2 anos antes

– Eu desisto! Não consigo aprender a minha língua direito, imagina outras! – Um garoto, de cabelos castanho-claros e olhos azuis falou, enquanto tentava de toda forma entender a atividade de inglês.

– Você se lembra do que a sua tia Thaemi lhe disse – Um homem de cabelos castanhos-escuros, e de olhos verdes, falou, erguendo os olhos da revista que lia. – O inglês vai ser a chave da sua sobrevivência no futuro.

O menino apoiou a cabeça nas mãos e respirou fundo. Olhou de novo pra folha e viu as letras saltarem da página.

– Porque você não pede ajuda a ela?

– Ela já chegou? – Perguntou o garoto, sorrindo animadamente.

– Sim, e está lá na casa do lago. Você sabe que ela ama aquele lugar.

O garoto nem esperou pela última frase. Levantou-se rapidamente, e quase derrubou a mesa ao sair correndo, indo atrás da mulher.

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Antes mesmo de chegar lá, ele a avistou. Seus cabelos loiros estavam presos em um rabo de cavalo, e ela usava um vestido floral verde, com um laço na cintura. Estava de pé, encostada em uma árvore, de olhos fechados.

– Tia Thaemi! – Ele gritou.

Ela abriu os olhos e sorriu ao vê-lo correndo em sua direção. Se encontraram com tanta força que ele quase a derrubou ao abraça-la.

– Estava com saudades! – Falou, soltando a moça.

– Também estava com saudades! Mas você cresceu bastante, está mais forte, mais bonito... – Disse, bagunçando o cabelo do garoto. Ele sorriu. Em seguida, a moça se sentou na margem do lago. – Esse lugar me dá uma paz.

– É. – Ele assentiu, se sentando ao lado da tia – Esse foi um dos motivos pro papai ter escolhido vir morar aqui.

Ficaram em silêncio por alguns segundos.

– Achei que você viria no meu aniversário, como da última vez...

A moça olhou pra ele, e sorriu tristemente.

– Oh, Rick – Esse era o apelido dele – Você sabe que eu tenho trabalho a cumprir.

– É – ele falou, desanimado – Eu sei.

– O que você tem feito durante o tempo em que estive fora?

– As mesmas coisas de sempre.

– Tem treinado a pontaria? – Perguntou a moça, ao observar novos alvos espalhados pelo lugar.

– Sim. Melhorei muito durante esses três anos – Respondeu Rick, sorrindo de lado, já se levantado. Sabia onde aquela conversa ia dar.

– Quero ver. Pegue seu arco e acerte aquele alvo – Ela apontou para o alvo mais difícil, que se encontrava na outra margem do rio.

O garoto correu para casa, e pegou seu arco e suas flechas. Tinha ganhado justamente de sua tia, quando tinha 8 anos. Era seu objeto favorito.

Ele voltou até onde Thaemi estava e mirou o alvo, acertando-o logo em seguida.

–É. Você melhorou bastante. – A moça admitiu, orgulhosa.

– Já que está aqui, pode me ajudar com uma coisa? – Rick perguntou, se sentando novamente.

– Depende – A loira rebateu – Te ajudar em que?

– Inglês. Não consigo entender aquilo de jeito nenhum – ele respondeu, fazendo um biquinho. Ela riu.

– Não precisa fazer esse biquinho pra me convencer. É claro que eu vou te ajudar!

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Thaemi estava sentada na mesa da espaçosa cozinha, perdida nos próprios pensamentos. Havia passado boa parte do dia ajudando Rick na atividade de inglês. Apesar da dislexia, ele havia conseguido algum progresso.

Pensava nisso, quando, de repente, ouviu passos atrás de si. Ao virar, viu um homem se aproximando, passando a mão nos cabelos escuros.

–Arthur! - Ela exclamou quando ele se aproximou – Você me assustou!

– Desculpe – ele respondeu, puxando uma cadeira e se sentando ao lado dela – No que estava pensando?

Thaemi suspirou antes de falar.

– Está ficando cada vez mais perigoso pra ele. Ele vai ter que saber, não acha?

– Sim, eu também estava pensando nisso esses dias.

– Ele precisa começar a se preparar. Ele tem que aprender a lutar, e também mitologia e inglês...

Eles ficaram em silêncio por um tempo.

– Você acha que eu fui um bom pai? – Perguntou Arthur, por fim.

