The Pocky Game escrita por Jude Melody


Capítulo 2
Leorio x e x Kurapika




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O destino é cheio de ironias. Poucas horas depois de Kurode reaparecer na pequena casa com sua bocarra suja de chocolate, Killua desapareceu, deixando seu amado e choroso Gon à mercê da própria sorte. Ainda sem coragem de encarar o amigo, o Zoldyck retirou seu segredo do esconderijo improvisado, um buraco sob a tábua solta do quartinho dos fundos, e soltou um pesado suspiro.

A caixinha de palitinhos de chocolate parecia sorrir em suas mãos. Ele poderia simplesmente ir até o quarto de Gon e revelar a surpresa, ou então escondê-la e fazer de conta que ela nunca havia acontecido.

Sim, antes mesmo de Gon inocentemente comprar os fatídicos palitinhos, Killua, sucumbindo a seus desejos mais profundos, adquirira um pacotinho durante sua compra mensal de porcarias. Planejava apresentar o jogo ao Freecss. Nada de mais, apenas uma diversão entre amigos.

Agora, essa diversão fazia seu estômago dar cambalhotas. O Zoldyck estava prestes a jogar os palitinhos na lixeira quando foi interrompido por um assobio. Desesperado, jogou o pacotinho sob a máquina de lavar e enfiou as mãos nos bolsos. Leorio surgiu na cozinha no segundo seguinte, assobiando uma canção qualquer.

— Está tudo bem, Killua? — perguntou o mais velho, estranhando a atitude curiosa do jovem assassino.

— Sim, estou bem. Estou ótimo! Você viu o Gon? Não? Vou atrás dele. Beijo. Tchau. — E abandonou o cômodo a passos rápidos.

O Zoldyck disse tudo tão rapidamente que o Paradinight mal teve tempo de processar. Beijo? Killua acabara de lhe mandar um beijo? Havia algo muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito errado ali.

Com um suspiro, Leorio passou as mãos pelo cabelo, perguntando-se se deveria examinar o mais novo. Talvez ele estivesse doente e não quisesse contar a ninguém para evitar preocupações. Por outro lado, se o Zoldyck estava mandando beijos por aí, o aspirante a médico estava seriamente apavorado com a ideia de contrariá-lo. E se Killua, sei lá, decidisse abraçá-lo? Como sobreviver a isso?

Não. Leorio não ia examiná-lo. Na verdade, sequer faria qualquer comentário. Estava a ponto de sair da cozinha e se trancar em seu quarto para um momento de intimidade com a caixinha de lenços de papel quando teve sua atenção despertada por um retângulo vermelho meio escondido sob a máquina de lavar.

Aproximou-se e pegou o pacote em suas mãos. Reconheceu-o de imediato. Os adolescentes irritantes de sua antiga escola adoravam aquela porcaria. Na verdade, até seus colegas de faculdade curtiam aquela brincadeira. Ele até fora convidado uma vez por um grupo de alunos do quinto período. Recusou o convite veementemente, pois lhe causava nojo a ideia de beijar outro homem, e a maior parte dos alunos do grupo era do sexo masculino.

Ele hesitou, o sorriso de deboche congelado em seu rosto. Causava-lhe nojo a ideia de beijar um homem... Certo? Então, por que a imagem do jovem de cabelos dourados surgira de repente em seus pensamentos? Por que, de repente, parecia uma boa ideia convidá-lo para uma brincadeirinha de Pocky Game?

Leorio engoliu em seco. Não, ele definitivamente não entendia esses pensamentos perversos. Ao mesmo tempo, a companhia do loirinho era, sem qualquer dúvida, mais atraente do que aqueles lençinhos de papel sem vida. Ele revirou o pacote de chocolates nas mãos... E se decidiu.

 

— Kurapika? — chamou Leorio, batendo na porta.

