galpão. Na verdade, Juridiel ainda não sabia o motivo deles ainda não terem invadido.

Juridiel possuía pouco tempo e uma escolha a fazer. Ele podia fugir para o inferno e deixar Aline e o bebe nas mãos de Deus, enquanto ele já estaria a salvo, ou podia tentar levar Aline e o bebe para o inferno, mas se caso falhasse, estaria a mercê da fúria de Deus. E não de um Deus qualquer, do único que merece tal nome, Deus.

O amor falava por Juridiel naquele momento, o mesmo amor que o fez fugir dos céus por tanto tempo. Mas nem mesmo o amor era burro o bastante para levar uma Serafim para o inferno, até mesmo o amor sabia que isso resultaria na segunda maior guerra de todos os tempos, perdendo apenas para a guerra primordial em que Satanás tentou ser maior do que Deus.

Se vendo sem opção, Juridiel decide fazer o impossível. Levantando a mão direita, Juridiel se transformou em demônio e com uma de suas garras ele desfere um ataque a barriga de Aline. E por algum motivo que Juridiel ainda não compreendia, os Arcanjos decidiram entrar no galpão e por um fim definitivo naquela caçada. Centenas de anjos entram pelas janelas quebradas, enchendo o galpão escuro de luz.

Mas já era tarde demais.

Miguel, que governava a missão de ataque dos Arcanjos, ao entrar no galpão, viu apenas Aline em sua forma humana com a barriga cortada e um portal se fechando.

Miguel sabia que aquele portal levava diretamente para o Inferno.

E Miguel sabia que a criança que acabara de entrar lá, não deveria sair.


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Notas finais do capítulo

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