Viagens escrita por Silas Moreira


Capítulo 3
Capítulo 2 - Um Mundo Mágico


Notas iniciais do capítulo

Agradeço já por ter escolhido esta leitura!
Peço, por favor, se possível, que deixe no final um comentário
P.s.: Eu sempre respondo!

"Esse capítulo traz um pouco da primeira experiência de Marcos em outras realidades, no geral, sua primeira viagem.
Confesso que o achei um pouco parado, porém traz alguns elementos e explicações necessários para toda a história.
O próximo capítulo "E.M." trará um pouco mais de ação."

Obrigado, e boa viagem!



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Cappy havia partido e os garotos agora estavam sozinhos com Merly, a menina de azul que acabaram de conhecer. Milhões de perguntas borbulhavam em suas mentes, mas nenhum dos rapazes ousava dizer uma única palavra, o que gerou um silêncio constrangedor. Os meninos mantinham os olhos fixos na garota, e esta alternava os olhares entre Marcos e André.

— Creio que tudo que está acontecendo agora seja um pouco confuso e estranho para vocês — disse Merly, acabando com o silêncio. Os dois continuaram quietos, apenas movimentaram a cabeça lentamente em afirmação. — Vejamos se consigo explicar alguma coisa. Vocês são cósmicos, ou seja, vivem no Cosmus¸ um dos muitos universos que existem. Também são terráqueos, aqueles que vivem no planeta Terra. Tenho que levar você, Marcos, o Grande, para o lugar de onde venho: Yocä, primeiro mundo do universo Heliar. Não temos muito tempo, o mal está se levantando muito rápido. O Velho Carvalho requisita sua presença imediatamente. Não se espantem com o que irão ver daqui pra frente, independente do que for. As coisas vão ficar um pouco estranhas.

— Mais estranhas!? — surpreendeu-se André.

As perguntas continuavam em suas mentes, e agora ainda outras surgiram, mas os garotos continuaram quietos e estáticos. Só podia ser loucura! Era impossível acreditar em tudo aquilo, mesmo a prova estando bem diante deles.

Assim como a garota disse, as coisas começaram a ficar mais estranhas. Merly fechou os olhos por um momento e quando os abriu eles emitiam novamente aquela luz que eles haviam visto anteriormente. Em um movimento rápido ela se agachou e colocou as duas mãos no chão. Quase que instantaneamente todo o cenário mudou. Tudo sumiu em uma escuridão sem fim e os jovens logo se encontraram em cima de uma superfície negra quadriculada com duas linhas, uma branca e outra azul, que se estendia até onde a vista alcançasse. Tudo estava em uma escuridão eterna, mas de alguma maneira era possível ver os três perfeitamente.

Os dois garotos estavam boquiabertos com tudo aquilo e Merly, ainda com as mãos encostadas no chão, descreveu um ângulo de trezentos e sessenta graus, enquanto uma linha azul claro formava um círculo por onde suas pequeninas mãos passavam. A garota se levantou e deu alguns passos para fora do desenho enquanto este começava a brilhar intensamente e afundar no solo negro formando uma espécie de buraco sem fim. A luz branca do círculo se projetava para fora daquele túnel vertical, mas ia ficando rapidamente mais fraca enquanto a profundidade aumentava.

— O que... O que é isso? — André se atreveu a perguntar.

— Isso vocês podem chamar de portal. Bem vindos à materialização do famoso plano espaço-tempo; uma das formas de intercomunicação entre duas realidades e também nossa passagem de ida para o universo Heliar. Apertem os cintos e se preparem para uma aventura mágica e não, não estamos indo para o Disney World. Enfim, assim que eu passar pela abertura, ela se fechará, portanto, vocês devem ir primeiro. Quem quer ir na frente? — Merly parecia animada com a ideia de se jogar em direção ao nada, mas isso não agradava os garotos. Porém, parecia que eles não tinham escolha; alguém tinha que ir primeiro.

— Eu vou — disse Marcos dando um passo à frente — Não quero. Mas, já que tudo isso começou comigo, acho que o mais justo é eu dar o primeiro passo e... E pular.

— Faz muito bem em se apresentar, Grande. És realmente digno de sua missão. André, você terá que ir logo atrás dele, não importa o quanto isso lhe agrade ou não.

— Então tá legal. Pelo menos vou ter alguém pra amaciar a queda quando chegarmos a You-qualquer-coisa.

Marcos deu alguns passos em direção ao grande buraco no solo ainda desconfiado, mas sabendo que tinha que ir. De alguma maneira, sentia que esse era seu destino e não haveria como escapar. Agora estava bem próximo e pôde ver a profundidade do túnel que, para seu espanto, parecia não ter fim. Dadas as circunstâncias, ele não poderia voltar atrás agora, então fechou os olhos, respirou fundo e deixou o corpo cair sobre o portal, como se caísse de um precipício. André veio logo atrás de Marcos e vendo a profundidade absurda começou a recuar. Mas seu amigo contava com ele, não podia deixá-lo ali. Então, fechou os olhos e pulou de cabeça no túnel logo após soltar um quase insonoro galhadas.

