O Filho De Uma Traição escrita por Meninas De Preto, Agente Reis


Capítulo 12
Conversando com a verdade


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora



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Depois de muito pensar no que Clarisse disse, Rick resolveu falar com Ártemis. Ele pegou sua mochila, mas desta vez não era pra voltar pra casa, e sim, mudar de Chalé - para sua extrema alegria.

Ele havia passado apenas dois dias inteiros naquele Chalé, mas parecia que ele estava há anos. A desordem, a gritaria, os roubos... E a bagunça do local? Não que Rick fosse ou se considerasse organizado, mas ele nunca viu tanta desorganização junta.

Ele olhou mais uma vez para o Chalé 11. As camisas jogadas, um par de meias pendurada em cima do lustre, salgadinho e mais salgadinho espalhado. Ele não conteve um suspiro de alívio ao fechar a porta.

Ele saiu do chalé de Hermes e andou lentamente até o Chalé 8. O de Ártemis.

Por fora, era aparentemente um Chalé normal, decorado com imagens de animais e lanças nas paredes. Porem, os campistas diziam que durante a noite ele ganhava um brilho prateado.

Rick passou os dedos pelas paredes do Chalé, sentindo toda a Arquitetura do lugar, e procurando coragem para entrar.

Suspirou fundo e reuniu toda coragem que conseguiu encontrar pelo caminho, então bateu na porta do Chalé. Pra sua surpresa, foi rapidamente aberta.

—- Que seja uma das Caçadoras! Que seja uma das Caçadoras! - ele pensava. Porém, para seu azar, não foi nenhuma das caçadoras, e sim a própria Ártemis, ainda na forma de Thaemi.

—- Eh... Oi - Ele disse, sem jeito.

—- Oi - Ela respondeu, com um sorriso meigo no rosto. Ficaram alguns segundos em um silêncio constrangedor.

—- Você veio... - ela disse, quebrando o silêncio.

—- Resolvi lhe escutar. Me desculpe por dar as costas enquanto a senhora estava falando... Eu estava bem nervoso - ele colocou a mão na nuca, visivelmente envergonhado.

—- Tudo bem. Você é meu filho, porém tem a personalidade tão forte quanto a do seu tio Ares. Sei o quanto é explosivo, e eu já esperava isso - Ela disse e deu passagem para ele entrar.

Rick entrou e olhou para as Caçadoras.

—- Elas irão ficar aqui durante nossa conversa? - ele perguntou.

—- Sim. Eu decidi contar com vocês todos juntos, por que é a mesma explicação.

—- Entendo.

Rick passou pelo Chalé, e notou o quanto era grande. Ao contrário do Chalé de Hermes, que possuía poucos móveis e muitas camas, o Chalé 11 era completamente mobiliado. Havia vários sofás, puffs e objetos de decoração que lembravam a floresta. Alguns vasos de plantas se misturavam entre as peles de animais expostas nas paredes. No fundo, também existia uma escada em caracol, que Rick imaginou levar ao quarto.

Ele jogou a mochila em um dos puffs por ali e se sentou no chão, ao lado da deusa, enquanto as Caçadoras se sentavam, espalhadas pelos sofás e pelos Puffs. Todas mantinham o máximo de distância de Rick.

—- Por onde vocês querem que eu comece? - Ártemis perguntou, acariciando os cabelos do filho.

—- Não sei, que tal do começo? - Rick fez a piada, mesmo sabendo que o momento não era apropriado.

—- Bem, acho que o começo deve ser o porquê de eu não ter lhe contado...

—- É um bom começo - ele concordou, e viu as Caçadoras aceitarem com a cabeça.

—- Bem, quando eu ainda era muito jovem, prometi a meu pai, Zeus, que nunca iria me apaixonar e que iria me manter casta eternamente. Eu cumpri essa promessa, até conhecer o Arthur. - Ela suspirou antes de continuar - Ele me mostrou um lado diferente dos homens. Não demorou muito pra eu me apaixonar, e logo você nasceu.

—- É por que resolveu me assumir? - Rick questionou.

—- Por dois motivos: um deles é porque há algum tempo atrás, Zeus fez uma lei que obrigava aos deuses assumirem seus filhos mortais, até os 16 anos. Você já tem 16. O outro motivo...

—- Então, a senhora só me assumiu porque é obrigada pelo seu pai? - Rick interrompeu, visivelmente ofendido.

—- Não Rick! Eu iria lhe assumir e contar sobre você ser um semideus quando lhe visitasse esse ano. Já não aguentava mais mentir pra você - Ela explicou e Rick ficou mais calmo.

