O Filho De Uma Traição escrita por Meninas De Preto, Agente Reis


Capítulo 25
Um vôo de ouro




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—- Preparada! - Bianca sorriu pra mim e eu me revesti de coragem junto com ela. Voltei minha atenção pra enorme represa. Não sei porquê, mas algo me dizia que passar por ali não seria uma tarefa mais fácil do que tudo que já tinhamos passado até agora.

—- Represa Hoover! - Thalia exclamou - É enorme.

As três canoas encostaram na margem. Eu saí primeiro e depois ajudei Bianca. Quando todos pisamos em terra firme, as naiades foram embora, resmungando muito, e levaram as canoas junto.

Eu olhei pra cima, e realmente a represa era enorme.

—- Mais de 200 metros de altura - Percy disse - Construída na década de 30.

—- 5 milhões de acres cúbicos de água - Thalia continuou.

—- Maior projeto de construção dos EUA - Grover completou, os três fazendo papel de guias turísticos.

Zöe os encarou.

—- Como vós sabeis tudo isso?

—- Annabeth - Percy respondeu - Ela gostava de arquitetura.

—- Ela era louca por monumentos - Thalia falou.

—- Despejava fatos o tempo todo - Grover fungou - Tão irritante...

—- Queria que ela estivesse aqui - Percy falou e os outros assentiram - Nós deviamos subir lá, por ela. Apenas para dizer que fomos.

—- Sois malucos - Zöe decidiu.

—- Talvez seja uma boa história pra contar pra Princesinha quando a encontrarmos - Eu falei.

—- E talvez até ajude na missão - Bianca completou e Zöe nos olhou, incredula.

—- Loucos. Todos loucos. De qualquer forma temos que subir, já que a estrada está lá - Ela apontou para um imenso estacionamento perto do topo da represa - Então, vamos ao passeio turístico.

Tivemos que andar bastante, eu diria que por quase uma hora, antes de acharmos uma passagem que levasse para a estrada, que ficava no lado leste do rio.

Se estava frio no solo, multiplique por mil, e você acha o quanto estava frio do topo. Some isso ao forte vento, o que só aumentava o meu sofrimento. Eu ajeitei a jaqueta e enfiei as mãos no bolso da calça, tentando não congelar.

Pra tentar esquecer, comecei a observar a paisagem. Estávamos andando por uma trilha de uns cinco metros de largura. De um lado, um grande lago se espalhava, rodeado por montanhas de deserto. No outro lado, a represa descia como uma rampa de skate bastante acidentada, indo até o rio, mais de duzentos metros abaixo. Me pergunto se alguem teria adrenalina o suficiente para desce-la com um skate.

Grover andava mais a frente, farejando o vento. Parecia estar bem nervoso.

Continuamos andando, quando de repente, alguém se esbarrou em mim.

—- Desculpa - Uma menina, vestindo um casaco do exército, gritou, enquanto passava correndo por nós.

E então eu senti um aperto no peito. Não o aperto de dor, mas um aperto de preocupação. De alguma forma aquela garota me lembrou Clarisse, talvez tenha sido o casaco. O motivo não importa, mas me fez lembrar que ela estava sozinha, em uma missão suicida e desconhecida pra mim.

Mas talvez não tão suicida quanto a que nós estavamos. Bianca ia morrer naquele ferro-velho, eu senti. Assim como eu sinto que Annabeth está em perigo de vida e minha mãe está perdida e sendo torturada.

—- Tudo bem, cara? - Grover me perguntou e eu percebi que havia ficado pra trás.

—- Porque não? - Rebati.

—- Sei lá - Ele respondeu - No que está pensando?

—- No que está acontecendo em minha vida.

—- Ahhh - Grover continuou - Você está bem?

Eu suspirei.

—- Vamos levar em conta que minha mãe foi sequestrada, a Princesinha Irritada está desaparecida, minha meia-irmã quase morreu, a pessoa que mais confio e me ajuda nesses momentos está no Brasil, minha melhor amiga saiu em uma perigosa missão, sozinha, e que, a qualquer momento podemos morrer. Se considerarmos um ponto de vista linear não relativo e anular cada um desses fatos, eu estou ótimo! - Desabafei e Grover fez um "O" com a boca.