O jovem Hunter espreguiçou-se, coçando os olhos. Estava estudando havia horas e seu corpo já estava ficando dolorido, apesar de todo o treinamento de anos para suportar as adversidades. Com um bocejo, conferiu o relógio. Uau! Já era quase meia-noite. E ele se sentara para estudar, quando mesmo? Às nove da manhã? Talvez fosse por isso que seus olhos estavam comichando.

— Leorio? — chamou de volta, ficando de pé.

— Está ocupado? Eu... gostaria de falar com você.

O Kuruta abriu a porta do quarto e encarou seu visitante noturno. O Paradinight abriu um sorriso sem jeito e aproveitou a oportunidade para espiar o interior do cômodo. Demorou-se por demasia na cama ainda desarrumada. Percebendo o olhar indiscreto, Kurapika encostou-se no batente na esperança de bloquear a visão do mais velho — não bloqueou, ele era mais baixo — e ergueu sobrancelhas inquiridoras.

— Sobre o que gostaria de falar?

— Eu prefiro conversar dentro do quarto, se não se importa.

Com um suspiro, Kurapika franqueou a entrada do Paradinight. Fechou a porta em seguida e se dirigiu até a cama, apenas para dar meia volta no último segundo e se sentar novamente na cadeira. Leorio, alheio à cautela de seu amigo, sentou-se sobre o colchão e alisou os lençóis.

— Sobre o que quer conversar? — O mais novo repetiu a pergunta, já desconfiado das reais intenções do Paradinight.

— Bom, eu... — Leorio hesitou, parecendo estranhamente desconfortável. — Estava pensando...

— É um milagre. Por favor, prossiga.

— Ora, seu... — O aspirante a médico fez uma careta de raiva. — Não precisa ofender.

— Apenas fiz uma constatação, Leorio — respondeu Kurapika com indiferença. — Eu preciso continuar estudando uma forma de invadir o palácio daquela socialite desprezível que comprou alguns olhos do meu clã há cerca de dois anos. Por favor. Seja breve.

“De novo essa história dos olhos,” pensou o mais velho, sentindo o coração apertar. Não gostava de ver o loirinho daquele jeito. Ele estava visivelmente cansado. As olheiras eram expressivas. Os cabelos estavam bagunçados. E Leorio tinha certeza de que não o vira trocar de roupa nos últimos três dias.

Não era momento de recuar. Kurapika precisava de sua ajuda. Precisava urgentemente de sua ajuda. Inflado pela coragem, Leorio pôs sobre suas pernas a caixinha que até então escondera às suas costas. Lançou um olhar sugestivo ao Kuruta. Recebeu como resposta uma interrogação.

— Achei que você queria um chocolate. — disse com simplicidade.

— Um chocolate? — Pela primeira vez em dias, um sorriso iluminou o rosto do loirinho. — Você me trouxe chocolate?

— Mas não é qualquer chocolate! — esclareceu o mais velho, pondo-se de pé, a caixinha segura em sua mão. — Este chocolate é... especial.

— Especial? Ah, não diga que... — O Kuruta arregalou os olhos. — Ele dá piruetas e pula na sua boca?

— Engraçadinho — retrucou o Paradinight. — Na verdade, ele é para brincar.

— Brincar? — O tom divertido desaparecera da voz de Kurapika. — O que quer dizer com “brincar”?

— Ah, brincar. — Leorio deu de ombros. — Uma diversão inocente entre amigos.

— Não tenho tempo para brincadeiras, Leorio. — O Kuruta retrucou com frieza. — Isto aqui é sério. Deixe-me em paz.

Ele voltou sua atenção para os livros e mapas, e o Paradinight se sentiu arrasado. Estava a poucos passos da porta, já esticando o braço para tocar a maçaneta, quando teve uma ideia. Virou-se com um sorriso malicioso nos lábios.

— Ah, eu não disse? Este é realmente um chocolate especial — disse com entusiasmo. — Um chocolate feito especialmente para Hunters. Ele aumenta suas habilidades e te torna mais forte. Pode facilitar sua missão.

A mudança na postura do loirinho foi quase imperceptível, mas, para bom entendedor, meio movimento basta. Kurapika virou-se para trás, cauteloso e sustentou o olhar de Leorio. Havia um interesse claro em seus olhos. O loirinho estava disposto a ouvir.