—- E o que Zeus há de fazer quanto a este? - A garota, que foi chamada de Zöe, interrompeu. Rick franziu a testa ao ouvir aquela frase tão... Velha!

—- Zeus ainda não sabe. Mas com certeza, ficará muito bravo, Zöe. Pretendo contar aos Olimpianos no próximo Conselho. Mas os deuses, sem duvida, se prepararão para tomar uma decisão sobre mim.

—- O que pode acontecer à senhora? - Rick perguntou, preocupado.

—- Posso ganhar uma punição por mil anos, ou mesmo perder minha divindade. Mas isso não importa. O único medo que eu tenho é que essa decisão de alguma forma reflita em você e nas minhas Caçadoras.

—- Em mim? - Rick gaguejou.

—- Muita gente acha que você não deveria estar vivo, Rick. Por isso seu pai sempre foi muito protetor com você. E mesmo que você não visse, eu sempre estive por perto.

—- Essa noite eu tive um sonho... - Ele disse - Eu voltei aquele dia da Hárpia, e vi quem atirou aquelas flechas. E foi a senhora! Agora eu sei disso, a senhora matou aquela criatura!

—- Sim, eu queria ter chegado antes dela te machucar. Mas não consegui. Me desculpe... - ela disse, e passou a mão por cima da cicatriz no braço de Rick, que estava à mostra por conta da regata que ele usava.

—- Não se desculpe - ele respondeu e beijou a palma da mão dela - a senhora me salvou a vida. O que é essa cicatriz?

Ártemis sorriu.

—- A senhora então há de mudar as regras? - Zöe perguntou, com a testa franzida. Ártemis fez uma expressão de ofendida.

—- Eu não mudei as regras! - Ela exclamou - Apenas mudei as restrições. Mas isso não significa que vocês irão sair por aí com rapazes. Isso eu não poderei conceber. Antes mesmo de se envolverem, terão que abandonar a Caçada. Porque jamais permitirei que uma jovem, enquanto Caçadora minha, tenha qualquer tipo de envolvimento com homens. Fui bem clara?

Todas as jovens assentiram, e Rick assentiu também, inconscientemente.

—- Agora - ela continuou - Todas se acomodem o melhor que puderem. Sabendo que Rick também dormirá nesse Chalé.

Todas as garotas começaram a chiar. Uma delas, de cabelos loiros presos em um rabo de cavalo, se levantou.

—- Mas Ártemis! - Ela disse, com um tom baixo, escolhendo cada palavra - Sabemos que a senhora mudou as restrições e que agora temos a escolha entre permanecer em sua tão boa companhia e o que pensarmos se tratar de amor, mas... Será certo deixar um rapaz para dormir entre nós? Mesmo que seja seu filho, ele continua sendo um rapaz...

Ártemis suspirou.

—- Lucy, minha querida. Entendo o seu ponto de vista, mas não se esqueça de que o Rick também tem todo o direito de usar esse Chalé. Ele agora é irmão de vocês, e tenho certeza que não irá encostar em sequer um fio de cabelo de nenhuma. Estou certa disso, Rick?

—- Sim senhora - ele assentiu, e falou olhando para as Caçadoras - Acho que será melhor se eu dormir aqui em baixo, em um desses sofás, e dar total privacidade a vocês lá em cima.

Todas concordaram, e Ártemis olhou pro filho, orgulhosa. Ela se levantou, logo em seguida.

—- Acomodem-se, minhas Caçadoras. Eu estarei lá fora, caso precisem de mim.

Ela saiu do Chalé, e Rick correu atrás dela.

********************************

—- Eu espero que você não esteja ressentido comigo. - Ártemis disse a Rick. Eles estavam sentados na arquibancada da Arena.

Rick não respondeu. Ele estava, era verdade. E sabia que ele não iria conseguir mentir.

—- Como a senhora conheceu meu pai? - Ele perguntou, mudando de assunto. Os olhos de Ártemis brilharam.

—- Sabe aquela história que seu pai lhe contou? - Ela perguntou e ele assentiu - Ela possui algumas verdades, mas não na ordem que você conhece.

Rick se achegou mais a ela, visivelmente curioso.

