Guerra de Gemas e Rosas escrita por Autor Misterioso


Capítulo 7
Cinzas da Morte




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Sistema Thanorin, Quadrante Ω, Planeta IV – 6 189 anos atrás.

A escuridão noturna cedia lentamente os limites do horizonte para a tênue claridade da manhã conforme as naves desciam sobre a atmosfera avermelhada do planeta em direção à superfície ainda dotada de uma relativa camada biosférica que, em breve, seria convertida em um vasto deserto. A Nave Imperial conduzia a frota, apontando seus detectores de pouso para uma suave planície que margeava um lago de águas turvas e inquietas. As cores aquecidas flutuavam em nuvens fantasmagóricas sobre o casco pálido.

Os veículos acoplaram-se ao terreno pouco irregular da planície após alguns segundos de travessia atmosférica. Líderes e supervisores conduziram os tripulantes até o sopé de uma pequena colina, sobre a qual, imponente e luzidia, permanecia a Nave Imperial. À sombra de um estranho vegetal, formado de um caule grosso e rígido, de cor cinzenta e uma copa escura, os Diamantes observavam suas legiões organizarem-se diante da colina, as faces fixas no que se estendia além do domo rochoso.

— Atenção. – solicitou Diamante Azul. – As pesquisas que antecederam a posse desse sistema planetário informaram a existência de uma baixa biodiversidade ao longo dos quatro mundos que o compõem, sendo que, do total, apenas este possui matrizes naturais suficientes para a produção Gem.

— Por essa razão, seremos rápidas aqui. Quando retornarmos à Homeworld, nossos cientistas já terão concluído uma nova busca planetária no Quadrante λ e devemos estar preparadas para uma nova anexação. - continuou Diamante Branco. 

— Quantas centrais serão instaladas? – perguntou Peridot.

— Apenas três. Um enorme oceano divide a superfície seca do planeta em três grandes porções. As naves µ e ∆ terão a custódia desta porção do planeta. O processo completo deverá ser concluído, no máximo, em dois dias.

Recebidas as informações, tripulantes, supervisores e líderes ergueram uma solene reverência. À frente do hangar pertencente à nave µ, duas enormes Gems destacavam-se. Seus corpos eram idênticos. Os longos e volumosos cachos espirais cobriam os dorsos altos e fortes. Duas pedras de quartzo resplandeciam em seus abdomens, faiscando com a luz da aurora crescente. Uma, porém, trajava-se em um rosa profundo e forte. A outra, por sua vez, em um verde claro e límpido. Aos poucos, eram percebidas pelas outras como frutos de uma mesma cápsula genética que, enquanto dormia na terra, dividiu o líquido interno por uma fratura da injeção.

Rose observava a irmã com uma expressão ansiosa e familiar. Pérola não havia sido trazida para tal anexação, permanecendo nos laboratórios de Homeworld com outras Crianças do Discernimento, durante a investigação de possíveis mundos adequados à fabricação no próximo quadrante. Ainda que solitária, a Gem jamais poupava a presença da companheira que, mesmo tendo eclodido minutos depois, nascendo com ideais e percepções diferenciadas, nutria um forte afeto pela irmã.

Ambas retornaram ao salão central com as demais tripulantes, acomodando-se em dos assentos que margeavam os limites do veículo, abrindo-se para as escotilhas vítreas. A nave ergueu-se no ar, acompanhando o trajeto fornecido também à nave ∆, pelos computadores da Nave Imperial. O próximo pousou seria a 486 km de distância do local inicial.

— Irmã... – sussurrou Rose. – Estava pensando em algo nos últimos dias.

Green Quartz fitou seu rosto duvidoso com uma expressão que misturava receio e preocupação.

— Diga, Rose. – respondeu ela, pousando suas mãos sobre os ombros da irmã. – Há algo que a incomoda?

— Sim. – comentou Rose. – Homeworld já possui um vasto império através da galáxia. Os Diamantes dominam grande parte dos mundos de dois quadrantes próximos à Terra Natal e, bem...

— Aonde quer chegar com isso? – perguntou Green.