— Fale mais.

— Este chocolate tem efeitos milagrosos. — O mais velho prosseguiu seu discurso fantasioso. — Você só precisa brincar.

— Está blefando — retrucou o outro, voltando-se para seus estudos.

— É sério! Dê uma chance.

— Boa noite, Leorio — respondeu o Kuruta com uma voz de gelo.

Derrotado, o Paradinight abriu a porta para se retirar. Ao que parecia, seria uma longa noite, apenas ele e os lencinhos de papel, como sempre. Não! Chega de recuar! Chega desse medo! Com uma expressão decidida, ele marchou até o loirinho e respirou corajosamente em sua nuca. Kurapika suspirou.

— O que é agora?

— Vamos ao menos tentar.

Visivelmente contrariado, Kurapika levantou-se da cadeira e se posicionou de frente para o mais velho. Cruzou os braços, desafiando-o, e deixou que sua irritação transbordasse por seus olhos. Apesar de se sentir confrontado, Leorio conhecia o loirinho e sabia como lidar com sua pequenina fera. Abriu um sorriso confiante e retirou um palitinho de chocolate da caixa.

— Primeiro, você morde essa ponta.

— E...? — O Kuruta instigou-o, ainda desconfiado.

— Depois eu mordo a outra ponta.

— Vai se ferrar! Seu idiota!

Aquela reação o surpreendeu. Leorio esperava todo tipo de reprimenda, mas aquilo, aquilo era novidade. Seu querido loirinho estava corando... Era verdade! Ele estava corando. Frustrado, irritado, cansado. Mas com bochechas tão vermelhas que dava vontade de morder.

— Não vou jogar Pocky Game com você. — O Kuruta praticamente cuspiu as palavras, a raiva chegando a seus olhos.

Como ele ficava lindo com aquele olhar escarlate!

— Então, você conhece o jogo! — rebateu Leorio com um tom alegre. — Certo, então agora é só você morder este palitinho.

O aspirante a médico estendeu o doce, mas Kurapika recuou, enojado. Aquele simples movimento destruiu o coração do Paradinight, mais do que todas as outras coisas que o loirinho fizera naquela noite. Impulsionado por sua última esperança, levou o chocolate à sua própria boca e segurou a ponta do palito entre seus lábios.

O Kuruta lançou-lhe uma pergunta escarlate, surpreso com a contraproposta. Aquela reação pegou-o complemente desprevenido e, por um instante assustador, não soube o que fazer. Seu melhor amigo estava bem ali, oferecendo um chocolate, uma brincadeira, um... Um beijo?

Kurapika inclinou a cabeça para um lado, depois para o outro, depois para baixo. Odiava, odiava aquele rubor que lhe subia pelas bochechas. Odiava ainda mais aquele tun-tun acelerado em seu peito, como se seu coração esperneasse de ansiedade lá dentro.

Ele suspirou uma vez.

E, desafiando todas as leis físicas deste mundo, jogou a cabeça levemente para trás, almejando aquele palitinho perverso, o único obstáculo que o separava daquele idiota que tanto insistia em irritá-lo.

— Worrrf!

Eles viraram os rostos, assustados. Kurode os pegara no flagra! Maldita porta aberta! Mas o cachorro não estava interessado no quase beijo. Estava interessado no pacotinho que Leorio ainda segurava. Ah! Aquela doçura que dominara seu inocente coração canino! Aquele gosto inesquecível e que ele desejava tanto, tanto.

— Kurode! — disse o loirinho.

— Sentado! Sentado! — ordenou o mais velho.

Mas era tarde. Com um rápido “woorf,” Kurode jogou seu peso em cima de Leorio e lhe roubou o pacote. No chão, o Hunter tentou agarrar a fera pelo pescoço, deixando o palitinho cair de seus lábios. A luta foi inútil, e o cachorro disparou para longe, ansioso para brincar de Pocky Game sozinho.


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