— Novatos! — disse Merly para o nada e correu para se lançar num clássico pulo de bomba ao portal.

Os três caiam numa velocidade inimaginável pelo que parecia ser um tubo vertical negro-quadriculado. Olhando pra baixo — embora Marcos e André preferissem ficar de olhos fechados — só era possível ver um branco reluzente que parecia estar bem ao longe. A velocidade parecia aumentar e o quadriculado das paredes se distorcia mais a cada instante.

Por curiosidade, Marcos, que caia de barriga para baixo e com os braços abertos, resolveu abrir os seus olhos, apenas para observar, e podia jurar ter visto animais e objetos aparecendo nas paredes e distorcendo-se por causa da imensa velocidade. Um leão, um espelho, alguns piratas. O garoto não conseguia parar de olhar. Seriam reais? Ainda estava absorto em todas as imagens quando algo azul-elétrico chamou-lhe a atenção. Quando focalizou o olhar, viu aquilo que parecia ser o fim do túnel. Ficou contente por alguns segundos, mas logo se deu conta de que naquela velocidade, a colisão seria catastrófica.

— A gente vai ba... — foi tudo o que conseguiu gritar até que se encontrou imerso no que parecia ser um gel azul brilhoso.

Logo foi a vez de André, caindo de cabeça, e então Merly, num agudo grito de euforia. Imersos na gosma, a garota deu um sinal para que não abrissem a boca e em seguida outro para que a seguissem. Os garotos mantiveram a respiração bem presa até que não aguentaram mais e sentiram o material gelatinoso entrando por suas narinas, porém, respirar não era problema. Era como ar, porém, numa forma mais grudenta.

Os garotos seguiram Merly, como ela havia pedido. Nadaram para baixo até que ela parou um pouco acima do que parecia ser um tipo de areia (como na praia). Ela apontou para baixo e escondeu os olhos com as mãos, sinalizando para que fechassem os olhos. André foi o primeiro a entender. Fechou os olhos e nadou mais pra baixo, tocando no solo. Para sua surpresa, nada aconteceu e ele bateu contra o chão sólido. Então olhou desentendido para Merly que gesticulou o número um e apontou para Marcos. Esse, por sua vez respondeu com uma feição de angústia, fechou os olhos e nadou para o fundo. Quando uma de suas mãos encostou-se no solo, uma luz brilhante surgiu e começou a puxá-lo até que rapidamente todo seu corpo havia sido levado pela luz.

Assustado com o que estava acontecendo com o amigo, André tentou emitir um grito chamando Marcos, porém, sua boca se encheu com aquele gel azul-elétrico que, misturado com a saliva, começou a arder. Ele levou as duas mãos à boca e fez uma careta de dor. Sentiu alguém tocar-lhe o ombro; era Merly. Ela apontou para o chão e ele logo entendeu o recado. Fechou os olhos e começou a nadar. Então, ao invés de sentir a superfície sólida, sentiu como se algo o estivesse sugando — como um aspirador de pó molecular —, o mesmo que acontecera há poucos segundos com Marcos. De repente, a sensação passou e ele sentiu o corpo caindo num chão verdadeiro.

Sem esperar comandos, ele se levantou e começou a cuspir toda aquela gosma que havia em sua boca. A sensação ácida ainda continuava, porém, agora um pouco mais suave. Com isso, pode reparar onde estavam: parecia o início de um bosque. As árvores que se estendiam à frente por toda uma imensidão eram de troncos prateados e parecia não produzirem flores ou frutos, pois em suas copas haviam apenas belas folhas arroxeadas e reluzentes. O solo em que estavam era seco, mas entre as plantas era fértil e cheio de folhas escuras caídas. Mais ao alto via-se uma única árvore de tronco laranja e folhagem dourada muito maior que todas as outras. Era uma visão estranha, porém bonita e agradável. Embora na Terra fosse meia noite, ali o céu brilhava em cores claras, mesmo que não fosse possível ver o sol em lugar algum.

Os dois garotos, bem próximos um do outro, estavam tão fantasiados pelo incrível bosque à frente que só voltaram à realidade quando ouviram o som de algo caindo atrás deles. Era Merly, ela estava no chão, derramada de bruços e desacordada. Os dois garotos correram preocupados ao encontro da menina. Sua respiração lenta e inconstante mostrava que Merly estava apenas desmaiada, então eles a chacoalharam vagarosamente tentando acordá-la. A garota levantou a cabeça, abriu os olhos e soltou mais um de seus sorrisos afetuosos. Encostou a cabeça no solo seco, ainda acordada e disse, como alguém que está muito doente:

— Preciso... Chegar... Central... Magia... Árvore... Laranja — Merly dizia ofegante e com a voz quase desaparecendo. Então seus olhos se fecharam e ela se foi novamente.