— Será que não basta? – respondeu Rose. Em seguida, apontou para a reduzida floresta que dançava pela escotilha. – Veja esse planeta. Não há muita vida sobre ele. E o pouco que há está sentenciado à morte. Isso é mesmo necessário.

Green contemplou a irmã com uma face sombria e punitiva.

— Rose. Está questionando as ordens da Tríade? – perguntou.

— De forma alguma. – respondeu Rose. – É só que... Não sei. Destruir é algo tão doloroso para mim.

— Rose... – consolou Green, pousando as mãos no rosto da irmã com uma carícia fraternal. – Somos Gems. Seres superiores. Nascemos daquelas que falaram com a própria Voz Original! Por que tanta dúvida? Esses seres são fracos. Não merecem viver. É por isso que estamos aqui. Agora...

Rose fitou os olhos introspectivos da irmã.

— Agora o quê? – perguntou.

— Não quero que pense nisso novamente. Fui clara?

A Gem observou o piso marmóreo por alguns segundos. Green repetiu:

— Fui clara?

Com um breve suspiro, Rose assentiu. A voz aguda de Peridot emergiu nos cristais fônicos, solicitando a presença da líder. Green despediu-se de Rose e caminhou em direção ao interfone.

— Aqui é Green Quartz. – informou ela. – Líder da Nave µ, solicitando tempo de pouso.

— Entendido, Green Quartz. – respondeu Peridot. – O pouso ocorrerá em dois minutos, aproximadamente. Os tripulantes devem estar próximos do hangar inferior.

— Está bem. – concluiu Green.

Em seguida, caminhou até o centro do salão.

— Todos os tripulantes devem seguir para o hangar inferior. É uma ordem.

As Gems levantaram-se, esvaziando o recinto através de um túnel escuro que abriu-se em uma das laterais. Green, acompanhada de Rose, desceu até o local. Nas paredes, os injetores aguardavam, isolados em suas cápsulas. O líquido genético circulava pelas veias metálicas, tendo sido recolhido horas atrás por Green com o auxílio de Rose, que o fizera com um forte âmago de tristeza.

As naves desceram sobre os limites de um conjunto de colinas, que desfilavam sobre o horizonte, projetando uma larga sombra no bosque vazio. Antes com alguns estranhos animais, dotados de corpos musculosos, olhos brancos e pequenos chifres retorcidos, o sopé da cordilheira, fora esvaziado pelo fogo.

Com enorme sofrimento, Rose fora enviada com uma equipe de sete subordinadas para aniquilar qualquer forma resistente de vida, ainda que não senciente. Os pobres seres foram abatidos por sua longa lâmina rósea, no que a Gem permitiu-se um pranto suave e derradeiro, escondido nos arbustos ralos e mortiços. O sangue manchava seu vestido branco quando ela retornou para as naves.

Enquanto a caçada ocorria, Green e as demais, incluindo uma poderosa Gem alaranjada, abriam a campina para os lasers de perfuração. Lanças elétricas perfuravam o solo, eletrocutando os túneis subterrâneos de pequenos roedores e insetos. Não raramente, suas extremidades retornavam ao luar cobertas de um sangue viscoso e cadáveres frescos, no que Green ria de sua própria natureza Gem. Rose, em segredo, fechava os olhos para tais cenas de brutalidade. Até mesmo Pérola não conhecia sua enorme sensibilidade quanto às carnificinas.

— Rose! Volte para o hangar! – ordenou Green.

Rose obedeceu, conduzindo as demais para o deque profundo. Em seguida, auxiliou na retirada dos injetores para a orla da floresta. A tecnologia de proteção eletromagnética ainda estava em estágios de aperfeiçoamento em Homeworld, e a radiação do eixo energético dos lasers de perfuração poderiam causar danos ao sistema operacional dos injetores, rendendo enormes custos de produção ao Conselho do Protetorado.

As Gems retornaram ao salão de suas respectivas naves quando os líderes ordenaram a decolagem. A duzentos metros de distância do solo aparado, um potente feixe era disparado por um conjunto de cinco esferas na porção inferior do veículo, rasgando terra e rocha segundo as medidas definidas no computador central. Em poucos minutos, uma enorme fenda estendia-se no sopé das colinas estéreis. Pequenas rochas flutuavam acima de seus topos como efeito adicional da aura antigravitacional que facilitava o desprendimento de rochas mais firmes.

