Impulsiva escrita por Maíra Viana


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Ei, calma! Não faça isso! Largue essa faca, vamos conversar primeiro! Hahahaha não me mate pelo capítulo pequeno, afinal, os anteriores são bem grandinhos, não acha?! De qualquer forma, espero que goste!



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Capítulo 7

Fui acordada pelo som incessante do despertador que estava em cima da mesinha. Me levantei e vi, embaixo da porta, uma conta de água. Parabéns, Lisa, segunda conta atrasada por causa do seu esquecimento! Coloquei a carteira no bolso da calça-jeans e, depois do almoço, fui até o centro.

Entrei no banco central e dois guardas estavam um ao lado do outro, com seus uniformes padrão e suas grandes botas. O careca que usava óculos não parava de andar, como se não conseguisse manter as pernas firmes no chão; o moreno mantinha seus braços cruzados e uma expressão séria.

Peguei uma senha e me sentei na poltrona ao lado de uma senhora com cabelos presos por um pregador colorido. Na parede havia um quadro pendurado e em uma telinha pequena, perto do teto, vi o número da minha senha ser anunciada e fui pagar a conta. Na volta, resolvi passar em um aquário famoso, que tinha na cidade, já que não havia fotos programadas para aquele dia. Mas, o cheiro da pipoca estava tão bom que fui comprar.

O carrinho estava em frente a uma escola particular com grade azul, vermelha e amarela. E crianças por toda parte! Sentado no chão, vi um mendigo com cabelos desgrenhados e uma roupa suja. Ele era conhecido do meu pai. Peguei o saquinho e fui me servir da pipoca-doce, quando percebi que Bocão – seu apelido por causa da sua boca grande – soltou um grito e se jogou no chão. Por um momento, todos acharam que era uma brincadeira, talvez querendo pregar peça nas crianças. Só que não era brincadeira. Ele começou a tremer freneticamente; todo seu corpo se remexia e as veias de seu braço queriam saltar.

Todos olhavam, adultos e crianças, como se fosse uma estranha peça teatral que o rapaz estava fazendo. Até que, finalmente, um homem de boné e bermuda azul segurou com muita dificuldade seu rosto e tentou agarrar a língua de Bocão. Não tive reação quando vi meninas de 12 anos rindo e garotos filmando toda aquela cena. Ele parou de se mover e o rapaz que havia ajudado Bocão pegou um papel para limpar sua mão. Olhei ao redor e ouvi um grupinho gritando “morreu, morreu” e nessa hora, quis arrancar aqueles cabelos ondulados e fazer-lhes engolir o que disseram. Como um ser humano com tão pouca idade consegue ser ruim a esse ponto?

Havia duas moças ao meu lado, conversando.

– Eu vi as meninas rirem. – uma loira, com mechas, falou, virada pra outra mulher e arrumando sua bolsa laranja no braço.

– Que horror! – a senhora de cabelos lavados disse, espantada. – Ele é igual a todo mundo.

E saiu vagando pelas ruas. Peguei meu celular e disquei o número do hospital. Ambulâncias indisponíveis. Então liguei para o corpo de bombeiros. Ocupado! Queria ver se fossem essas meninas, ali, sofrendo, sabendo que não havia unidade disponível para socorrê-las, qual seria a sensação. É fácil rir da cara do outro, em um momento de desespero. Difícil mesmo é imaginar se fosse com você.

Bocão estava falando sozinho, e as mulheres ao redor começaram a sair de perto, levando suas crianças até os seus carros importados. Sentei perto dele, encarando seu chinelo imundo.

– Olá. – disse sorrindo. Ele coçou a cabeça e me olhou.

– Lisa? O que faz aqui?

– O que você está fazendo aqui, Bocão? – devolvi sua pergunta e ele simplesmente se levantou, pegou sua mochila preta e saiu ainda atordoado. O movimento em frente à escola já havia diminuído, mas o carrinho de pipoca ainda continuava lá. Paguei e fui comendo pela avenida. Todos nós, um dia, iremos precisar de ajuda, mas como melhorar se a negarmos?

A tarde estava ensolarada e resolvi ir até a biblioteca pública para ver se encontrava algo para ocupar meu tempo nos dias entediantes. Passei a mão pela enorme estante de madeira, sentindo a lateral dos livros nas pontas dos meus dedos. Os corredores vazios deixavam que somente o cheiro das páginas, cobertas por segredos, ficasse no ar.

Um livro me chamou a atenção mais que os outros, e, minha curiosidade de saber sobre de quê se tratava, prevaleceu. Segui até a bibliotecária e assinei no papel do meu cadastro. Ela colocou em uma sacola o livro A cidade do sol e senti uma brisa no meu rosto ao sair da biblioteca. Fui andando no passeio, sorrindo para todos os estranhos que passavam. Talvez aquele sorriso pudesse mudar o dia de alguém, porque era tudo que estava acontecendo com o meu.

Fiz coisas ruins, mas o importante é que quero fazer coisas boas. Atravessei a rua e fui parar em outra, totalmente deserta. O sol já estava se pondo quando senti mãos fortes puxarem meu braço e me prensar contra a parede. Suei frio quando minha pele tocou no muro e um homem encapuzado tirou brutalmente meus cabelos perto do pescoço e, depois de alguns segundos me fitando, ele saiu correndo. Meu Deus! Que estranho!

Meu medo, aos poucos, foi sumindo e meu coração desacelerando, deixando que só fosse ouvido o vento contra meu corpo. Fui pra casa, mesmo que minha mente estivesse extasiada com aquilo tudo. Liguei para uma confeitaria e encomendei um bolo para o dia seguinte. E eu não conseguia parar de andar pelo apartamento de um lado para o outro, como se minha alma estivesse inquieta. De uns tempos pra cá, venho pensando no quanto precisamos de um chacoalhão para perceber que a vida vale a pena. Por onde passo, eu vejo pessoas com sorriso falso no rosto, esperando ir para suas casas até a noite cair e deixar que o choro reprimido se desfaça. Por que esconder seus problemas e não pedir ajuda? Não consigo entender como podem saber que estão mal e não fazerem nada para mudar a situação. Nossa felicidade não é uma brincadeira qualquer.

Queria que você, menina, que se sente sozinha, soubesse que é forte. Você só sairá desse buraco negro chamado tristeza, se for humilde para aceitar a luz. Encontre o que te faz bem e agarre isso como puder, porque momentos ruins todos nós temos. Do que adianta sua existência se não for para ser feliz?


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Notas finais do capítulo

Já desistiu de me esfaquear assim como a Lisa fez com o pai do Karl, ou você ainda acha que eu mereço esse fim trágico? -q Nos vemos amanhã no próximo capítulo, e eu garanto que vai ser maior! Até lá!



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