— André, me ajude a carregá-la. Cappy disse que tínhamos que levá-la para algum centro de magia. Deve ser perto daquela árvore alaranjada.

Ambos os garotos partiram prontamente levando a menina nos ombros. Eles adentraram o bosque tentando seguir em linha reta até a árvore dourada. Se saíssem do trajeto, ficariam perdidos em Sabe-Deus-Onde, e então começariam os problemas de verdade.

De fato, caro leitor, adoraria dizer que nossos heróis tiveram sua primeira aventura nesse bosque desconhecido, mas isso não conduziria com a plena verdade. No trajeto - e que longo trajeto pareceu, por conta do peso extra - nada houve de extraordinário. Apenas sons de animais desconhecidos e os passos arrastados dos nossos jovens contra as folhas. Quando começaram a se desviar do caminho retilíneo, uma corrente de fumaça azul bem visível passou por eles e os guiou até o destino: a grande árvore alaranjada - que com sorte seria a Central de Magia.

O lugar trazia sim seu aspecto mágico, porém nada muito surpreendente comparado aos arredores. Um tronco da espessura de um prédio cor de laranja se erguia à frente, e as raízes, largas e compridas, criavam uma clareira circular entre a maior das árvores e o resto da mata roxeada, que se estendia de tal forma que não era possível apontar seu fim ou início.

Os garotos pararam cansados, com a respiração lenta e profunda. Merly ainda estava desacordada em seus ombros. Chegaram onde acreditavam ser o local ao qual deveriam chegar. Mas não havia nada mais - além é claro das estranhas cores arbóreas.

— E então? — perguntou André.

— Sei lá. O que deveria acontecer?

— Ah, não sei. Pensei em um monte de luzinhas e uns elfos com sombrinhas. Talvez, umas sardinhas.

— Sério isso? Estamos com uma menina quase morta nos braços e você faz piadinha!

— É pra aliviar a tensão, cara. Eu acabei de cair de um buraco espacial e cuspir meleca ácida. E ainda sinto meu nariz cheio daquele grude azul. Alguma ideia do que podemos fazer?

— Bom. Tenho certeza que é aqui. Aquela coisa brilhante nos trouxe e não tem outro lugar pra onde podemos ir.

— Talvez tenha apenas acabado o combustível no meio do caminho.

— Você acha? Eu acredito que não.

— Se você tem certeza que é aqui, por que não saímos correndo e nos jogamos contra a árvore?

Marcos olhou para André confuso.

— Harry Potter, mano! Galhadas! Plataforma 9 3/4? Não? Ok. Observe o mestre — disse confiante enquanto largava Merly nos ombros do amigo e se preparava para a corrida.

Marcos colocou a garota delicadamente sobre o chão e observou André com um profundo suspiro. As raízes rodeavam a árvore por completo, com exceção de um lado, formando uma espécie de corredor. O garoto de olhos verdes se preparava para se lançar em direção à árvore pelo caminho aberto pelas raízes. Deu um pouco de distância, fechou os olhos e correu com todas as forças. Em um momento André estava junto de Marcos correndo contra uma árvore gigante, num outro houve um grande estalo e o garoto estava jogado no chão, reclamando da dor:

— Não foi uma boa ideia. E o pior é que ainda não sabemos o que fazer.

— Eu adoraria dizer que 'pelo menos você tentou' — disse Marcos fazendo força enquanto arrastava Merly para perto do tronco da árvore — mas eu simplesmente concordo com você.

Marcos encostou a garota na raiz mais próxima e foi sentar-se ao lado de seu amigo rendido no chão.

Logo após o corpo desacordado de Merly tocar a árvore, uma luz alaranjada irradiou das raízes até chegar ao tronco. Os rapazes se levantaram assustados e viram aparecer no fim do corredor uma grande porta cor de âmbar com pequenos detalhes claros.

— Acho que eu descobri o que tínhamos que fazer.

— Eu me esborrachei contra a maldita árvore e só era preciso encostar a menina nela? Você podia ter evitado a dor no meu braço, cara.

— Desculpa, eu não...

— Isso vai dar uma história incrível! — disse André rindo.

Marcos não sabia se era o mesmo bom humor do amigo ou se a pancada havia afetado seu bom senso. Mas o importante é que tudo estava bem e não havia mais nenhuma dificuldade aparente.

Porém, no Cosmus, mais especificamente na Terra, uma garota de capuz vermelho e pele branca como a lua já enfrentava seus próprios problemas.

 


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Notas finais do capítulo

Muito obrigado pela leitura! Espero que tenha gostado!

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