– O Rick não poderia ter tido um pai melhor – Thaemi rebateu e se levantou pra sair – Acho que vou descansar um pouco.

Ele assentiu, olhando pra parede. Quando ela já estava saindo da cozinha, ele gritou.

– Thaemi!

– Sim? – Respondeu a loira, se virando.

– Eu... Queria te agradecer.

– Pelo que?

– Por ter feito o Rick entrar na minha vida. Ele foi a melhor coisa que já me aconteceu.

Thaemi sorriu, voltou e o beijou na bochecha.

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Dias atuais

Depois de alguns dias de viagem, Grover chegou a Salvador sem muitos problemas durante o percurso. Pelo fato de não haver muitos semideuses na Bahia, logo ele conseguiu reconhecer o cheiro e chegar também a localização do semideus que procurava.

Chegou a porteira de uma fazenda. Logo viu um garoto cortando lenha com um machado. Ele tinha cabelos castanhos, não era muito alto. Estava sem camisa, e Grover notou uma cicatriz que tomava boa parte de seu braço.

– Hey! – Grover gritou. Quando o garoto se virou, deu pra perceber seus olhos azuis.

– Quem é você? – O garoto perguntou, se aproximando, enquanto enxugava o suor da testa.

– Me chamo Grover. E vim busca-lo – O sátiro respondeu. Tinha certeza absoluta de que aquele era o semideus. O cheiro dele era tão forte quando ou de Percy ou de Thalia.

– Me buscar? Pra me levar pra onde?

– Para o acampamento – Falou Grover. O garoto sorriu com desdém.

– Não me lembro de ter me inscrito em nenhum.

– É porque você se inscreveu assim que nasceu.

– Como assim eu... – Ele começou, mas foi interrompido pelo pai que vinha se aproximando.

– Algum problema? – Perguntou o pai do garoto.

– Quem é você? – Grover perguntou.

– Me chamo Arthur. Sou o pai do Henrique. – Falou e apontou para o rapaz.

– Posso falar com o senhor?

– Claro. Venha cá – Falou Arthur, abrindo o pesado portão da fazenda.

No mesmo instante, dois pastores-alemães avançaram na direção de Grover. Henrique assoviou e os cachorros recuaram, se colocando um do seu lado esquerdo, e o outro do direito.

– Hã... Filho? – Arthur pigarreou – Poderia nos dar licença?

O rapaz olhou para o pai, depois para Grover, e novamente para o pai. Então, pegou a sua camisa, que estava ao lado da lenha que cortava. Quando saiu, os dois cachorros o seguiram.

– E então? – Perguntou Arthur – O que você queria falar comigo?

– Droga! – Grover exclamou, e Arthur arqueou as sobrancelhas – Me desculpe, é que eu nunca sei como contar isso. Mas, o seu filho é um semideus.

Grover esperou que Arthur começasse a rir e o chamasse de louco. Mas isso não aconteceu.

Arthur respirou fundo. Sabia que esse dia chegaria.

– É, eu sei. Me avisaram quando eu o recebi. Imagino que esteja aqui pra leva-lo ao Acampamento Meio-Sangue, não é?

– É, mas como o senhor sabia?

– Isso não importa. Eu pensei que eles mandariam um sátiro, e não um garoto...

Grover então levantou um pouco a barra da calça que usava e mostrou as pernas peludas e as patas.

– Perdoe-me, mas eu precisava ter certeza de que você não era um monstro disfarçado.

– Entendo – Respondeu Grover, abaixando a barra.

– Vou conversar com meu filho. Por favor, entre e espere – Arthur apontou para a casa, e saiu na direção de onde o filho tinha ido.

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Arthur encontrou o filho sentado na margem de um dos três rios da fazenda. Ele coçava a cabeça de um dos cachorros.

– Rick? – Ele chamou, ao se aproximar.

– E então? Ele já foi embora?

– Na verdade, não. Ele está te esperando. – O pai respondeu, se sentando ao lado do filho.

– Pra que?

Arthur hesitou, antes de continuar.

– Chegou a hora de você saber algumas coisas...

– Tipo?

– Tipo o porquê de você não conseguir prestar atenção nas aulas, ou ter dificuldade de ler.

– Mas o motivo é obvio, pai. Eu tenho dislexia e déficit de atenção.

– Sim. Mas tem um motivo específico pra você ter tudo isso.

– Qual?

O pai suspirou e falou.

– Você é um semideus. Acho que tenho muita coisa pra te contar.