Green e Rose desembarcaram e, juntamente com Peridot, coordenaram a instalação dos injetores. Em seguida, retornaram à ponte da nave µ para administrar o relatório da conferência entre as naves do planeta. Segundo o sistema de rastreamento, as naves estavam nos locais indicados durante a viagem, separadas por léguas de montanhas e mar, enquanto a Nave Imperial ainda repousava no local inicial.

— Prossiga Green Quartz. – ordenou Diamante Branco.

— Senhora, o pouso foi um sucesso. A esterilização foi bem-sucedida, bem como a perfuração. Os injetores estão sendo instalados no momento. Deverá ficar pronto em uma hora.

— Excelente. – respondeu Diamante Azul.

Outra líder anunciou, em vantagem:

— Devido à facilidade extra que encontramos na superfície de nosso continente, as cápsulas estão instaladas e já em fase de incubação.

— Segundo as previsões, poderemos descartar a próxima noite como necessária para a incubação. Amanhã à tarde, devemos estar prontos para partir. – adiantou Peridot.

— Impressionante. – concluiu Diamante Branco. – Haverá mais tempo para as tropas repousarem até que os laudos planetários do Quadrante λ estiverem prontos quando retornamos a Homeworld.

A reunião foi encerrada e os líderes retornaram ao leito de seus respectivos jardins. A rapidez de injeção reduziu o tempo de espera e todas as atividades foram suspensas após três horas de longa faina para os oficiais. Restava apenas aguardar a eclosão das subespécies de Thanorin. O destino do planeta havia sido selado.

As horas que antecederam a manhã foram marcadas por intensa convulsão nos três continentes. Desertos avançaram dos trópicos em direção às regiões de médias e altas latitudes. Florestas deram lugar a planícies rochosas e estéreis. Cadáveres amontoavam-se à luz da única lua do planeta. Uma morte silenciosa, mas que apenas antecedia os tumultos que precederiam um conflito pelo destino dos Gems.

***

O exterior do palácio era silencioso e cinzento, ocultando o intenso trabalho empreendido em seu interior. Abaixo do Grande Salão, os laboratórios produziam longos relatórios e enviavam centenas de notificações aos satélites Gems espalhados pela galáxia. A atenção centrava-se no Quadrante λ, um setor pouco conhecido e que ainda podia reservar grande quantidade de mundos aptos à extração. Diamante Amarelo supervisionava as pesquisas, exigindo relatórios a intervalos regulares.

Distante, confinada a um computador periférico, Pérola observava os resultados coletados por um grupo de satélites do Quadrante, reenviado os dados, após uma curta análise, ao sistema central. O trabalho extenuante aumentava a solidão, conforme Rose assumia forma em seus pensamentos. Suas íris negras observavam Pérola com um sorriso infantil e atraente. Mesmo assim, uma estranha sensação também acompanhava essas visões. Um medo profundo e um receio pela recusa de seu envio à anexação em Thanorin.

O último relatório da missão não havia lhe trazido tranquilidade, nem mesmo com a notícia de redução da viagem pela velocidade de implantação. Algo estava errado. Uma verdade que jamais se confirmaria e que ainda esperaria, um longo século para ser revelada.

***

À luz do amanhecer em seus céus alaranjados e opacos, Thanorin havia se transformado. Mais da metade da flora e fauna do planeta havia perecido, transformando-o em um gigantesco cemitério desértico movendo-se, silencioso, pelo espaço negro e frio. Ao longo da manhã, pequenas cápsulas emergiram nos três jardins, dando forma à Gems variadas. Diante das naves µ e ∆, emergiram apenas Crianças do Poder, semelhantes à Green. Rose descera ao leito para instruir e dar as primeiras noções de disciplina às recém-criadas. A curiosidade foi, em breve, substituída pelo medo e pela apreensão.

