O Amor e o Destino escrita por Armamudi


Capítulo 3
Capítulo 3




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Não havia mais nada à minha volta. As pessoas que estavam ali no ônibus se apertando pareciam fumaça ao meu redor. Não importava, ele estava ali há alguns passos de mim, escorado na porta do ônibus com o seu livro companheiro de viagem aberto, deleitando-se da leitura. O balançar do veículo nem o preocupava, ele estava concentrado na leitura. Saí de meu transe ao ser empurrado por duas pessoas que se jogaram pra cima de mim com a parada brusca do ônibus, e vi que ele também foi sacudido de sua posição. Mas ele se ajeitou novamente entre nos degraus da porta e manteve a leitura.

O meu ponto de parada estava se aproximando e eu queria tanto poder cumprimentá-lo, perguntar o nome dele, olhar em seus olhos...mas como? A vergonha e o tempo rápido que eu teria para fazer isso não eram propícios. O ponto chegou e fiquei olhando pra ele na tentativa de que percebesse meu olhar, mas ele estava muito concentrado no livro. Desci do ônibus e fiquei olhando pra ele enquanto se distanciava, e sumia na longa avenida.

Novamente o fim da noite foi comum como todas as outras. Meu sono foi cortado diversas vezes sem sentido, o que raramente acontecia comigo. O novo dia veio e com ele as atividades cotidianas de ir pra faculdade, passar na academia depois da aula, chegar em casa pra tomar banho, almoçar, trocar de roupa e ir para o trabalho. Maravilha!

Era julho e depois do último encontro que tive com ele, passaram mais de cinco meses para vê-lo novamente.

Dezembro chegou e com ele a euforia das festas de fim de ano, com o shopping abarrotado de gente todos os dias para comprar os presentes de natal, as roupas para o ano novo, e também pra comer é claro. Faltava uma semana para o natal e eu saindo do trabalho pra ir embora para casa, fui surpreendido por um amigo de trabalho, o Thiago, dentro da loja de sapatos onde o seu namorado trabalha. Ele estava atendendo uma cliente e o Thiago me vendo passar pela vitrine me deu um aceno convidando para entrar. Como eu não estava com pressa, acabei entrando na loja, e ele já veio em minha direção.

– Olá Thiago, tudo bem contigo amigo?

– Tudo tranquilo Fernando. Deixa eu te perguntar, você vai passar a passagem do Ano Novo aonde? O João, que é o namorado do Thiago estava terminando de atender a cliente enquanto conversávamos, mas para a sorte dele outra cliente estava ameaçando entrar na loja para ver os sapatos.

– Então amigo eu ainda não sei. Eu fico em casa mesmo, e talvez algum dos meus amigos deve passar por lá pra me levar pra algum lugar. Mas não tenho nada definido ainda.

– Ah então você vai passar o Reveillon lá em casa! Eu e o João convidamos os amigos mais chegados pra passar conosco e de cara pensamos em te chamar. E não vale dizer não ein!

O Thiago e o João era um casal adorável. Claro como todo casal eles tinham suas desavenças e diferenças. O Thiago é mais extrovertido, simpático, gosta de conversar e de brincar com todo mundo; já o João é mais introspectivo, na dele mesmo, mas se ele te vê como um amigo aí acabou! Ele vai te considerar como um irmão para o resto da vida.

– Bom, já que não tenho escolha eu aceito o convite sim amigo. Pode contar com minha presença! E quando terminei de dizer o João imediatamente retrucou: - Mas é claro que você não teria escolha né Fernando! Mesmo porque caso você não fosse, no dia eu iria na porta da sua casa com o Thiago pra te sequestrar.

Demos muita risada da cena, eu e o Thiago, rindo do João com o rosto bravo olhando pra gente. Ficamos conversando mais um pouco e logo fui embora pra casa.

Os preparativos para ceia de natal na casa da avó estava uma loucura. Ainda faltava assar o peru, os refrigerantes ainda não haviam chegado e já era sete horas da noite. Ainda bem que os primeiros familiares chegaram por volta das nove horas, o que foi bom porque colocamos alguns primos para ajudar. Minha avó já tinha ido se arrumar para esperar o pessoal chegar, e eu fiquei organizando mesa, pratos, talheres e os copos na cozinha. De repente meu telefone começa a tocar o sinal de mensagem sem parar e quando fui pegá-lo, vi que os meus amigos já começavam a mandar felicitações de Feliz Natal.

A ceia de Natal foi linda. Tinha tantos primos, tios e amigos da família que a conversa alta se arrastou noite a dentro. A pilha de presentes na sala, estava sendo vigiada por um monte de crianças ávidas para que chegasse logo a meia-noite e abrir os embrulhos nomeados. Havia um pra mim com o nome de minha tia. Fiquei curioso para saber o que seria. E então, a meia-noite chegara e os pivetes logo encheram a sala com papel de presente rasgado, caixas de brinquedos vazias e muita algazarra. Eu fui até o meu presente e muito calmo fui abrindo o embrulho. Quando puxei um lado do papel, vi o azul e o preto da quina de um livro, e quando rasguei o restante do papel, estava ali no meu colo, o primeiro volume das Crônicas do Gelo e Fogo de George R.R. Martin, a história que deu origem à série do Game of Thrones. Imediatamente a imagem do rapaz me veio à mente, sentado no ônibus lendo o terceiro volume, com os olhos negros compenetrados no livro. Agradeci pelo presente e fui para um dos quartos da casa pra começar a ler. Quando o sono me veio, eu já estava na página sessenta e três e nem vi que já passava das quatro e meia da madrugada. Fui dormir pedindo para que sonhasse com o rapaz e eu sentados no banco do ônibus com os livros em mãos. Mas isso não acontecera.

Ainda faltavam seis dias para o fim do ano, e todos os dias eu levava comigo o livro para o trabalho, tanto para lê-lo, quanto para que na hora que eu encontrasse com o rapaz eu pudesse usá-lo com a intenção de me aproximar e ter um início de conversa. Os dias passaram e ele não pegara o ônibus no mesmo horário que eu. Infelizmente.

O Reveillon foi muito bom, e a festa que o Thiago e o João organizaram foi maravilhosa. Havia mais de vinte pessoas na festa, alguns eu conhecia, outros não. Na hora da virada, começamos a nos abraçar e desejar um bom ano para todos e, quando o relógio marcou as zero horas do dia primeiro de janeiro, eu silenciosamente fiz um pedido: -“Que esse ano eu possa vê-lo mais vezes dentro do ônibus, e que eu tenha coragem para chegar e conversar com ele, perguntar seu nome, saber de sua vida, seus gostos. Que surja uma amizade, e se possível um namoro!”

E então, mais um ano começava, com novos desafios, velhos desejos, mas esse ano seria diferente...eu podia sentir que seria!


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