—- Meia irmã? - Grover ficou confuso - Quem é sua meia-irmã?

—- Bianca.

—- Mas Bianca não é sua meia-irmã.

—- Mas eu considero ela assim, não posso? - Rebati, começando a me irritar.

—- Calma, cara! - ele disse - Eu te entendo! Sei como é, tem momentos que pensar não nos anima nem um pouco.

—- Pode ter certeza - respondi.

Continuamos andando por bons minutos até chegarmos ao fim do penhasco, onde havia uma pequena praça. Um senhor vendia jornais e eu peguei emprestado um exemplar do dia. Segundo ele, estávamos no dia 19 de dezembro, quarta-feira.

Eu devolvi o jornal. Já era quarta-feira, faltavam apenas dois dias antes do solstício de inverno. E nós ainda tinhamos um longo caminho a percorrer...

—- Tem uma lanchonete no centro de visitantes - Thalia comentou, me tirando do devaneio.

—- Já esteve aqui antes? - Percy perguntou e ela assentiu.

—- Uma vez, para ver os Guardiões.

Ela apontou para o meio da praça, onde estavam esculpidas duas estátuas. Pareciam homens de bronze, mas tinhas asas de pássaros descansando nas costas. Turistas estavam aglomerados em volta delas.

—- Depois vemos as estátuas! Vamos achar a droga da lanchonete - Zöe disse - Devemos comer enquanto podemos.

Nós demos alguns passos procurando pela lanchonete até que...

Moooo.

Eu parei. Foi um mugido, eu tenho certeza. Mas como uma vaca teria subido numa represa? Eu olhei para os outros e eles tinham a mesma expressão de surpresa.

—- Eu acabei de escutar uma vaca? - Grover perguntou.

—- Impossivel! - Bianca concluiu.

Sim, impossivel, mas definitivanente foi uma vaca. Eu comecei a procurar por ela, em vão. Nenhuma vaca conseguiria subir onde estávamos.

—- Percy, você está bem? - Thalia perguntou, e eu percebi que ele estava pálido.

—- S-Sim - ele gaguejou - Vão na frente... Eu alcanço vocês daqui a pouco.

—- O que há de errado? - Grover questionou.

—- Nada! - Percy exclamou - Eu... Eu apenas preciso de um minuto. Para pensar.

—- Todo mundo resolveu pensar hoje? - Grover levantou as mãos.

Hesitamos em deixar Percy, mas ele estava realmente estranho.

—- Vamos deixa-lo - Bianca disse - Eu estou com fome.

Zöe o encarou e depois fez sinal para segui-la até a lanchonete.

—- Estamos na lanchonete se precisar de ajuda - eu falei para Percy e segui o grupo.

Dei alguns passos e olhei pra trás, e vi Percy agachado olhando alguma coisa, mas minha barriga roncou e eu desisti de entender o que ele estava aprontando.

A lanchonete estava LOTADA, no sentido literal da palavra. A fila dobrava de tanta gente.

—- Isso vai demorar mais do que pensavamos - Thalia comentou, entrando na fila.

Ficamos na fila, conversando sobre coisas sem importância, porém eu respondia todas as perguntas com respostas curtas. Felizmente o atendimento era rápido, e logo chegou a nossa vez.

—- Já era hora - Zöe bufou enquanto fazia o pedido dela.

Nos sentamos, comemos, e nada de Percy voltar. Eu já estava impaciente com a demora.

—- Percy tá demorando demais, eu vou procura-lo - falei, me levantando - Fiquem aqui, volto assim que encontra-lo.

Quando estava prestes a sair, Percy entrou correndo na lanchonete.

—- Temos que ir - ele arquejou - Agora!

—- Mas você nem comeu! - Thalia disse.

Zoë se levantou, murmurando.

—- Ele está certo! Olhai!

A lanchonete era envolvida por janelas de observação, o que nos dava uma linda visão panorâmica de um exército de esqueletos que vinha com sede de sangue. Eram oito no total.

—- Elevador - Grover disse, apontando para o elevador que havia dentro da lanchonete. Disparamos naquela direção.

Ding!

As portas do elevador se abriram e dois guerreiros pisaram para fora. 10 ao todo. Estávamos completamente cercados.

Então Grover teve uma ideia brilhante, totalmente no estilo Grover.