O restante do dia moveu-se de forma lenta e monótona, conforme inúmeras subespécies tornavam-se legiões disciplinadas sob a tutela de líderes e supervisores. No início da tarde, por ordem particular de Green, Rose fora substituída por Jasper para a organização das recentes produções. Decidindo afastar-se um pouco da rotina, a Gem pensou em conduzir a irmã a um breve passeio antes que partissem do planeta quase morto.

Enquanto exploravam o bosque moribundo, Green notou indícios de ressentimento na expressão de Rose.

— Rose. – comentou. – Precisamos conversar. Você está estranha desde ontem. O que houve?

— Matei seres inocentes, Green. – respondeu Rose. – Exterminei criaturas que mal sabiam quem éramos ou sequer tinham conceitos de bem e mal. Matei seres puros. Nunca vou me perdoar por isso.

— Nem eu. – disse Green. – Essa sua... fraqueza! Está derramando lágrimas por seres estúpidos como esses? Veja!

A Gem apontou os cadáveres perfurados no chão. Uma face de pânico e sofrimento estampava-se no rosto dos animais. A última sensação que antecedeu as trevas de morte.

— Eram indignos de viver! – vociferou Green.

Possuída pela fúria, Rose golpeou o rosto da irmã com a palma de suas mãos. O ato, em si, não fora de todo violento, mas representava a frustração, a vergonha e a censura da Gem pelas palavras da irmã. Green pousou a mão onde Rose havia machucado, a expressão fixa e perplexa. Rose, porém, observou algo movendo-se mais adiante. Um vulto na escuridão, com dentes afiados apontados para Green.

— Abaixe-se! – gritou, puxando-a para baixo.

A fera saltou sobre suas cabeças, errando o golpe assassino destinado pescoço da líder. Green observou a criatura mover-se novamente para as árvores adiante, preparando uma nova investida. Era um enorme felino, coberto por uma pelagem grossa, de cor rosa. A juba adornava o leão de majestade e poder. Os olhos emanavam uma aura mortal e intimidadora.

Ainda deitada no chão, Green hasteou sua arma, um escudo esverdeado semelhante ao da irmã. O símbolo porém, era de um hexágono brilhante, e os espinhos estendiam-se para vertical, afiados e perigosos.

— Espere aqui. – sussurrou para Rose, levantando-se para encarar o leão.

— Green! – gritou Rose, tentando impedi-la.

Ignorando a irmã, a Gem saltou acima dos galhos, surpreendendo o leão com um impacto direto. Usando as garras, o animal bloqueou a face do escudo, mas os espinhos perfuraram-lhe o couro macio das patas. Um jorro de sangue pingou sobre a arma, mas Green continuou a investida, visando esmagar a cabeça do felino.

O leão cedeu, raspando as garras no escudo, abandonando longas e furiosas marcas em sua superfície. Green correu em sua direção, no que o adversário rugiu para ela. As ondas sonoras vibraram através do ar, golpeando a Gem com tremenda força. O impacto a atirou pela selva, lançando-a contra um tronco morto que partiu-se no evento, deixando-a inconsciente. Rose levantou a espada para salvá-la, atirando-se entre ela e o leão.

Ergueu a lâmina para o rosto furioso da fera, quando, por um momento, observou os olhos escurecerem. As íris não eram violentas, mas assustadas. O animal transmitiu uma expressão de receio, como se tentasse proteger algo. Rose baixou a guarda, no que Green, já acordada sem que percebessem, anteviu algum truque do enorme leão para atacar Rose.

Golpeando as pernas da irmã, assumiu sua postura, brandindo o escudo. Percebendo o perigo, o leão reassumiu a defesa e moveu a pata na direção da inimiga, avançando com força. A força do impacto levantou uma nuvem de pó do chão morto. Rose fechou os olhos, quando percebeu algo cair sobre si. Levantando-se, a Gem percebeu que era a irmã. Os olhos estavam vidrados no céu, inexpressivos como a morte.

Com grande agonia, Rose observou a abertura no escudo. O leão havia perfurado a arma até atingir o corpo da adversária, abrindo uma rachadura em sua pedra. Lutando contra as lágrimas, Rose, abraçou a irmã.