—- Eu estava no encalço de um monstro. Essa procura estava me levando tão longe, que eu acabei chegando ao Brasil. Mais precisamente, em Salvador, na fazenda do seu pai. Eu estava com exatamente essa forma, pois não queria ser reconhecida pelas minhas formas mais comuns. Isso poderia atrapalhar em minha busca. Eu cheguei à fazenda de seu pai, e acabei encontrando algumas pistas que me ajudariam a localizar o tal monstro. Eu me agachei examinando uma pegada no chão, quando eu ouvi uma voz atrás de mim. Eu me levantei de sobressalto, e levei a minha mão ao bolso, onde estava minha adaga. Mas, pra minha surpresa, era um mortal que havia falado. E eu lhe confesso, Rick: nunca eu havia visto um homem tão bonito quanto Arthur. Ele me perguntou se estava tudo bem, e eu afirmei que sim. Então, me perguntou como me chamava, e eu me apresentei como Thaemi. Não demorei a afastar-me dele, mas a lembrança daquele homem continuou. Eu acabei o encontrando novamente, dessa vez, quando ele foi fazer intercâmbio de estudos no Canadá. Eu acabei me apaixonando por ele, e ele por mim. Nós nos encontramos diversas vezes, e fizemos uma promessa, e trocamos alianças para simbolizar o nosso amor.

Ártemis colocou a mão em um bolso, e puxou uma aliança de dentro dele. Ela a ergueu e mostrou para Rick. A aliança era prateada e tinha alguns desenhos incrustrados: uma lua crescente, uma raposa, um arco e flecha e uma espada. O seu pai usava uma igual, e Rick se lembrou de que sempre ficou fascinado com aqueles desenhos incrustrados na aliança de seu pai.

—- Ele passou a ser meu marido - ela continuou, enquanto Rick examinava a aliança - E eu sei que o nosso amor é puro e verdadeiro. Eu sabia dos perigos que estava exposta e da promessa que fiz a Zeus, mas aquele amor me impulsionou a correr todos os riscos. Infelizmente, o Conselho Olimpiano e as Caçadoras precisavam de mim, e eu precisei me afastar de seu pai. Ele terminou os estudos e voltou para a Bahia, enquanto eu permanecia com o treinamento das minhas Caçadoras. Bem, você nasceu depois de um tempo... Acredito que não queira saber como isso ocorreu.

—- Não senhora - ele rebateu, enojado - Acho que podemos pular essa parte.

Rick devolveu a aliança, e Ártemis a admirou mais uma vez, antes de guarda-la novamente no bolso.

—- Eu voltei para Salvador com você recém-nascido em meu colo. Te levei até Arthur para que ele cuidasse de você. E só então, eu lhe contei a verdade. Até aquele momento, ele não sabia que eu era uma deusa.

—- Ele deve ter ficado bem surpreso... - Rick interrompeu

—- Eu achei que ele iria ter um troço bem na minha frente - Ela disse, e Rick riu - Eu deixei você aos cuidados de seu pai e lhe expliquei que eu só poderia vir vê-los a cada três anos.

—- Porque a cada três anos?

—- Porque eu tenho o dever de cuidar das minhas Caçadoras, e também preciso comparecer as reuniões do Conselho. Para não levantar suspeitas, eu precisava desse tempo para poder realizar as visitas.

Rick assentiu. Agora estava explicado porque ela sempre demorava esse tempo para vir visita-los.

—- Eu prometi a seu pai que quando eu viesse, iria lhe ensinar tudo que fosse necessário para sua sobrevivência como meio-sangue. Por isso, lhe ensinei a lutar, arco e flecha, mitologia, inglês... Acredito que minhas visitas tenham sido proveitosas.

—- Sim senhora.

—- Eu sempre estive presente. Eu lhe observei de perto por todos esses anos. Protegi tanto a você como a seu pai.

Ambos ficaram em silêncio por alguns minutos. Rick mal podia acreditar em tudo que havia escutado.

—- Eu amo tanto o Arthur - Ártemis continuou, após a pausa - Ele é a pessoa mais incrível que já conheci. O mais bonito, o mais engraçado, o mais amigo... Mesmo depois de todos esses anos, e de toda a distância entre nós, eu o amo tal como no dia em que tive plena consciência de que estava apaixonada. E sei que ele também me ama, na mesma proporção.

—- Ele nunca tira aquela aliança... - Rick concluiu e Ártemis sorriu.

—- Não me arrependo de nada. Nem de ter me apaixonado por ele ou por continuar o amando. Menos por ter tido você. Quebrar o juramento que fiz foi minha opção. Tenho total noção de tudo que poderá acontecer, mas jamais me arrependerei de ter tomado essa escolha.

Eles ficaram novamente em silêncio, até que Ártemis se levantou.

—- Eu preciso ir... Tenho algumas coisas para resolver.

Rick olhou pra ela, triste.

—- Não faça essa cara! Eu voltarei amanhã ao Acampamento. Irei lhe mostrar tudo que ainda precisa saber, e também... Trarei algo para você utilizar. Algo digno de ser usado por meu filho.

Ela então o abraçou, e assim ficaram por algum tempo.


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