— Guerra de burritos! – ele gritou - roubando um burrito de um cara na mesa ao lado.

O lanche acertou o esqueleto e derrubou completamente o crânio de seus ombros. Não tenho certeza do que as outras crianças na lanchonete viram, mas elas enlouqueceram e começaram a jogar seus burritos e cestas de batatas fritas e refrigerantes umas nas outras, gritando de felicidade.

Os esqueletos tentaram nos acertar com suas armas, mas foi inútil. Corpos, comidas e bebidas estavam voando por toda parte. No caos, Thalia e Percy derrubaram os outros dois esqueletos nas escadas e os mandaram voando para a mesa de condimentos. Então nós todos corremos escada abaixo, com guacamoles enormes zunindo por nossas cabeças.

—- E agora? – Bianca perguntou quando chegamos ao ar livre.

—- Vamos ter que lutar, sabe disso não é? - Perguntei.

—- Claro - Bianca disse.

Atravessamos a rua correndo
para o pavilhão com as estátuas aladas de bronze, mas isso apenas colocou nossas costas contra a montanha. Os esqueletos se adiantaram, formando um semicírculo à nossa volta. Seus irmãos da lanchonete estavam correndo para se juntar a eles. Um ainda estava colocando seu crânio de volta sobre os ombros. Outro estava totalmente sujo de catchup e mostarda. Mais dois tinham burritos alojados entre as suas
costelas e não pareciam nem um pouco satisfeitos com isso. Sacaram seus cassetetes e avançaram em nossa direção.

—- Seis contra onze - Zöe disse -  E eles não podem morrer.

—- Claro que podem, já esqueceu o que a Bianca fez? Acertem o meio do peito deles - Falei, puxando a espada que tinha ganhado de Ares. Girei o pomo, transformando-a em bronze celestial, e assim começamos a lutar contra os esqueletos. Tentavamos
acerta o peito deles de qualquer maneira, inutilmente pois eles conseguiam se esquivar facilmente, e além de tudo não eram burros,estando em vantagem numérica um protegia o outro.

—- Thalia – Percy disse – Reze para o seu pai.

Ela o olhou fixamente.

—- Ele nunca responde.

—- Apenas esta vez – ele pediu . – Peça ajuda. As estatuas não são dele? Acho... acho que podem nos dar alguma sorte.

Thalia hesitou.

—- Tenta! Não custa nada tentar -falei - Eu te dou cobertura.

Thalia fechou os olhos e Percy fez o mesmo. Em quanto isso, eu, Zöe, Bianca e Grover "seguravamos" os esqueletos.

Muito tempo foi passando e nada acontecia, eu já estava pensando em apelar para o lobo novamente. Quando estava prestes a me transformar, uma sombra caiu sobre nós. Percebi que era a sombra de uma asa enorme. Os 
esqueletos olharam para cima, mas era tarde demais. Um lampejo de bronze, e todos os cinco carregando cassetetes foram varridos para o lado.

Os outros esqueletos abriram fogo. Os homens de bronze passaram à nossa frente e entrelaçaram suas asas como escudos. Balas os atingiam, fazendo apenas eco.

—- Cara, é tão bom levantar! – o primeiro cara alado disse. Sua voz soava metálica e rústica, como se ele não tivesse bebido nada há muito tempo.

Por mais atordoado que eu estivesse com os caras voadores, eu estava mais preocupado com os esqueletos. Alguns deles estavam se levantando de novo, reagrupando-se, mãos esqueleticas buscando suas armas.

—- Problema! – eu disse.

—- Tirem-nos daqui! – Thalia gritou.
Eles olharam para ela.

—- Filha de Zeus?

—- Sim!

—- Posso ter um por favor, senhorita? – um perguntou.

—- Por favor!

Eles se encararam e encolheram os ombros.

— Podia me esticar um pouco – um decidiu.

De repente um deles agarrou Thalia e a Percy, o outro agarrou Zoë e Grover, e viraram de costas. Eu subi nas costas do que estava com Zöe e Grover, e Bianca subiu no que estava com Percy e Thalia. Nós voamos direto para cima, sobre a represa e o rio, os guerreiros esqueleto diminuindo até serem minúsculos pontos abaixo de nós e o som de tiros ecoando nas laterais das montanhas.


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