— Eu vou curar você. – tentou, beijando seu rosto.

— Não há mais tempo. – disse ela.

— Me perdoe, Green, por favor me perdoe... – implorou Rose, gemendo enquanto chorava. – Se eu fosse forte como você, eu teria...

Green pousou a mão sobre a irmã.

— Não, Rose. Eu tenho que pedir seu perdão. Você sempre foi muito mais que minha irmã e quando eu tive a oportunidade de apoiá-la, joguei seu amor fora como se nada importasse.

A rachadura ampliou-se e aos poucos, Green começou a desaparecer em fitas verdes pelo ar.

— Não! Por favor! Não me deixe... – suplicou.

— Nunca. Estou sempre com você, Rose. Aqui. – e pousou a mão sobre a pedra da irmã, desaparecendo, suave, na brisa morta de Thanorin.

Rose continuou ali por minutos a fim, chorando amargamente pela própria fraqueza. Não fora capaz de proteger quem amava, sacrificando seu único tesouro por um tolo princípio. Na visão turva pelas lágrimas, Rose percebeu o corpo do leão, deteriorando-se aos pés de uma árvore. O escuro perfurara juba, acima do coração em um golpe fatal. A Gem caminhou até ele, quando, da floresta, ouviu um gemido solitário.

Na escuridão, uma pequena forma movia-se. Rose hasteou a espada quando percebeu que o vulto, era, na realidade, um pequeno filhote de felino. Sem juba, a esguia criatura emitia um som estranho, chamando pelo amparo. O pelo rosa fino o tornava pequeno e raquítico. Ao notar o corpo do leão maior, o pequenino correu em sua direção, lambendo-lhe o rosto na tentativa de despertá-lo. Percebendo que o pai estava morto, o leãozinho gemeu em um som de puro lamento, partindo o coração de Rose ao perceber que o restante daquela família, incluindo a mãe e os demais filhotes, haviam perecido na matança anterior.

Em prantos, a Gem recolheu o pequeno filhote, consolando-lhe. Sentindo o conforto, o animalzinho lambeu-lhe as mãos, interrompendo seu lamento fúnebre e solitário. Em seguida, retornou para a orla da floresta, escondendo leão mágico em uma cápsula em sua pedra. Com famílias perdidas, um novo elo formara-se entre ambos. Um fruto inquebrável, nascido da desgraça e da dor de perda de um igual. Uma amizade nascida entre órfãos de um amor sem retorno, mas que seria eterna como uma lembrança calorosa.

Assustadas com a ausência das líderes, as tripulantes solicitaram informações imediatas à Rose sobre o paradeiro de Green. Com grande pesar, ela narrou-lhes a luta, gerando um grande tumulto que foi transmitido para as demais naves.

Algumas, porém, desconfiavam que Rose, na realidade, havia destronado a irmã para assumir seu posto como Capitã do Exército Colonial e logo o rumor espalhou-se, chegando às ruas de Homeworld. A Gem foi assumida por alguns como líder conspiratória, ainda que provas não tivessem sido encontradas, no que os Diamantes foram forçados a cancelar o recolhimento de itens em Thanorin e a ordenar o retorno da frota para Homeworld, alegando que a baixa produtividade do planeta havia sido a razão do retrocesso.

Na capital, porém, abriram-se discussões quanto à integridade da liderança da Tríade, fazendo com que Diamante Amarelo apressasse os resultados do laudo planetário, para reforçar seu poderio político por meio de novas anexações. Os primeiros resultados foram assumidos como oficiais de imediato, indicando uma nova missão que deveria ser preparada quando alguns satélites realizassem o pouso no planeta escolhido do Quadrante. Os indícios apontavam uma rica biosfera, com abundância em água na superfície. O anúncio foi feito e o retorno da última missão aguardado com grandes expectativas de respostas ainda ocultas.

Eram os primeiros sinais de que algo estava para eclodir. O Império Gem observava seu crepúsculo avançar no horizonte, trazendo uma ameaça ainda mais mortal que um rumor de revolução.

***

Os preparos finais para a decolagem foram concluídos após duas horas desde o retorno de Rose e da fatídica notícia da perda de sua líder. Jasper fora eleita como sucessora ao cargo, recebendo a responsabilidade de organizar a missão até seu término, quando pousassem em Homeworld.

A Gem coordenou o transporte dos injetores até os hangares das naves e o recolhimento dos itens que até então haviam sido gerados. Rose continuava a instruir uma parcela dos recém-criados, sendo, agora, auxiliada por Peridot. Na ponte, Jasper lera uma notificação enviada pela Nave Imperial, solicitando que fizesse um relatório direto à Diamante Amarelo em Homeworld.

— Saudações, Senhora do Poder. – anunciou ela. – Aqui é Jasper, líder eleita da nave µ, após a perda de Green Quartz, aguardando suas ordens.

— Seus títulos não me interessam, oficial. – respondeu Diamante Amarelo. – Mas você será de grande utilidade para mim, por enquanto.

— Senhora...?

Um sorriso malicioso entremeou os lábios de Diamante Amarelo. O sadismo evadia de seus olhos, mesmo em um simples holograma fortemente tremido pela distância no espaço.

— Recolha os fragmentos de Green Quartz. – ordenou. – Eles serão úteis para nós para um certo projeto de caráter sigiloso. Portanto, não quero comentários com os demais oficiais. Apenas faça.

— Certamente. Seu desejo é uma ordem. – respondeu Jasper.

— Excelente.

Diamante Amarelo encerrou a transmissão, voltando sua atenção para a noite tempestuosa de Homeworld. Precipitações eram raras no planeta, liberando uma fúria calma e pacífica, mas, naquele momento, um enorme temporal abatia-se contra a capital Gem, iluminando a expressão assassina da implacável governante com um bruxulear aterrorizante dos relâmpagos prateados.

***

Palácio Central, Homeworld – 6 187 anos atrás.

A claridade das luas iluminava as praias do lago que tocava os minaretes de mármore que cercavam a capital. A relva era galgada pelo vento frio, que debatia-se, inútil, contra os muros do Palácio. Os Diamantes caminhavam, impacientes, pelo Grande Salão. Seus pesquisadores oficiais haviam obtido, afinal, novos detalhes sobre o último projeto desenvolvido nos laboratórios. Minutos após o chamado, uma jovem Pérola apresentou-se acima do saguão.

— Acompanhem-me, Senhoras. – pediu.

Os Diamantes seguiram-na através da escadaria, até os jardins cinzentos. Atravessaram a vegetação que delimitava seus entornos, até encontrar um pequeno pilar de pedra que erguia-se como um monólito decorativo no centro da folhagem. A Pérola tocou a haste de pedra, que revelou uma abertura na parede à frente. O grupo desceu o túnel escuro, inervado por vários tubos de coloração verde, até o coração de uma enorme caverna abaixo do palácio.

Um vistoso e elegante grupo de cientistas estava ali, observando um enorme casulo de cristal transparente. A Pérola fez uma singela reverência e saiu, gesto imitado pelos cientistas ao notarem os Diamantes no recinto que mantinham os olhos fixos no casulo. Em seu interior, havia uma Gem. Seus cabelos negros eram grossos e longos, estendendo-se em espirais que fechavam-se sobre as roupas negras que delimitavam uma estrela em sua roupa, na qual, sombrio e mortal, faiscava um quartzo negro. A pedra, porém, possuía rachaduras, como se tivesse sido destruída para então ser restituída.

Os Diamantes aproximaram-se, com sorrisos plenos e diabólicos no rosto. Tocaram o cristal e, em uníssono, ordenaram:

— Desperte, anjo da morte!

A Gem abriu os olhos, mirando-as com curiosidade. As íris vermelhas fecharam-se em um desejo de sangue. Nascia ali uma assassina cuja alma fora tragada pelo inferno. Um ser sem escrúpulos, sem índole. Uma marionete das vontades obscuras de três demônios cristalinos. A ânsia pela vingança toldava-lhe um selo infernal. Havia chegado a hora. Um duelo descortinava-se no futuro. Luz e Trevas misturando-se no Cinza da alvorada de prata.


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